A perseguição da sombra
Obs.: O conto não aconteceu comigo.
Quero contar um autêntico
caso extraordinário que se passou comigo, no ano de 1942 quando eu morava em
Tomás Coelho.
Sendo sócio de
Vicente de Carvalho, era e sou bastante conhecido no local, freqüentando sempre
reuniões e festas.
Assim é que, todos
os sábados ia a meus bailes, sendo dos que ficavam até o fim.
Certa vez, pela
meia-noite, saindo de uma dessas reuniões dançantes, em companhia de alguns
amigos, dirigimo-nos ao varejo da Estação, a fim de tomar um café.
Após ligeira
palestra, cada qual seguiu seu caminho, tendo eu tomado o rumo da Avenida Automóvel
Clube.
Embora a noite
estivesse escura e não houvesse iluminação por aquele local, eu caminhava
despreocupadamente estrada afora.
Justamente quando
passava pelo local denominado "Juramento", notei que uma sombra escura
seguia ao meu lado direito. Mesmo vendo que não havia luar naquela noite, parei
a fim de me certificar se se tratava ou não de minha própria sombra:
movimentei os braços e a sombra, no chão, não se mexeu, ficou imóvel!
Ali parado, sentindo
um terrível calafrio, monologuei desta forma:
- Aí do meu lado
direito não adianta!
Imediatamente e com
a maior surpresa, vi que a sombra dava uma volta por detrás de mim e passava
para meu lado esquerdo...
Continuei a andar, já
apavorado, sempre com o vulto a meu lado. Parei e disse-lhe:
- Aí do meu lado
esquerdo, também não adianta!
E comecei a me
benzer e a rezar.
Só então vi
perfeitamente que a sombra se afastava do meu lado, tomando a direção de uma
moita de capim que se achava à beira da estrada, sumindo por ali a dentro,
provocando enorme barulho.
Aliviado, tirei um
cigarro e pus-me a fumar.
Dentro em pouco
chegava a casa, batendo na porta e sendo atendido por meu pai, que, ao me ver
ainda pálido e trêmulo, perguntou o que acontecera.
Contei-lhe o
ocorrido, e meu velho então me disse:
- Toma cuidado,
rapaz, do contrário ainda verás assombrações a essas horas tardias da
noite...
E, desde então,
jamais desprezei aquele aviso sensato.