Choque religioso mata 160 na Indonésia
Richard Lloyd Parry

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 21/06/00

Líderes cristãos acusam grupo muçulmano de atacar moradores de vila nas ilhas Molucas

Choque religioso mata 160 na Indonésia

Cerca de 160 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram mortas anteontem nas ilhas Molucas, na Indonésia. O episódio é um dos piores registrados nos últimos 18 meses de conflitos entre cristãos e muçulmanos na região.

Os choques ocorreram na vila de Duma, na ilha de Halmahera, habitada majoritariamente por cristãos, a grande maioria dos mortos _152. Oito das vítimas são muçulmanas.

Segundo testemunhas cristãs, as mortes ocorreram no espaço de uma hora. Os autores do ataque, cerca de 500 muçulmanos, de acordo com as mesmas fontes, usaram armas de fogo, bombas caseiras e arco-e-flecha.

"Foi um massacre de autoria muçulmana", afirma o pastor protestante Hadi, que vive na cidade de Tobelo, perto do local do conflito e para onde foram levados cerca de 150 feridos. Os grupos muçulmanos locais não haviam se pronunciado.

Há relatos de que mulheres e crianças teriam sido sequestradas. A igreja e 292 casas de Duma foram incendiadas, antes que reforços policiais chegassem ao local e soldados indonésios conseguissem dispersar os envolvidos.

"Foi um ataque muito rápido. Os muçulmanos tinham rifles automáticos, e os cristãos, armas caseiras. Não sabemos exatamente quantos estão mortos, mas são muitos", afirmou o pastor Hadi.

As Molucas eram, até há pouco tempo, uma região de maioria cristã em um país majoritariamente muçulmano. Recentemente, a migração muçulmana vinda de outras ilhas do arquipélago alterou esse quadro.

A vila de Duma era um lugar de refúgio para cerca de 2.000 cristãos que fugiam de choques religiosos em outras partes da ilha de Halmahera.

Os enfrentamentos nas Molucas começaram com disputas sobre a propriedade da terra e controle do comércio. Cristãos e muçulmanos se acusam mutuamente pela violência e denunciam atrocidades cometidas por um grupo contra o outro.

A situação se agravou com a chegada de cerca de 2.000 membros do grupo Laskar Jihad (Soldados da Guerra Santa), força paramilitar cujo objetivo é combater os cristãos (leia texto abaixo).

Segundo líderes cristãos, os responsáveis pelos ataques, nativos das ilhas de Java e Sulawesi, de maioria muçulmana, vieram em lanchas e portavam armamento militar.

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