A História da Bossa Nova

COPACABANA (Alberto Ribeiro/ Braguinha)

Existem praias tão lindas

Cheias de luz

Nenhuma tem o encanto

Que tu possuis

Tuas areias

Teu céu tão lindo

Tuas sereias

Sempre sorrindo

Copacabana princesinha do mar

Pelas manhãs tu és a vida a cantar

E à tardinha o sol poente

Deixa sempre uma saudade na gente

Copacabana o mar eterno cantor

Ao te beijar ficou perdido de amor

E hoje vivo a murmurar

Só a ti Copacabana eu hei de amar

CHEGA DE SAUDADE (Tom Jobim/Vinícius de Moraes)

Vai minha tristeza

E diz a ela que sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece

Que ela regresse

Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade

A realidade é que sem ela

Não há paz não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim

Não sai de mim

Não sai

Mas se ela voltar

Se ela voltar

Que coisa linda

Que coisa louca

Pois há menos peixinhos a nadar no mar

Do que os beijinhos

Que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços os abraços

Hão de ser milhões de abraços

Apertado assim, colado assim, calado assim,

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é prá acabar com esse negócio

De você longe de mim

Vamos deixar desse negócio

De você viver sem mim

Após o lançamento, em 1959, do primeiro LP

de João Gilberto, também chamado Chega de

Saudade, a Bossa Nova rapidamente se

transformou em mania nacional e em poucos

anos conquistou o mundo.

Mas bem antes disso o Rio de Janeiro já vivia um

raro momento de florescimento artístico, como

poucas vezes se viu na história da cultura

nacional. Não é à toa que os anos 50 são

conhecidos como os "anos dourados". O Brasil

vivia então um período de crescimento

econômico que acabou se refletindo em todas as

áreas. Em 1956, Juscelino Kubitschek tomou

posse na Presidência da República com o slogan

desenvolvimentista "50 anos em 5"

No mesmo ano, foram lançados os romances 0

Encontro Marcado, do mineiro Fernando

Sabino, e Grande Sertão: Veredas, de João

Guimarães Rosa, dois importantes marcos na

história da literatura brasileira. Paralelamente,

surgia na poesia um movimento inspirado no

concretismo pictórico, cuja maior característica

foi a valorização gráfica da palavra e do qual

participaram nomes como os irmãos Augusto e

Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Ferreira

Gullar, entre outros.

Em 1957, estreava o filme Rio Zona Norte, de

Nelson Pereira dos Santos, um dos primeiros

representantes do que viria a ser chamado

Cinema Novo. Em 1958, a Seleção Brasileira de

Futebol conquistava sua primeira Copa do

Mundo, derrotando a seleção sueca por 5 a 2 e

levando o povo brasileiro a cantar alegremente

"A copa do mundo é nossa | Com brasileiro

não há quem possa". Também em 1958, Jorge

Amado lançava Gabriela Cravo e Canela e

Gianfrancesco Guarnieri estreava no Teatro de

Arena de São Paulo Eles Não Usam Blacktie,

um marco na linguagem do teatro brasileiro.

Em 1959, era lançado o movimento neoconcreto

nas artes plásticas, do qual fizeram parte Lygia

Clark, Hélio Oiticica e Lígia Pape, entre outros.

Em 1960, Juscelino Kubitschek inaugurava a

nova capital do país, Brasília, que possivelmente

teve a primeira música de Bossa Nova em sua

homenagem, composta por Chico Feitosa. Billy

Branco havia feito um sambinha jocoso, Não

Vou, Não Vou Pra Brasília, e Chico musicou

uma letra que falava da vida na nova cidade. O

tema, chamado Paranoá, nunca foi gravado, mas

encontra-se preservado numa gravação particular

feita na época, com o próprio Chico Fim de

Noite cantando. Foi neste contexto que surgiu o

movimento que viria a revolucionar não só a

música brasileira mas toda a produção musical

internacional.

Ainda nos anos 40, a grande novidade musical

foi o lançamento, em 1946, de Copacabana um

samba-canção de João de Barro e Alberto

Ribeiro, gravado pelo cantor Dick Farney com

claras influências da música americana. A

composição foi a precursora do que se chamou

samba moderno, cujos grandes intérpretes foram

o próprio Dick Farney e Lúcio Alves.

A suposta rivalidade destes dois grandes

cantores era alimentada pela imprensa e por seus

fã-clubes. No início dos anos 50, eram eles, com

suas vozes aveludadas, os maiores ídolos da

juventude brasileira. Ao lado de Ary Barroso,

Johnny Alf, Garoto, Dolores Duran, Luiz Bonfá e

Tito Madi, entre outros, influenciaram

decisivamente a formação da geração que se

consagraria através da Bossa Nova

continua