Que dia é hoje? Domingo, 23 de setembro de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 23 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. A Corrida Maluca (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. Umas idéias jogadas no papel (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. American War (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Rock garagem (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. O fim da arte (Almandrade - O PLUS A MAIS DE HOJE) 7. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== Algo vai acontecer. Ontem fui comer em um restaurante e o meu número de espera era 23. Hoje, estou escrevendo o editorial do Tresler 23. Hoje é dia 23. Na parede do meu quarto, tenho um quadro do Michael Jordan, eterno número 23. Ano que vem eu vou fazer 23 anos. Esse negócio de coisas que acontecem e a gente tentar achar nexo em tudo, é engraçado até certo ponto, mas pode se tornar uma fixação ou algo assim, sei lá. Tomem cuidado com isso. Só para constar, essa última frase, tomem cuidado com isso, incluindo o ponto, possui 23 caracteres. Estou falando que a coisa é séria! Vou me tratar, eu acho. Ah, essa aí também tem 23 caracteres contando com o ponto. Heh. Música da semana! Herbert Vianna - O Muro Álbum da Semana! Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder No Tresler de hoje, corridas malucas, uns textos juntinhos, guerra e paz, arte, shows de rock, overflow, relação pai e filho, dick vigarista, talibã, estados unidos, brasil, poesia, encontros e desencontros, destino. Daniel Wildt, agora com um violão com cordas de aço. =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== A CORRIDA MALUCA No domingo 2 de setembro, no KurzPark Oberlaa, um parque um pouco afastado do centro de Viena, fomos ver uma Corrida Maluca. Estão lembrados do desenho com o Dick Vigarista e a Penelope Charmosa? Pois é, era mais ou menos nesse estilo. Mas para a frustração das minhas fantasias infantis não vi nenhum dos dois por lá. Talvez eles não sejam austríacos. A Corrida Maluca em Viena começava ao meio dia. Na verdade, não era bem uma corrida e sim uma cronometragem de tempo. Carros dos mais diversos estilos preparados pelos concorrentes desciam uma lomba e tinham seu tempo cronometrado. Tinha de tudo um pouco: uma mesa de restaurante com dois caras comendo espaguete, um imenso barril, um cacho de uvas feito de balões, diversos carros dos Flintstones diferentes, um ou dois em formato de tapete voador, uma cama de hospital... E por aí vai... Tudo que a criatividade austríaca permitiu descendo a lomba com um monte de gente em volta assistindo. Alguns capotavam, alguns desciam a mil, outros desciam empurrando o carro com o pé ou com ajuda da equipe de seguraça. Não sei o que valia mais se era a criatividade ou a rapidez do carro. Do meio dia às 4 da tarde passaram mais de 140 carros malucos e a corrida ainda não tinha terminado. Mas mais engracado do que a Corrida Maluca foi observar a educação e comportamento dos austríacos, povo que se diz do primeiro mundo, assistindo à corrida! Tinham sido amarradas cordas dos dois lados da pista. No meu entendimento, se existe uma corda separando a pista dos espectadores, signifca que não é permitido passar pela pista. Bom, mas acho que os austríacos não entenderam bem assim. Lá pelas tantas, não sei como, grande parte do público já tinha atravessado a pista de uma forma ou de outra e estavam querendo voltar. A essas alturas, estávamos sentados no chão (como muita gente) assitindo a corrida. Do outro lado da pista, várias pessoas se amontoavam e queriam continuar descendo até chegar na saída do parque. Um paciente segurança explicava a cada um que tentava passar que não era possível continuar, pois lá para baixo estavam os equipamentos da segurança e pessoal autorizado. Do nosso lado da pista, não podíamos ouvir (e mesmo que pudéssemos provavelmente não entenderíamos) o que ele dizia, mas observando a situação, era fácil imaginar o diálogo. O segurança então pedia que eles esperassem e fazia sinal para cruzarem a pista conforme os carros passavam. Como as pessoas tinham chegado lá eu não faço a menor idéia. Devem ter pulado a tal corda que tinha como função exatamente impedi-las de fazer isso. A cada dois minutos uma leva de pessoas atravessava a pista pulando a corda ou tentando passar por baixo e impedindo que as que estavam do nosso lado da pista assistissem à corrida em paz. Até aí, tudo bem. Era só deixar um espaço para elas poderem passar por entre os que assistiam à corrida. Lá pelas tantas, do outro lado, o segurança deve ter cansado de repetir a mesma coisa milhares de vezes e, com a ajuda de um colega, resolveu tomar outras providências. Eles pediram para as pessoas recuarem e levantaram um pouco a corda que, obviamente, não impedia que as pessoas passassem. Feito isso, os dois pensaram que o problema estava resolvido e foram sentar-se perto de um carro da segurança um pouco mais abaixo. Não demorou e as pessoas estavam pulando a corda. O primeiro segurança, na sua infindável paciência, recomeçou a explicar a cada um que não era permitido descer ali e a pedir que as pessoas atravessasem a pista. Ou seja, o problema ainda não estava resolvido. A segunda idéia deles para barrar a multidão que não estava disposta a cumprir regras foi colocar o carro no caminho dos que desciam. Parece que também não funcionou muito porque desta forma não era possível impedir as pessoas de pularem a corda e começarem a ficar paradas no meio da pista já que não tinha mais como continuar descendo. Mais uma vez eles tentaram. Pegaram uma parte de algum equipamento que estava por ali e colocaram entre a coluna do lado da pista e a cerca do parque por onde as pessoas estavam passando para descer. "Ah, agora sim eles não têm mais por onde passar!" Imagino que foi o que o nosso paciente segurança pensou ao se retirar do local. Bom, obviamente ele não considerou a hipótese de as pessoas retirarem o equipamento que eles colocaram obstruindo a passagem, assim como também não considerou a hipótese de elas passarem por dentro da pista e continuarem sua incansável descida. Os outros seguranças então começaram a explicar para diversas pessoas que não era permitido continuar descendo e que elas tinham que voltar ou atravessar a pista!!! Será que o fato de ter uma corda, um carro e uma coluna amarrada a um entulho no meio do caminho não são suficientes para o desconfiômetro de um austríaco acusar que não é permitdo seguir caminho?!?! Enfim, a história não parou por aí... Teve também uma mulher que queria atravessar a pista do nosso lado para o outro onde estavam os nossos incansáveis seguranças que, continuavam mantedo a calma e tentando barrar a multidão. Esta, por sua vez, não vendo passagem por entre as pessoas que estavam à beira da pista, se jogou por cima de alguns para poder chegar do outro lado, empurrando outra mulher que estava na beirada da pista e quase provocando uma discussão. Mais um problema comum por aqui... Eles não sabem pedir licença! A confusão provavelmente não tenha parado por aí, pois ainda tinha muita gente para atravessar a pista. Admirei muito os seguranças que não se cansaram de tentar artifícios para impedir as pessoas de passarem por onde não era permitido e não perderam a paciência e o bom-humor ao ver que nenhum de seus artifícios parecia funcionar como devia. Na verdade, nesse aspecto do quesito educação, acho que muitas vezes nos saímos melhor do que os europeus. Quem já esteve na Europa sabe muito bem como os europeus em geral lidam com esse tipo de coisa. São muitos "por favores" e "obrigados" o tempo inteiro em todas as línguas, mas algumas vezes meio da boca para fora. Não que essas palavras, muito pouco usadas pela maioria dos brasileiros, não sejam importantes. Mas muito importante também é a ação que deve acompanhá-las. Por exemplo, fala-se dos brasileiros porque fazemos fila para tudo. Os europeus, na sua maioria, não sabem fazer fila. E "desculpa" ou com "licença" não são palavras tão comuns por aqui como "por favor" e "obrigado". Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== UMAS IDÉIAS JOGADAS NO PAPEL Escrever é uma terapia e tanto sabe... pegar uma folha de papel, pautado ou não, aquele branco todo esperando para ser rabiscado e preenchido com idéias sérias, engraçadas, poéticas, musicais, eróticas, sensuais, românticas, vale tudo. Escrever é o que há. E hoje, eu vou escrever uns pedaços de texto. Eu estava mexendo em emails antigos que eu mando para minhas próprias caixas postais, com idéias que tenho, com pensamentos que apareceram na hora, sabe, eu não perco tempo, já mando um email com a idéia que me aparece. Eu durmo com um bloco de papel e uma caneta. Então vamos lá. Vou colocar para vocês alguns desses textos. No final deles eu coloco uma pequena explicação sobre o momento. Uma amiga me falou que tenho que ter um Blog, uma abreviação para WebLog... sei lá, a coluna desta semana pode ser um preview disso, mas hoje eu sei que não tenho tempo para manter um Blog. Então fica apenas aqui registrada uma experiência. -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- Meu pai sempre foi meu herói, meu "cara". Hoje eu mandei ele a merda. Que droga. Ele nunca levantou a voz para mim. O que aconteceu? Culpa da minha namorada, do meu chefe, culpa do time do São Paulo que perdeu, dos meus problemas pessoais, dos meus amigos que eu não vejo mais, do basquete que eu não estou mais jogando, da minha irmã que não converso mais tanto quanto conversava, do meu mestrado que está ficando de lado, dos meus sonhos que estão indo por água abaixo. Vai saber. Eu sempre gostei de ser feliz, quem não gosta. Certo, tem gente que não vive sem ter um problema existencial, sem deixar alguém infeliz durante o dia. Não me importo com isso. O que importa é que eu não estou bem. Sinto que vou morrer. Todos morrem um dia, mas o Daniel sonhador estava morrendo cara, e eu não estou acreditando que deixei chegar neste ponto. Não é questão de estar com probleminhas. Eu só tenho "icebergs right ahead", saca a idéia? <<27/06/2001, um dia que eu mandei meu pai a merda. E foi só nesse dia. Nunca mais. Foi como uma ducha fria caindo na minha cabeça. Acordei, levantei e comecei novamente a viver.>> -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- Não leve uma canção de amor ou poema que eu te escrevi Leve meu amor no teu peito, pois ele será eterno. <<03/07/2001, ouvindo uma música dos acústicos e valvulados, me veio esta variante. Mandei para o celular da minha namorada.>> -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- eu me regenero eu me regenero como o fogo de uma paixão espero um dia poder dizer o que sinto com a vida sempre me dizendo não e eu não acredito nessas provações vivo com a imagem de um perdão querendo ter novos desafios e nada acontece senão desvios que me tiram todo e qualquer sentimento de pensar que amanhã posso estar melhor que minha música vai tocar na rádio para me alegrar e dizer que tenho que acordar para a vida pois ela nunca para deixar a morte de lado pois a vida nunca larga de querer me levar para longe dos meus sonhos <<04/09/2001, um dia meio down, com problemas familiares rodando pelos meus pensamentos. isso foi feito num final de dia de trabalho, início da hora do Brasil.>> -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- Que dia Naquele dia tudo parecia estar perdido. Eu queria dormir, e ela ir para casa, depois de festejar o aniversário. Acabamos nos encontrando no mesmo local. Depois de um tempo, eu queria ir embora, lugar chato. Ela não queria conversar com quem estava por perto. Resolvi ir embora. Na saída, quase pagando a conta, nossos olhares se encontraram pela primeira vez. Ela tinha se virado para não participar da conversa e eu estava suspirando, buscando dar uma última olhada no local. Nossos olhares se encontram desde então. <<01/04/2001, dia e forma como conheci minha namorada. Amor a primeira vista existe sim. E aconteceu comigo.>> -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- E estes foram os momentos de hoje. Alguns recentes, outros nem tanto, mas todos muito importantes para mim. E dá-lhe primavera. A vida continua bela e formosa, a pipoca doce vendida nos parques continua com o mesmo sabor maravilha de sempre, caminhar domingo pela manhã tomando Sol é 100% saúde e tirar aquela soneca domingo de tarde ajuda pacas quando se tem que recuperar sono. Daniel Wildt =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== AMERICAN WAR "Olho por olho e acabaremos todos cegos." A frase é de Ghandi e ilustra bem o momento atual, pois, ignorando esta máxima do conhecimento oriental, o governo americano pretende conter o declínio da sua economia fazendo aquilo que mais sabe: guerra. Sim. A catástrofe do World Trade Center está servindo como um excelente pretexto para o presidente Bush reerguer a indústria bélica americana, como era seu desejo desde o início, com o super projeto anti-mísseis "Guerra nas Estrelas". Afinal, esta é a melhor maneira de conter ao declínio da economia americana que já passou a preocupar seus analistas econômicos. Não há dúvidas de que o presidente americano fará de tudo para deflagrar uma guerra contra quem quer que seja. Melhor ainda se o inimigo for um país miserável, já sofrendo sanções da ONU, desgarrado pelo resto do mundo e com histórico de conflito com a Rússia. Mais ainda, liderado por um regime extremista islâmico e que recentemente ameaçava com a morte membros de uma organização humanitária acusados de "praticar o cristianismo", como se amar ao próximo fosse algum crime ediondo. Além disso, o Taliban explodiu estátuas gigantescas do Buda com mais de 1500 anos de existência, o que pode ser utilizado como argumento contra o extremismo imposto pelo novo governo do Afeganistão. Fora estes "motivos ocidentais", o governo afegão divulgou ontem que abateu um avião espião e um helicóptero americanos em seu território, de forma que uma guerra parece inevitável. Esta informação ainda não foi confirmada pelo Pentágono, mas de qualquer jeito, todos os indícios apontam para uma gerra,ou melhor, um massacre iminente no território afegão. Nunca é demais lembrar que os extremistas do Taliban chegaram ao poder com a ajuda explícita da CIA, que forneceram inclusive treinamento militar para os guerrilheiros lutarem contra a Rússia. Apesar desta dose do próprio veneno, dificilmente os EUA vão abdicar da sua política internacional de manipular o globo terrestre de acordo com seu próprio interesse. Afinal, este é o papel que eles mesmos escolheram para si, pseudo-cowboys de uma justiça unilateral empregada em prol do bem da humanidade, desde que ela resida num dos Estados Unidos da América. Mas este não é o principal problema. A questão primordial é que milhares de pessoas que nada tem absolutamente nada em haver com os acontecimentos do World Trade Center ou com a atitude quase nazista surgida com reação americana, serão prejudicadas ao extremo com a guerra que se desenha no horizonte. Muitas delas já o estão sendo, como fica visível nas fronteiras do Afeganistão, onde milhares de pessoas tentam se refugiar para escapar dos prováveis ataques americanos ao país, da mesma forma que já tentavam antes da tragédia do WTC. Felizmente, em meio a tão grotesco cenário, ainda é possível ver atitudes inspiradoras, embora meramente simbólicas, como a que ocorreu na Califórnia com a passeata de estudantes pedindo paz no mundo. Quanto a nós, resta-nos lembrar sempre que não se pode generalizar. Que o bem convive e com o mal, independente da etnia, do grupo social ou da fé de cada grupo. É preciso sim, separar o joio do trigo, ou o bem do mal, mas jamais podemos julgarmo-nos senhores da suprema sabedoria a ponto de dizer que determinada nação é malévola ou não. Afinal, muitas vezes o bandido parece bonzinho, fala bem e se assemelha a um super herói de uniforme azul e vermelho. Paz pra todos. Eduardo Seganfredo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== ROCK GARAGEM Três links: http://www.garagemhermetica.com.br http://www.rock-garagem.cjb.net http://www.overflow-hc.cjb.net Estejam no Garagem (Barros Cassal, 386) no dia 28, às 21h. O ingresso para o Rock Garagem é no valor de R$ 6,00 dá direito a uma cerveja. Além da Overflow, teremos bandas de rock progressivo, psicodélico, metal e grunge. Compareçam lá, e encontrem 3/4 do staff do Tresler (espero). ## Início da nota do Editor. Estou confirmando a minha presença neste evento. Eu aconselho! Já fui em show da Overflow e o som dos caras vale a pena. Fim da nota do editor. ## Vincent, digital boy. =========================================================================== =================== O PLUS A MAIS DE HOJE (Almandrade) ==================== =========================================================================== O FIM DA ARTE (COMO MEIO DE CONHECIMENTO) Não temos a capacidade de destilar em palavras as experiências visuais que fazem o belo repousar naquilo que é apreendido pelo olhar. Uma obra de arte é tudo que ela contém: forma, textura, cor, linhas, conceitos, relações, etc. É aquilo que se vê, e o que se diz não corresponde exatamente ao que se vê. Não representa nada como imagem de outra coisa. E para ler um trabalho de arte é necessário se partir de um modelo (referências, informações...). Existem códigos a priori (aqueles utilizados pelo artista) e códigos a posteriori (aqueles utilizados pelo espectador). A virtude da arte é afirmar um conhecimento, propondo instrumentos que seduzem a inteligência. A invenção de uma linguagem é o resultado de um exercício paciente de contemplar outras linguagens. Como todo discurso é resultado de outros discursos. Exige-se um método. A arte é o que está além dos limites de tudo o que se considera cultura; não pode se restringir a um exótico experimento ou aparência da superfície de um trabalho, que fica para trás, como uma coisa vazia, no primeiro confronto com o olhar que pensa. A arte, entendida, como meio de conhecimento, hoje em dia, vem cedendo lugar a uma experiência ligada ao lazer e a diversão, que envolve outros profissionais como responsáveis pela sua legitimação: o curador, o empresário patrocinador e organizador de eventos, marchands, profissionais de publicidade, administradores culturais e captadores de recursos. Com as leis de incentivo a cultura e a presença marcante da iniciativa privada, paradoxalmente, levou a arte a um limite, o fim da obra, do trabalho ligado a um saber. E o artista, nem artesão e nem intelectual, sem dominar qualquer conhecimento, está cada vez mais sujeito ao poder do outro. As grandes mostras são grandes empreendimentos para atender à indústria do entretenimento, (mais empresarial e menos cultural), que movimentam uma quantidade significativa de recursos e envolve um número assustador de atravessadores. As contradições modernidade / tradição, contemporâneo / moderno, neste início de século, cede lugar a uma outra contradição: artistas que pertencem ao metier e artistas estranhos ao metier, inventados por empresários da cultura, cujos trabalhos se prestam para ilustrar uma tese ou teoria imaginária de um suposto intelectual da arte e garantir o retorno do que foi investido pelo patrocinador e pelo comerciante de arte. Uma mercadoria fácil de investir, sem risco de perda, basta uma boa campanha publicitária. O artista pode ser substituído por um ou por outro, a obra é o menos importante. Aliás, é o que a indústria do marketing tem feito com as mostras dos grandes mestres como: Rodin, Manet, etc., pouco importa as obras desses artistas e sim o nome e o patrocinador. A publicidade leva consumidores/espectadores como quem leva a um shopping center. A quantidade de público garante o sucesso. O público é como o turista apressado, carente de lazer cultural que visita os centros históricos com o mesmo apetite de quem entra numa lanchonete para uma alimentação rápida. Na “sociedade do espetáculo”, regida pela ética do mercado, o artista sem curador, sem marchand, sem patrocinador, é simplesmente ignorado pelas instituições culturais, raramente é recebido pelo burocrata que dirige a instituição. Seus projetos são deixados de lado. Também pudera, essas instituições, sem recursos próprios, tem suas programações determinadas pelos patrocinadores. Numa sociedade dominada pelo império do marketing, a realidade e a verdade são mensagens veiculadas pela publicidade que disputa um público cada vez maior e menos exigente. A vida é vivida na especulação da mídia, na pressa da informação. E neste meio, a arte é uma diversão que se realiza em torno de um escândalo convencional, deixando de lado a possibilidade do pensamento. O fantasma do “novo”, que norteou a modernidade foi deslocado para o artista que está começando, pelo menos novo em idade, o artista/atleta, a caça de novos talentos e de experiências de outros campos sociais. Totens religiosos, a casa do louco, a rebeldia do adolescente... Tudo é arte, sem exigir de quem faz o conhecimento necessário. Todo curador quer revelar um jovem talento, como se a arte dispensasse a experiência. Um “novo”, sinônimo de jovem ou de uma outra coisa que desviada para o meio de arte, funciona como uma coisa “nova”. Um novo sempre igual, a arte é que não interessa. Praticamente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias instituições culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte cotidiano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras oficiais e de iniciativa privada. Uma contemporaneidade sintomática. Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa, sociológica, psicológica, etc. é incorporada ao campo da arte pelo reconhecimento de um outro profissional que detém algum poder sobre a cultura, (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de “novo” na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte contemporânea implora um “novo” e nesta busca insaciável do “novo”, experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como uma novidade. Deixando a arte de ser um saber específico para ser um divertimento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exótico produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea. Nos anos 80, foi o retorno da pintura, o reencontro do artista com a emoção e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em reação a um suposto hermetismo das linguagens conceituais que marcaram a década de 70. Acabou fazendo da arte contemporânea, um fazer subjetivo, um acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte nos anos 90 com o predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação, performance, etc., mas a arte não retomou a razão. Na barbárie da informação e da globalização, estamos assistindo ao descrédito das instituições culturais e da dissolução dos critérios de reconhecimento de um trabalho de arte. Tudo é tão apressado que acaba no dia seguinte, os artistas vão sendo substituídos com o passar da moda, ficam os empresários culturais e sua equipe. Uma corrida exacerbada atrás de uma “novidade”, que não há tempo para se construir uma linguagem. O chamado “novo” é a experimentação descartável que não chega a construir uma linguagem elaborada, mesmo assim, é festejado por uma crítica que tem como critério de julgamento interesses pessoais e institucionais. A arte pode ser qualquer coisa, mas não são todos os fenômenos ditos culturais, principalmente os que são gerados à sombra de uma ausência de conhecimento. Almandrade (artista plástico, poeta e arquiteto) =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaborador da edição de hoje: Almandrade (almandrade_x@ig.com.br) Visite o Site do nosso e-zine: http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para: tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com