As Águas Vão Jorrar
Para a montagem de Sonata Fantasma, de Strindberg, na Escola de Teatro
da UNI-RIO, era necessário ter em cena um chafariz. A direcão
do espetáculo exigia que o esguicho fosse controlável, atingindo
maior ou menor altura conforme a necessidade da cena. Além disso,
a disposição da sala, em arena e com o chafariz localizado
bem no centro da área de atuação, impossibilitava o
uso de um tanque d'água para abastecimento do efeito ou a conexão
à rede hidráulica do edifício.
Optou-se então pela montagem de um sistema de recirculação
da água, ativando o efeito com uma bomba de acionamento elétrico
embutida no corpo do chafariz. As bombas de utilização doméstica
para elevação de água da cisterna à caixa d'água
eram inadequadas, pois mesmo os modelos menores eram excessivamente grandes
e barulhentos, além de fornecerem potência muito superior à
necessária. Após algumas tentativas, decidiu-se pela utilização
de uma pequena bomba de lavador de pára-brisas de automóvel,
das que ficam acopladas ao reservatório de água e sabão,
no compartimento do motor. Neste caso, o modelo adotado foi o que equipa
o Fiat Elba®, mas esta escolha foi função da disponibilidade,
e possivelmente qualquer outro tipo será igualmente eficaz.
Como o sistema elétrico do automóvel funciona em 12 volts
e corrente contínua, o acionamento da bomba teve que ser feito por
um transformador com retificador e potenciômetro, que convertia a
tensão de 110v em corrente alternada do teatro para corrente contínua
regulável de 0 a 12v. O melhor resultado foi obtido com um transformador
para trens elétricos em miniatura, que já inclui o regulador
e permite manter intensidades pré-determinadas sem ocupar o operador,
como aconteceria com controladores de autorama. O transformador,
localizado na cabine de luz e ligado à rede, foi conectado a uma
das linhas do teatro e daí ao chafariz (Fig. 1), por um par de fios
bem finos (a tensão é mínima) coberto por fita de embalagem
ao chão do palco. Deve-se atentar para a polaridade da ligação:
embora a bomba funcione nos dois sentidos, há uma rotação
correta, muito mais eficiente.
Fig. 1
O chafariz foi construído com estrutura em madeira e gesso e uma
bacia de alumínio com dois pequenos furos para injeção
e escoamento da água, que circulava por tubos de plástico.
Para melhor vedação, o diâmetro dos furos da bacia deve
ser ligeiramente inferior ao dos tubos. Embora pequena, a bomba ainda gerava
barulho excessivo quando em funcionamento, problema sanado com o seu encerramento
numa caixa de isopor de sorvete "prá viagem", em que também
foram feitos orifícios para a passagem dos tubos e fios. Outro aspecto
a considerar é a largura do tubo de injeção: quanto
mais estreito, mais alto será o esguicho, embora um jato muito fino
não apareça bem em cena.
Durante a temporada, a bomba entupiu com detritos de maquiagem que ficavam
em suspensão na água, e foi acrescentada uma gaze, que serviu
de filtro, na ponta do tubo de escoamento. Há também a necessidade
de fazer diariamente a troca da água, visando o bom funcionamento
do sistema e a saúde dos atores.
José Henrique Moreira
UFRJ
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