Clero xiita se aproveitou do poder total
para enriquecer no Irã
Publicado na Revista Veja - edição
1818 . 3 de setembro de 2003
Fonte:
http://veja.abril.com.br/030903/p_048.html
Os aiatolás do Irã
derrubaram o xá Reza Pahlevi em 1979 com a promessa de
instaurar um regime de pureza islâmica e alto padrão
de moralidade pública. Para atingir tais objetivos, o
clero xiita assumiu total controle do aparelho de Estado, das
instituições nacionais e também de boa
parte da economia. Duas décadas depois, o resultado da
islamização é impressionante: os iranianos
estão mais pobres e os aiatolás, muito mais ricos.
O surgimento de uma casta de milionários de turbante era
previsível. Não há decisão política
ou econômica importante no Irã sem a bênção
dos mulás. E eles usam essa influência para
controlar os melhores negócios, principalmente os que
envolvem moeda forte. Não se tem notícia de que o
falecido aiatolá Khomeini, fundador da República
Islâmica, tenha tirado proveito financeiro do poder
ilimitado de que dispunha. Já seu filho mais velho,
Ahmed, clérigo sem fortuna que passou a controlar a
agenda do pai, tinha se tornado o homem mais rico do Irã
quando morreu, em 1995. Com base em cálculos do
economista iraniano Saeed Laylaz, a revista americana Forbes diz
que o clero xiita desviou de 3 bilhões a 5 bilhões
de dólares por ano na última década só
com subsídios concedidos aos religiosos na compra de
moeda estrangeira. O Irã detém 9% das reservas
mundiais de petróleo e também é rico em gás
natural - só se pode supor quanto dessa riqueza tem sido
rapinada pela turma de turbante.
O aiatolá Ali Akbar Hashemi
Rafsanjani pode ser considerado o maior exemplo do
enriquecimento fácil em nome de Alá. Filho de uma
família humilde de agricultores, Rafsanjani foi um dos
principais assessores de Khomeini. Presidiu o Parlamento nos
anos 80 e, após a morte do imã, foi nomeado seu
sucessor. Entre 1989 e 1997, Rafsanjani ocupou a Presidência
- período no qual começou a erguer seu império
recorrendo ao nepotismo. Nomeou um irmão para dirigir a
maior mina de cobre do Irã e outro para cuidar da rede
estatal de rádio e TV. Para assegurar o controle da produção
de petróleo, Rafsanjani indicou um dos filhos e um
sobrinho para postos estratégicos no ministério do
setor e não sossegou até que um cunhado assumisse
o governo de uma região coalhada de poços.
Paralelamente, Rafsanjani colocou em marcha um processo de
abertura econômica que recebeu elogios no Ocidente - mas
que se caracterizou pela venda de estatais a preço de
banana para aliados e parentes.
Rafsanjani foi derrotado nas eleições
de 1997 pelo atual presidente, o reformista Mohammed Khatami. A
maioria dos parentes que havia nomeado foi afastada e alguns
aliados acabaram formalmente acusados de corrupção.
Mesmo assim, um de seus filhos continuou à frente da
construção do metrô de Teerã, obra de
700 milhões de dólares e repleta de denúncias
de irregularidades. Sua família, porém, já
amealhou o suficiente para tocar por conta própria um império
econômico de interesses diversos, incluindo uma companhia
aérea, uma montadora de carros e resorts no exterior
(veja quadro ao lado). Hoje, Rafsanjani mantém sua influência
política dirigindo um dos vários órgãos
consultivos do Parlamento.
A fortuna acumulada pelos líderes
religiosos é assunto tabu no Irã por várias
razões. A primeira, óbvia, pelo fato de os
iranianos viverem sob uma ditadura - não há
partidos de oposição legalizados, Judiciário
independente nem liberdade de imprensa para denunciar os
desmandos dos mulás. "Quando o assunto é
dinheiro, somem as divergências entre conservadores e
reformistas, que costumam dividir esses líderes
religiosos em correntes políticas bem definidas",
disse a VEJA o cientista político iraniano Shaul Bakhash,
do Instituto Brookings, nos Estados Unidos. A estrutura de poder
no Irã também facilita a roubalheira. Cerca de 60%
da economia está nas mãos do Estado. Outros 20% são
controlados pelas bayads - as fundações de
caridade religiosa que, na prática, funcionam como
estatais gigantes. As bayads foram criadas após a Revolução
Islâmica com o patrimônio confiscado da família
do xá e das multinacionais nacionalizadas. Sua função
era atender às camadas pobres da população,
mas acabaram se convertendo rapidamente em instrumento de
clientelismo político e fonte incontrolável de
corrupção. Até recentemente, essas fundações
eram isentas de impostos, podiam pegar emprestado dinheiro de
bancos estatais a juros subsidiados e ainda tinham acesso a
taxas de câmbio especiais. De quebra, não
precisavam prestar contas ao governo - apenas a Alá.
Com tantos benefícios, essas fundações
religiosas criaram impérios econômicos. Um exemplo é
a Fundação dos Oprimidos, dirigida por Moshen
Rafiqdoost, ex-chefe da segurança pessoal de Khomeini.
Apesar do nome, a fundação tem 400 000 funcionários
e bens avaliados em 12 bilhões de dólares - entre
eles, redes de hotéis cinco-estrelas e uma fábrica
da Pepsi nacionalizada, sem contar setores da indústria
petrolífera, têxtil e de construção
civil. Além de encherem os bolsos dos mulás e
servirem de cabides de emprego, as bayads financiam grupos
terroristas no exterior, como o Hezbollah, no Líbano, e são
apontadas como fonte de recursos para o programa nuclear secreto
do governo. Foi uma dessas fundações que, em 1989,
ofereceu 2 milhões de dólares pela cabeça
do escritor anglo-indiano Salman Rushdie, acusado de blasfemar
contra o Islã no romance Os Versos Satânicos.
Khatami, o presidente reformista,
conseguiu aprovar algumas leis que cortaram vários dos
benefícios fiscais das bayads e tomou medidas para coibir
a corrupção. Mas parece improvável uma caça
aos mulás milionários. Um filho do aiatolá
Vaez Tabasi, Naser, que dirigia uma zona de livre comércio
na região do Golfo, chegou a ser acusado de fraude e evasão
de divisas. Mas acabou absolvido por um tribunal há
quatro meses sob a justificativa de que não sabia que
estava cometendo um crime. Resta saber se será perdoado
por Alá.
Países islâmicos lançam
ofensiva contra o Brasil
Publicado no Jornal O Povo em 23 Abril de
2003
Os países islâmicos lançaram
uma verdadeira ofensiva diplomática contra o Brasil na
Organização das Nações Unidas (ONU),
em Nova York. O motivo é uma proposta apresentada pelo
governo brasileiro pedindo para que os países não
discriminem, em suas políticas públicas, os seus
cidadãos com base em sua orientação sexual.
A proposta brasileira poderá ser votada hoje, na Comissão
de Direitos Humanos da ONU, mas os países da Conferência
Islâmica estão fazendo tudo para impedir uma aprovação
da resolução.
A reportagem da Agência Estado
obteve uma cópia da carta enviada ontem a todos os
membros da ONU pelo governo do Paquistão, em nome dos países
islâmicos, pedindo que não seja dado apoio ao
Brasil. Segundo a carta, a proposta ''contradiz o islamismo'' e
''seria considerada um insulto direto aos mais de 1,2 bilhão
de muçulmanos no mundo''.
A proposta brasileira pede que todos os países
garantam direitos à vida, liberdade e segurança
das pessoas, seja qual for sua opção sexual. O
Brasil ainda pede que ninguém seja torturado por suas
escolhas sexuais e que as leis dos países protejam a
todos os cidadãos.
O Ministério das Relações
Exteriores também defende que a privacidade dos indivíduos
não seja invadida por sua opção sexual e
que sua nacionalidade não seja negada com base nesse
mesmo critério. Além disso, a proposta do País
sugere que todos, independente de serem heterossexuais,
homossexuais ou bissexuais, tenham acesso a julgamentos justos e
que não sejam objeto de prisões ou exílio
por causa de sua orientação sexual.
Essa não é a primeira vez
que o Brasil toma a iniciativa diplomática de incluir a
orientação sexual na agenda internacional. A
primeira vez ocorreu na Conferência de Durban, sobre o
racismo, no ano passado. Naquela ocasião, porém, a
proposta do Brasil de alertar que grupos, como os homossexuais,
estariam sendo alvos de discriminação não
foi aceita por unanimidade pelos membros da ONU, e Paquistão
e Irã foram os líderes do movimento contrário
à proposta. (Agência Estado)
Fonte:
http://www.noolhar.com/opovo/internacional/244581.html
O que pensam os fanáticos do
Islã
Publicado em 26/03/2003 no Jornal O Globo
Ali Kamel
Poucos conhecem o termo "wahhabismo",
mas ele é fundamental para se entender o extremismo
religioso, base do terrorismo islâmico. O movimento surgiu
na Arábia do século XVIII, pelas mãos de
Muhammad ibn Abd al-Wahhab. Vindo de uma família de
religiosos e professores, al-Wahhabi, desencantado com o que
chamava de degradação do islamismo, propôs
um retorno radical às origens, contra todas as inovações.
Tudo o que ele pregou partiu da ênfase na base monoteísta
da religião islâmica: adorar apenas o Deus único.
A partir dessa idéia central, propôs
uma leitura literal (e para grande parte dos muçulmanos,
equivocada) do Alcorão. Recriminou o que chamou de
excessiva veneração ao Profeta Maomé,
proibiu cultuar homens santos ou apelar para a intermediação
deles junto a Deus em orações, baniu a música,
a dança, o álcool e o fumo, impôs uma condição
de segunda classe às mulheres, tornou obrigatória
a participação dos homens nas orações
nas mesquitas, proibiu a comemoração de datas
festivas (mesmo o aniversário de Maomé) e insistiu
na validade das punições físicas: adúlteros
têm que ser apedrejados, ladrões devem ter o braço
amputado, e a pena de morte deve ser executada em lugares públicos.
E o mais importante: determinou que a lealdade deve ser total ao
soberano que tiver o Alcorão como lei. Pregou a volta ao
tempo do Profeta, com a recriação do Califado e a
reunião de todos os muçulmanos sob uma mesma
liderança.
Um movimento religioso que caiu como uma
luva à Casa de Saud, que guerreava então contra
outras tribos para tentar unificar a Arábia. Unidos,
Wahhabi e Saud obtiveram êxitos e fracassos, mas foi
somente no início do século XX que um descendente
seu, Ibn Saud, revivendo o wahhabismo do século XVIII,
conseguiu vencer seus adversários e fundar a Arábia
Saudita. Desde o início, o wahhabismo foi a religião
de estado, com grande ênfase na necessidade de manter no
poder um rei disposto a seguir a lei de Deus. É uma seita
tão sectária que sequer se admite como seita:
chamar seus seguidores de wahhabistas é, para eles, uma
grande ofensa; eles se consideram apenas o verdadeiro Islã
(todos os outros muçulmanos, sejam sunitas ou xiitas, são
considerados inferiores).
A casa real saudita financiou todos os
movimentos nos países vizinhos que pensassem de maneira
igual, sem imaginar o monstro terrorista que estava criando. Foi
dinheiro saudita que financiou a abertura de escolas (madrassas)
wahhabistas em todo o mundo islâmico. E mesmo fora: 80%
das mesquitas nos Estados Unidos foram construídas com
dinheiro saudita. O wahhabismo deu crias em todos os países
árabes.
Foi a armadilha em que caíram os
sauditas. Radicalizar o discurso religioso era uma necessidade
para justificar o poder, mas foi a radicalização
desse discurso que deu origem a um movimento ainda mais radical:
o neowahhabismo de Osama bin Laden e dos outros movimentos
terroristas. Em 1928, bebendo na mesma fonte, foi criada no
Egito a Irmandade Muçulmana (em 54, perseguidos por
Nasser, muitos foram para a Arábia Saudita, onde
encontraram abrigo); o grupo terrorista palestino Hamas nasceu
da Irmandade Muçulmana; e o Talibã, que acabaria
tomando o poder no Afeganistão, foi financiado no início
pela Arábia Saudita. Todos com um ideal pan-islâmico,
com a missão de destruir todos os que a eles se opõem
para que seja criado um estado islâmico universal. E
perfeito, deliram.
Em 1979, a hipocrisia da casa real
saudita, que pregava uma coisa, mas na prática levava uma
vida de ostentação e luxo, fez um grupo de
neowahhabistas tomar a mesquita de Meca, de onde só saíram
mortos (por comandos franceses, diga-se). A Casa Real, em vez de
liberalizar os costumes, tornou-os ainda mais rígidos: as
mulheres, que antes podiam viajar ao exterior apresentando um
documento do pai ou do marido, passaram a só poder sair
do país na companhia de um homem da família;
mulher ao volante passou a ser uma proibição
formal.
Entre liberalizar os costumes, e cair, e
radicalizar a rigidez da moral e dar origem a osamas, os
sauditas têm preferido a segunda opção,
porque acreditam, erradamente, que osamas podem ser expulsos do
país e terroristas, caçados (e, de fato, o governo
saudita tem tentado reprimi-los internamente) . Quinze dos 19
seqüestradores dos aviões que se chocaram contra o
Pentágono e as Torres Gêmeas eram sauditas.
Esses fanáticos neowahhabistas são
o totalitarismo do século XXI. Acreditam-se superiores a
todos os que não pensam como eles, têm um projeto
expansionista bem definido (unir o que acham ser os verdadeiros
muçulmanos num estado teocrático como no tempo do
Profeta) e estão dispostos a morrer para vencer essa
luta. Já mostraram do que são capazes quando têm
um estado por trás, como no caso do Afeganistão.
Impedir que o Iraque fosse o estado-substituto é o
projeto dos Estados Unidos. Eles esperavam que o mundo visse
nesses fanáticos o mesmo perigo. O mundo não viu.
Amanhã, pretendo mostrar como Bush,
ao contrário do que muitos supõem, foi o
presidente americano que mais ouviu a ONU. Para ignorá-la
ao final.
ALI KAMEL é jornalista
Fonte:
http://oglobo.globo.com/oglobo/Mundo/107051060.htm
GRÁVIDA TURCA É
APEDREJADA PELA PRÓPRIA FAMÍLIDA
Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO
em 21-06-2003
Uma muçulmana grávida turca,
apedrejada até a morte pela própria família
por ter tido mantido relações com um jovem com o
qual se casara sem autorização, foi enterrada
ontem como indigente. Os parentes se recusaram a enterrá-la.
Semse Allak, de 35 anos, morreu duas semanas atrás depois
de oito meses em coma profundo em conseqüência dos
ferimentos recebidos, informou a agência Anatolia. [i]
Fonte:
http://www.estado.com.br/editorias/2003/06/21/int003.html
VÉU ISLÂMICO: A PONTA DO
ICEBERG, Mario Vargas Llosa
Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO
em 22-06-2003
Em outubro de 1987, algumas alunas do colégio
francês Gabriel-Havez, na localidade de Creil, se
apresentaram nas classes usando o véu islâmico e a
direção do estabelecimento proibiu a entrada
delas, fazendo lembrar às meninas muçulmanas o caráter
laico do ensino público na França. Desde então,
abriu-se nesse país um intenso debate sobre o tema, que
acaba de atualizar-se com o anúncio de que o
primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, se propõe a
apresentar ao Parlamento um projeto que dê força de
lei à proibição de que os alunos levem às
escolas do Estado acessórios de signos religiosos e políticos
de caráter "ostensivo e proselitista". Porque é
um grande erro acreditar que um Estado neutro em matéria
religiosa e uma escola pública laica atentem contra a
sobrevivência da religião na sociedade civil. A
verdade é bem o contrário, e isso demonstra com
precisão a França, um país onde está
claro que a porcentagem de crentes e praticantes religiosos -
cristãos na sua maioria - é uma das mais elevadas
do mundo. Um Estado laico não é inimigo da religião,
mas sim um Estado que, para resguardar a liberdade dos cidadãos,
retirou a prática religiosa da esfera pública e
levou-a ao âmbito que lhe corresponde, que é a da
vida privada. [e]
Fonte:
http://www.estado.com.br/editorias/2003/06/22/int020.html
POLÍCIA RELIGIOSA SAUDITA
DECLARA BARBIE 'AMEAÇA À MORALIDADE'
Publicado no jornal O ESTADO DE S. PAULO
em 12-09-2003
A polícia religiosa da Arábia
Saudita declarou a boneca Barbie uma ameaça à
moralidade, reclamando que as roupas reveladoras do brinquedo "judeu"
- já banido no reino - ofendem o Islã. O Comitê
para a Propagação da Virtude e Prevenção
do Vício, nome oficial da polícia religiosa, cita
a boneca numa seção de sua página na
internet dedicada a itens considerados ofensivos segundo a
interpretação saudita conservadora do Islã.
"As bonecas Barbie judias, com suas roupas reveladoras e
posturas indecorosas, acessórios e instrumentos, são
um símbolo de decadência para o Ocidente
pervertido. Atentemos a seus perigos e tenhamos cuidado",
diz um cartaz reproduzido no site. O cartaz, cheio de fotos de
Barbie com vestidos curtos e calças apertadas, além
de alguns de seus acessórios, afirma: "Um estranho
pedido. Uma garotinha pede a sua mãe: 'Mãe, eu
quero jeans, uma camisa decotada e um traje de banho como os da
Barbie'." Os cartazes estão sendo distribuídos
em escolas e afixados nas ruas pela polícia religiosa, ou
muttawa, órgão independente filiado ao escritório
do primeiro-ministro. Embora ilegal, a Barbie, é
encontrada no mercado negro, onde um exemplar contrabandeado
pode custar 100 riais sauditas (US$ 27) ou mais. [i]
Fonte:
http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/09/12/int007.html
Mulheres são espancadas por
usar roupas curtas na Tanzânia
Da AFP
A polícia da ilha tanzaniana de
Zanzibar está à procura de um grupo de muçulmanos
suspeitos de espancar mulheres que usavam roupas muito curtas,
consideradas incompatíveis com o Islã.
Um grupo denominado "Os Leões
de Deus" espancou uma jovem a pauladas porque ela usava uma
roupa muito curta e não estava com o véu, chamado
de ninja, segundo reportagem da rádio nacional
tanzaniana. A jovem agredida teve de ser hospitalizada.
Dois dias antes, a funcionária de
um hotel foi violentamente espancada por desconhecidos por estar
usando uma espécie de minissaia.
"A polícia intensifica suas
patrulhas em razão de informações dando
conta de grupos que, após o início do Ramadã,
estão perseguindo as mulheres que não usam o ninja",
diz um policial ouvido pela rádio.
Fonte:
http://www.dgabc.com.br/Internacional/Internacional.idc?conta1=391069
MONUMENTO À LUXÚRIA
Mentor do atentado de Bali agradece
pena de morte
Publicado no Jornal do Brasil em
11/08/2003
JACARTA - O suposto mentor dos atentados
de Bali, Imã Samudra, agradeceu hoje o fato de a
Procuradoria da Indonésia ter pedido sua condenação
à morte, porque isso lhe permitirá ''chegar mais
perto de Alá'' (Deus).
O julgamento contra Samudra, acusado de
idealizar e planejar o sangrento ataque, recomeçou hoje
em Denpasar, capital de Bali, em meio à expectativa
gerada pela sentença de morte ditada na quinta-feira
contra Ali Amrozy e pelo reforço da segurança por
causa do recente atentado contra o Hotel Marriott de Jacarta.
Vestido com uma túnica e um barrete
muçulmano, Samudra, um engenheiro de 33 anos, iniciou sua
defesa por escrito com frases do Alcorão, para depois
agradecer à Procuradoria o fato de ela ter pedido a pena
máxima por seu crime.
''Quero agradecer à equipe da
Procuradoria, que pediu a pena de morte (...); só através
da morte posso chegar mais perto de Alá'', disse Samudra
no tribunal.
As bombas, que explodiram quase
simultaneamente em dois locais noturnos de Bali, mataram 202
pessoas, das quais 88 eram cidadãos australianos, 38
indonésios, 23 britânicos e sete americanos. No
total, morreram turistas de 21 países.
O julgamento contra Samudra é
retomado quatro dias depois de Amrozy, o primeiro detido depois
desses ataques, ser condenado à morte pelo mesmo
tribunal.
Agência EFE
Filme de Jim Carrey é proibido
no Egito
Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo
em 07/11/2003
fonte:
http://www.estadao.com.br/divirtase/noticias/2003/nov/07/187.htm
Todo Poderoso (Bruce Almighty), filme em
que o ator ganha poderes de ser Deus por uma semana, foi
considerado sacrílego e proibido no Egito
Cairo - As autoridades egípcias
proibiram o filme Todo Poderoso (Bruce Almighty) por considerá-lo
sacrílego, disse o diretor da censura estatal.
Madkour Thabit, que dirige la oficina
estatal de censura criticou o filme protagonizado por Jim Carrey
e Morgan Freeman por presentar "atores que fazem o papel de
Deus".
"O nome do filme indica que alguém
pode fazer tudo", disse Thabit em uma declaração
enviada por fax para a The Associated Press. "Tal facultade
corresponde somente a Deus".
As autoridades decidiram na quarta-feira
proibir o filme no Egito e os distribuidores ainda podem apelar
contra a decisão. O filme que é protagonizado também
por Jennifer Aniston, conta a história de um homem cujas
súplicas são ouvidas por Deus que lhe concede seu
poder por uma semana.
Em junho, os censores egípcios também
proibiram Matrix Reloaded, por colocar em dúvida a existência
humana e a criação divina.
Perpétua para pai curdo que
matou a filha
Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo
em 30/09/2003
LONDRES - Um tribunal britânico
condenou ontem à prisão perpétua o
imigrante muçulmano curdo iraquiano Abdullah Yones, de 47
anos, que assassinou sua filha Heshu, de 16 anos, porque ela
adotara costumes ocidentais e namorava um libanês cristão,
de 18 anos.
Em outubro de 2002, ele cortou a garganta
dela e ainda a esfaqueou mais 17 vezes. Yones tentou
suicidar-se, cortando a própria garganta e atirando-se de
um a janela. (AP)
Fonte:
http://www.estado.com.br/editorias//2003/09/30/int005.html
Israel isola a Faixa de Gaza em
represália a mulher-bomba
Janeiro 2004
GAZA (Palestina) - A primeira mulher-bomba
do Hamas foi homenageada como uma heroína durante seu
funeral na Faixa de Gaza ontem, um dia depois de ela ter se
suicidado e matado quatro agentes de fronteira israelense. Em
resposta, Israel isolou a Faixa de Gaza para rever os
procedimentos de segurança nas passagens de fronteira.
O bloqueio israelense impediu que milhares
de trabalhadores palestinos assumissem seus postos de trabalho
em Israel e em um distrito industrial próximo à
fronteira. Os trabalhadores, que são os poucos palestinos
que ainda têm emprego na empobrecida região litorânea,
temiam que a vida pudesse ficar ainda mais difícil depois
do atentado, mas poucos ousavam culpar os militantes islâmicos
pela situação.
O ataque de anteontem no entroncamento de
Erez - uma passagem de fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza
- marcou a primeira vez que o grupo islâmico Hamas fez uso
de uma mulher-bomba. Ontem, o grupo ameaçou perpetrar
novos atentados. "Ela não será a última
(mulher suicida), pois a marcha da resistência persistirá
até que a bandeira islâmica seja hasteada, não
apenas nos minaretes de Jerusalém, mas em todo o universo",
disse Mahmoud Zahar, um líder do Hamas.
O cerco israelense a Gaza causou o
fechamento do entroncamento de Erez, impedindo o acesso dos
palestinos da região a um parque industrial conjunto
estabelecido no lado israelense. Segundo o Exército, os
palestinos teriam permissão para cruzar a fronteira
apenas em situações humanitárias.
Trabalhadores evitaram criticar o Hamas,
mas criticaram a escolha do alvo. "Penso que temos o
direito de lutar contra a ocupação, mas ao mesmo
tempo precisamos pensar cem vezes antes de qualquer ação",
comentou Fawaz Radwan, de 42 anos, que trabalha em uma indústria
alimentícia na cidade israelense de Ashkelon.
Mesmo as críticas veladas aos
militantes palestinos continuam raras apesar de alguns
palestinos comentarem sob condição de anonimato
que as ações extremistas também resultam
nas duras restrições impostas pelos israelenses.
Em uma sociedade na qual o consenso é valorizado,
criticar os grupos armados abertamente poderia ser visto como um
ato de traição.
O atentado de anteontem foi perpetrado por
Reen Raiyshi, de 22 anos, casada e mãe de dois filhos.
Ontem, durante seu sepultamento, milhares de pessoas saíram
às ruas da Cidade de Gaza. Homens mascarados do Hamas e
das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa carregaram seu caixão,
que era coberto pela bandeira verde do Hamas. "Não
é o bastante chamá-la de heroína. Chamá-la
de heroína não chegaria perto da verdade. Essa
mulher abandonou o marido e os filhos para ganhar o paraíso",
elogiou Zahar.
Três dos israelenses mortos no
atentado suicida eram guardas de fronteira. A outra vítima
a perder a vida era um homem contratado por uma firma de segurança
particular. De acordo com o Exército de Israel, quatro
das sete pessoas feridas no ataque eram de origem palestina.
O primeiro-ministro da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), Ahmed Qureia, não criticou a ação
extremista. Líderes palestinos normalmente condenam
atentados contra civis israelenses, mas não se manifestam
sobre ataques contra soldados israelenses e colonos judeus na
Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os palestinos consideram
os israelenses em áreas ocupadas como alvos legítimos.
Antes do início da atual onda de
violência, em 28 de setembro de 2000, cerca de 100.000
palestinos da Faixa de Gaza trabalhavam em Israel. Essa força
de trabalho compunha a principal fonte da renda das famílias
da empobrecida região. Atualmente, apenas 15 mil
palestinos da Faixa de Gaza possuem emprego formal em Israel e
cerca de 4 mil mercadores têm liberdade para transitar
entre os dois lados. Os cerca de 6 mil funcionários do
parque industrial de Erez também possuem permissão
para entrar no Estado judeu.
TUMULTO NA PEREGRINAÇÃO
DEIXA 244 MORTOS
Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO
em 02-02-2004
Fonte:
http://txt.estado.com.br/editorias/2004/02/02/int014.html
Um tumulto durante um ritual de
apedrejamento na peregrinação anual muçulmana
matou ontem 244 religiosos em Mina, Arábia Saudita, numa
das maiores tragédias dos últimos anos no perigoso
local. O total de mortos foi divulgado pelo ministro saudita
para Assuntos de Peregrinação, Iyad bin Amin
Madani. Um número similar de peregrinos ficou ferido,
sete deles gravemente, acrescentou o ministro em entrevista
coletiva. A correria, durante um dos eventos culminantes da
peregrinação - o apedrejamento de pilares que
representam o diabo - , durou 27 minutos. "Todas as precauções
foram tomadas para evitar um incidente desse tipo, mas essa foi
a vontade de Deus", declarou Madani. "O cuidado não
é mais forte que o destino."
Segundo o ministro, um grande número
de peregrinos optou por realizar o ritual ao mesmo tempo, embora
o governo os tivesse encorajado a fazer revezamento para evitar
tumultos. " Madani afirmou que as vítimas eram, na
maioria, peregrinos da própria Arábia Saudita e
muitos não tinham autorização para
participar. A fim de controlar as cerca de 2 milhões de
pessoas que participa da peregrinação - o haj - ,
as autoridades sauditas determinam cotas de peregrinos conforme
o país, e também exigem que seus cidadãos
se registrem. O apedrejamento do diabo é o mais animado
ritual do haj e, freqüentemente, o mais perigoso. Muitos
peregrinos atiram pedras freneticamente, gritam insultos ou
arremessam seus sapatos contra os pilares - atos destinados a
demonstrar seu profundo desprezo pelo diabo. Clérigos
desaprovam essas ações, qualificando-as de antiislâmicas.
No ano passado, 14 peregrinos morreram
pisoteados durante o ritual. Em 2001, 35 morreram num tumulto
(ler ao lado sobre algumas das tragédias no haj nos últimos
anos).
A peregrinação anual, que
começou quinta-feira, chegou ao clímax no sábado,
quando cerca de 2 milhões de peregrinos muçulmanos
ouviram o principal clérigo saudita denunciar os
terroristas, qualificando-os de afronta ao Islã. Mas ele
defendeu a rígida interpretação da fé
no reino saudita.
O xeque Abdul Aziz al-Sheik disse em seu
sermão que existem aqueles que alegam ser guerreiros
santos, mas derramam o sangue muçulmano e desestabilizam
a nação. "É guerra santa derramar o
sangue muçulmano? É guerra santa derramar o sangue
dos não-muçulmanos que recebem abrigo em terras muçulmanas?
É guerra santa destruir as posses dos muçulmanos?",
perguntou ele, acrescentando que as ações dos
terroristas dão aos inimigos uma desculpa para criticar
as nações islâmicas.
Al-Sheik também criticou a
comunidade internacional, acusando-a de atacar o wahabismo, a
interpretação estrita do Islã aplicada na
Arábia Saudita: "Este país é baseado
nesta religião e permanecerá leal a ela."
Depois da noite de oração que se seguiu ao sermão,
os peregrinos reuniram pedras para lançar contra os
pilares. Cada um atirava sete vezes, aos gritos de "bismillah"
("em nome de Deus)" e "Allahu Akbar" ("Deus
é grande"). [e]
EDITORIAL - BARREIRA RELIGIOSA
Folha de S. Paulo 26/2/04
A religião está indissociavelmente ligada ao processo civilizatório.
Reconhecer esse fato antropológico não significa considerar que as
religiões sempre atuem em favor da civilização. Em muitos casos,
infelizmente, essa não é a regra.Uma recente e caricata ação de líderes
religiosos contra o progresso humano partiu de clérigos islâmicos de
Estados do norte da Nigéria. Baseados no suposto caráter "não-islâmico" da
vacina contra a poliomielite, autoridades dos Estados de Kano e Zamfara
decidiram boicotar os esforços da Organização Mundial da Saúde (OMS) de
erradicar a poliomielite do planeta com a vacinação em massa de crianças
nas áreas onde a doença ainda existe.O plano era vacinar 60 milhões em dez
países da África ocidental nesta semana, dentro da estratégia de
aproveitar o relativo confinamento do vírus da pólio a três zonas -África
ocidental, Egito e Índia-Paquistão- para tentar um golpe final contra a
moléstia. A Nigéria é um país-chave para a erradicação, uma vez que
responde pela metade de todos os novos casos mundiais da doença.A
proibição da vacina surgiu devido a rumores de que ela causaria
infertilidade. Tudo faria parte de um complô norte-americano para tornar
as mulheres muçulmanas inférteis. Pregadores islâmicos mais radicais são
contra todas as vacinas, por considerá-las não-islâmicas -se Deus quiser
que você morra, você morrerá; se Ele não quiser, você não morrerá.Apesar
do respeito que se deve às religiões, essa é uma atitude obscurantista e
criminosa, que deveria ser prontamente combatida pelas autoridades
federais nigerianas, um Estado que é formalmente laico. O vírus da pólio
não respeita fronteiras entre nações e não verifica a religião das
crianças que infecta, aleija e mata.
Fonte: Correio do Povo, 25/02/04, pág. 6.
Site: www.cpovo.net
O Massacre dos Inocentes
Autor: José Eduardo Barela
Revista Veja edição 1870 . 8 de setembro de 2004
Nada justifica a matança de quase duas centenas de crianças como a cometida por um grupo de terroristas islâmicos chechenos e árabes numa escola no interior da Rússia, na semana passada. Durante três dias, 1 200 pessoas, 70% delas crianças, professores e pais, foram submetidas a uma das piores atrocidades que um ser humano pode proporcionar a outro — a violência gratuita e a humilhação deliberada, planejadas nos detalhes para causar, a título de ação política, o máximo de dor e desespero. O assalto aos inocentes teve início na quarta-feira, quando três dezenas de terroristas invadiram o ginásio da escola, onde pais e alunos comemoravam o primeiro dia de aula do ano letivo russo, e terminou na sexta-feira, quando forças policiais russas mataram a maioria dos terroristas e libertaram os reféns sobreviventes. Em uma primeira contagem foram encontrados mais de 200 mortos, incluídos os adultos. Mais de 700 feridos foram atendidos em hospitais e tendas médicas improvisadas. As cenas pungentes de homens carregando crianças queimadas e dilaceradas e da fila de pequenos corpos mortos cobertos de lençóis, transmitidas para todo o mundo pela televisão, abrem um novo capítulo no entendimento da sombria ameaça representada pelo terrorismo ao mundo civilizado.
Os responsáveis pelo ataque eram na maioria chechenos, militantes separatistas vindos de uma republiqueta autônoma da Federação Russa. Havia também uma dezena de terroristas árabes entre eles, indício seguro da existência de uma conexão com a Al Qaeda, a central do terrorismo islâmico liderada por Osama bin Laden. Se a questão na Chechênia fosse só nacionalismo, já seria uma grande encrenca, mas se poderia encontrar uma solução no mundo racional. Veja-se o exemplo dos separatistas bascos, instalados numa das regiões mais prósperas e civilizadas da Espanha, e, ainda assim, dispostos a matar seus concidadãos pelo desejo de ter um país soberano. A maioria deles já abandonou a luta armada em troca de maior autonomia nos negócios regionais. O fundamentalismo islâmico, com sua pauta de destruição da civilização ocidental, coloca a luta dos chechenos num universo que a razão não consegue compreender. "A raiz dos grupos chechenos é nacionalista e secular, mas muitos deles perceberam que só obteriam dinheiro e apoio internacional para sua causa se incorporassem o discurso e o modo de ação da Al Qaeda", disse a VEJA a americana Jessica Stern, da Universidade Harvard, especialista em terrorismo religioso.
Por anos, o presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou palpite externo na Chechênia, sobretudo dos que reclamam da violência de sua soldadesca na província, sob o argumento de que se tratava de um assunto doméstico da Rússia. O ataque da semana passada evidenciou que também aquele país foi engolfado pela ofensiva islâmica. Apesar de a Rússia já ter sido sacudida por atentados terríveis cometidos pelos chechenos, o ataque às crianças foi de tal ordem que significou, em muitos sentidos, o 11 de Setembro da Rússia. Desde o primeiro momento da invasão da escola ficou evidente que os terroristas estavam ali para matar os reféns — e, evidentemente, para morrer num banho de sangue infiel e, dessa forma repugnante, ganhar um lugar no paraíso das 72 virgens. As reivindicações eram do tipo que não pode ser atendido (retirada das forças russas da Chechênia e libertação de todos os terroristas presos). A experiência internacional nesses casos indica que os pedidos exorbitantes do primeiro momento são mais tarde abrandados em troca da sobrevivência dos seqüestradores. O governo russo aprendeu que esse desfecho nem sempre vale para fanáticos islâmicos, pois muitas vezes eles estão ansiosos pelo martírio.
As autoridades russas fazem uma conta negativa nesses casos. Registram todos os reféns como mortos e vão subtraindo desse total aqueles que conseguirem sobreviver aos terroristas e ao caos que costuma ocorrer durante as operações de resgate pelas forças especiais. No caso das crianças de Beslan, a cidadezinha de 30.000 habitantes da Ossétia do Norte onde ocorreu o massacre, contudo, nem o endurecido general oriundo da KGB aceitaria a idéia de invadir o ginásio e deixar nas mãos de Deus a decisão sobre qual daqueles loirinhos iria sobreviver. A data e o local do assalto terrorista foram escolhidos com cuidado para causar esse efeito devastador. A Chechênia e a Ossétia do Norte ficam na mesma região, o Cáucaso. A diferença marcante é que os chechenos são muçulmanos e acabaram misturando seus objetivos nacionalistas com os da guerra santa islâmica. Os ossetas são na maioria cristãos, convivem pacificamente uns com os outros e até usufruem certa prosperidade, apesar de sua república figurar entre as mais pobres da federação.
O assassinato começou já na tomada da escola. Mais de dez pessoas foram mortas nos primeiros minutos, incluindo um pai de aluno que esboçou reação e foi fuzilado na frente do filho. Diante da mobilização militar em torno do prédio, os terroristas perfilaram alunos nas janelas para que servissem de escudos humanos.
Ameaçavam fuzilar cinqüenta crianças de uma vez para cada guerrilheiro morto por atiradores de elite postados do lado de fora. Depois que a polícia cortou o fornecimento de eletricidade, a falta de calefação elevou a temperatura para mais de 30 graus dentro do ginásio. Havia alunos de todas as séries, entre 7 e 17 anos. A maioria das crianças era do curso primário. Para enfrentar o calor, elas tiraram a roupa. Há relatos de crescente perversidade dos terroristas. Eles proibiram as crianças de comer e de tomar água. Podiam ir ao banheiro e aquelas que tentaram beber no vaso sanitário foram impedidas com tiros de metralhadora. Algumas beberam a própria urina, para suprir a falta de líquido. Quando foram resgatadas, estavam macilentas, famintas e desidratadas.
As forças russas estavam preparadas para estender as negociações por muitos dias. Por ordem do presidente, Vladimir Putin, as conversas com os separatistas começaram logo no primeiro dia. Na manhã seguinte, 26 mulheres com bebês de colo foram libertadas. Contaram que isso se devia sobretudo ao fato de o choro das crianças irritar os seqüestradores. As negociações continuaram na manhã de sexta-feira. As autoridades conseguiram autorização para retirar os corpos das pessoas que haviam sido mortas dois dias antes. A seqüência exata de eventos não é clara a partir desse momento. Ao meio-dia, a ambulância enviada para recolher os cadáveres foi recebida a tiros ao se aproximar do ginásio. Em seguida se ouviu uma explosão. Mais tarde, uma criança que escapou através de uma janela contou que uma das terroristas explodiu o cinturão de bombas que levava em torno do corpo, matando grande quantidade de crianças. Talvez tenha sido uma detonação acidental. A explosão precipitou a carnificina. Outra versão sobre os acontecimentos diz que alguns reféns conseguiram escapar e, na fuga, acionaram as minas que os seqüestradores haviam plantado na saída da escola. Na confusão, os terroristas saíram do prédio atirando nas crianças pelas costas.
A reação das forças especiais foi invadir o prédio e lutar com os terroristas de sala em sala. A escola virou um campo de batalha. Helicópteros e tanques do Exército russo enviados ao local foram recebidos com tiros de metralhadora e granadas. Bombas instaladas pelos terroristas dentro do prédio explodiram e derrubaram o teto do ginásio, onde os reféns estavam sendo mantidos sob a mira de armas. A queda do telhado foi, provavelmente, o evento isolado que causou o maior número de vítimas. O teto havia desaparecido inteiramente. A batalha na escola durou doze horas. Alguns terroristas tentaram fugir disfarçados entre os reféns ou se esconder em casas das redondezas e três deles buscaram refúgio no porão, mas acabaram todos capturados ou mortos. O cenário era de pesadelo. Um voluntário que entrou nos escombros do ginásio para ajudar a retirar os corpos contou que o piso estava coberto de cadáveres, uns sobre os outros, a maioria carbonizada. Na madrugada de sábado, novas explosões foram ouvidas na escola. Mas era apenas o trabalho de desativação das minas deixadas pelos separatistas chechenos. No total, 400 reféns foram libertados e 27 terroristas mortos, incluídos os dez árabes, identificados pelos documentos que levavam.
Os russos conquistaram a Chechênia há mais de 200 anos. Desde então enfrentam movimentos armados pela independência por lá, uns mais intensos que os outros. Na verdade, a república só foi independente por uns poucos anos, no caos que se seguiu à revolução bolchevique. No fim da II Guerra, Stalin acusou os chechenos de terem colaborado com os nazistas e deportou toda a população para a Sibéria. Puderam voltar depois da morte do ditador, nos anos 50. Em 1991, quando a União Soviética enrolou a bandeira, os chechenos aproveitaram para declarar a independência, que não foi reconhecida por nenhum país. Três anos depois, a Rússia tentou esmagar a rebelião, mas suas tropas foram vergonhosamente derrotadas. A situação teria ficado por aí se, em 1999, fanáticos muçulmanos saídos da Chechênia não tivessem tentado implantar um regime islâmico numa província vizinha. Desafiado, Putin invadiu novamente o país e, na luta, destruiu a capital chechena, Grozni. Os separatistas responderam dinamitando prédios inteiros na Rússia, matando todos os moradores. Putin, por sua vez, deu carta branca para suas tropas tratarem a Chechênia como território ocupado, com prisões em massa e fuzilamentos sem julgamento. Desde que passaram a contar com a assessoria técnica de terroristas chechenos e árabes treinados pela Al Qaeda, os separatistas cometeram atentados terríveis na Rússia, como a tomada de um teatro em Moscou, que terminou com a morte de 120 reféns. Nessa conversão às táticas da Al Qaeda, chama atenção a utilização de mulheres-bombas. Impressiona que a mesma mentalidade que valoriza o culto do martírio, típico do terrorismo fundamentalista islâmico, tenha sido incorporada por mulheres, visto que na religião muçulmana elas não têm direito ao paraíso, seja lá o que façam para merecê-lo. A maioria dos últimos atentados suicidas chechenos foi praticada por mulheres conhecidas como viúvas-negras. Elas levam esse nome por ter supostamente perdido o marido, filhos ou algum parente próximo em confrontos com as tropas russas ao longo do conflito. É nesse ponto terrível do pesadelo que estamos.
O terrorismo é, com freqüência, discutido sem ter sido definido ou qualificado. Muita gente trata o assunto com pudor, temerosa de que ao condenar a prática esteja ao mesmo tempo retirando legitimidade da causa em nome da qual os terroristas dizem agir. É um falso dilema, pois não há legitimidade em matar indefesos. O que distingue o terrorismo do combate convencional, e mesmo da luta revolucionária, é a ênfase no ataque a pessoas ou alvos sem justificativa da necessidade militar. A estratégia terrorista consiste em lançar ataques ao acaso contra a população, de preferência quando está indefesa em suas atividades cotidianas, em supermercados, estações de metrô, restaurantes, aeroportos, escolas. Faz isso porque seu objetivo não é conquistar, nem mesmo vencer. Sua intenção é apenas aterrorizar e, dessa forma, tentar dobrar pelo medo toda uma sociedade. Uma variação na teoria que justifica esses ataques aleatórios — amplamente utilizada pelo terror palestino contra os israelenses — é a de que todos os membros de uma determinada população (mulheres, crianças, velhos) partilham dos pecados do regime que combatem e devem pagar por isso. É dessa vertente que se alimentam os fanáticos do fundamentalismo islâmico que derrubaram as torres gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001, explodiram os trens em Madri no início deste ano e, agora, trucidaram criancinhas na Rússia.
"Nigéria: islâmicos proíbem vacina contra poliomielite
"Kaduna - Mais dois estados islâmicos da Nigéria aderiram ontem a um
boicote à vacinação contra a poliomielite, prejudicando um gigantesco
esforço de imunização de 63 milhoões de crianças de dez nações africanas
em meio a um surto da doença no norte nigeriano. Conforme o porta voz da
Unicef, Gerrit Beger, os estados de Bauchi e Niger declararam a
suspensão da cooperação com uma campanha de imunização iniciada a três
dias."