Que dia é hoje? Domingo, 14 de outubro de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 26 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. Divagações sobre a paz no futuro (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. Poesias (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. Estresse e culpa (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Insight (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. Através dos conflitos (Leandro Monteiro Dal Bó - FALANDO SÉRIO) 7. O retorno e a dúvida da poesia (Almandrade - O PLUS A MAIS DE HOJE) 8. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. VOCÊ DEVE DIVULGAR ESTE E-ZINE. DIVULGUE O TRESLER. Hoje voltei da praia dirigindo. Andei acima de 100Km/h por um bom tempo, realizei inúmeras ultrapassagens e cheguei em casa finalmente, depois de mais ou menos duas horas e meia de estrada. Está, mas e aí? Fala Daniel diz minha namorada, sempre que fico algum tempo quieto. Bom, o que aconteceu comigo? Fui dirigindo para a praia e voltei também, pela primeira vez. Devo ter dirigido ao todo umas seis horas na estrada, levando em conta o engarrafamento na ida. Nunca pensei tanto. Conversei também, claro, mas pensei muito. Sempre faço brainstorms quando estou concentrado e realmente hoje na volta para casa eu vi como perdi tempo sendo "o passageiro". Quanto tempo que poderia ter ficado pensando que usei para dormir ou ver paisagens ou acompanhar o acostamento da estrada. Tantas coisas passaram pela minha cabeça e aquele carro a mais de 100Km/h e aquela mulher maravilhosa no banco do carona.... me senti muito feliz de ver onde cheguei (sim, fiz um resumo da minha vida durante toda a viagem), repassei minha realidade e vi meu futuro. Resumo da viagem? Sol, vento, ondas no mar, areia, pele queimada, música, comida e o amor no ar. Música da semana! Alice in Chains - Man in the Box Bad Religion - Shades of Truth Álbum da Semana! Bad Religion - No Substance Riff da semana! Bad Religion - A Walk (Gray Race) E---------------------------------------------- B-6-6-6-------------6-------6------------------ G-------7-7-5-7---3---5---3---5-4---4-5-4-3---- D---------------------------------------------- A---------------------------------------------- E---------------------------------------------- E---------------------------------------------- B-6-6-6-5-6-5-6--5-6-5-8-5-6-5-----6-6--------- G------------------------------5-7------------- D---------------------------------------------- A---------------------------------------------- E---------------------------------------------- E no tresler de hoje, uma poesia que virou música estilo declaração de amor para minha namorada e outra que eu não sei de onde saiu inspiração (acho que quando pensei que as casas da praia ainda não precisam de muros), um texto muito legal sobre poesia, um texto sobre os conflitos que o homem gera no mundo, divagações sobre a paz no futuro, pensamentos sobre como a vida é e a fé que vem a pé já que assim se é, e uma cena do cotidiano nojento da cidade de Porto Alegre com sua polícia altamente treinada para o crime, mas não preparada para enfrentar o normal. É o medo meu amigo. Daniel Wildt =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== DIVAGAÇÕES SOBRE A PAZ NO FUTURO "Eu fico aqui pensando, pensando No ano 2020 eu vou ter o que... 72, 73 anos Vai ser tudo igual Tudo tudo igual!" Rita Lee... Me lembro dela cantando essa música há alguns anos atrás. Eu ouvia e calculava quantos anos eu vou ter em 2020... E ficava pensando como será. O que vou estar fazendo aos 53, 54 anos... Futuro! De novo estou aqui escrevendo sobre o futuro. Mas dessa vez um pouco mais global. Estamos na era da globalização, não estamos? Não, mas não é nada disso! Quando eu ouvia essa música (e eu não lembro exatamente quanto tempo faz, mas sei que minha cabeça mudou muito desde então), eu pensava em mim, no meu futuro pessoal e profissional simplesmente. Hoje quando lembrei da música pensei no mundo... Quantos anos vai ter o mundo em 2020? Vai ser tudo igual...? Eu já não tenho mais tanta certeza. O mundo está de pernas pro ar! No mínimo! Tanta coisa ruim acontecendo nesse nosso planeta que às vezes eu me pergunto: É possível continuarmos a levar a mesma "vidinha besta" que sempre levamos, fazendo planos para o futuro, juntando grana para, egoísticamente, melhorar a própria vida.... Que futuro? Às vezes tenho a impressão de que o nosso mundo encaminha-se para um buraco negro sem volta. Ao invés de solidariedade, os homens trocam guerras. Os grandes líderes, talvez únicos capazes de evitar estas guerras, só fazem incentivá-las. Eles não se dão conta de que assim vão destruir o planeta?!?! E nós? O que nós podemos fazer? Nós, simples mortais, donos apenas do nosso nariz e não de um exército inteiro, nem de um país.... Nós, que não somos os donos do mundo, continuamos levando nossas vidas e lendo nos jornais os horrores do mundo como quem assiste a um filme de ficção. Ou, então, com a cabeça em conflito e as mãos meio que atadas nos perguntando o que podemos fazer para melhorar o nosso mundo. Se cada um fizer a sua parte em nome paz, um dia a humanidade chega lá. De grão em grão, a formiga enche o saco. Quanto mais pessoas estiverem cientes de que a paz é sempre o melhor caminho e a melhor solução, melhores serão as perspectivas de sobrevivência para o nosso planeta. O homem é belicoso por natureza, eu sei. Mas não seria tão mais fácil ser feliz vivendo em paz? Por que "eles" complicam tanto? Por que "eles" inventam cada vez mais instrumentos para destruir uns aos outros e se sentem vitoriosos ao final de guerras com centenas, milhares de vidas sacrificadas. Isso é vitória para quem? Sonho com um mundo onde não existem armas porque não precisamos delas. Não existem guerras, não existem discussões. Um mundo onde viver é a dádiva suprema e ser feliz é simples e direta conseqüência desse fato. Será que esse mundo é possível? "A war doesn't decide who's right, only who left." Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== QUANDO CHEGA A NOITE É quando o Sol se por, que eu vou falar Vou beijar tua boca, iluminada pelo luar Tocar teus cabelos, enquanto o vento toca os meus Verei teus olhos sorrindo como gosto Não, não me olha assim... esquece Já basta saber o que eu quero fazer Basta acordar para eu querer dormir Basta sentir a noite que quero acordar e sentir O amor cantando com o vento vendo o dia partir - -- -- -- - -- -- -- - -- -- -- - -- -- -- - -- -- -- - -- -- -- - -- -- - FIM DE TARDE Fim de tarde na cidade As pessoas voltam a vida E voltam a sentir saudade Da pessoa querida Seja quem for Queira como queira Cidade iluminada Já vou Semáforos lotados De meninos desamparados Ruas cheias De pais contando com a sorte De um país livre Preso à sua estupidez Que vive o presente Sem aprender a viver Daniel Wildt =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== ESTRESSE E CULPA Argumentei que já havia apresentado os documentos ao outro policial apontando para ele. Mas ao invés de uma desculpa, o homem reagiu dizendo: - Não me interessa! Quem está pedindo teus documentos agora sou eu! Me mostra que eu quero ver se está tudo certo mesmo! Estranhei um pouco a reação dele. Eu já havia sido parado a pé na rua em batidas policiais outras vezes, mas nunca tinha sido forçado a parar de carro por uma viatura em movimento. E também nunca tinha sido tratado com tanto desprezo por um policial. Enquanto uma parte do meu cérebro tentava me colocar em alerta trazendo à tona lembranças do episódio ocorrido recentemente em São Leopoldo, onde um jovem inocente foi morto em uma operação semelhante, a outra parte buscava entender o que se passava. A cena prosseguiu com os policiais revistando meu carro ao passo que o suposto comandante ameaçava guinchar o veículo, pois o meu IPVA ainda não chegara pelo correio. Para persuadí-lo a mudar de idéia, falei naturalmente: - Não precisa isso. Tu pode ver que eu paguei o IPVA. Tá aqui o comprovante. Então ele retrucou com autoridade: - "Tu" não! Senhor! "Tu" tu usa com teus amigos! Eu não lhe dei intimidade para isso. Me trate por senhor! Foi neste exato momento que a minha metade do cérebro preocupada em compreender a ocorrência me alertou com a resposta. Era um sábado após um feriado. Eu estava usando um tênis sujo, velho e rasgado, que costumo usar para jogar futebol. Minha bermuda barata estava manchada. Minha camiseta era velha e desbotada. Meu cabelo estava despenteado. Eu havia me vestido apenas para comprar uns remédios para o meu pai e não iria perder meu tempo precioso de descanso me arrumando para ir à farmácia. O carro, um velho kadett ano 93, com a surdina furada, completamente sujo e ainda por cima falhando por causa da gasolina adulterada que alguns postos vendem livremente por aí. E para piorar, eu estava falando de forma simples. Enfim, no julgamento daquele homem fardado eu me apresentava como uma pessoa simplória, presumivelmente ignorante e passível de humilhação e destrato. De imediato procurei restabelecer o controle da situação. - O "senhor" queira por obséquio me desculpar, cavalheiro. Eu não havia percebido que tratava com um oficial da brigada militar. Queira por gentileza aceitar minhas escusas. Eu lhe asseguro que não tornarei a incorrer neste erro deplorável. Fico deveras satisfeito que o "senhor" está designando os cuidados necessários ao patrulhamento de nossas avenidas. E estou certo que decidirá com sabedoria a respeito do meu descuido irrelevante com o IPVA do veículo. Hei de providenciar a imediata retificação do mesmo. O sujeito não disse uma palavra. Caminhou até a viatura, demorou uns 30 segundos e retornou. Me devolveu os documentos, pediu desculpas pelo incômodo e me desejou boa noite. Mas mesmo depois disso, o sentimento profundo de desgosto continuou. A sua atitude não mudou por causa da minha humildade, pois desde o momento em que ele me pediu para sair do carro eu me manifestei sempre humilde e submisso. A mudança ocorreu quando eu usei do recurso que dispunha de falar atráves de uma linguagem um pouco mais formal. Empregando menos de meia dúzia de adjetivos pouco utilizados no colóquio popular eu estava dizendo pra ele que não fazia parte do grupo de pessoas com as quais ele estava acostumado a lidar. Porém, agora eu pensava naqueles que não possuiam este recurso. A sensação que eu tive com a experiência foi tão ruim, que me repugnava pensar nas centenas de pessoas que diariamente passam por circunstâncias como essa. E de maneira bem pior, prolongada, pois elas não podem contar com o auxílio de uma roupa cara e elegante. Ou de um carro zero. Ou de olhos e pele claros. Tampouco de uma fala mais elaborada ou culta. Isso não faz parte do mundo delas. Dirigi até em casa remoendo uma raiva grotesca contra o policial. E demorei até ser avisado por alguma outra parte do meu cérebro de que ele não era o culpado disso. Ele tinha sido muito menos preparado do que eu para lidar com pessoas. Portanto, se eu quisesse culpar alguém, eu teria que achar outro responsável. Isto aliviou minha visão do brigadeano e melhorou um pouco meu ânimo. No entanto, terminei meu sábado com uma espécie de depressão, enquanto alguma parte do meu cérebro exibia insistentemente uma imagem do palácio do planalto. Eduardo Seganfredo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== INSIGHT - Olhe, eu realmente queria compartilhar desta sua fé. Realmente gostaria, pois tornaria tudo muito mais fácil. Eu saberia então que ele entraria naquela maldita sala e sairia de lá curado, pois o meu Deus ou meu Buda ou meu messias vai interceder por ele, MAS EU NÃO ACREDITO NISSO! Ele respirou rápida e profundamente, agitado, mexeu nos cabelos pôs-se de pé e prosseguiu, deliberadamente de costas para seu irmão mais velho. - Eu gostaria de saber que a mão do meu ou do seu deus vai guiar a mão dos médicos, ou melhor ainda, que o meu deus vai interceder diretamente pela saúde dele, e como num passe de mágica ele ficará finalmente bom, finalmente livre das dores, mas... - angustiado, passou a mão pelo rosto e fez menção de acender um cigarro. Lembrou-se de onde estava e parou o movimento automático. - Escute. Você já deixou o seu ponto de vista bem claro. Sei que discorda de muitas das minhas crenças, da maneira como meu comportamento é diferente do seu. Mas esta discussão realmente não leva a nada além de desgaste para nós e para o resto dos que estão aqui. Ao dizer isso, fez um gesto vago com as mãos e o olhos, de maneira a identificar os parentes e amigos que estavam no hall do hospital esperando o resultado da cirurgia de emergência a que se submetera o seu pai. - Eu sei, eu sei... - suspirou - eu, eu vou caminhar um pouco. Volto logo. Cansado, Leandro dirigiu-se à frente do hospital. Ficou feliz por poder escapar dos olhares de reprovação dos familiares. Precisava desesperadamente fumar. Mentalmente repreendeu-se por ter discutido novamente com seu irmão. De maneira alguma seu irmão mais velho, seu ídolo de infância, era má pessoa. Ele simplesmente tinha o péssimo hábito, na opinião de Leandro, de confiar demais em crenças. De entregar aquilo que pode ser feito pelo homem às mãos do seu deus. Agora, seu pai estava quase morrendo em uma sala de cirurgia e a única coisa que Cláudio fazia era orar, orar e orar. Como se fizesse alguma diferença, pensou Leandro. Como se fizesse alguma maldita diferença, pensou. Como se houvesse alguma justiça divina nesse mundo. Sim, pensou, se houvesse alguma justiça, não seria o nosso pai a enfrentar tudo isso. Seria algum miserável assassino que estaria lá, condenado. Quando pensou na palavra condenado, chorou. Uma lágrima quente rolou por seu rosto, quase incandescente. O choro não trouxe alívio. Por mais que se esforçasse, ele não conseguiu em momento algum de sua vida ter fé. Era inútil. Isto por que ele sabia que não havia nenhuma espécie de equilíbrio neste mundo. E também não havia nenhuma outra vida onde o equilíbrio fosse restaurado e os males fossem castigados. Na sua visão, refletida no seu modo de vida, não havia paraíso eterno, não havia tormento eterno e nenhuma espécie de vida pós-morte. Não havia sopro nem masturbação divina que criou o universo. Havia apenas células de carbono e impulsos elétricos metidos à besta. Era nisso que acreditava. Sim, realmente acreditava nisto. Sabia que no fundo, as coisas simplesmente são como elas são. Haja Deus, Buda ou Messias. Quase sorriu ao lembrar-se da palavra karma, mas esta não era ocasião para sorrisos. Nem para lágrimas, pois no final tudo ficaria bem. Karma, neh? Vincent Kellers =========================================================================== ================= FALANDO SÉRIO (Leandro Monteiro Dal Bó) ================= =========================================================================== Imagine um membro das forças armadas estadunidenses apontando às fotografias penduradas na parede de sua sala e dizendo a seu subalterno: "Ali, eu soltando a bomba de Hiroshima; na outra, bombardeando o Vietnã; ao lado, eu explodindo o Camboja; depois, lutando na Coréia, invadindo o Iraque... meu filho guerra boa é guerra na casa dos outros." Acima, na figura, escrito, em maiúsculas: GOD BLESS AMERICA. Esta charge do Angeli era o tema da redação que segue. ATRAVÉS DOS CONFLITOS A economia é diretriz. Políticas militares a protegem. Ainda hoje há uma correria dos países em direção ao poder militar. Uns protegem-se dos outros. Para após, desenvolverem-se internamente. Grande tensão e quase nenhuma cooperação. O atual presidente dos Estados Unidos, quando assumiu o posto, protegeu exageradamente a economia do país. Revelou despreocupação ecológica. Causou desgosto a inúmeros líderes europeus. Agora Bush é humanitário: diz defender o mundo como um todo, a democracia contra o terrorismo. Agora é apoiado pelos europeus. A grande maioria da população das grandes potências econômicas é a favor da vingança, do conflito. Quando todos assustaram-se, a competição foi esquecida e a união veio à tona: união é uma coisa esporádica, desesperada. A competição sempre prevaleceu. E isto é natural: jovens competem pelas universidades. Animais lutam por comida, abrigo, parceiro sexual. Plantas buscam, umas sobre outras, a energia solar. Isto demonstra o equilíbrio da natureza. É primordial a qualquer ser vivo o seu íntimo. A própria vida. Não apenas a sobrevida, mas a qualidade de vida. O homem não é diferente, obviamente. É ingênuo e até antinatural o desejo de alguns homens de tornar igualitária a sociedade. Desejo de controlar os eventos em busca da homogeneidade. Mesmo desejo de Hitler sobre os povos "inferiores". Sim, é desgostoso aos homens ver seus semelhantes sendo abandonados pela vida. Mas a ação impulsiva, pragmática e desesperada nunca terá resultados maiores que faíscas. É preciso ser lento, calmo. Dirão que, assim, a solução não será alcançada. É um grande problema. A solução jamais será alcançada: não é este um objetivo concreto. Mas sim, sacudir o planeta. A natureza tende a se equilibrar sempre. Quando o homem tenta torná-la estática (encontrar uma solução controlada) ela perde o prumo. O movimento é o prumo. Se a translação terrestre cessasse, "cairíamos" no Sol. O homem é extremo. Uns tão individualistas que chegam a desesperarem-se por si mesmos. Outros sociais em demasia: desesperam-se com o mundo. Estes tendem ao esquecimento de si mesmos; e aqueles, do mundo. Poucos se equilibram. Poucos são calmos. A solução não é algo a que se alcança, é algo sobre o qual se dança. É dinâmica. O que parece poder ser alcançado é transitório, é desespero. Algo de diferente talvez aconteça se mais homens transcenderem os conflitos entre competição e união, industrialização e natureza, dinheiro e amor, desespero e calma, densidade e leveza, análise e síntese. Leandro Monteiro Dal Bó =========================================================================== ==================== O PLUS A MAIS DE HOJE (Almandrade) =================== =========================================================================== O RETORNO E A DÚVIDA DA POESIA A poesia é um conhecimento à parte da razão tecnocrata que rege a sociedade contemporânea, hoje em dia, o homem se defronta com outras oportunidades de linguagens, outros conhecimentos, que deixou de lado o hábito da leitura, principalmente a leitura de poesias. Diante da informática, da música popular, do discurso político, não há lugar para a poesia. Mas de repente um surto de poesia tomou conta da cidade, saraus, recitais, debates, publicações, vão se espalhando e ocupando pequenos espaços nos centros urbanos, bares, cafés, bibliotecas. Páginas na internet. Parece que a poesia voltou a fazer parte da cidade. Mais uma ilustração da crise da linguagem, do pensar e da cidadania? Afinal de contas, poesia passou a ser tudo que alguém escreve movido por uma “inspiração”, uma revolta, uma paixão, um discurso livre e aleatório, como: a frase da mesa do bar, o bilhete da namorada, o discurso de protesto, etc. O poeta que já foi expulso da cidade, volta ao cenário urbano na condição de sintoma da cidade grande. ------------- A Poesia e a Cidade “Os poetas nos ajudarão a descobrir em nós uma alegria tão expressiva ao contemplar as coisas que às vezes viveremos, diante de um objeto próximo, o engrandecimento de nosso espaço íntimo.” (Bachelard) Desde quando a cidade é objeto de trabalho de especialista, ela passou a ser um corpo fragmentado e perdeu sua geografia poética. Primeiro foram os filósofos que expulsaram os poetas de sua república, depois foram os técnicos que destronaram a filosofia. Custou caro ao filósofo aceitar que o saber foi uma invenção do poeta, que a eternidade da Grécia se deve primeiramente a um Homero e depois a um Platão. Nessa mudança de século, a filosofia acabou ressuscitando um Sócrates arrependido, solicitando do poeta seu retorno à polis . Pudera, em épocas de crise sempre se apela para o poeta, ele que nada sabe, foi adivinho do passado e é livre para falar de suas emoções. Mas ele nada pode resolver com relação aos equívocos dos especialistas do urbano, a não ser restaurar a poesia perdida. A cidade de políticos e de técnicos tem problemas mais urgentes, para se preocupar com a poesia. Acreditava-se que a tecnologia era uma solução universal, mas se mantêm longe de dar respostas às demandas de habitação, segurança, transporte e educação. Não se canta mais a cidade, fala-se para lamentar seus problemas. A cidade precisa da poética e do pensamento. Quem se ocupa de conceitos sabe, sem negar a importância da tecnologia, que a cidade atualmente precisa mais do exercício da cidadania e das idéias, do que intervenções técnicas sem uma compreensão mais ampla dos seus problemas. As cidades modernas se ressentem da carência de uma nova idéia de planejamento urbano que não a veja exclusivamente como o cenário do mercado de trabalho. Pois a imagem urbana não se restringe àquilo que a percepção capta, é muito mais o que a imaginação inventa com a liberdade poética. As musas sabem que o poeta não vai salvar a cidade, mas ele é quem lida com a fantasia e o devaneio, indispensáveis para o sonho de uma outra expectativa de vida urbana. ------------- A Poesia e a Lógica da Linguagem “A poesia é uma arte da linguagem; certas combinações de palavras podem produzir uma emoção que outras não produzem, e que denominamos poética.” (Valery) O poeta vive num canteiro de obras. A musa, o acaso, a razão, o sentimento, os pensamentos abstratos são matérias primas para a sua poesia. Ele produz a partir da leitura de textos alheios, articulando idéias e costurando a linguagem. A poesia é um trabalho que exige de quem faz uma quantidade de reflexões, de decisões, de escolhas e de combinações. As leituras e as experiências modificam a escrita, as palavras não são totalmente espontâneas, como nas pinturas de um Pollock, há um trabalho e um cálculo da escrita. A linguagem poética difere da linguagem que utilizamos para a comunicação diária. Cada poeta explora a linguagem na busca de um acontecimento inesperado, de uma experiência singular. A linguagem cotidiana desaparece ao ser vivida, é substituída por um sentido. A poesia não, ela é feita expressamente para renascer de suas cinzas e vir a ser indefinidamente o que acabou de ser. Numa época marcada pelo desaparecimento do durável, transmutação rápida dos valores, sem tradição poética, a poesia retorna como um lugar de experiências contraditórias, para atender uma necessidade de lazer e divertimento, do que uma vontade de saber. Os saraus, recitais e debates têm mostrado uma ausência de uma percepção mais ampla das contradições da cultura, particularmente da literatura. A poesia que já participou como protagonista nos movimentos de vanguarda nos anos 20 e 50/60, reaparece na cena urbana deslocada de sua materialidade para falar de aparências e emoções Almandrade Artista plástico, poeta e arquiteto =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaboradores da edição de hoje: Almandrade (almandrade_x@ig.com.br) Leandro Monteiro Dal Bó (leandromdb@email.com.br) Visite o Site do nosso e-zine (edições antigas e outras coisas mais!): http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para (DIVULGUE!): tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com