Israel recebe troco palestino

Publicado na Agência AFP em 15/08/2001

A recente escalada da violência no Oriente Médio teve início no dia 28 de setembro do ano passado, quando Ariel Sharon, então líder do Likud, partido conservador israelense, decidiu "fazer turismo" na Esplanada das Mesquitas, protegido por tropas do exército.

Sendo judeu, Sharon nada tinha a fazer naquele local, considerado sagrado pelos muçulmanos. A não ser provocar a ira palestina. Atingiu em cheio seu objetivo.

O episódio deu início à revolta popular denominada Intifada: crianças e adolescentes palestinos, armados com pedras, passaram a enfrentar soldados israelenses, armados até os dentes com fuzis, granadas e carros de combate, com ordens de atirar para matar.

Um levantamento feito pela France Press, em abril deste ano, mostrou que a violência generalizada que se seguiu havia deixado 487 mortos: 400 palestinos, 73 israelenses, 13 árabes israelenses e um alemão. A 400ª vítima palestina foi o garoto Mohannad Muharib, de 11 anos, fuzilado com um tiro na cabeça, disparado por um soldado judeu.

De lá para cá a violência continua crescendo. O número de jovens palestinos mortos por soldados judeus aumenta a cada dia. A televisão mostrou uma dessas mortes em detalhes. O garoto Rami al-Durra, de apenas 12 anos, é fuzilado por tropas israelenses, ao ser encurralado atrás de um bloco de cimento, juntamente com seu pai, que tentava desesperadamente protegê-lo.

A lista dos crimes sionistas é extensa. Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, um pequeno grupo de judeus, minoria na região, passou a controlar a quase totalidade da região da Palestina, deixando sem pátria mais de 300 mil palestinos que lá viviam. Hoje o número de refugiados palestinos já ultrapassa os 3 milhões e 500 mil. Todos eles proibidos por Israel de voltarem à sua terra natal.

A política de ocupação israelense permitiu o assentamento de 170 mil judeus na Cisjordânia e na faixa de Gaza. Esse número cresce progressivamente. Palestinos são sistematicamente expulsos das suas terras. Suas casas são destruídas por tratores, dando lugar a novos assentamentos judeus.

A população palestina da Cisjordânia não tem mais acesso aos recursos hídricos da região. Israel controla os lençóis subterrâneos e os mananciais, desviando toda a água disponível, já escassa, impedindo o acesso dos palestinos ao precioso líquido.

Agora o mundo fica escandalizado quando os palestinos reagem, defendendo a pátria e o direito de viverem decentemente em sua própria terra. O mundo protesta quando homens-bomba explodem, matando alguns judeus. A população do planeta, em coro, grita contra a morte de inocentes - mulheres e crianças. Mas não se ouve esse mesmo coro quando mulheres, crianças e jovens palestinos são mortos sistematicamente, diariamente, pelos militares invasores. Parece que a justiça dos que são pró-Israel só funciona num sentido.

Os judeus sabiam das atitudes beligerantes de Ariel Sharon e mesmo assim o elegeram Primeiro-ministro. Graças a ele, a segurança da população israelense está comprometida. Ninguém poderá dar garantias de vida a quem quer que seja dentro das fronteiras do Estado de Israel. Os israelenses pagam com o próprio sangue pelo seu erro imperdoável.

Tanque, carros de combate, metralhadoras, granadas, helicópteros, foguetes, mísseis, obuseiros, canhões e um exército bem treinado e bem armado de nada adiantam contra um inimigo invisível que explode, despedaçando quem estiver ao seu redor. Patriotas muçulmanos não têm medo da morte. Mesmo inferiorizados belicamente, estão dando o troco aos israelenses.

Os judeus não têm saída: ou fazem a paz, devolvendo a Palestina aos palestinos, ou responderão pelo crime de lesa-humanidade que estão cometendo. Enquanto decidem, novos homens-bomba explodirão. Infelizmente.

{Darwin Magazine}

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