HORIZONTE AZUL
Ana Claudia dos Santos

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CAPÍTULO 1


Fazia muito frio e já estava ficando escuro, aquela parte do dia que ela adorava, desde que era criança. Tudo se tornava azul, e em breve o céu estaria azul escuro, a cor de sua alma. Natasha olhava através da janela, pensativa. De alguma forma ela não estava tão ansiosa como no dia anterior, quando recebeu a coruja. Entretanto, seus pensamentos não eram muito felizes, não como deveriam. Ele chegaria em breve. Dessa vez para passar mais de um ou dois dias. Ela não iria se sentir tão solitária, tão perdida, como nos últimos tempos.

- Eu acho que finalmente ele adormeceu - disse uma moça alta e magra, entrando na sala.

- Não sei como te agradecer, Cybele. Você pretende passar a noite aqui? - perguntou Natasha, parecendo um pouco triste.

- Ah, desculpa Nat, o Bryan está me esperando. Vamos tomar uns drinques juntos, você sabe...

- Claro, estou tão feliz que vocês tenham se reconciliado. Ele é um bom rapaz.

- Eu acho que esse é que é o problema, sabe? - disse Cybele, rindo. - Eu nunca gostei de bons rapazes. Meu tipo é o mau caratér metido e canalha...

- Bom, você aproveitou bem seu tempo de escola, não? - falou Natasha, com um ar menos triste, mas ainda sem sorrir.

- Basta disso, meu passado negro não está em questão aqui... - Cybele tentava animar a irmã. - Sua "coisinha" já está dormindo, e agora você pode se preparar para receber seu marido. Onde você colocou o pó de Flu mesmo? Faz tanto tempo que eu não uso isso...

- Tá ali, do lado do pote de biscoitos... Você entende a proteção, não entende?

Cybele olhou nos olhos de Natasha, adivinhando seus pensamentos.

- Você vai me prometer que não vai ficar pensando nessas besteiras que o Ciaran te contou... Ele só estava te provocando.

- Não, não vou ficar pensando em nada, juro.

- Então eu já vou.

- Obrigada por tudo! Eu ficaria maluca sem a sua ajuda.

- Não seja boba, aquele garotinho é maravilhoso, nunca chora, nunca reclama. Totalmente encantador. Bem diferente do Bress, você lembra? Bom, tenho que ir mesmo. Diga a Severo que eu também quero um filho dele, se ele se cansar de você pode me procurar. Eu simplesmente acho meu sobrinho lindo e adoro seus poderes, de verdade...

- Você está tentando me deixar com ciúmes? - disse Natasha, finalmente rindo.

- Não, não, querida, estou tentando deixar você bonita. Você sabe que seu rosto se ilumina quando você sorri, não sabe? Bom, tchau, tchau...' Cybele dizia essas palavras enquanto jogava pó de flu na lareira. Natasha ainda sorria enquanto observava sua irmã desaparecer. Mas seu sorriso foi sumindo rapidamente, enquanto em seus pensamentos as estórias que seu irmão lhe contava faziam eco.

Ela entrou em um pequeno quarto, agradavelmente perfumado e acolhedor. Sua "coisinha", como Cybele o tinha apelidado, dormia. Era um bebê bem quietinho. "Quieto até demais", suspirou Natasha. Ela estava contente pois tinha tido tempo de tomar banho antes de Cybele ir embora.

Fechou a porta do quartinho do bebê sem fazer barulho e, sentindo-se menos preocupada, sentou-se em uma grande poltrona em frente à lareira. Esse seria seu primeiro Natal com sua própria família, seu marido e seu filho. Natasha lembrou-se de seu comportamento da última vez que Severo esteve em casa. Ela se sentia envergonhada, como ele ainda podia amá-la depois daquilo? Desde que Myrddin tinha nascido, ela não mais deixara ele a tocar, e tinha agido de maneira estranha, distante. Mas talvez dessa vez tudo voltasse ao normal... Porque ele estava demorando tanto?

Ela levantou-se, decidida a ocupar seus pensamentos com algo útil. Felizmente ela havia encontrado uma maneira de ganhar dinheiro em seu tempo livre. Natasha sempre tocou muito bem harpa, e com um encantamento que aprendera alguns anos atrás, tinha conseguido colocar sua música dentro de pequenas caixinhas de madeira que ela mesma fazia com sua varinha. Eram feitas para crianças, mas alguns adultos as adoravam tanto que ela agora produzia uma por dia. Essa era particularmente bonita, dentro havia uma corujinha branca de madeira que voava ao som da melodia. Ao sentar-se em frente à harpa, tocando as cordas com seus dedos magros e longos, ouviu um barulho.

Imediatamente pegou sua varinha, o coração batendo rapidamente, quando percebeu que o barulho vinha do quarto do bebê. Natasha abriu devagar a porta do quarto, só para encontrar seu unicórnio de cristal em pedaços no chão. Ela levantou a varinha e os pedaços se uniram novamente.

- Até quando você vai tentar quebrar todas os poucos presentes que recebi na vida, hein? Se você quer fazer as coisas voarem porque não escolhe seus próprios brinquedos, coisinha?

Ela olhou para ele, um pequeno bebê de apenas quatro meses e meio que não conseguia se sentar ainda, mas que de alguma forma tinha o poder de mover as coisas.

O pequeno Myrddin a olhava com a expressão que tinha apenas para sua mãe e para seu pai. E quando ele piscou várias vezes ela percebeu que ele estava novamente se comunicando com ela.

- Então... - disse Natasha suavamente. - Seu pai vai chegar logo mais...

O bebê sorriu. Aqueles olhos... Ela pegou-o em seus braços e beijou sua pequena testa.

- Obrigada, querido, mas a mamãe já sabia que o papai iria vir.

Natasha pegou uma pequena varinha de plástico e entregou ao bebê, que a segurou com as duas mãos e pôs-se a mover o brinquedo para cima e para baixo. Ele parecia muito com Bress quando era pequeno, mas com cabelos e olhos negros como os do pai. Myrddin tocou seu cabelos, que continuavam molhados, e olhou novamente para a mãe, agora com um típico olhar de bebê desprotegido.

- Está com fome, coisinha?

O bebê olhou para a mãe e logo depois para a varinha de brinquedo, e de novo olhou a mãe, balbuciando sons incompreensíveis.

- Não... - ela disse. - Então porque acordou? Mamãe tem que terminar a caixinha de música que Mrs. Bradley encomendou.

Myrddin parecia um pouco triste mas não chorou. Nunca, em nenhum momento de sua vida, nem mesmo quando nasceu, aquele bebê havia chorado.

- Agora, volte a dormir, está bem? Mamãe está um pouco nervosa esperando o papai chegar. Eu volto logo para ver se você está molhado.

Natasha colocou seu bebê no bercinho e pegou a varinha de suas mãos. "Tão dócil", pensou ela, com um peso no coração. Mas ela não queria que o filho se tornasse uma criança mimada, e nunca era cedo demais para mostrar que a mamãe nem sempre estaria disponível.

O cabelo de Natasha continuava molhado. Desde que ela dera à luz, seu corpo havia mudado. Não conseguia mais flutuar. Isso não era um problema pois na verdade sua capacidade de flutuar sempre a perturbou. Também perdeu sua palidez, e tinha dias em que estava tão rosada que parecia que tinha tomado sol. E agora seus cabelos levavam de dez a onze horas para secar, sendo inútil qualquer feitiço para secá-los.

Ela se sentou mais uma vez perto da lareira, em sua poltrona preferida, afundando novamente em pensamentos. Não havia nascido para ser mãe... Natasha abriu uma caixinha de madeira que havia feito para Bress. Dentro, uma pequena vassoura voava para cima, para baixo, para frente, para trás... Era bobinha, mas Bress gostaria dela. A música que vinha da caixa era uma de suas melodias favoritas. Colocando a caixinha no chão, ela fechou os olhos e adormeceu. Acordou duas horas depois, suas idéias ainda claras, como se não tivesse dormido nada. "Myrddin..." pensou por uns instantes, aflita. Mas de alguma forma ela sabia que ele estava bem... - Menino estranho... - murmurou, se espreguiçando.

Estava novamente sentada acariciando as cordas de sua harpa quando o viu na sua frente, feliz, carregando várias caixas de presentes, como um papai noel gótico. Em seu coração, tudo que ela queria era correr para abracá-lo e beijá-lo, e dizer o quanto ela havia sentido sua falta. Mas ela não conseguiu se mover.

- Natasha - disse Snape parecendo um pouco magoado. - Você não está feliz em me ver?

- Estou... muito... - mas ela não conseguia se mexer.

Snape colocou as caixas coloridas na mesa. Parecia muito chateado. "Não mudou nem um pouco...", pensou.

Natasha finalmente levantou-se e o abraçou.

- Você está tão frio - disse ela, acariciando o rosto pálido do marido. - Está com fome? Venha para a cozinha, está mais quente lá, e eu posso preparar alguma coisa para a gente comer.

Ele a seguiu. Natasha estava tão linda que era quase doloroso olhar para ela.

- Posso preparar uma sopa enquanto você toma um banho - disse ela, pegando uma panela e alguns legumes. Ele a abraçou, acariciando seus seios com delicadeza.

- Só o que eu quero é você - sussurrou no ouvido de Natasha, respirando com dificuldade.

- Não, por favor, agora não - resmungou ela, se afastando dele.

- Natasha, o que está acontecendo? Não podemos viver mais assim, o garoto já tem quase cinco meses, eu não entendo... - disse Snape, suavemente, mas cada uma de suas palavras denunciavam amargura. - Você não me ama mais, é isso?

- Eu... eu o amo mais do que nunca, e você deveria saber disso.

Ela queria poder chorar mas seus olhos continuavam secos. - É só que... - sua voz estava estranhamente esganiçada. - Tenho medo de perder o leite, e você já ouviu falar que há uma relação entre ausência de amamentação e aberrações...

- Você está maluca? - Snape começou a perder o controle. - Primeiro, aquele garoto nunca seria uma aberração, há mais magia nele que em toda a sua família junta e... porque você acha que não seria capaz de amamentá-lo se eu tocar em você? Sou um monstro, é isso?

Ela o estava perdendo. O que estava acontecendo com ela? Como ela pode contar uma mentira tão estúpida, logo ela que nunca mentira? Ela não se importava em amamentar o menino, e tinha leite demais. Então porque o estava rejeitando desse jeito? Ela não sabia.

- Vou tomar um banho - disse Snape, irritado. - Mas perdi o apetite; por favor, não gaste seu precioso tempo comigo. Myrddin está acordado?

- Sim... ele... está em seu quartinho - disse Natasha, fechando os olhos enquanto Snape se encaminhava para o quarto do bebê.

Ela o seguiu, quieta. A visão de um pai segurando uma criança nos braços sempre a deixou melancólica. Myrddin adorava seu pai, e ela pode finalmente ver um sorriso na face de Severo, enquanto ele beijava o bebê com uma ternura que ninguém poderia pensar que seria capaz de demonstrar. Ela se aproximou deles, mas Snape pôs o bebê em seus braços e disse friamente:

- Vou tomar meu banho e ir dormir, estou exausto. E ele está com fome...

E a deixou com Myrddin, que parecia realmente faminto.

***

Ele tentava dormir mas não conseguia. Quando é que ela pararia de tocar aquela maldita harpa e viria dormir? Snape não conseguia entendê-la. Já não bastava toda a pressão em Hogwarts, já não bastava o fato de ter que encarar Moody Olho-Tonto, ocupando a posição que deveria ser novamente dele? Mas ele desistiu da posição, tendo mulher e filho ficava difícil conciliar as duas matérias ao mesmo tempo, e agora Natasha ficaria em casa tomando conta de Myrddin.

Finalmente, ela parou de tocar a melodia tristonha que tanto o irritava. Ele nunca pensara que um dia poderia ficar irritado com ela. Não podia ouvir seus passos, apesar de ela não flutuar mais, ele sabia que ela estava vindo para o quarto. Certamente pensava que já era "seguro" vir se deitar, pois ele já deveria ter adormecido. Era uma situação tão patética, sua própria mulher o evitando, depois de tudo que passaram juntos. Um segundo depois lá estava ela na porta, tentando descobrir se ele estava acordado. Parecia satisfeita com o que viu pois já estava trocando de roupa, e deslizando para debaixo dos lençois. Subitamente ela começou a falar:

- Sinto muito, Severo. Eu não sei o que está acontecendo comigo, tenho sido tão infantil... - ela falou, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela não chorava desde o nascimento do bebê.

Ele não sabia o que fazer. Toda sua raiva se extinguiu e ela, mais uma vez, era o anjo que sabia facilmente alcançar seu espírito. Natasha virou-se para ele. Sua respiração estava tão perto, tão morna... Ele não queria ser rejeitado novamente mas suas bocas estavam ficando tão próximas que era impossível não beijá-la. E ele a beijou, sendo imediatamente correspondido. Ela o abraçou enquanto ele percorria seu corpo com os lábios, mordendo seu pescoço... Foi então que eles notaram que algo estava acontecendo. Enquanto ele beijava seus seios e ela o apertava contra si, ela percebeu o que era. Eles podiam sentir o que o outro sentia. Ele podia sentir o quanto ela o queria, e ela, igualmente, sentia sua fome, seu desespero. Olharam um para o outro e de repente começaram a rir, histéricos, em princípio, mas depois, mais calmos, rindo e explorando o corpo um do outro. Ela sentia como era o prazer dele, e ele sentia o que era o prazer dela, e isso só aumentava o desejo que um sentia pelo outro. E enquanto faziam amor, sentiam uma onda de prazer que nunca pensaram ser possível alguém sentir, nunca um homem e uma mulher foram tão iguais e tão distintos, um se rendendo ao desejo do outro, numa febre que parecia não querer cessar nunca...

E no quartinho ao lado, um bebê tinha um sorriso peculiar no rosto, enquanto fazia uma varinha de brinquedo levitar.



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