INFORMÁTICA MUSICAL

O final do século XX trouxe consigo

uma autêntica revolução no mundo da

produção musical: a transição do

sistema analógico para o digital. Do

registro através da voltagem eléctrica,

a música transformou-se em impulsos

de computador, num binário

informático de zeros e uns.

Em menos de um século, a música

passou das primeiras experiências

eletroacústicas para a era digital. Pelo

meio, ficou o reinado da eletrônica, cujo

auge musical pertenceu aos sintetizadores,

peças soberanas no trabalho

dos grupos de rock eletrônico,

progressivo e sinfônico da

década de setenta. Com a chegada

dos anos oitenta, a música e o áudio

associaram­se à Informática. Foi um

acontecimento revolucionário e a partir de

então tudo seria diferente. Graças ao

milagre da tecnologia, tornou­se possível

converter a linguagem musical de audio em

informacão compreendida pelos

computadores. Esse interface, que permitiu

estabelecer uma ponte capaz de realizar a

comunicação entre a linguagem audio da

música e o alfabeto digital dos

computadores, ficou a dever­se à criação

e desenvolvimento de um sistema

designado por MIDI. Através desse

processo inovador, todos os registros

musicais em áudio existentes no interior de

um "sampler" - uma "máquina" cuja função

é gravar e armazenar "amostras" de sons -,

são transformados em impulsos e

introduzidos no computador por

intermédio de vulgares cabos de cinco

pinos.

A cadeia, à qual se deve o elo entre a

música e a Informática, compõe-se de três

elementos: "keyboard" (teclado), "sampler"

e computador. 0 teclado limita­se a enviar

mensagens do utilizador para o "sampler".

Relativamente ao teclado de um

sintetizador normal, que só tem um único

som em todas as teclas, um keyboard

ligado ao "sampler" pode ter um som

diferente em cada tecla. Em ligacão com o

computador, é possível visualizar na tela

todas as teclas do "keyboard" e saber

aquilo que está em cada nota: no Dó, pode

estar o som de um saxofone; no Ré, uma

guitarra; no Mi, um bombo... E por aí

adiante.

Por seu turno, o computador

arquiva e permite manipular a música que

está gravada no "sampler". Contudo, não

se pense que os sons vão para dentro do

computador - o que lá entra são apenas

impulsos traduzidos na linguagem binária

de zeros e uns. Ao operarmos com o

computador, esses impulsos são

disparados no sentido inverso, ou seja, do

computador para o "sampler", nele se

produzindo então a música em áudio.

Para além de gravar os impulsos,

o computador tem a vantagem de nos dar a

monitorização visual dos mesmos através

do tela. Mediante os seus vários "menus",

onde os impulsos estão arquivados, o

utilizador tem acesso a todos os

parâmetros que definem cada som

(posicão no tempo, a nota no teclado, a

intensidade, o comprimento da amostra

"samplada", etc.), sendo­lhe assim possível

"manipular" a seu bel­prazer cada som,

corrigindo as imperfeicões da música,

através das notas, do tempo ou do

compasso.

Quanto ao "sampler", pode dizer­se que

colecciona várias amostras de sons

gravados previamente através de

microfone ou cabo, junto de diversas

fontes como vozes e instrumentos musicais

ao vivo, leitor de CD (existem no mercado

inúmeros discos CD que contêm

exclusivamente os sons de instrumentos ou

vozes específicas), toca­discos,

sintetizadores, rádio, etc.

Desde instrumentos e vozes até pedaços

de canções e excertos de músicas, o

"sampler" funciona como um precioso

arquivo de sons, aos quais se pode ter

acesso sempre que necessário. Cada uma

dessas amostras tem quase sempre uma

duracão de escassos segundos, visto que a

capacidade de memória de um "sampler" é

geralmente limitada a poucos minutos.

Porém, através do efeito de "looping" do

"sampler", cada um desses sons pode

repetir­se infinitamente. Tendo o "sampler"

como o seu banco de som, o músico só

tem de chamar os sons do "sampler" para

o computador, podendo a partir daí

sequenciá­los. E graças a essa fonte de

impulsos que é o computador, o utilizador

pode então fazer a composicão dos

movimentos da sua música. É deveras

notável como um simples computador

pessoal Atari, Macintosh ou Amiga, por

exemplo, munido de um programa de

"software" adequado, consegue

assemelhar­se a um autêntico estúdio de

gravação. Na realidade, este "estúdio"

MIDI possui uma mesa de mistura com 24

pistas de gravacão, oferecendo ao

utilizador múltiplas possibilidades de

acção, tais como fazer inversões, efetuar

cópias ou trabalhar cada pista

individualmente. Como seria de esperar,

este companheiro para o futuro executa

igualmente todas aquelas funções que nos

habituamos a ver num vulgar gravador

analógico: play, replay (retardado ou

acelerado), record, pause, fast forward e

rewind.

continua