OS DRUIDAS


O povo celta tinha chegado a tão remotos e afastados lugares que, consequentemente, desenvolveria uma cultura própria e enraizada nas suas particulares crenças. Daqui a importância que adquirem os diversos mitos celtas, assim como a força de atração que emana dos seus legendários heróis, alguns dos quais guardam certa relação com os protagonistas da fábula clássica, especialmente com os gregos.
Mas também há que destacar a importância que alcança o sagrado e transcendente, o esotérico e o mítico, por esses contornos plenos de mistério. A importância que adquirem por então os monumentos megalíticos e, por conseguinte, tudo o relacionado com a morte, dará lugar à formação de sociedades garantes do culto e o rito, tais como os druidas que, segundo as investigações mais dignas de crédito, já na época neolítica tinham adquirido grande importância e tradição entre os irlandeses. Depois passariam, das Ilhas Britânicas, para o território galo, onde, junto com os cavaleiros, se converteriam numa das classes sociais mais influentes e poderosas daqueles tempos. Também houve outras associações que se ocupavam da interpretação taumaturgica daqueles fatos para os quais não se encontrava explicação racional; por exemplo, os bardos. Inclusive existiram sacerdotisas e magas que praticavam a arte da feiticeira e desenvolviam uns poderes poucos comuns.
No entanto, a instituição mais importante será a dos druidas. Estes realizavam os sacrifícios às diversas deidades, pelo que se poderia pensar que eram uma casta de sacerdotes e mais nada. No entanto, também eles resolviam as diversas controvérsias entre cidadãos, entre grupos sociais e entre populações diversas; todos estavam obrigados a cumprir o castigo imposto pelos druidas e todos deviam acatar a sentença por eles ditada, caso contrário eram excomungados e separados dos seus.
Os druidas tinham também um poder mágico que lhes permitia exercer, segundo o povo, como curandeiros e curadores de doenças da mente e do corpo.
Conheciam as propriedades de diversas plantas e utilizavam, além disso, para os seus salmos e sortilégios, couraças de ouriços fossilizados, coisa similar ao que, entre a população oriental, sucedia com as marcas das couraças das tartarugas quebradas pelo fogo, que depois eram objeto de interpretação mágica. Os druidas eram também considerados magos e adivinhos, e até existia a crença cosmológica de que eles tinham criado o espaço imenso e os mares e oceanos, que fariam possível o nascimento dos próprios deuses. O nosso mundo pereceria, na opinião dos druidas, pela água e pelo fogo; isto mesmo defenderia, na época clássica, a escola grega dos estóicos.
Os druidas também ensinavam a doutrina da metempsicose, ou transmigração das almas, pois acreditavam que havia outra vida, para além desta, na qual se pagavam todas as dívidas aqui contraídas. Só os druidas sabiam interpretar as inscrições lapidárias dos "oghams", espécie de mensagens gravadas na pedras dos recintos funerários que talvez aludam à vida no outro mundo.
Precisamente a palavra druida significa "o perito adivinho", por cujo motivo tinham a exclusiva, por assim dizer, da interpretação onírica, do conhecimento mágico do poder das plantas - especialmente louvavam as virtudes do agárico que só os druidas podiam tocar - e da curação e a clarividência.
Jovens seletos eram recrutados para formar a sociedade druídica. Permaneciam durante vinte anos aprendendo todas as técnicas necessárias para depois serem capazes de interpretar e memorizar textos sagrados, pois toda a tradição herdada dos antepassados era de viva voz. Tinham que chegar a dominar a astrologia, a adivinhação, a história e a teologia; o seu conhecimento dos fenômenos naturais, e da natureza em si, devia ser exaustivo.