Publicado no Jornal O Estado de Minas
Gerais em 16/03/00
Acusado de maus-tratos e cárcere
privado, pastor Wilson Carmindo é tido como homem com
grande poder de persuação JOSÉ CLEVES O líder
espiritual Wilson Carmindo da Silva, acusado da prática
de cárcere privado e de aplicar castigos em um grupo de
crianças e adolescentes, no sítio Shekinah, zona
rural de Igarapé, vem sendo investigado pelo Juizado da
Infância e do Adolescente de Belo Horizonte desde 1996,
quando uma das crianças desapareceu misteriosamente da
Casa Lar Paz do Altíssimo. A informação é
do juíz Tarcísio Henrique Martins que, após
a desativação da entidade, teve informações
do paradeiro de Carmindo em Ribeirão das Neves e Caetés,
onde montou novos grupos de crianças, sem autorização
da Justiça. Menores cooptados por ele em Igarapé dão
conta do desaparecimento do garoto Carlos Armando, que sumiu do
sítio após rebelar contra os maus-tratos. Carmindo
nega a acusação. Também conhecido por Aba
-o pai, em hebraico -, Carmindo é definido como sendo um
homem obcecado, com grande poder de persuação
sobre crianças e adolescentes, e vocacionado para a
disciplina rudimentar. O delegado de Betim, Robson Aparecido de
Oliveira, define-o como um líder nato, "que tem
total domínio sobre o seu rebanho ". O delegado
esteve no sítio sábado, quando os adolescentes
Waldir Felipe Coelho, 18 anos, e Valdecir Lessa de Oliveira, 19,
foram interrogados e confessaram terem sido submetidos a
trabalhos forRadicais ameaçam polícia O delegado
Pedro Martins, de Igarapé, vai começar hoje as
investigações sobre as atividades de Wilson
Carmindo naquela cidade. A princípio, não há
qualquer reclamação contra o líder
religioso no município, como informou o delegado. Informações
obtidas em Betim dão conta de que a entidade criada por
Wilson e seus seguidores é mantida por vários
empresários e grupos religiosos ecléticos, com o
objetivo de ressocializar menores e adolescentes através
de uma disciplina rígida. O juiz Tarcísio Henrique
passou informações sobre a vida pregressa de
Carmindo para a sua colega, de Igarapé. O líder,
segundo Martins, conta com o apoio dos pais de várias
crianças que dão a ele o poder de corrigir seus
filhos. Quando a polícia chegou ao sítio, sábado,
foram encontrados mais de 120 pessoas no local, entre os quais,
muitas crianças de colo. O delegado Robson de Oliveira
diz que a opinião, entre os internos, era discrepante. "Alguns
deles admitiram o cárcere privado, mas outros falavam
exatamente o contrário ". Durante a inspeção,
o delegado e os militares que faziam parte da operação
foram cercados por um grupo de radicais adeptos do líder
Aba ( é assim que eles o chamam) , com reverências
e ameaças explícitas contra os policiais. Diante
das ameaças, o delegado ordenou a retirada dos policiais,
para evitar um possível confronto. Um dos militares
chegou a engatilhar a sua arma. O delegado regional de Betim,
Wagner Vital, quer uma investigação minunciosa das
atividades do grupo que teria ligações com a
Igreja Maranata. O sítio foi alugado da Igreja Batista
Beth Shalon. Representantes das duas igrejas não foram
localizados ontem pelo ESTADO DE MINAS para falar sobre o
assunto. ( JC) ENTRADA DA fazenda indica "propriedade de
Deus eterno "Líder se diz vítima, mas não
conta seu passado Em entrevista ao ESTADO DE MINAS, ontem, no sítio
Sheki-nah, onde, segundo a polícia, mantém mais de
100 crianças e adolescentes, o líder espiritual
Wilson Carmindo da Silva, 26 anos, negou as acusações
de cárcere privado e trabalhos forçados, mas não
quis revelar a sua origem religiosa nem os nomes das pessoas
quem colaboram com a "seita ". Ele se diz vítima
do sensacionalismo e garante que a sua obra vai continuar.
ESTADO DE MINAS -É verda-de a denúncia de que o
senhor submete as crianças ao casti-go, ao cárcere
privado e tra-balhos forçados? WILSON CARMINDO -Mentira!
Trazemos para cá crianças com dificuldades com os
pais e eles vivem aqui acompanhados de seus familiares, por
livre arbítrio, sem qualquer imposição
nossa. EM -Quem mantém a entidade? WC -Isso não é
uma entidade. É uma obra. São cerca de 10 famílias
em regime aberto, que recebem orientação
espiritual sem ligação com qualquer tipo de religião.
Não há discriminação étnica e
religiosa. Existem os que trabalham fora e estudam na rede pública.
Não há plantações. Apenas uma horta
e só trabalha nela quem quer.
EM -O senhor fazia o quê antes?
WC -Prefiro não falar sobre isso.
EM -Mas o silêncio pode prejudicar
ainda mais o senhor. . .
WC -Sempre trabalhei com grupos de voluntários,
através da evangelização e da distribuição
de sopão na rua.
EM -Há quanto tempo o grupo está
neste sítio?
WC -Um mês ou dois, não me
lembro direito. Mas a nossa obra é antiga e muito
conhecida em Belo Horizonte e outras cidades. A ajuda vem dos
pais que na maioria dos casos, vivem aqui, sem qualquer imposição.
EM -A Igreja Maranata e Batista Beth
Shalon tem alguma coisa a ver com esta obra?
WC -Não recebemos ajuda de igrejas.
A nossa preocupação é com a orientação
dos jovens. çados por Wilson. Eles fugiram por não
suportarem mais os maus-tratos, quando foram perseguidos pelo líder
e seus auxiliares, na Praça da Estação,
momento em que foram abordados pelos guarda da Rede Ferroviária
e entregues à polícia. Peterson Assis Silva, irmão
de um dos rapazes internados no sítio defende Carmindo,
dizendo que o seu trabalho é importante para a recuperação
de jovens drogados e com problemas em casa. Ele define Carmindo
como "um homem carismático e bom ". Pádua
recebe propostas de trabalho