Publicado no Jornal Folha da Regiao de Araçatuba
em 6 de julho de 2001
A polícia vai investigar as
circunstâncias da morte da aposentada Therezinha Souza
Castilho, 72 anos, que estava internada no Asilo Recanto Alegre,
nas Chácaras Moema, área rural do município.
O asilo e seu encarregado, Alcides Gonçalves, pastor da
Igreja do Evangelho Quadrangular, também estão
sendo investigados em inquérito policial que apura denúncias
de agressões e maus-tratos a idosos. Therezinha morreu no
dia 5 de junho na Santa Casa de Araçatuba.
A delegada Ana Lúcia Souza Marques,
titular da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), vai enviar ofício
à Santa Casa solicitando cópias do prontuário
de atendimento de Therezinha. A delegada pretende, ainda,
identificar a causa da morte da aposentada e verificar se houve
negligência no atendimento prestado durante sua permanência
no asilo.
A Folha da Região apurou, no início
da noite de ontem, que a declaração de óbito
de Therezinha foi assinada pelo médico José Clineu
Luvizuto. No documento, ao qual a reportagem teve acesso, o
motivo da morte da aposentada é "causa indeterminada".
Policiais da DDM localizaram ontem Maria
de Lurdes Gonçalves, 58, interna do asilo que denunciou
agressões ocorridas no local. Ela foi retirada do asilo
por uma irmã, identificada apenas por Meire.
Anteriormente, o encarregado do asilo havia informado aos
policiais que Maria de Lurdes fora retirada por Marlene Gonçalves
Zavanelli, também irmã da idosa.
Maria de Lurdes prestou depoimento ontem
na Delegacia da Mulher. Ela confirmou ter presenciado agressões
no asilo. No depoimento, diz que o pastor agrediu "com
chineladas um interno chamado Francisco". A idosa disse
também que Gonçalves agrediu Helenice Pereira dos
Santos, 41, também interna do asilo, "arrancando-lhe
um punhado de cabelos". A agressão teria sido
praticada, segundo Maria de Lurdes, porque o pastor e sua mulher
estavam incomodados com gritos de Helenice durante a noite.
Portadora de distúrbios mentais,
Helenice foi internada pelo pastor no hospital Benedita
Fernandes na semana passada. Ontem, o psiquiatra José
Fraguas Neto se recusou a fornecer cópia da ficha clínica
da idosa para a polícia. O documento havia sido
solicitado pela delegada Ana Lúcia para averiguar se a
paciente foi admitida no hospital apresentando lesões
corporais. O médico disse que o prontuário de
Helenice só poderia ser fornecido com autorização
dela ou por decisão judicial.
"Deus, Satã, Paraíso
e Inferno, todos desapareceram um dia nos meus quinze anos,
quando abruptamente perdi minha fé [...] e além
disso, para provar meu ateísmo recém-descoberto,
comprei um sanduíche de presunto, e então
partilhei pela primeira vez a proibida carde do suíno.
Nenhum raio caiu em mim. [...] Desde esse dia até hoje eu
me considero uma pessoa completamente secular." Salman
Rushdie, "Em Deus Nós Confiamos", 1985