Décimas
Ao aniversário
natalício de minha sobrinha Maria Canuta,
habilíssima pianista e cantora, filha de meu irmão
desembargador Joaquim Caetano da Silva Guimarães
Entre nuvens cor de rosa
Desponta o festivo dia,
Que mais um elo anuncia
Na cadeia venturosa
De teus anos, oh formosa.
Ah! seja eles, senhora,
Sejam sempre como agora,
Guirlanda de eternas flores,
De sorrisos e fulgores
Perpétua, florente aurora.
Como cantando a avezinha
Por horizontes sem véu
Vai rompendo o azul do céu,
e do céu mais se avizinha
Assim, tu, minha sobrinha,
Sobre as campinas amenas
De primaveras serenas
Docemente resvalando,
Os jardins vais procurando
das eternas açucenas.
Essas flores que cultivas
Com tanto engenho e primor,
Derramando o puro odor,
Vicejarão sempre vivas
Sem serem por mãos lascivas
Desfolhadas pelo chão;
E em qualquer estação
De tua vida ditosa,
As filhas da arte engenhosa
Viçosas te sorrirão.
Qual passarinho entre flores,
Do teu talento a cintila
Do lar na sombra tranqüila
Lança vívidos fulgores.
Por mares encantadores
Voga a tua fantasia,
qual condão de alta magia,
Que através da vida ingrata
Descuidosa te arrebata
Sobre as asas da harmonia.
10 de maio de 1882
Figura das mais interessantes, a
sobrinha de B.G.
Maria Canuta da Silva Guimarães Ferrand
merece um estudo biográfico. Em 1937, sob o pseudônimo
de Paula Nelle, publicou o romance Mancha Negra.
Foi casada
com o engenheiro mineralogista Paul Ferrand, autor da obra clássica
L'Or a Minas Gerais (O ouro em Minas Gerais), publicado em 1913
em Belo Horizonte pela Editora Imprensa Oficial.
Ele foi professor de Geologia da diretor da Escola de Minas,
em Ouro Preto, numa escolha pessoal de Claude- Henri
Gorceix.
|