Culto adventista recolhe R$ 28

Publicado no jornal Folha de São Paulo em 28/12/97

No dia 20 de dezembro, o culto da Igreja Adventista do Sétimo Dia na aldeia carajá Santa Isabel do Morro (Ilha do Bananal) durou duas horas e dez minutos e rendeu R$ 28 aos religiosos.

Assistida por cerca de 50 índios e comandada pelo pastor carajá João Werreriá, a cerimônia foi celebrada na língua nativa da aldeia.

Assim como os termos igreja e pastor, a palavra oferta é utilizada em português durante o culto. Ao sinal de Werreriá, o tesoureiro da igreja caminha entre os fiéis, recolhendo doações.

As notas, quase todas de R$ 1, são depositadas entre as páginas de um dos livros religiosos da missão. Segundo Werreriá, uma parte dos recursos é enviada à sede da igreja em Brasília e outra é usada conforme determinação dos fiéis.

Werreriá nasceu na aldeia Fontoura e decidiu se tornar pastor por influência da presença da missão adventista na comunidade. Teve seus estudos pagos pela igreja e hoje comanda o projeto dos religiosos na região.

Todos os sábados atravessa o rio Araguaia e vai até Santa Isabel do Morro para pregar a Bíblia, já que a aldeia não possui pastor próprio.

Werreriá já traduziu 64 músicas do hinário adventista. O resultado do trabalho foi transformado em uma cartilha, distribuída aos fiéis.

Atualmente o pastor mora em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, onde foi o responsável pela igreja adventista local durante cinco anos. ''É difícil viver em Fontoura. Não há água potável nem lugar para morar. Mas assim que a casa da igreja na aldeia ficar pronta, mudo para lá.''

A experiência dos missionários adventistas em Fontoura vem da década de 50, quando a igreja era responsável pela escola e pela assistência médica, odontológica e psicológica dos carajás da aldeia.

Em 78, segundo os índios, os adventistas foram expulsos pela Funai. A entidade nega e diz que a iniciativa de impedir o trabalho da missão partiu dos moradores da aldeia, cansados da interferência dos religiosos na comunidade.

Hoje Fontoura luta pela volta definitiva da igreja. "A missão cuidava de nós. Eles saíram e ficamos isolados'', diz o pastor Antônio Tewahura Karajá, responsável pela obra adventista em Fontoura desde a saída dos missionários.

Muitos carajás ainda resistem à igreja devido às imposições feitas pela missão. ''Proibir de fumar e de comer tartaruga atrapalha'', afirma a índia Randoroi Karajá.

Religião original é politeísta

da enviada especial

A religião original tanto dos índios xavantes quanto dos carajás é baseada no politeísmo _crença na existência de mais de um deus.

Para os xavantes, o mundo surgiu a partir da ação de uma dupla de entidades, a Parinaiá, que seria responsável pela criação de tudo o que existe.

Segundo o antropólogo da Funai Jorge Luiz de Paula, que trabalha há dois anos com índios xavantes, é comum que os cristãos associem Parinaiá à imagem de Cristo, em uma tentativa de sincretismo religioso, isto é, de uma fusão de valores que permita a aproximação entre as duas crenças.

Já os feiticeiros carajás invocam os deuses do Aruanã, espíritos que podem estar relacionados à água, ao céu, ao fundo da terra ou aos demais elementos da natureza.

O chamamento dos deuses ocorre conforme a necessidade imediata da aldeia e é feito por intermédio de uma festa que acontece a cada três dias.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia proíbe a realização da festa do Aruanã na aldeia. ''Nosso Deus é único'', afirma o pastor carajá João Werreriá.



Transcrito do Jornal Adventista de Santa Catarina

Entrevista com o Pastor René Sand

Pastor René Sand: "O negócio de minha família era, e ainda hoje é, dízimos e ofertas"

O Pastor René Sand (pronuncia-se "Renê") começou o ministério no Uruguai e Paraguai. Na Argentina, seu país natal, trabalhou na Associação de Buenos Aires, e depois na União Austral. Atualmente, ocupa a função de Diretor Associado de Ministério Pessoal e Escola Sabatina na Divisão Sul-Americana. O Pastor René mostra-se preocupado pelo fato de a oferta da Escola Sabatina na DSA estar diminuindo. Em visita ao escritório da Associação Catarinense, em São José, SC, concedeu esta entrevista ao Jornal Adventista.

Jornal Adventista: Que importância tem as ofertas na adoração?

Pastor René: Oferta é expressão de gratidão. Se você vai adorar a Deus, tem que levar sua oferta. Se estou grato, sua gratidão é expressada na oferta. A Bíblia tem uma bênção para cada oferta que você leva. O povo de Israel dava várias ofertas, em várias ocasiões como na colheita, nascimento de um filho, etc.

Jornal Adventista: Como o departamento de Escola Sabatina pode ajudar os nossos filhos a compreenderem esta verdade?

Pastor René: Quando o filho vai à Escola Sabatina, vai para aprender que Jesus ajuda e cuida, que pode confiar em Jesus e que tem que estar grato a Ele. E como alguém expressa esta gratidão? Através da oferta. Os sentimentos que são expressados são reforçados.

Jornal Adventista: Para que é usada a oferta da Escola Sabatina?

Pastor René: É a oferta da Escola Sabatina o que faz da Igreja Adventista uma igreja mundial. Quando dou oferta na Escola Sabatina, estou fazendo minha parte para que a pregação do evangelho chegue a todo mundo. Aqui [em Santa Catarina] o evangelho chegou porque alguém deu oferta da Escola Sabatina. Ela mantém a linha avançada da igreja. É a maneira de apressar a volta de Jesus.

Jornal Adventista: Por que o senhor acha que a oferta da Escola Sabatina está diminuindo?

Pastor René: Muitos não tem o equilíbrio de perceber que existem necessidades importantes fora da sua igreja ou do Campo local.

Jornal Adventista: Que sugestão o senhor daria para os pais que tem filhos na Escola Sabatina?

Pastor René: O que eu aprendi dos meus pais, e ensinei aos meus filhos, é que se vou adorar a Deus, parte da adoração é a minha oferta. Em cada reunião, a criança tem que ter uma oferta, não importa a quantia.

Jornal Adventista: Qual é a sua motivação para dar ofertas?

Pastor René: Quando eu dou oferta é porque tenho, ou é para que tenha mais? Eu não dou porque tenho mas para ter sempre. Eu dou porque já recebi, e se quero continuar tendo continuo dando. Eu dou para ter. A Bíblia usa a ilustração da semente. Se você quer ter amanhã tem que plantar hoje.

Jornal Adventista: Isto não é o chamado Evangelho da Prosperidade?

Pastor René: Sem dúvida!

Jornal Adventista: Mas isto não é o que algumas outras igrejas ensinam: dar mais para ter mais?

Pastor René: E de onde é que você acha que eles tiraram estas idéias? Nasci num lar muito pobre, mas era uma família muito generosa. Meu pai vivia de favores, e nem o terreno em que morava, quando nasci era dele. O "negócio" de minha família era, e ainda hoje é, dízimos e ofertas. Nasci em família pobre mas acabei sendo "filho de Rico". Hoje minha família tem muitos bens materiais. Meu irmão, por exemplo, está entre os oito financeiramente mais fortes da cidade onde mora, na Argentina. Apesar das tremendas dificuldades, os três filhos de meu pai estudaram em colégio adventista. Meu pai ganhava salário mínimo, mas nunca me lembro de ter ido à igreja sem oferta para a Escola Sabatina e para o culto.

Jornal Adventista: Mais alguma mensagem para os irmãos catarinenses?

Pastor René: Deus é o dono de tudo e pergunta para cada um: "Quanto você quer ganhar do que Eu tenho?" A torneira dEle está na sua mão. Quanto mais você dá, mais abre a torneira. Ninguém contou isto para mim. Isto está escrito. Ninguém foi mais pobre do que nossa família, mas hoje, testifico que o Senhor faz superabundar as bênçãos. Dar para receber mais, é uma mentalidade de nossa família.

Voltar