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ROSÂNGELA VIEIRA ROCHA


“RIO DAS PEDRAS”

Resolvo fazer uma coleção diferente, muito especial, de quadradinhos de musgo de vários tipos. Torno-me uma verdadeira andarilha, vasculhando a beira do rio, os terrenos baldios, o cemitério. Cato musgo verde-claro, verde-escuro, muito aveludado e menos, do grande, do médio, do pequeno. Tenho orgulho de minha coleção, arrumadinha dentro de um caixote. Musgo é uma das coisas mais macias e bonitas que existem, mais até que seda pura. Só empata com taboa, que creio ser um dos ingredientes utilizados para fazer veludo.

No aniversário da prima, um garoto diz colecionar selos. As crianças começam a falar de suas coleções, enquanto mastigam olho de sogra e brigadeiro (minha tia é bastante chique, só oferece doces bons nos aniversários). Estou louca para que chegue minha vez de falar, porque ninguém possui uma coleção tão exótica como a minha. Posso prever a inveja geral, quando contar a notícia. Quando falo, a meninada se entreolha, desconcertada, até que um menino gordo cria coragem: coleção de lodo, onde já se viu? Quadradinhos de terra dentro de uma caixa, que coisa mais boba. Não é lodo, retruco. Não é logo, é musgo, mus-go, coisa muito diferente. Musgo é aquele veludinho verde gostoso de pegar, como pêssego, como pele de bebê. Vocês conhecem musgo?

Saio da festa correndo, minha coleção é um fiasco. Que decepção, que vontade de destruí-la. Será que ninguém na face da terra percebe que musgo é uma coisa linda? Volto para casa, abraço o caixote e reafirmo-lhe meu afeto.

RIO DAS PEDRAS, Secretaria de Estado da Cultura, Brasília, 2002, novela.Pág. 50

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