VIOLÃO NO BRASIL
A viola, instrumento de cinco cordas
duplas popularíssima em Portugal, foi
introduzida no Brasil por Jesuítas
portugueses, que a utilizavam na
catequese.
Já no século XIX, começa a confusão
entre a viola e o violão principalmente
quando a primeira começa a utilizar a
mesma afinação do violão. Com o tempo a
viola tornou-se um instrumento
característico do interior do país e o violão
tornou-se característicamente urbano,
como acompanhamento de modinhas.
Por ser usado basicamente como apoio
para cantores , o violão acabou
tornando-se característico da boêmia,
tornando-se sinônimo de vagabundagem.
Este estigma acompanha o violão até os
dias de hoje. Talvez por estar tão
enraizado na cultura brasileira, o violão
não era visto como instrumento sério, já
que na época ( e nos dias de hoje) o que
era bom era o que se trazia da Europa.
Um dos precursores do violão moderno no
Brasil foi Joaquim dos Santos fundador
da revista O Violão, em 1928. Foi um dos
primeiros a lecionar através da técnica de
Tárrega no Brasil.
Em 1917, se apresenta no Brasil o
excelente violonista Paraguaio Agustin
Barrios , tocando de uma maneira nunca
vista e ouvida antes. Depois de sua
apresentação, até mesmo a imprenssa
brasileira alterou sua opinião sobre o
violão, que até então não o tinha como
instrumento sério.
"O violão é um instrumento nobre. Pena
é que a sua sonoridade não corresponda
às exigências do público dos concertos,
que ansia sempre pelas grandes
sonoridades. Em todo o caso, num salão,
todos poderão apreciar a voz poética do
violão, intensamente expressiva, a
doçura e suavidade de suas inflexões
sonoras, principalmente quando esse
instrumento tem ao seu serviço um
concertista da envergadura de Artur
[sic] de Barrios."
"Ele sabe elevar o violão à altura
prestigiosa em que se manteve no
período áureo do século XVI, e que
chegou a destronar a viola.
"Dos seus magníficos dedos brotam
caudais de sons divinos. É que o seu
mecanismo é irrepreensível, brilhante o
seu estilo, profundo o sentimento que
agita a sua fina alma de artista."
"Sem querer dar ao violão a hierarquia
aristocrática do violino, do violoncelo e
de outros instrumentos que, como ele,
tiveram no alaúde o seu remoto
ancestral, em todo caso acreditamos que
não se faz ainda ao violão a justiça que
lhe é devida - o que, até certo ponto, se
explica pela dificuldade da técnica do
instrumento que ninguém, quase, tenta
vencer e dominar, desanimados todos
pela igualdade do timbre que lhe dá
uma feição de monotonia."JORNAL DO
COMÉRCIO 24 DE JULHO DE 1924
No Brasil, Agustin Barrios teve contato
com vários violonistas , entre eles o que
mais impressionou Barrios, não tanto por
sua técnica, mas por sua grande
musicalidade, foi João Teixeira Guimarães,
também conhecido como o João
Pernambuco(1883-1947). Barrios chegou
a compor o Choro da Saudade em
homenagem ao compositor brasileiro.
Villa-Lobos chegou a dizer sobre suas
obras: "Bach não teria vergonha de
assiná-las como suas."
Anibal Augusto Sardinha, o Garoto,
(1915-1955), foi um dos precurssores da
bossa-nova, mesclando o choro e o até
mesmo o jazz, absorvido por ele quando
esteve nos Estados Unidos, acompanhando
Carmem Miranda com oBando de Lua .
Devemos destacar também o trabalho do
violonista Uruguaio, Isaías
Savio(1900-1977), que teve sua formação
violonística com Miguel Lobet. Suas
composições e transcrições ainda são
usadas em todo o país. Novamente são os
discípulos que irão transmitir os
ensinamentos do mestre. Os alunos de
Savio que mais se destacaram e ainda se
destacam são: Antonio Barbosa Lima,
Paulo Belinati e Henrique Pinto, este
último com um respeitadíssimo trabalho
didático e também com uma série de
discípulos proeminentes: Edelton Gloeden,
Ewerton Gloeden, Paulo Porto Alegre e
Angela Muner.
Também devemos destacar Jodacil
Damasceno, ex-aluno de Oscar Caceres,
professor de Turíbio Santos (1943), que
estudou com Segóvia e Juliam Bream.
Santos foi o primeiro brasileiro a vencer o
concurso Internacional de Violão em
1965,Paris. Também foi o primeiro a fazer
a gravação integral dos Doze Estudos de
Villa-lobos e participou da estréia mundial
do Sexteto Místico (Villa-lobos).Turíbio é
o maior divulgador da obra de Villa-Lobos,
e hoje dirige o Museu Villa-lobos.
Os irmão Abreu fizeram uma brilhante
carreira internacional, e também venceram
o concurso internacional de Paris. Hoje em
dia Sérgio Abreu se dedica a fabricação de
Violões.
A obra de Villa-lobos para violão é um
caso a parte. Muito conhecida
internacionalmente através do trabalho de
Turíbio Santos (entre vários), sobrepõe
todas as outras obras de compositores
brasileiros. Sua obra: Doze Estudos, Cinco
Prelúdios, a Suíte Popular Brasileira
composta de cinco
movimentos:Mazuca-choro,Schottish-Choro,
Valsa-choro,Gavota-choro ,Chorinho e o
Choro número um, composto como
introdução para os choros de câmara, e o
Concerto para Orquestra e Violão.
Devemos mencionar também Radamés
Gnatalli, Edino Krieger e a sua ótima
Ritmata, Marlos Nobre e Sérgio Assad
,que compõe para o duo com seu irmão
Odair,obras virtuosísticas e de efeito
impressionante.
O violão brasileiro já é uma forma de arte,
e sua força é indiscutível e reconhecida
internacionalmente. O trabalho de Paulo
Belinati, Marcos Pereira, Duo
Terra-Brasilis, Ulisses Rocha, Paulinho
Nogueira, Rafael Rabelo, Egberto
Gismonti e vários outros comprova que o
Brasil é reconhecidamente um exportador
de talentos.
Espero que este texto permita à todos,
apreciarem melhor o violão e estimule os
internautas a continuarem pesquisando.
Para este texto, foi utilizado como
referência o livro de Norton Dudeque,
História do Violão, Editora UFPR.
Rodrigo Ribeiro Gonçalves
CENTRAL MUSICAL BRASILEIRA
GALERIA VISCONDE DE PAJÉ
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