Itatiaia, Com ou Sem Chuva


Na trilha de Prateleiras
_ Massa, preciso de umas vinte pessoas para ir a Itatiaia.
O Chico, como de costume, estava aprontando. Inventou de ir a Itatiaia de ônibus, e precisava de contingente. Acertou com um pessoal da Fundação Japão para que conseguissem metade dos passageiros, e nós iríamos também, com o nosso pessoal. Como da primeira vez que fui para lá a chuva não deixou fazer nada, topei. Conseguimos juntar gente no limite, e eu ainda não acreditava que um ônibus pudesse fazer o percurso desde o topo da serra até o Hotel Alsene (hoje, já constatei que é perfeitamente possível, vi vários ônibus lá)... ainda mais um trucado.
Quando o ônibus entrou na estrada de terra (ou melhor, pedras), o motorista disse:
_ Ai, meu ônibus... ninguém avisou disso. Acho que não dá pra passar.
Eu argumentei que a estrada estava melhor que da vez anterior, e o hotel ficava "logo ali". Errei na distância, e no prognóstico. O ônibus atolou logo depois do laguinho, onde muita gente acampa. A subida em terreno arenoso obrigou-nos a descer do veículo, e estando mais de 1,8 ton. leve, ele venceu o obstáculo fácil. Chegamos ao Alsene aí pelas sete, e após nos acomodarmos (os escaladores em barracas e os "turistas" no hotel), resolvemos tomar o rumo do parque. Como já estava ferrado, o motorista nos levou até o Abrigo Rebouças (acreditem, chegou sem bater uma vez sequer - bateu o pára choques na volta, sozinho...). Eram 8 :30, e cerca de trinta pessoas estavam indo para as Agulhas Negras.
O Taka disse:
_ Eu tô fora. Não quero andar muito. Vou pras Prateleiras. Quem quer ir ?
Entre andar e escalar, prefiro a segunda. Me juntei a ele. Foram também a Marina e o Márcio.
Separamos o lanche e tomamos nossos rumos. O Taka, demonstrou seu incrível senso de direção, tendo as prateleiras sempre à, frente, errou a trilha (era o único que conhecia as Prateleiras) três vezes. Numa dessas de procurar a trilha correta, enquanto passava de uma pedra a outra maior para ver mais longe, uma laca saiu , derrubando-me quase num buraco. Girei o corpo para o outro lado e me agarrei em algo, ralando a palma da mão. Levou três semanas para a pele se recompor. Mas na hora, era apenas um machucadinho. Demos umas risadas e seguimos caminho. Ao passar por uma pedra plana, resolvemos comer algo (11:00hs), e acabamos cochilando ali mesmo, pois a pedra estava quentinha e nós não havíamos dormido direito no ônibus. Retomamos a trilha às 13:00hs, agora com o caminho mais certo.
Escalando a Sexto Sentido
Chegando na base das Prateleiras, ficamos a apreciar o vale que dá vista para o Rio. É uma sensação muito agradável estar nesses lugares altos, a observar como nossas vidas aqui em baixo são pequenas. Tem-se a impressão de poder compreender e colocar no devido lugar os problemas do dia-a-dia, o stress se dissolve no vento que bate no rosto.
Quando há a separação da trilha para as faces Norte e Sul, deparamos com a via conhecida como Sexto Sentido. Resolvemos então subi-la, e deixamos o pico para outra ocasião. Aliás, o único que subiu foi o Taka. Eu não conseguia ter firmeza nos pés, talvez por cansaço, talvez pela queda. Não passei da segunda costura. A Marina ficou só olhando e o Márcio também não conseguiu subir. O pobre Taka teve de subir outra vez para desarmar o sistema (ele havia preparado um Top), e às 17:00hs começamos a guardar nossas coisas.
Começou a chover quando terminamos de por as mochilas nas costas. Nos abrigamos em baixo de uma pedra, e esperamos que passasse. Quando por fim pusemos os pés na trilha, já começava a escurecer.
Chegamos ao Abrigo Rebouças por volta das 19:00hs. Aguardamos o pessoal, e víamos suas lanternas ao longe, mas nada de chegarem. Vez por outra uma lanterna sumia (era alguém tomando um tombo).
O Taka e o Márcio ficaram ali esperando. Voltei com a Marina até o Alsene, para preparar o jantar. A lua, embora não totalmente cheia e apesar das nuvens, iluminava de vez em quando o caminho, deixando-me poupar a lanterna. O farolete havia ficado com os outros dois, e as baterias duraram exatamente o percurso até o acampamento.
A Paella ficou pronta às dez horas, e nada do meu pessoal. Alguns hóspedes que estavam no hotel saíram de carro para ver se precisavam de ajuda no parque. Os primeiros a chegar estavam marrons. Parece que tiveram atraso devido ao grande número de gente. A saída das Agulhas se deu às 14:30, e várias pessoas tiveram dificuldade em descer a trilha. Fora os tombos, o aguaceiro, o charco que se formou, a trilha que "sumiu na água" e teve de ser redescoberta mais adiante, estavam todos bem. Só um com o pé torcido.
Quando os últimos chegaram, era uma da madrugada. Um banho quente, um jantar decente, e tudo virou "aventura para contar aos netinhos". Principalmente para aqueles que vieram pensando que seria um "passeio no parque".

Depois disso, fui várias vezes para lá. Em maio, de quatro semanas fomos três (na outra estávamos no Baú). Alguém se lembra de como estava cheio no Corpus Christi ? Pois é, nós estávamos lá também... Mesmo assim, ainda tem muita coisa para se conhecer naquele pedaço. Muitas vias que nem sabemos os nomes, muitas pedras virgens, e muita, muita chuva. Com certeza, vou para lá ainda em Janeiro, mesmo que chova. Afinal, se de cada três dias, um chove por ali, ficando dois, num deles posso escalar... ou não ?


Massa's HP
Pedra do Baú
Dedo de Deus
Petar
Pedra Grande
Pão de Açúcar
Corc. Ubatuba
Visual
© Massa - Dez/96