São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2000

Brasil desiste de ser sede de encontro

 DA SUCURSAL DO RIO

Entidades ligadas ao movimento negro afirmam que o Brasil desistiu de ser sede da reunião preparatória da América Latina para a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, que será realizada pela ONU na África do Sul em 2001, por receio de manifestações como as ocorridas em Porto Seguro nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento.

A denúncia foi apresentada pelas ONGs Geledés (Instituto da Mulher Negra), Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), Conen (Coordenação Nacional das Entidades Negras) e ENZP (Escritório Nacional Zumbi dos Palmares) em carta aberta distribuída semana passada em Genebra, durante reunião preparatória para a conferência.

A conferência preparatória seria realizada no Brasil em novembro -mês no qual os movimentos negros se mobilizam para comemorar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro).

A decisão de retirar o oferecimento foi comunicada à ONU na semana passada, durante a reunião de Genebra, e, segundo Ivanir dos Santos, secretário-executivo do Ceap, surpreendeu os membros da comissão organizadora do evento.

A justificativa apresentada pelo governo brasileiro à ONU foi a de dificuldades financeiras para organizar o evento. A conferência é a primeira organizada pela ONU para discutir a questão da discriminação racial. "Eles ficaram com medo de novas passeatas e de que, mais uma vez, o mundo todo soubesse o que acontece aqui", disse Ivanir dos Santos.

Na carta aberta distribuída aos participantes da reunião de Genebra, as ONGs afirmam que a decisão de não mais ser sede do encontro foi tomada para "evitar dar visibilidade ao quadro brutal de desigualdades raciais, que marca a face real do país".

O Ministério das Relações Exteriores confirmou à Folha a decisão de o Brasil não ser sede da reunião preparatória.
Os motivos, segundo a assessoria do Itamaraty, seriam explicados por Dulce Maria Pereira, presidente da Fundação Cultural Palmares (órgão ligado ao Ministério da Cultura) e do comitê preparatório do governo brasileiro para a conferência mundial. Contatada, Dulce pediu que as perguntas fossem enviadas por fax. Até as 19h, não havia respondido.

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