TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 14 de outubro de 2001.

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Olá! Está é a edição número 26 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Divagações sobre a paz no futuro (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. Poesias (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Estresse e culpa (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Insight (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. Através dos conflitos (Leandro Monteiro Dal Bó - FALANDO SÉRIO)
7. O retorno e a dúvida da poesia (Almandrade - O PLUS A MAIS DE HOJE)
8. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Hoje  voltei  da  praia dirigindo. Andei acima de 100Km/h por um bom tempo,
realizei  inúmeras  ultrapassagens  e cheguei em casa finalmente, depois de
mais ou menos duas horas e meia de estrada.

Está, mas e aí? Fala Daniel diz minha namorada, sempre que fico algum tempo
quieto.  Bom,  o  que aconteceu comigo? Fui dirigindo para a praia e voltei
também,  pela  primeira  vez.  Devo ter dirigido ao todo umas seis horas na
estrada,  levando  em  conta  o  engarrafamento na ida. Nunca pensei tanto.
Conversei  também,  claro, mas pensei muito. Sempre faço brainstorms quando
estou  concentrado  e  realmente  hoje  na volta para casa eu vi como perdi
tempo  sendo  "o  passageiro". Quanto tempo que poderia ter ficado pensando
que  usei  para  dormir  ou  ver  paisagens  ou acompanhar o acostamento da
estrada.  Tantas coisas passaram pela minha cabeça e aquele carro a mais de
100Km/h  e  aquela mulher maravilhosa no banco do carona.... me senti muito
feliz  de ver onde cheguei (sim, fiz um resumo da minha vida durante toda a
viagem),  repassei  minha realidade e vi meu futuro. Resumo da viagem? Sol,
vento, ondas no mar, areia, pele queimada, música, comida e o amor no ar.

Música da semana!
Alice in Chains - Man in the Box
Bad Religion - Shades of Truth

Álbum da Semana!
Bad Religion - No Substance

Riff da semana!
Bad Religion - A Walk (Gray Race)
E----------------------------------------------
B-6-6-6-------------6-------6------------------
G-------7-7-5-7---3---5---3---5-4---4-5-4-3----
D----------------------------------------------
A----------------------------------------------
E----------------------------------------------

E----------------------------------------------
B-6-6-6-5-6-5-6--5-6-5-8-5-6-5-----6-6---------
G------------------------------5-7-------------
D----------------------------------------------
A----------------------------------------------
E----------------------------------------------

E no tresler de hoje, uma poesia que virou música estilo declaração de amor
para  minha  namorada  e outra que eu não sei de onde saiu inspiração (acho
que  quando  pensei  que as casas da praia ainda não precisam de muros), um
texto  muito  legal  sobre  poesia, um texto sobre os conflitos que o homem
gera  no  mundo, divagações sobre a paz no futuro, pensamentos sobre como a
vida  é  e  a  fé  que  vem a pé já que assim se é, e uma cena do cotidiano
nojento da cidade de Porto Alegre com sua polícia altamente treinada para o
crime, mas não preparada para enfrentar o normal. É o medo meu amigo.

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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DIVAGAÇÕES SOBRE A PAZ NO FUTURO

"Eu fico aqui pensando, pensando
 No ano 2020 eu vou ter o que...
 72, 73 anos
 Vai ser tudo igual
 Tudo tudo igual!"

Rita  Lee...  Me  lembro dela cantando essa música há alguns anos atrás. Eu
ouvia e calculava quantos anos eu vou ter em 2020... E ficava pensando como
será. O que vou estar fazendo aos 53, 54 anos... Futuro! De novo estou aqui
escrevendo  sobre  o futuro. Mas dessa vez um pouco mais global. Estamos na
era da globalização, não estamos? Não, mas não é nada disso!

Quando  eu  ouvia essa música (e eu não lembro exatamente quanto tempo faz,
mas  sei  que  minha cabeça mudou muito desde então), eu pensava em mim, no
meu  futuro  pessoal  e  profissional  simplesmente. Hoje quando lembrei da
música  pensei  no  mundo...  Quantos anos vai ter o mundo em 2020? Vai ser
tudo igual...? Eu já não tenho mais tanta certeza.

O  mundo  está  de  pernas  pro ar! No mínimo! Tanta coisa ruim acontecendo
nesse  nosso planeta que às vezes eu me pergunto: É possível continuarmos a
levar  a  mesma  "vidinha  besta" que sempre levamos, fazendo planos para o
futuro,  juntando  grana  para, egoísticamente, melhorar a própria vida....
Que  futuro?  Às  vezes tenho a impressão de que o nosso mundo encaminha-se
para um buraco negro sem volta. Ao invés de solidariedade, os homens trocam
guerras. Os grandes líderes, talvez únicos capazes de evitar estas guerras,
só  fazem  incentivá-las. Eles não se dão conta de que assim vão destruir o
planeta?!?!  E  nós?  O  que nós podemos fazer? Nós, simples mortais, donos
apenas do nosso nariz e não de um exército inteiro, nem de um país.... Nós,
que  não  somos os donos do mundo, continuamos levando nossas vidas e lendo
nos  jornais  os  horrores do mundo como quem assiste a um filme de ficção.
Ou,  então,  com  a  cabeça  em  conflito  e  as  mãos  meio que atadas nos
perguntando  o  que  podemos  fazer para melhorar o nosso mundo. Se cada um
fizer  a  sua  parte  em nome paz, um dia a humanidade chega lá. De grão em
grão,  a formiga enche o saco. Quanto mais pessoas estiverem cientes de que
a  paz  é  sempre  o  melhor  caminho e a melhor solução, melhores serão as
perspectivas de sobrevivência para o nosso planeta.

O  homem  é belicoso por natureza, eu sei. Mas não seria tão mais fácil ser
feliz  vivendo  em  paz?  Por  que  "eles"  complicam tanto? Por que "eles"
inventam  cada  vez  mais  instrumentos  para  destruir uns aos outros e se
sentem  vitoriosos  ao  final  de  guerras  com centenas, milhares de vidas
sacrificadas. Isso é vitória para quem? Sonho com um mundo onde não existem
armas  porque  não  precisamos  delas.  Não  existem  guerras,  não existem
discussões.  Um mundo onde viver é a dádiva suprema e ser feliz é simples e
direta conseqüência desse fato. Será que esse mundo é possível?

"A war doesn't decide who's right, only who left."

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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QUANDO CHEGA A NOITE

É quando o Sol se por, que eu vou falar
Vou beijar tua boca, iluminada pelo luar
Tocar teus cabelos, enquanto o vento toca os meus
Verei teus olhos sorrindo como gosto

Não, não me olha assim... esquece
Já basta saber o que eu quero fazer

Basta acordar para eu querer dormir
Basta sentir a noite que quero acordar e sentir
O amor cantando com o vento vendo o dia partir

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FIM DE TARDE

Fim de tarde na cidade
As pessoas voltam a vida
E voltam a sentir saudade
Da pessoa querida

Seja quem for
Queira como queira
Cidade iluminada
Já vou

Semáforos lotados 
De meninos desamparados
Ruas cheias
De pais contando com a sorte

De um país livre
Preso à sua estupidez
Que vive o presente 
Sem aprender a viver


Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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ESTRESSE E CULPA

Argumentei  que  já  havia  apresentado  os  documentos  ao  outro policial
apontando para ele. Mas ao invés de uma desculpa, o homem reagiu dizendo: -
Não me interessa! Quem está pedindo teus documentos agora sou eu! Me mostra
que eu quero ver se está tudo certo mesmo!

Estranhei  um  pouco  a reação dele. Eu já havia sido parado a pé na rua em
batidas  policiais  outras  vezes,  mas nunca tinha sido forçado a parar de
carro  por  uma viatura em movimento. E também nunca tinha sido tratado com
tanto  desprezo  por um policial. Enquanto uma parte do meu cérebro tentava
me  colocar  em  alerta  trazendo  à  tona  lembranças do episódio ocorrido
recentemente  em  São  Leopoldo,  onde  um  jovem inocente foi morto em uma
operação semelhante, a outra parte buscava entender o que se passava.

A  cena  prosseguiu  com  os  policiais revistando meu carro ao passo que o
suposto  comandante  ameaçava guinchar o veículo, pois o meu IPVA ainda não
chegara pelo correio.

Para  persuadí-lo a mudar de idéia, falei naturalmente: - Não precisa isso.
Tu pode ver que eu paguei o IPVA. Tá aqui o comprovante.

Então ele retrucou com autoridade: - "Tu" não! Senhor! "Tu" tu usa com teus
amigos! Eu não lhe dei intimidade para isso. Me trate por senhor!

Foi  neste  exato  momento  que  a  minha  metade  do cérebro preocupada em
compreender a ocorrência me alertou com a resposta.

Era  um  sábado  após  um  feriado. Eu estava usando um tênis sujo, velho e
rasgado,  que  costumo usar para jogar futebol. Minha bermuda barata estava
manchada.   Minha  camiseta  era  velha  e  desbotada.  Meu  cabelo  estava
despenteado.  Eu  havia  me vestido apenas para comprar uns remédios para o
meu  pai e não iria perder meu tempo precioso de descanso me arrumando para
ir  à  farmácia.  O  carro,  um  velho kadett ano 93, com a surdina furada,
completamente  sujo  e  ainda  por  cima  falhando  por  causa  da gasolina
adulterada  que  alguns  postos vendem livremente por aí. E para piorar, eu
estava falando de forma simples. Enfim, no julgamento daquele homem fardado
eu  me  apresentava  como uma pessoa simplória, presumivelmente ignorante e
passível  de  humilhação  e  destrato.  De imediato procurei restabelecer o
controle da situação.

-  O  "senhor"  queira  por obséquio me desculpar, cavalheiro. Eu não havia
percebido  que  tratava  com  um  oficial  da  brigada  militar. Queira por
gentileza  aceitar  minhas  escusas.  Eu  lhe  asseguro  que não tornarei a
incorrer neste erro deplorável. Fico deveras satisfeito que o "senhor" está
designando  os  cuidados necessários ao patrulhamento de nossas avenidas. E
estou  certo  que  decidirá  com  sabedoria  a  respeito  do  meu  descuido
irrelevante  com  o  IPVA  do  veículo.  Hei  de  providenciar  a  imediata
retificação do mesmo.

O  sujeito  não  disse  uma palavra. Caminhou até a viatura, demorou uns 30
segundos  e  retornou.  Me  devolveu  os  documentos,  pediu desculpas pelo
incômodo e me desejou boa noite.

Mas  mesmo depois disso, o sentimento profundo de desgosto continuou. A sua
atitude não mudou por causa da minha humildade, pois desde o momento em que
ele me pediu para sair do carro eu me manifestei sempre humilde e submisso.
A  mudança  ocorreu quando eu usei do recurso que dispunha de falar atráves
de  uma  linguagem  um pouco mais formal. Empregando menos de meia dúzia de
adjetivos  pouco  utilizados  no colóquio popular eu estava dizendo pra ele
que  não fazia parte do grupo de pessoas com as quais ele estava acostumado
a lidar.

Porém,  agora eu pensava naqueles que não possuiam este recurso. A sensação
que  eu  tive  com  a experiência foi tão ruim, que me repugnava pensar nas
centenas  de pessoas que diariamente passam por circunstâncias como essa. E
de  maneira  bem pior, prolongada, pois elas não podem contar com o auxílio
de  uma  roupa  cara  e  elegante.  Ou de um carro zero. Ou de olhos e pele
claros. Tampouco de uma fala mais elaborada ou culta. Isso não faz parte do
mundo delas.

Dirigi até em casa remoendo uma raiva grotesca contra o policial. E demorei
até  ser avisado por alguma outra parte do meu cérebro de que ele não era o
culpado  disso.  Ele  tinha sido muito menos preparado do que eu para lidar
com  pessoas.  Portanto,  se  eu quisesse culpar alguém, eu teria que achar
outro  responsável.  Isto  aliviou  minha visão do brigadeano e melhorou um
pouco meu ânimo.

No  entanto,  terminei  meu  sábado  com uma espécie de depressão, enquanto
alguma parte do meu cérebro exibia insistentemente uma imagem do palácio do
planalto.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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INSIGHT

- Olhe, eu realmente queria compartilhar desta sua fé. Realmente  gostaria,
pois  tornaria  tudo  muito  mais  fácil. Eu saberia então que ele entraria
naquela  maldita sala e sairia de lá curado, pois o meu Deus ou meu Buda ou
meu messias vai interceder por ele, MAS EU NÃO ACREDITO NISSO!

Ele  respirou  rápida e profundamente, agitado, mexeu nos cabelos pôs-se de
pé e prosseguiu, deliberadamente de costas para seu irmão mais velho.

- Eu gostaria de saber que a mão do meu ou do seu deus vai guiar a mão  dos
médicos,  ou  melhor  ainda, que o meu deus vai interceder diretamente pela
saúde  dele,  e  como  num  passe  de  mágica  ele  ficará  finalmente bom,
finalmente  livre das dores, mas... - angustiado, passou a mão pelo rosto e
fez  menção  de  acender  um  cigarro.  Lembrou-se de onde estava e parou o
movimento automático.

- Escute.  Você já deixou o seu ponto de vista bem claro. Sei que  discorda
de muitas das minhas crenças, da maneira como meu comportamento é diferente
do  seu. Mas esta discussão realmente não leva a nada além de desgaste para
nós e para o resto dos que estão aqui. Ao dizer isso, fez um gesto vago com
as  mãos  e  o  olhos,  de  maneira  a identificar os parentes e amigos que
estavam no hall do hospital esperando o resultado da cirurgia de emergência
a que se submetera o seu pai.

- Eu sei, eu sei... - suspirou - eu, eu vou caminhar um pouco. Volto logo.

Cansado,  Leandro  dirigiu-se  à  frente do hospital. Ficou feliz por poder
escapar     dos   olhares   de   reprovação   dos   familiares.   Precisava
desesperadamente    fumar.  Mentalmente  repreendeu-se  por  ter  discutido
novamente  com seu irmão. De maneira alguma seu irmão mais velho, seu ídolo
de  infância,  era  má  pessoa. Ele simplesmente tinha o péssimo hábito, na
opinião  de  Leandro,  de confiar demais em crenças. De entregar aquilo que
pode  ser feito pelo homem às mãos do seu deus. Agora, seu pai estava quase
morrendo  em  uma  sala  de  cirurgia e a única coisa que Cláudio fazia era
orar, orar e orar. Como se fizesse alguma diferença, pensou Leandro.

Como  se  fizesse alguma maldita diferença, pensou. Como se houvesse alguma
justiça  divina  nesse  mundo. Sim, pensou, se houvesse alguma justiça, não
seria  o  nosso  pai a enfrentar tudo isso. Seria algum miserável assassino
que  estaria lá, condenado. Quando pensou na palavra condenado, chorou. Uma
lágrima quente rolou por seu rosto, quase incandescente.

O choro não trouxe alívio. Por mais que se esforçasse, ele não conseguiu em
momento  algum  de  sua vida ter fé. Era inútil. Isto por que ele sabia que
não  havia  nenhuma  espécie  de equilíbrio neste mundo. E também não havia
nenhuma  outra  vida  onde  o equilíbrio fosse restaurado e os males fossem
castigados.  Na sua visão, refletida no seu modo de vida, não havia paraíso
eterno,  não havia tormento eterno e nenhuma espécie de vida pós-morte. Não
havia  sopro  nem  masturbação  divina  que  criou o universo. Havia apenas
células  de  carbono  e  impulsos  elétricos metidos à besta. Era nisso que
acreditava.

Sim, realmente acreditava nisto. Sabia que no fundo, as coisas simplesmente
são  como  elas são. Haja Deus, Buda ou Messias. Quase sorriu ao lembrar-se
da  palavra  karma,  mas  esta  não  era  ocasião  para  sorrisos. Nem para
lágrimas, pois no final tudo ficaria bem. Karma, neh?

Vincent Kellers

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================= FALANDO SÉRIO (Leandro Monteiro Dal Bó) =================
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Imagine    um   membro  das  forças  armadas  estadunidenses  apontando  às
fotografias  penduradas  na  parede de sua sala e dizendo a seu subalterno:
"Ali, eu soltando a bomba de Hiroshima; na outra, bombardeando o Vietnã; ao
lado,  eu  explodindo  o  Camboja;  depois,  lutando na Coréia, invadindo o
Iraque...  meu  filho  guerra  boa  é guerra na casa dos outros." Acima, na
figura,  escrito,  em  maiúsculas: GOD BLESS AMERICA. Esta charge do Angeli
era o tema da redação que segue.

ATRAVÉS DOS CONFLITOS

A  economia  é  diretriz. Políticas militares a protegem. Ainda hoje há uma
correria  dos  países  em  direção  ao  poder  militar. Uns protegem-se dos
outros.  Para  após,  desenvolverem-se  internamente. Grande tensão e quase
nenhuma cooperação. O atual presidente dos Estados Unidos, quando assumiu o
posto,  protegeu  exageradamente a economia do país. Revelou despreocupação
ecológica.  Causou  desgosto  a  inúmeros  líderes  europeus.  Agora Bush é
humanitário:  diz  defender  o  mundo  como  um todo, a democracia contra o
terrorismo.  Agora  é apoiado pelos europeus. A grande maioria da população
das grandes potências econômicas é a favor da vingança, do conflito. Quando
todos  assustaram-se,  a  competição  foi  esquecida e a união veio à tona:
união é uma coisa esporádica, desesperada.

A  competição  sempre  prevaleceu.  E isto é natural: jovens competem pelas
universidades.  Animais  lutam por comida, abrigo, parceiro sexual. Plantas
buscam,  umas sobre outras, a energia solar. Isto demonstra o equilíbrio da
natureza.  É  primordial  a qualquer ser vivo o seu íntimo. A própria vida.
Não apenas a sobrevida, mas a qualidade de vida.

O  homem  não é diferente, obviamente. É ingênuo e até antinatural o desejo
de  alguns homens de tornar igualitária a sociedade. Desejo de controlar os
eventos  em  busca  da homogeneidade. Mesmo desejo de Hitler sobre os povos
"inferiores".

Sim,  é  desgostoso  aos homens ver seus semelhantes sendo abandonados pela
vida.  Mas a ação impulsiva, pragmática e desesperada nunca terá resultados
maiores que faíscas.

É preciso ser lento, calmo. Dirão que, assim, a solução não será alcançada.
É  um  grande  problema.  A  solução  jamais  será alcançada: não é este um
objetivo  concreto.  Mas  sim,  sacudir  o  planeta.  A natureza tende a se
equilibrar  sempre.  Quando  o homem tenta torná-la estática (encontrar uma
solução  controlada)  ela  perde  o  prumo.  O  movimento  é  o prumo. Se a
translação terrestre cessasse, "cairíamos" no Sol.

O homem é extremo. Uns tão individualistas que chegam a desesperarem-se por
si  mesmos.  Outros  sociais  em  demasia: desesperam-se com o mundo. Estes
tendem  ao  esquecimento  de  si  mesmos;  e  aqueles,  do mundo. Poucos se
equilibram.  Poucos  são  calmos.  A solução não é algo a que se alcança, é
algo  sobre o qual se dança. É dinâmica. O que parece poder ser alcançado é
transitório,  é desespero. Algo de diferente talvez aconteça se mais homens
transcenderem  os  conflitos  entre  competição e união, industrialização e
natureza, dinheiro e amor, desespero e calma, densidade e leveza, análise e
síntese.

Leandro Monteiro Dal Bó

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==================== O PLUS A MAIS DE HOJE (Almandrade) ===================
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O RETORNO E A DÚVIDA DA POESIA

A poesia é um conhecimento à parte da razão tecnocrata que rege a sociedade
contemporânea, hoje em dia, o homem se defronta com outras oportunidades de
linguagens,  outros  conhecimentos, que deixou de lado o hábito da leitura,
principalmente  a  leitura  de  poesias.  Diante  da informática, da música
popular,  do  discurso político, não há lugar para a poesia. Mas de repente
um  surto  de  poesia  tomou  conta  da  cidade, saraus, recitais, debates,
publicações,  vão  se  espalhando  e  ocupando pequenos espaços nos centros
urbanos,  bares,  cafés,  bibliotecas.  Páginas  na  internet. Parece que a
poesia  voltou  a  fazer  parte  da cidade. Mais uma ilustração da crise da
linguagem,  do pensar e da cidadania? Afinal de contas, poesia passou a ser
tudo  que  alguém  escreve  movido  por  uma “inspiração”, uma revolta, uma
paixão,  um  discurso  livre  e  aleatório, como: a frase da mesa do bar, o
bilhete  da  namorada,  o  discurso  de  protesto,  etc. O poeta que já foi
expulso da cidade, volta ao cenário urbano na condição de sintoma da cidade
grande.

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A Poesia e a Cidade

“Os  poetas  nos  ajudarão a descobrir em nós uma alegria tão expressiva ao
contemplar as coisas que às vezes viveremos, diante de um objeto próximo, o
engrandecimento de nosso espaço íntimo.”
                                                                (Bachelard)

Desde  quando  a  cidade é objeto de trabalho de especialista, ela passou a
ser  um corpo fragmentado e perdeu sua geografia poética. Primeiro foram os
filósofos  que  expulsaram  os  poetas  de  sua  república, depois foram os
técnicos que destronaram a filosofia. Custou caro ao filósofo aceitar que o
saber  foi  uma  invenção  do  poeta,  que  a  eternidade da Grécia se deve
primeiramente  a um Homero e depois a um Platão. Nessa mudança de século, a
filosofia  acabou  ressuscitando  um  Sócrates  arrependido, solicitando do
poeta seu retorno à polis . Pudera, em épocas de crise sempre se apela para
o poeta, ele que nada sabe, foi adivinho do passado e é livre para falar de
suas  emoções.  Mas  ele  nada  pode resolver com relação aos equívocos dos
especialistas do urbano, a não ser restaurar a poesia perdida.

A  cidade  de  políticos e de técnicos tem problemas mais urgentes, para se
preocupar  com  a  poesia.  Acreditava-se  que a tecnologia era uma solução
universal,  mas  se mantêm longe de dar respostas às demandas de habitação,
segurança,  transporte e educação. Não se canta mais a cidade, fala-se para
lamentar  seus problemas. A cidade precisa da poética e do pensamento. Quem
se  ocupa  de  conceitos sabe, sem negar a importância da tecnologia, que a
cidade  atualmente  precisa mais do exercício da cidadania e das idéias, do
que   intervenções  técnicas  sem  uma  compreensão  mais  ampla  dos  seus
problemas.  As  cidades modernas se ressentem da carência de uma nova idéia
de  planejamento  urbano  que  não  a veja exclusivamente como o cenário do
mercado  de  trabalho.  Pois  a imagem urbana não se restringe àquilo que a
percepção  capta,  é  muito mais o que a imaginação inventa com a liberdade
poética. As musas sabem que o poeta não vai salvar a cidade, mas ele é quem
lida  com a fantasia e o devaneio, indispensáveis para o sonho de uma outra
expectativa de vida urbana.

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A Poesia e a Lógica da Linguagem

“A  poesia  é  uma  arte da linguagem; certas combinações de palavras podem
produzir uma emoção que outras não produzem, e que denominamos poética.”
                                                                   (Valery)

O poeta vive num canteiro de obras. A musa, o acaso, a razão, o sentimento,
os  pensamentos abstratos são matérias primas para a sua poesia. Ele produz
a  partir  da  leitura de textos alheios, articulando idéias e costurando a
linguagem.  A  poesia é um trabalho que exige de quem faz uma quantidade de
reflexões,  de  decisões,  de  escolhas  e de combinações. As leituras e as
experiências    modificam   a  escrita,  as  palavras  não  são  totalmente
espontâneas,  como  nas pinturas de um Pollock, há um trabalho e um cálculo
da  escrita.  A linguagem poética difere da linguagem que utilizamos para a
comunicação  diária.  Cada  poeta  explora  a  linguagem  na  busca  de  um
acontecimento    inesperado,  de  uma  experiência  singular.  A  linguagem
cotidiana  desaparece ao ser vivida, é substituída por um sentido. A poesia
não,  ela  é  feita  expressamente para renascer de suas cinzas e vir a ser
indefinidamente o que acabou de ser.

Numa época marcada pelo desaparecimento do durável, transmutação rápida dos
valores,   sem  tradição  poética,  a  poesia  retorna  como  um  lugar  de
experiências  contraditórias,  para  atender  uma  necessidade  de  lazer e
divertimento,  do  que  uma vontade de saber. Os saraus, recitais e debates
têm  mostrado  uma ausência de uma percepção mais ampla das contradições da
cultura,  particularmente  da  literatura.  A poesia que já participou como
protagonista  nos movimentos de vanguarda nos anos 20 e 50/60, reaparece na
cena  urbana  deslocada  de  sua  materialidade  para falar de aparências e
emoções

Almandrade
Artista plástico, poeta e arquiteto

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  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
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Colaboradores da edição de hoje:
  Almandrade (almandrade_x@ig.com.br)
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Última atualização em 03 de dezembro de 2001
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