Psicólogo alerta para riscos da regressão
Clayton Levy

Publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 02 de março de 2001

Campinas - Pessoas sem habilitação profissional estão usando de forma inadequada a técnica da regressão de memória como terapia psicológica. Com isso, em vez de ajudarem os pacientes, podem agravar os sintomas e deixar seqüelas físicas, emocionais e mentais. O alerta é feito dos psicólogos Antonio Carlos Abreu e Leila Rocha Abreu, integrantes da Associação Luso Brasileira de Transpessoal (Alubrat), que está tentando chamar a atenção para o charlatanismo no setor.

"Pessoas sem o menor preparo estão colocando em risco a saúde dos pacientes", afirma o psicólogo. Segundo ele, embora não existam estatísticas, é cada vez maior o número de pacientes que têm seu estado agravado depois de passar por pessoas que se apresentam como terapeutas, mas não têm qualificação para exercer a atividade. Uma das conseqüências, segundo ele, é o surgimento de doenças psicossomáticas. "O paciente pode apresentar taquicardia, sudorese, mal estar físico, confusão mental ou manchas pelo corpo", explica. "Isso ocorre porque pessoas despreparadas levam o paciente a reviver momentos traumáticos, mas depois não sabem aplicar a psicoterapia necessária para tratá-lo". Os dois psicólogos colecionam casos absurdos de pacientes que buscaram seu consultório, em Campinas, depois de se submeterem a técnicas que agravaram os sintomas. Como exemplo, citam uma dona de casa, que resolveu submeter sua empregada à regressão de memória, depois de conhecer a técnica através de um CD vendido em bancas de jornais. "A empregada entrou em crise", conta.

Abreu, que adota o método conhecido como Psicoterapia Regressiva Transpessoal (PRT), diz que a regressão deve ser usada apenas como ferramenta dentro de um contexto terapêutico. "Não há mágicas" , diz. Segundo ele, quando aplicado corretamente, o método tem produzido bons resultados em casos de fobias, pânico, depressão, doenças psicossomáticas, frigidez e impotência sexual. Durante as sessões, o paciente é levado a recordar situações que, segundo Abreu, ficam registradas no inconsciente. "Por ser atemporal, o inconsciente pode trazer experiências recentes, antigas, do período gestativo ou histórias intrigantes que parecem transcender o tempo e o espaço", explica. Segundo ele, porém, apenas médicos e psicólogos com formação específica estão habilitados a realizar esse tipo de terapia.

De acordo Abreu, em muitos casos o trabalho não dispensa o acompanhamento médico. "Principalmente naqueles em que há uma base orgânica para o distúrbio", explicam os dois psicólogos que, a partir de março, irão coordenar um curso de dois anos sobre PRT para médicos, psicólogos, e alunos do último ano de medicina e psicologia. "O objetivo é habilitar o profissional para a aplicação da técnica regressiva com fins terapêuticos", explica.

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