Publicado no Jornal O Dia em Domingo, 7 de
dezembro de 1997.
As seis crianças que viviam na Casa
do Senhor Jesus Cristo - Libertação e Salvação,
em Belford Roxo, apanhavam freqüentemente da avó e líder
da igreja, Maria Amarília Evangelista. O relato dos irmãos
L., 8 anos, e G., 6 anos, ao delegado da 54ªDP (Belford
Roxo), Átila Lacere Mesquita, revela que a violência
praticada na seita pode ser a pista para esclarecer a morte do
menino Gabriel, 18 meses, dentro do templo, na terça-feira
passada. As declarações dos menores servirão
como argumento para novo pedido de prisão preventiva dos
fanáticos, na próxima terça-feira. O pedido
anterior foi negado pelo juiz Luiz Felipe Negrão, da Vara
Criminal de Belford Roxo. O laudo cadavérico da criança,
emitido pelo legista Enzo Montaldi Andrade, do Instituto Médico
Legal de Nova Iguaçu, diz que Gabriel tinha escoriações
em todo o corpo, hematomas na altura da terceira e quarta vértebras
e sofreu traumatismo raqui-medular (nas costas), causado,
possivelmente, por um objeto contundente. Além disso, a
criança estava desnutrida. As crianças contaram
que Gabriel era quem mais sofria com as surras - normalmente
aplicadas com canos plásticos. Mas isso ainda era pouco
perto dos longos períodos de fome. O motivo, segundo a
filha de Maria Amarília e mãe de N., Cibele
Evangelista, 24, era religioso. "O jejum servia para
purificar. A criança ficava deitada, quieta, sem comer
nada. Quando chorava de fome, eles davam comida. Não sei
se foi isso que matou o Gabriel", contou. Gabriel foi a
oitava vítima fatal da Seita da Morte e a segunda criança
a falecer no templo. Sexta-feira, L., G., H., M.L. e a prima N.
foram levadas para um abrigo de menores em Nova Iguaçu.