A
LENDA DO REI ARTHUR
E DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA
Fonte:
http://www.oocities.org/Athens/3748/biblio.html
Colaboração: Monastic
http://intermega.globo.com/templarios
A
Difusão da Lenda
Como
a história de um comandante que lutava para restringir o avanço saxônico em
uma pequena região da Bretanha conseguiu atingir tal grau de popularidade na
Europa?
Este
fato deve-se principalmente aos contadores de histórias bretões. Pelo excessivo
número de bretões que se refugiaram na Armórica, esta passou a se designar Britânia
ou Pequena Bretanha e entre este povo as histórias e lendas bretãs se mantiveram
vivas através da tradição oral.
As
baladas bretãs são citadas pela primeira vez pelos romancistas franceses do
século XII e tinham como objetivo entreter os chefes e suas famílias. Os bardos,
contadores ou recitadores de contos heróicos, para terem sucesso, precisavam,
primeiramente, de uma boa fábula para contar, depois precisava de memória, uma
boa capacidade dramática para a representação, além, é claro, da receptividade
emocional dos ouvintes. Qualidades comuns entre os celtas.
Na
catedral de Modena, sobre o arco do portal norte, encontra-se uma impressionante
prova de como foi a difusão da lenda propagada pelos bardo: em um friso semi-circular,
uma mulher é retratada em uma torre ladeada por um fosso e seis cavaleiros avançam,
três de cada lado. Na figura feminina está inscrito Winlogee,
em três dos protetores da torre aparecem os nomes de Burmaltus,
Mardoc e Carrado e em um dos cavaleiros que avançam está inscrito Artus
de Bretani. Loomis diz que o nome Winlogee seria uma forma de transição
entre o nome bretão Winlowen e o francês Guinloic. Esta é a mais antiga referência
a Guinevere na história de Arthur. Presume-se que esse entalhe ilustre a expedição
que Arthur fez para salvar Guinevere quando foi raptada por Modred, filho de
Arthur, e mantida por ele em uma torre, quando Arthur combatia Lancelot longe
dali. Essa história é citada no que se supõe ser uma biografia de Gildas escrita
por Caradoc de Lancafarn na primeira metade do século XII. Julga-se que o entalhe
do pórtico da catedral deva ter sido feito entre 1099 e 1120.
Foi
no começo do século X que Arthur, na imaginação popular, transformou-se de comandante
em rei. No poema galês sobre a batalha de Llongborth, Arthur é chamado de imperador.
No entanto, o poema é posterior ao fato, já que, se ele tivesse sido feito na
época de Arthur, deveria ser feito em bretão e não em galês. É provável que
se trate de uma reconstrução galesa de um poema bretão, composto não muito depois
da batalha, no século V.
A
mais famosa história galesa, Culwych e
Olwen, do final do século X, mostra a transição na posição de Arthur; ele
ainda não é chamado de rei, mas é mostrado como um poderoso líder, presidindo
sua corte com poderes sobrenaturais. Já no século XII é chamado de imperador
em outro famoso conto galês, The Dream
of Rhonabwy.
Esses
dois contos fazem parte do Mabinogion, onde estão dois manuscritos, um escrito
entre 1300 e 1325, conhecido como o White
Book of Rhydderch (Livro Branco de Rhydderch), e outro escrito entre 1315
e 1425, Red Book of Hergest (Livro
Vermelho de Hergest), quatrocentos anos mais tarde que Culwych and Olwen e talvez duzentos mais tarde que The
Dream of Rhonabwyn.
Godofredo de Monmouth
Em
1135 havia um novo Arthur diante do mundo: um soldado profissional, rei coroado,
famoso por sua generosidade e seu exemplo cavalheiresco, estabelecido em uma
corte, não em um anônimo reino fantástico, mas na real cidade de Caerleon-on-Usk.
Alguém que presidia torneios em seu país e que, no exterior, em vez de tomar
parte em ridículas aventuras, em contos populares, realizava conquistas fantásticas,
anexando a Escócia, a Irlanda, a Noruega, a Dinamarca e a Gália, e que só foi
chamado de volta durante o ataque a Roma devido a uma insurreição traiçoeira
em seu país.
O
sucesso obtido pela Historia Regum Britannie,
de Godofredo de Monmouth é quase tão interessante quanto à própria história
de que trata. Seus duzentos manuscritos já eram conhecidos antes do fim do século
XII na França, Espanha, Itália, Polônia e Bizâncio. Godofredo de Monmouth era
um monge bretão ou galês nascido em Monmouth, e escolheu situar a corte de Arthur
na cidade de Caerleon, construída perto de ruínas romanas, a trinta quilômetros
de sua terra natal.
Ele
tinha técnica para escrever, o que o habilitava a juntar lendas já conhecidas
e estimadas e apresentá-las em um conjunto compacto e brilhante; apesar de dizer
que estava escrevendo sobre fatos históricos, registrava, em função do seu interesse,
o que sabia serem mentiras, atribuindo-lhes grande aparência de convicção; acima
de tudo, escolhia um rei britânico ou rei qualquer da Historia
que mais pudesse interessar aos leitores e ouvintes.
O
desfilar começa com o mitológico Brutus, que veio de Tróia para colonizar a
Bretanha, e termina com o mitológico Cadwallo. Fala de noventa e nove reis ao
todo, e um quinto do trabalho é dedicado à história imaginária de Arthur. Talvez
não tivesse inventado muito; adaptou lendas existentes, acrescentando alguns
fatos inatacáveis, apresentando-os como fatos históricos. Sua contribuição para
a história de Arthur foi a afirmação de que ele era filho de Uther Pendragon,
que governava Caerleon-on-Usk, que seu primeiro-ministro era Merlin e que foi
conduzido para a ilha de Avalon, quando ferido mortalmente. Loomis mostra que
Godofredo descobriu um lenda galesa sobre um vidente chamado Myrddin. E que
encontrou em Nênio uma história sobre um menino vidente chamado Ambrosius que
profetizara a Vortigern a sua destruição e a vitória dos saxões. Assim, identificou
esse menino como Merlin. Isso trouxe Merlin à órbita de Ambrósio Aureliano,
estabelecendo uma ligação entre Merlin e Arthur, já que dizia que Ambrósio Aureliano
era irmão de Uther Pendragon.
Loomis
afirma que Godofredo haveria encontrado uma lenda córnica sobre Arthur sendo
fecundado na terra de Tintagel por Uther Pendragon e Igerna, a pudica e bela
esposa de Gorlois, duque da Cornualha. Isto aconteceu através dos poderes mágicos
de Merlin, que deu a Uther a aparência do duque de Gorlois, enganando a ingênua
esposa, com quem se casa depois de matar Gorlois em batalha.
Godofredo
afirma que Arthur e Modred lutaram um contra o outro e que este forçou Guinevere
a se casar com ele na Ausência de Arthur. Usando a tradição de Camlann (sem,
no entanto, nomeá-la), Godofredo diz que Arthur perseguiu Modred na Cornualha
até depois do rio Camel. Nesse encontro, Arthur teria sofrido um ferimento mortal,
sendo levado então para Avalon.
Godofredo
diz que Arthur, quando sucedeu Uther Pendragon, era um menino de quinze anos.
Teria então juntado um exército de jovens da sua confiança e saído para libertar
a Bretanha do jugo saxão. A Batalha de Badon, Godofredo identifica com tendo
ocorrido em Bath, dando nomes às partes da armadura de Arthur: o escudo Pridwen
(confundido com o navio de mesmo nome no qual Arthur viajou para Annwyn), sua
lança Ron e sua espada Caliburn, embora dar nomes às espadas fosse uma prática
antiga, vigente até a Idade Média. A espada de Carlos Magno era chamada Joyeuse
e Godofredo diz, seja lá qual for a sua autoridade para isso, que a espada de
Júlio César era chamada de Morte Açafrão. À vitória de Arthur em Badon seguiu-se
outra campanha na qual ele venceu os irlandeses e os escotos, a quem resolveu
destruir completamente. Somente a intervenção dos bispos escotos é que se poupou
o restante da população. Selvageria semelhante ocorreu com a Noruega, que só
foi poupada quando submetida completamente a Arthur, bem como a Dinamarca. Depois
da batalha contra os irlandeses, casa-se com Guinevere, nascida de uma família
romana nobre e a mais bela da ilha. Logo depois ele decide invadir a França,
onde a questão é resolvida por um simples combate entre ele e o tribuno Flollo.
Pelos nove anos seguintes, Arthur dedica-se à conquista da França, distribuindo
as terras entre os nobres da sua terra natal.
Na
primavera, a paz voltava à Bretanha. Logo após, ele relata a coroação e o casamento
com Guinevere.
O
acontecimento seguinte foi a ordem do imperador Lúcio Hibério cobrando de Arthur
um tributo da Bretanha. A origem desse episódio explica-se pela modificação
feita por Godofredo em um episódio da tradição galesa, a guerra de Arthur com
o chefe irlandês Llwich, the Irishman. Transformando um obscuro chefe irlandês
no imperador de Roma. Arthur teria considerado um insulto o tributo e assim
parte para a conquista de Roma.
A
luta com o imperador ocorreu no outono, sendo que o imperador caiu por um golpe
de lança "de uma mão desconhecida". Arthur ordenou que o corpo fosse
enviado ao senado romano com a mensagem de que nenhum outro tributo seria pago
pela Bretanha. Durante os preparativos para o avanço sobre Roma, ele recebe
a notícia de que Modred, seu sobrinho deixado como regente, havia tomado a coroa
e se ligara com a rainha Guinevere. A volta de Arthur levou à batalha de Camlann,
onde ele e Modred morreram, sendo levado para Avalon e deixado a coroa para
seu parente, Constantino. Guinevere, levada pelo desespero, fugiu de York para
Caerleon, onde, dali em diante, levaria uma vida casta entre as freiras e acabaria
por se ordenar.
Godofredo não fala nada sobre a Távola Redonda ou a Busca pelo Santo
Graal. Nem sobre as histórias de Lancelot ou Tristão. Sobre Merlin, dedicou
o Livro VII da Historia às "Profecias
de Merlin", onde as únicas profecias mesmo eram aquelas que qualquer escritor
de 1130 poderia colocar na boca de um personagem do século VI. No entanto, as
"Profecias" tiveram grande impacto, sendo inclusive editadas em separado.
Alguns
anos mais tarde, Godofredo escreve a narrativa em versos Life of Merlin (A Vida de Merlin) onde o bardo galês Taliesin faz
um relato mais detalhado de como Arthur teria sido carregado para Avalon, descrita
como ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais sua irmã, a fada
Morgana (cujo nome parece vir da forma como os bretões chamavam as fadas da
água - Morgans).
Wace e Layamon
Wace,
o Francês, nasceu em Jersey, então parte do feudo da Normandia, em 1100, e,
escritor, dirigia sua obra "ao povo rico que possui rendas e moedas de
prata, pois é para eles que os livros são feitos". Sua mentalidade era
tipicamente francesa, cética e lúcida. A forma narrativa de Wace era mais cortês
que Godofredo, eliminando detalhes desnecessários e diminuindo as atrocidades
que Arthur cometia em relação aos pictos e escotos. Embora outros escritores
e historiadores apenas insinuem que Guinevere não tivera filhos, Wace afirma
isso categoricamente. No entanto, a única contribuição dele à lenda escrita
foi a Távola Redonda, que dizia que já era famosa e que não fora invenção dele.
A
história de Arthur já havia sido contada em latim, galês e francês. No reinado
de Ricardo Coração de Leão, entre os anos de 1189 e 1198, Layamon, um padre
de Arley Regis, em Worcestershire, fez em versos a primeira apresentação de
Arthur em língua inglesa, baseada na versão de Wace. Ele seguiu de perto o trabalho
de Wace e, através dele, de Godofredo de Monmouth, apresentando Arthur como
um herói poderoso que derrotou os saxões. Godofredo era galês ou bretão, Wace
era francês, já Layamon era anglo-saxão, escrevendo na língua dos anglo-saxões,
e seu entusiasmo pela destruição das hostes saxônicas era surpreendentes. A
narrativa de Layamon era mais seca e rústica, mostrando toda a violência contida
no texto, ao contrário de Wace. Também Layamon não demonstrava o ceticismo de
Wace. Aceitava o sobrenatural e ainda acrescentava aos prodígios de Godofredo
outros por conta própria. É estranho lembrar que a versão de Layamon surgiu
quarenta anos mais tarde que a de Wace, no entanto, a deste último se apresenta
mais bem acabada.