INFORMÁTICA MUSICAL
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música das máquinas Não se julgue porém que, pelo fato de ter um computador e um "sampler", qualquer pessoa pode construir uma excelente peça musical. Na verdade, compor música sem "tempo" com o computador é complicado para quem não tenha uma formação musical de base. No entanto, tudo se torna mais fácil se tivermos um ritmo fixo (o bombo nos "tempos" todos, por exemplo, como sucede na música de discoteca). Dessa forma, é possível a muitos "discjockeys" gravarem eles próprios os seus discos de dança já que as múltiplas funções do computador lhes permitem acertar convenientemente todas as restantes componentes da música. Deve referirse, aliás, que essa vaga de gravações "caseiras" feitas por DJ's adquiriu uma tal dimensão na indústria da música de dança americana e europeia, que muitos estúdios de gravacão - onde esse tipo de discos era habitualmente produzido - foram rapidamente à falência. Na realidade, gravar em casa um maxisingle de dança tornouse bastante simples. Ao "sampler" vai-se buscar um ritmo de bateria, uns pratos de choque, um baixo, um som de sintetizador, uma guitarra e alguns pedacos vocais - que tanto podem ser canto gregoriano, vozes búlgaras ou o "supersamplado" James Brown . . . E se, por exemplo, o som da batida do bombo não tem o efeito tão forte e seco como se quer para bater bem na pista da discoteca, o computador resolve rapidamente o problema: num dos seus menus, a "máquina" permite ao utilizador trabalhar a linha gráfica do som que resultou originalmente da pancada do maço da bateria na pele do bombo, encurtandolhe a cauda da reverberação, de modo a se obter a sonoridade pretendida. Mas o computador não veio servir apenas os executantes de música de dança techno ou trance. É que para além de fazer surgir novas formas musicais, o seu aparecimento foi também aproveitado por outros tipos de música já existentes - inclusive a clássica, onde os maestros passaram a poder gravar uma idéia, visualizar a melodia em pauta e apresentar uma partitura escrita, impressa a partir do computador. |
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recurso à Informática tornouse de tal forma onipresente que, na producão musical dos anos noventa, se tem até assistido de quando em vez a uma certa reação estética face a invasão da música feita por computador - vejase, por exemplo, o reacender do "rock" de guitarras distorcidas ou o puritanismo acústico das gravações "unplugged", duas atitudes que, no fundo, mais não foram do que o contraponto humanizado ao som das máquinas implantado pela música de dança genericamente designada por techno. A experiência digital de Carlos Maria Trindade Músico e produtor, outrora teclista do grupo Heróis do Mar, atualmente no Madredeus, Carlos Maria Trindade foi quem nos elucidou a propósito desta aliciante temática. O autor de "Deep Travel", o seu segundo álbum solo editado no final de 96, refere que"em Portugal, só ainda uma minoria é que já mexe nestas coisas, enquanto lá fora está tão divulgado que até os miúdos de 14 anos fazem música com computador e "sampler". Não é preciso ter grandes conhecimentos musicais: basta ter uma boa sensibilidade estética, escolher bem os sons, possuir uma noção de ritmo e compõese" . Para este músico, "o computador veio trazer grandes ajudas de trabalho nas etapas que conduzem à realização de um disco, desde a préprodução, à pós-produção passando pela gravação. Na fase de pré-produção, permite ensaiar idéias, simulandoas rapidamente no computador, poupando o tempo e as despesas que seriam inerentes se fossem testadas num estúdio". Atualmente, revela Trindade," todos os discos passam pelo computador na fase de pós-produção - até os de heavymetal - onde são sujeitos a um processo de equalização que corrige microdiscrepâncias e diferenças de fase" . Quanto às tendências da música atual, Carlos Maria Trindade pensa que "apontam para estilos musicais resultantes da fusão entre vários gêneros, funcionando o computador e o sampler como os elementos de ligação". |