Falácias do raciocínio indutivo

«As falácias são erros, incorrecções em argumentos. Muitas delas são tão tentadoras e, portanto, tão comuns que até têm nomes próprios. [ ...]

As duas grandes falácias

    1. Um dos nossos erros mais comuns é tirarmos conclusões a partir de dados insuficientes. Se o primeiro lituano que encontrarmos for irascível, criamos a expectativa de que todos os lituanos serão irascíveis. Quando um navio desaparece no triângulo das Bermudas, os jornais sensacionalistas concluem que o triângulo das Bermudas está assombrado. Esta é a falácia da generalização a partir de informação incompleta.

É fácil ver este erro quando os outros o fazem, mas é mais difícil vê-lo quando somos nós a fazê-lo. [ ...]

    2. Outra falácia comum consiste em ignorar alternativas. [ ...]

Considere, por exemplo, [ ...] um argumento acerca de causas:

Uma boa maneira de evitar o divórcio é fazer amor frequentemente, porque os números mostram que os casais que fazem amor frequentemente raramente se divorciam.

Fazer amor frequentemente está correlacionado com o casamento feliz e supomos por isso que é a causa (ou uma causa) do casamento feliz. Mas o casamento feliz pode também conduzir às relações sexuais frequentes. Ou qualquer outra coisa (amor e atracção!) pode causar as relações sexuais frequentes e o casamento feliz. Ou qualquer dos factos pode causar o outro. Ou pode ser que as relações sexuais e o casamento feliz nem sequer estejam relacionados!

Acontece também que muitas vezes ignoramos alternativas quando estamos a tentar tomar decisões. Duas ou três opções podem sobressair e só a essas damos atenção. No seu famoso ensaio "O existencialismo é um humanismo", o filósofo Jean-Paul Sartre conta que um aluno seu, durante a ocupação da França pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, teve de escolher entre fazer uma viagem arriscada a Inglaterra para lutar pela França Livre e permanecer com a mãe em Paris para tomar conta dela. Sartre pinta o quadro como se o jovem tivesse de arriscar tudo numa viagem a Inglaterra e, assim, abandonar totalmente a mãe ou então dedicar-se completamente a ela e desistir de toda e qualquer esperança de combater os nazis. Mas há certamente outras possibilidades. Ele poderia ficar com a mãe e e mesmo assim trabalhar para a França Livre em Paris; ou poderia ficar com a mãe durante um ano e tentar garantir-lhe boas condições, tornando gradualmente possível a sua viagem a Inglaterra. E devemos acreditar que a mãe era completamente dependente e avidamente egoísta ou, pelo contrário, um pouco patriota e possivelmente também auto-suficiente? É muito provável, pois, que existam outras opções.

Também em questões éticas há tendência para se ignorarem alternativas. Dizemos ou que o feto é um ser humano, com todos os direitos que o leitor e eu temos, ou então que é um bocado de tecido, sem qualquer significado moral. Dizemos que qualquer uso de produtos animais é errado, ou que todos os usos correntes são aceitáveis. E assim por diante. Uma vez mais, contudo, existem com certeza outras possibilidades. Tente aumentar o número de opções a considerar, e não diminuí-lo!»

[ Listagem de algumas falácias]

«Ad hominem: atacar pessoalmente uma putativa autoridade e não as suas qualificações [ ...] .

Ad ignorantiam (apelo à ignorância): argumentar que uma afirmação é verdadeira só porque não se mostrou ser falsa. Um exemplo clássico é esta afirmação do senador americano Joseph McCarthy quando lhe foram exigidas provas para sustentar a sua acusação de que uma certa pessoa era comunista:

Não tenho muita informação sobre isso, excepto a declaração genérica da CIA de que nada existe nos seus ficheiros que refute os seus possíveis contactos comunistas.

Este é um exemplo extremo de "argumentar" a partir de informação incompleta: aqui não há pura e simplesmente informação.

Ad misericordiam (apelo à compaixão): apelar à compaixão como argumento para se obter um tratamento especial.

Sei que tive negativas em todos os testes, mas, se não passar de ano, terei de frequentar a escola de Verão. Tem de deixar-me passar!

Ad populum: apelar às emoções da multidão e também o apelo para que alguém se "deixe ir" com a multidão. Por exemplo: "Mas toda a gente o faz!" Ad populum é um bom exemplo de um mau argumento de autoridade: não se oferecem razões para mostrar que "toda a gente" é uma fonte informada e imparcial. [ ...]

Petição de princípio (petitio principii): usar implicitamente a sua conclusão como premissa.

Deus existe porque é a Bíblia que o afirma e eu sei que isso é verdade porque foi Deus, afinal, quem a escreveu!

Para escrever este argumento segundo a forma premissa-conclusão, teria de ser:

A Bíblia é verdadeira porque Deus a escreveu.

A Bíblia diz que Deus existe.

Logo, Deus existe.

Para defender a afirmação de que a Bíblia é verdadeira, afirma-se que Deus a escreveu. Mas, como é óbvio, se Deus escreveu a Bíblia, Deus existe. Logo, o argumento assume precisamente o que está a tentar provar.»

Anthony Weston, A Arte de Argumentar