A RIQUEZA DOS AIATOLÁS
José Eduardo Barella

Clero xiita se aproveitou do poder total para enriquecer no Irã

Publicado na Revista Veja - edição 1818 . 3 de setembro de 2003

Fonte: http://veja.abril.com.br/030903/p_048.html

Os aiatolás do Irã derrubaram o xá Reza Pahlevi em 1979 com a promessa de instaurar um regime de pureza islâmica e alto padrão de moralidade pública. Para atingir tais objetivos, o clero xiita assumiu total controle do aparelho de Estado, das instituições nacionais e também de boa parte da economia. Duas décadas depois, o resultado da islamização é impressionante: os iranianos estão mais pobres e os aiatolás, muito mais ricos. O surgimento de uma casta de milionários de turbante era previsível. Não há decisão política ou econômica importante no Irã sem a bênção dos mulás. E eles usam essa influência para controlar os melhores negócios, principalmente os que envolvem moeda forte. Não se tem notícia de que o falecido aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, tenha tirado proveito financeiro do poder ilimitado de que dispunha. Já seu filho mais velho, Ahmed, clérigo sem fortuna que passou a controlar a agenda do pai, tinha se tornado o homem mais rico do Irã quando morreu, em 1995. Com base em cálculos do economista iraniano Saeed Laylaz, a revista americana Forbes diz que o clero xiita desviou de 3 bilhões a 5 bilhões de dólares por ano na última década só com subsídios concedidos aos religiosos na compra de moeda estrangeira. O Irã detém 9% das reservas mundiais de petróleo e também é rico em gás natural - só se pode supor quanto dessa riqueza tem sido rapinada pela turma de turbante.

O aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani pode ser considerado o maior exemplo do enriquecimento fácil em nome de Alá. Filho de uma família humilde de agricultores, Rafsanjani foi um dos principais assessores de Khomeini. Presidiu o Parlamento nos anos 80 e, após a morte do imã, foi nomeado seu sucessor. Entre 1989 e 1997, Rafsanjani ocupou a Presidência - período no qual começou a erguer seu império recorrendo ao nepotismo. Nomeou um irmão para dirigir a maior mina de cobre do Irã e outro para cuidar da rede estatal de rádio e TV. Para assegurar o controle da produção de petróleo, Rafsanjani indicou um dos filhos e um sobrinho para postos estratégicos no ministério do setor e não sossegou até que um cunhado assumisse o governo de uma região coalhada de poços. Paralelamente, Rafsanjani colocou em marcha um processo de abertura econômica que recebeu elogios no Ocidente - mas que se caracterizou pela venda de estatais a preço de banana para aliados e parentes.

Rafsanjani foi derrotado nas eleições de 1997 pelo atual presidente, o reformista Mohammed Khatami. A maioria dos parentes que havia nomeado foi afastada e alguns aliados acabaram formalmente acusados de corrupção. Mesmo assim, um de seus filhos continuou à frente da construção do metrô de Teerã, obra de 700 milhões de dólares e repleta de denúncias de irregularidades. Sua família, porém, já amealhou o suficiente para tocar por conta própria um império econômico de interesses diversos, incluindo uma companhia aérea, uma montadora de carros e resorts no exterior (veja quadro ao lado). Hoje, Rafsanjani mantém sua influência política dirigindo um dos vários órgãos consultivos do Parlamento.

A fortuna acumulada pelos líderes religiosos é assunto tabu no Irã por várias razões. A primeira, óbvia, pelo fato de os iranianos viverem sob uma ditadura - não há partidos de oposição legalizados, Judiciário independente nem liberdade de imprensa para denunciar os desmandos dos mulás. "Quando o assunto é dinheiro, somem as divergências entre conservadores e reformistas, que costumam dividir esses líderes religiosos em correntes políticas bem definidas", disse a VEJA o cientista político iraniano Shaul Bakhash, do Instituto Brookings, nos Estados Unidos. A estrutura de poder no Irã também facilita a roubalheira. Cerca de 60% da economia está nas mãos do Estado. Outros 20% são controlados pelas bayads - as fundações de caridade religiosa que, na prática, funcionam como estatais gigantes. As bayads foram criadas após a Revolução Islâmica com o patrimônio confiscado da família do xá e das multinacionais nacionalizadas. Sua função era atender às camadas pobres da população, mas acabaram se convertendo rapidamente em instrumento de clientelismo político e fonte incontrolável de corrupção. Até recentemente, essas fundações eram isentas de impostos, podiam pegar emprestado dinheiro de bancos estatais a juros subsidiados e ainda tinham acesso a taxas de câmbio especiais. De quebra, não precisavam prestar contas ao governo - apenas a Alá.

Com tantos benefícios, essas fundações religiosas criaram impérios econômicos. Um exemplo é a Fundação dos Oprimidos, dirigida por Moshen Rafiqdoost, ex-chefe da segurança pessoal de Khomeini. Apesar do nome, a fundação tem 400 000 funcionários e bens avaliados em 12 bilhões de dólares - entre eles, redes de hotéis cinco-estrelas e uma fábrica da Pepsi nacionalizada, sem contar setores da indústria petrolífera, têxtil e de construção civil. Além de encherem os bolsos dos mulás e servirem de cabides de emprego, as bayads financiam grupos terroristas no exterior, como o Hezbollah, no Líbano, e são apontadas como fonte de recursos para o programa nuclear secreto do governo. Foi uma dessas fundações que, em 1989, ofereceu 2 milhões de dólares pela cabeça do escritor anglo-indiano Salman Rushdie, acusado de blasfemar contra o Islã no romance Os Versos Satânicos.

Khatami, o presidente reformista, conseguiu aprovar algumas leis que cortaram vários dos benefícios fiscais das bayads e tomou medidas para coibir a corrupção. Mas parece improvável uma caça aos mulás milionários. Um filho do aiatolá Vaez Tabasi, Naser, que dirigia uma zona de livre comércio na região do Golfo, chegou a ser acusado de fraude e evasão de divisas. Mas acabou absolvido por um tribunal há quatro meses sob a justificativa de que não sabia que estava cometendo um crime. Resta saber se será perdoado por Alá.

Países islâmicos lançam ofensiva contra o Brasil

Publicado no Jornal O Povo em 23 Abril de 2003

Os países islâmicos lançaram uma verdadeira ofensiva diplomática contra o Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O motivo é uma proposta apresentada pelo governo brasileiro pedindo para que os países não discriminem, em suas políticas públicas, os seus cidadãos com base em sua orientação sexual. A proposta brasileira poderá ser votada hoje, na Comissão de Direitos Humanos da ONU, mas os países da Conferência Islâmica estão fazendo tudo para impedir uma aprovação da resolução.

A reportagem da Agência Estado obteve uma cópia da carta enviada ontem a todos os membros da ONU pelo governo do Paquistão, em nome dos países islâmicos, pedindo que não seja dado apoio ao Brasil. Segundo a carta, a proposta ''contradiz o islamismo'' e ''seria considerada um insulto direto aos mais de 1,2 bilhão de muçulmanos no mundo''.

A proposta brasileira pede que todos os países garantam direitos à vida, liberdade e segurança das pessoas, seja qual for sua opção sexual. O Brasil ainda pede que ninguém seja torturado por suas escolhas sexuais e que as leis dos países protejam a todos os cidadãos.

O Ministério das Relações Exteriores também defende que a privacidade dos indivíduos não seja invadida por sua opção sexual e que sua nacionalidade não seja negada com base nesse mesmo critério. Além disso, a proposta do País sugere que todos, independente de serem heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, tenham acesso a julgamentos justos e que não sejam objeto de prisões ou exílio por causa de sua orientação sexual.

Essa não é a primeira vez que o Brasil toma a iniciativa diplomática de incluir a orientação sexual na agenda internacional. A primeira vez ocorreu na Conferência de Durban, sobre o racismo, no ano passado. Naquela ocasião, porém, a proposta do Brasil de alertar que grupos, como os homossexuais, estariam sendo alvos de discriminação não foi aceita por unanimidade pelos membros da ONU, e Paquistão e Irã foram os líderes do movimento contrário à proposta. (Agência Estado)

Fonte: http://www.noolhar.com/opovo/internacional/244581.html

O que pensam os fanáticos do Islã

Publicado em 26/03/2003 no Jornal O Globo

Ali Kamel

Poucos conhecem o termo "wahhabismo", mas ele é fundamental para se entender o extremismo religioso, base do terrorismo islâmico. O movimento surgiu na Arábia do século XVIII, pelas mãos de Muhammad ibn Abd al-Wahhab. Vindo de uma família de religiosos e professores, al-Wahhabi, desencantado com o que chamava de degradação do islamismo, propôs um retorno radical às origens, contra todas as inovações. Tudo o que ele pregou partiu da ênfase na base monoteísta da religião islâmica: adorar apenas o Deus único.

A partir dessa idéia central, propôs uma leitura literal (e para grande parte dos muçulmanos, equivocada) do Alcorão. Recriminou o que chamou de excessiva veneração ao Profeta Maomé, proibiu cultuar homens santos ou apelar para a intermediação deles junto a Deus em orações, baniu a música, a dança, o álcool e o fumo, impôs uma condição de segunda classe às mulheres, tornou obrigatória a participação dos homens nas orações nas mesquitas, proibiu a comemoração de datas festivas (mesmo o aniversário de Maomé) e insistiu na validade das punições físicas: adúlteros têm que ser apedrejados, ladrões devem ter o braço amputado, e a pena de morte deve ser executada em lugares públicos. E o mais importante: determinou que a lealdade deve ser total ao soberano que tiver o Alcorão como lei. Pregou a volta ao tempo do Profeta, com a recriação do Califado e a reunião de todos os muçulmanos sob uma mesma liderança.

Um movimento religioso que caiu como uma luva à Casa de Saud, que guerreava então contra outras tribos para tentar unificar a Arábia. Unidos, Wahhabi e Saud obtiveram êxitos e fracassos, mas foi somente no início do século XX que um descendente seu, Ibn Saud, revivendo o wahhabismo do século XVIII, conseguiu vencer seus adversários e fundar a Arábia Saudita. Desde o início, o wahhabismo foi a religião de estado, com grande ênfase na necessidade de manter no poder um rei disposto a seguir a lei de Deus. É uma seita tão sectária que sequer se admite como seita: chamar seus seguidores de wahhabistas é, para eles, uma grande ofensa; eles se consideram apenas o verdadeiro Islã (todos os outros muçulmanos, sejam sunitas ou xiitas, são considerados inferiores).

A casa real saudita financiou todos os movimentos nos países vizinhos que pensassem de maneira igual, sem imaginar o monstro terrorista que estava criando. Foi dinheiro saudita que financiou a abertura de escolas (madrassas) wahhabistas em todo o mundo islâmico. E mesmo fora: 80% das mesquitas nos Estados Unidos foram construídas com dinheiro saudita. O wahhabismo deu crias em todos os países árabes.

Foi a armadilha em que caíram os sauditas. Radicalizar o discurso religioso era uma necessidade para justificar o poder, mas foi a radicalização desse discurso que deu origem a um movimento ainda mais radical: o neowahhabismo de Osama bin Laden e dos outros movimentos terroristas. Em 1928, bebendo na mesma fonte, foi criada no Egito a Irmandade Muçulmana (em 54, perseguidos por Nasser, muitos foram para a Arábia Saudita, onde encontraram abrigo); o grupo terrorista palestino Hamas nasceu da Irmandade Muçulmana; e o Talibã, que acabaria tomando o poder no Afeganistão, foi financiado no início pela Arábia Saudita. Todos com um ideal pan-islâmico, com a missão de destruir todos os que a eles se opõem para que seja criado um estado islâmico universal. E perfeito, deliram.

Em 1979, a hipocrisia da casa real saudita, que pregava uma coisa, mas na prática levava uma vida de ostentação e luxo, fez um grupo de neowahhabistas tomar a mesquita de Meca, de onde só saíram mortos (por comandos franceses, diga-se). A Casa Real, em vez de liberalizar os costumes, tornou-os ainda mais rígidos: as mulheres, que antes podiam viajar ao exterior apresentando um documento do pai ou do marido, passaram a só poder sair do país na companhia de um homem da família; mulher ao volante passou a ser uma proibição formal.

Entre liberalizar os costumes, e cair, e radicalizar a rigidez da moral e dar origem a osamas, os sauditas têm preferido a segunda opção, porque acreditam, erradamente, que osamas podem ser expulsos do país e terroristas, caçados (e, de fato, o governo saudita tem tentado reprimi-los internamente) . Quinze dos 19 seqüestradores dos aviões que se chocaram contra o Pentágono e as Torres Gêmeas eram sauditas.

Esses fanáticos neowahhabistas são o totalitarismo do século XXI. Acreditam-se superiores a todos os que não pensam como eles, têm um projeto expansionista bem definido (unir o que acham ser os verdadeiros muçulmanos num estado teocrático como no tempo do Profeta) e estão dispostos a morrer para vencer essa luta. Já mostraram do que são capazes quando têm um estado por trás, como no caso do Afeganistão. Impedir que o Iraque fosse o estado-substituto é o projeto dos Estados Unidos. Eles esperavam que o mundo visse nesses fanáticos o mesmo perigo. O mundo não viu.

Amanhã, pretendo mostrar como Bush, ao contrário do que muitos supõem, foi o presidente americano que mais ouviu a ONU. Para ignorá-la ao final.

ALI KAMEL é jornalista

Fonte: http://oglobo.globo.com/oglobo/Mundo/107051060.htm

GRÁVIDA TURCA É APEDREJADA PELA PRÓPRIA FAMÍLIDA

Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO em 21-06-2003

Uma muçulmana grávida turca, apedrejada até a morte pela própria família por ter tido mantido relações com um jovem com o qual se casara sem autorização, foi enterrada ontem como indigente. Os parentes se recusaram a enterrá-la. Semse Allak, de 35 anos, morreu duas semanas atrás depois de oito meses em coma profundo em conseqüência dos ferimentos recebidos, informou a agência Anatolia. [i]

Fonte: http://www.estado.com.br/editorias/2003/06/21/int003.html

VÉU ISLÂMICO: A PONTA DO ICEBERG, Mario Vargas Llosa

Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO em 22-06-2003

Em outubro de 1987, algumas alunas do colégio francês Gabriel-Havez, na localidade de Creil, se apresentaram nas classes usando o véu islâmico e a direção do estabelecimento proibiu a entrada delas, fazendo lembrar às meninas muçulmanas o caráter laico do ensino público na França. Desde então, abriu-se nesse país um intenso debate sobre o tema, que acaba de atualizar-se com o anúncio de que o primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, se propõe a apresentar ao Parlamento um projeto que dê força de lei à proibição de que os alunos levem às escolas do Estado acessórios de signos religiosos e políticos de caráter "ostensivo e proselitista". Porque é um grande erro acreditar que um Estado neutro em matéria religiosa e uma escola pública laica atentem contra a sobrevivência da religião na sociedade civil. A verdade é bem o contrário, e isso demonstra com precisão a França, um país onde está claro que a porcentagem de crentes e praticantes religiosos - cristãos na sua maioria - é uma das mais elevadas do mundo. Um Estado laico não é inimigo da religião, mas sim um Estado que, para resguardar a liberdade dos cidadãos, retirou a prática religiosa da esfera pública e levou-a ao âmbito que lhe corresponde, que é a da vida privada. [e]

Fonte: http://www.estado.com.br/editorias/2003/06/22/int020.html

POLÍCIA RELIGIOSA SAUDITA DECLARA BARBIE 'AMEAÇA À MORALIDADE'

Publicado no jornal O ESTADO DE S. PAULO em 12-09-2003

A polícia religiosa da Arábia Saudita declarou a boneca Barbie uma ameaça à moralidade, reclamando que as roupas reveladoras do brinquedo "judeu" - já banido no reino - ofendem o Islã. O Comitê para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, nome oficial da polícia religiosa, cita a boneca numa seção de sua página na internet dedicada a itens considerados ofensivos segundo a interpretação saudita conservadora do Islã. "As bonecas Barbie judias, com suas roupas reveladoras e posturas indecorosas, acessórios e instrumentos, são um símbolo de decadência para o Ocidente pervertido. Atentemos a seus perigos e tenhamos cuidado", diz um cartaz reproduzido no site. O cartaz, cheio de fotos de Barbie com vestidos curtos e calças apertadas, além de alguns de seus acessórios, afirma: "Um estranho pedido. Uma garotinha pede a sua mãe: 'Mãe, eu quero jeans, uma camisa decotada e um traje de banho como os da Barbie'." Os cartazes estão sendo distribuídos em escolas e afixados nas ruas pela polícia religiosa, ou muttawa, órgão independente filiado ao escritório do primeiro-ministro. Embora ilegal, a Barbie, é encontrada no mercado negro, onde um exemplar contrabandeado pode custar 100 riais sauditas (US$ 27) ou mais. [i]

Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/09/12/int007.html

Mulheres são espancadas por usar roupas curtas na Tanzânia

Da AFP

A polícia da ilha tanzaniana de Zanzibar está à procura de um grupo de muçulmanos suspeitos de espancar mulheres que usavam roupas muito curtas, consideradas incompatíveis com o Islã.

Um grupo denominado "Os Leões de Deus" espancou uma jovem a pauladas porque ela usava uma roupa muito curta e não estava com o véu, chamado de ninja, segundo reportagem da rádio nacional tanzaniana. A jovem agredida teve de ser hospitalizada.

Dois dias antes, a funcionária de um hotel foi violentamente espancada por desconhecidos por estar usando uma espécie de minissaia.

"A polícia intensifica suas patrulhas em razão de informações dando conta de grupos que, após o início do Ramadã, estão perseguindo as mulheres que não usam o ninja", diz um policial ouvido pela rádio.

Fonte: http://www.dgabc.com.br/Internacional/Internacional.idc?conta1=391069


MONUMENTO À LUXÚRIA

Mentor do atentado de Bali agradece pena de morte

Publicado no Jornal do Brasil em 11/08/2003

JACARTA - O suposto mentor dos atentados de Bali, Imã Samudra, agradeceu hoje o fato de a Procuradoria da Indonésia ter pedido sua condenação à morte, porque isso lhe permitirá ''chegar mais perto de Alá'' (Deus).

O julgamento contra Samudra, acusado de idealizar e planejar o sangrento ataque, recomeçou hoje em Denpasar, capital de Bali, em meio à expectativa gerada pela sentença de morte ditada na quinta-feira contra Ali Amrozy e pelo reforço da segurança por causa do recente atentado contra o Hotel Marriott de Jacarta.

Vestido com uma túnica e um barrete muçulmano, Samudra, um engenheiro de 33 anos, iniciou sua defesa por escrito com frases do Alcorão, para depois agradecer à Procuradoria o fato de ela ter pedido a pena máxima por seu crime.

''Quero agradecer à equipe da Procuradoria, que pediu a pena de morte (...); só através da morte posso chegar mais perto de Alá'', disse Samudra no tribunal.

As bombas, que explodiram quase simultaneamente em dois locais noturnos de Bali, mataram 202 pessoas, das quais 88 eram cidadãos australianos, 38 indonésios, 23 britânicos e sete americanos. No total, morreram turistas de 21 países.

O julgamento contra Samudra é retomado quatro dias depois de Amrozy, o primeiro detido depois desses ataques, ser condenado à morte pelo mesmo tribunal.

Agência EFE

Filme de Jim Carrey é proibido no Egito

Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo em 07/11/2003

fonte: http://www.estadao.com.br/divirtase/noticias/2003/nov/07/187.htm

Todo Poderoso (Bruce Almighty), filme em que o ator ganha poderes de ser Deus por uma semana, foi considerado sacrílego e proibido no Egito

Cairo - As autoridades egípcias proibiram o filme Todo Poderoso (Bruce Almighty) por considerá-lo sacrílego, disse o diretor da censura estatal.

Madkour Thabit, que dirige la oficina estatal de censura criticou o filme protagonizado por Jim Carrey e Morgan Freeman por presentar "atores que fazem o papel de Deus".

"O nome do filme indica que alguém pode fazer tudo", disse Thabit em uma declaração enviada por fax para a The Associated Press. "Tal facultade corresponde somente a Deus".

As autoridades decidiram na quarta-feira proibir o filme no Egito e os distribuidores ainda podem apelar contra a decisão. O filme que é protagonizado também por Jennifer Aniston, conta a história de um homem cujas súplicas são ouvidas por Deus que lhe concede seu poder por uma semana.

Em junho, os censores egípcios também proibiram Matrix Reloaded, por colocar em dúvida a existência humana e a criação divina.

Perpétua para pai curdo que matou a filha

Publicado no Jornal O Estado de S. Paulo em 30/09/2003

LONDRES - Um tribunal britânico condenou ontem à prisão perpétua o imigrante muçulmano curdo iraquiano Abdullah Yones, de 47 anos, que assassinou sua filha Heshu, de 16 anos, porque ela adotara costumes ocidentais e namorava um libanês cristão, de 18 anos.

Em outubro de 2002, ele cortou a garganta dela e ainda a esfaqueou mais 17 vezes. Yones tentou suicidar-se, cortando a própria garganta e atirando-se de um a janela. (AP)

Fonte: http://www.estado.com.br/editorias//2003/09/30/int005.html

Israel isola a Faixa de Gaza em represália a mulher-bomba

Janeiro 2004

GAZA (Palestina) - A primeira mulher-bomba do Hamas foi homenageada como uma heroína durante seu funeral na Faixa de Gaza ontem, um dia depois de ela ter se suicidado e matado quatro agentes de fronteira israelense. Em resposta, Israel isolou a Faixa de Gaza para rever os procedimentos de segurança nas passagens de fronteira.

O bloqueio israelense impediu que milhares de trabalhadores palestinos assumissem seus postos de trabalho em Israel e em um distrito industrial próximo à fronteira. Os trabalhadores, que são os poucos palestinos que ainda têm emprego na empobrecida região litorânea, temiam que a vida pudesse ficar ainda mais difícil depois do atentado, mas poucos ousavam culpar os militantes islâmicos pela situação.

O ataque de anteontem no entroncamento de Erez - uma passagem de fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza - marcou a primeira vez que o grupo islâmico Hamas fez uso de uma mulher-bomba. Ontem, o grupo ameaçou perpetrar novos atentados. "Ela não será a última (mulher suicida), pois a marcha da resistência persistirá até que a bandeira islâmica seja hasteada, não apenas nos minaretes de Jerusalém, mas em todo o universo", disse Mahmoud Zahar, um líder do Hamas.

O cerco israelense a Gaza causou o fechamento do entroncamento de Erez, impedindo o acesso dos palestinos da região a um parque industrial conjunto estabelecido no lado israelense. Segundo o Exército, os palestinos teriam permissão para cruzar a fronteira apenas em situações humanitárias.

Trabalhadores evitaram criticar o Hamas, mas criticaram a escolha do alvo. "Penso que temos o direito de lutar contra a ocupação, mas ao mesmo tempo precisamos pensar cem vezes antes de qualquer ação", comentou Fawaz Radwan, de 42 anos, que trabalha em uma indústria alimentícia na cidade israelense de Ashkelon.

Mesmo as críticas veladas aos militantes palestinos continuam raras apesar de alguns palestinos comentarem sob condição de anonimato que as ações extremistas também resultam nas duras restrições impostas pelos israelenses. Em uma sociedade na qual o consenso é valorizado, criticar os grupos armados abertamente poderia ser visto como um ato de traição.

O atentado de anteontem foi perpetrado por Reen Raiyshi, de 22 anos, casada e mãe de dois filhos. Ontem, durante seu sepultamento, milhares de pessoas saíram às ruas da Cidade de Gaza. Homens mascarados do Hamas e das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa carregaram seu caixão, que era coberto pela bandeira verde do Hamas. "Não é o bastante chamá-la de heroína. Chamá-la de heroína não chegaria perto da verdade. Essa mulher abandonou o marido e os filhos para ganhar o paraíso", elogiou Zahar.

Três dos israelenses mortos no atentado suicida eram guardas de fronteira. A outra vítima a perder a vida era um homem contratado por uma firma de segurança particular. De acordo com o Exército de Israel, quatro das sete pessoas feridas no ataque eram de origem palestina.

O primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ahmed Qureia, não criticou a ação extremista. Líderes palestinos normalmente condenam atentados contra civis israelenses, mas não se manifestam sobre ataques contra soldados israelenses e colonos judeus na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os palestinos consideram os israelenses em áreas ocupadas como alvos legítimos.

Antes do início da atual onda de violência, em 28 de setembro de 2000, cerca de 100.000 palestinos da Faixa de Gaza trabalhavam em Israel. Essa força de trabalho compunha a principal fonte da renda das famílias da empobrecida região. Atualmente, apenas 15 mil palestinos da Faixa de Gaza possuem emprego formal em Israel e cerca de 4 mil mercadores têm liberdade para transitar entre os dois lados. Os cerca de 6 mil funcionários do parque industrial de Erez também possuem permissão para entrar no Estado judeu.

TUMULTO NA PEREGRINAÇÃO DEIXA 244 MORTOS

Publicado no Jornal O ESTADO DE S. PAULO em 02-02-2004

Fonte: http://txt.estado.com.br/editorias/2004/02/02/int014.html

Um tumulto durante um ritual de apedrejamento na peregrinação anual muçulmana matou ontem 244 religiosos em Mina, Arábia Saudita, numa das maiores tragédias dos últimos anos no perigoso local. O total de mortos foi divulgado pelo ministro saudita para Assuntos de Peregrinação, Iyad bin Amin Madani. Um número similar de peregrinos ficou ferido, sete deles gravemente, acrescentou o ministro em entrevista coletiva. A correria, durante um dos eventos culminantes da peregrinação - o apedrejamento de pilares que representam o diabo - , durou 27 minutos. "Todas as precauções foram tomadas para evitar um incidente desse tipo, mas essa foi a vontade de Deus", declarou Madani. "O cuidado não é mais forte que o destino."

Segundo o ministro, um grande número de peregrinos optou por realizar o ritual ao mesmo tempo, embora o governo os tivesse encorajado a fazer revezamento para evitar tumultos. " Madani afirmou que as vítimas eram, na maioria, peregrinos da própria Arábia Saudita e muitos não tinham autorização para participar. A fim de controlar as cerca de 2 milhões de pessoas que participa da peregrinação - o haj - , as autoridades sauditas determinam cotas de peregrinos conforme o país, e também exigem que seus cidadãos se registrem. O apedrejamento do diabo é o mais animado ritual do haj e, freqüentemente, o mais perigoso. Muitos peregrinos atiram pedras freneticamente, gritam insultos ou arremessam seus sapatos contra os pilares - atos destinados a demonstrar seu profundo desprezo pelo diabo. Clérigos desaprovam essas ações, qualificando-as de antiislâmicas.

No ano passado, 14 peregrinos morreram pisoteados durante o ritual. Em 2001, 35 morreram num tumulto (ler ao lado sobre algumas das tragédias no haj nos últimos anos).

A peregrinação anual, que começou quinta-feira, chegou ao clímax no sábado, quando cerca de 2 milhões de peregrinos muçulmanos ouviram o principal clérigo saudita denunciar os terroristas, qualificando-os de afronta ao Islã. Mas ele defendeu a rígida interpretação da fé no reino saudita.

O xeque Abdul Aziz al-Sheik disse em seu sermão que existem aqueles que alegam ser guerreiros santos, mas derramam o sangue muçulmano e desestabilizam a nação. "É guerra santa derramar o sangue muçulmano? É guerra santa derramar o sangue dos não-muçulmanos que recebem abrigo em terras muçulmanas? É guerra santa destruir as posses dos muçulmanos?", perguntou ele, acrescentando que as ações dos terroristas dão aos inimigos uma desculpa para criticar as nações islâmicas.

Al-Sheik também criticou a comunidade internacional, acusando-a de atacar o wahabismo, a interpretação estrita do Islã aplicada na Arábia Saudita: "Este país é baseado nesta religião e permanecerá leal a ela." Depois da noite de oração que se seguiu ao sermão, os peregrinos reuniram pedras para lançar contra os pilares. Cada um atirava sete vezes, aos gritos de "bismillah" ("em nome de Deus)" e "Allahu Akbar" ("Deus é grande"). [e]

EDITORIAL - BARREIRA RELIGIOSA

Folha de S. Paulo 26/2/04

A religião está indissociavelmente ligada ao processo civilizatório. Reconhecer esse fato antropológico não significa considerar que as religiões sempre atuem em favor da civilização. Em muitos casos, infelizmente, essa não é a regra.Uma recente e caricata ação de líderes religiosos contra o progresso humano partiu de clérigos islâmicos de Estados do norte da Nigéria. Baseados no suposto caráter "não-islâmico" da vacina contra a poliomielite, autoridades dos Estados de Kano e Zamfara decidiram boicotar os esforços da Organização Mundial da Saúde (OMS) de erradicar a poliomielite do planeta com a vacinação em massa de crianças nas áreas onde a doença ainda existe.O plano era vacinar 60 milhões em dez países da África ocidental nesta semana, dentro da estratégia de aproveitar o relativo confinamento do vírus da pólio a três zonas -África ocidental, Egito e Índia-Paquistão- para tentar um golpe final contra a moléstia. A Nigéria é um país-chave para a erradicação, uma vez que responde pela metade de todos os novos casos mundiais da doença.A proibição da vacina surgiu devido a rumores de que ela causaria infertilidade. Tudo faria parte de um complô norte-americano para tornar as mulheres muçulmanas inférteis. Pregadores islâmicos mais radicais são contra todas as vacinas, por considerá-las não-islâmicas -se Deus quiser que você morra, você morrerá; se Ele não quiser, você não morrerá.Apesar do respeito que se deve às religiões, essa é uma atitude obscurantista e criminosa, que deveria ser prontamente combatida pelas autoridades federais nigerianas, um Estado que é formalmente laico. O vírus da pólio não respeita fronteiras entre nações e não verifica a religião das crianças que infecta, aleija e mata.

Fonte: Correio do Povo, 25/02/04, pág. 6.

Site: www.cpovo.net

O Massacre dos Inocentes

Autor: José Eduardo Barela

Revista Veja edição 1870 . 8 de setembro de 2004

Nada justifica a matança de quase duas centenas de crianças como a cometida por um grupo de terroristas islâmicos chechenos e árabes numa escola no interior da Rússia, na semana passada. Durante três dias, 1 200 pessoas, 70% delas crianças, professores e pais, foram submetidas a uma das piores atrocidades que um ser humano pode proporcionar a outro — a violência gratuita e a humilhação deliberada, planejadas nos detalhes para causar, a título de ação política, o máximo de dor e desespero. O assalto aos inocentes teve início na quarta-feira, quando três dezenas de terroristas invadiram o ginásio da escola, onde pais e alunos comemoravam o primeiro dia de aula do ano letivo russo, e terminou na sexta-feira, quando forças policiais russas mataram a maioria dos terroristas e libertaram os reféns sobreviventes. Em uma primeira contagem foram encontrados mais de 200 mortos, incluídos os adultos. Mais de 700 feridos foram atendidos em hospitais e tendas médicas improvisadas. As cenas pungentes de homens carregando crianças queimadas e dilaceradas e da fila de pequenos corpos mortos cobertos de lençóis, transmitidas para todo o mundo pela televisão, abrem um novo capítulo no entendimento da sombria ameaça representada pelo terrorismo ao mundo civilizado.

Os responsáveis pelo ataque eram na maioria chechenos, militantes separatistas vindos de uma republiqueta autônoma da Federação Russa. Havia também uma dezena de terroristas árabes entre eles, indício seguro da existência de uma conexão com a Al Qaeda, a central do terrorismo islâmico liderada por Osama bin Laden. Se a questão na Chechênia fosse só nacionalismo, já seria uma grande encrenca, mas se poderia encontrar uma solução no mundo racional. Veja-se o exemplo dos separatistas bascos, instalados numa das regiões mais prósperas e civilizadas da Espanha, e, ainda assim, dispostos a matar seus concidadãos pelo desejo de ter um país soberano. A maioria deles já abandonou a luta armada em troca de maior autonomia nos negócios regionais. O fundamentalismo islâmico, com sua pauta de destruição da civilização ocidental, coloca a luta dos chechenos num universo que a razão não consegue compreender. "A raiz dos grupos chechenos é nacionalista e secular, mas muitos deles perceberam que só obteriam dinheiro e apoio internacional para sua causa se incorporassem o discurso e o modo de ação da Al Qaeda", disse a VEJA a americana Jessica Stern, da Universidade Harvard, especialista em terrorismo religioso.

Por anos, o presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou palpite externo na Chechênia, sobretudo dos que reclamam da violência de sua soldadesca na província, sob o argumento de que se tratava de um assunto doméstico da Rússia. O ataque da semana passada evidenciou que também aquele país foi engolfado pela ofensiva islâmica. Apesar de a Rússia já ter sido sacudida por atentados terríveis cometidos pelos chechenos, o ataque às crianças foi de tal ordem que significou, em muitos sentidos, o 11 de Setembro da Rússia. Desde o primeiro momento da invasão da escola ficou evidente que os terroristas estavam ali para matar os reféns — e, evidentemente, para morrer num banho de sangue infiel e, dessa forma repugnante, ganhar um lugar no paraíso das 72 virgens. As reivindicações eram do tipo que não pode ser atendido (retirada das forças russas da Chechênia e libertação de todos os terroristas presos). A experiência internacional nesses casos indica que os pedidos exorbitantes do primeiro momento são mais tarde abrandados em troca da sobrevivência dos seqüestradores. O governo russo aprendeu que esse desfecho nem sempre vale para fanáticos islâmicos, pois muitas vezes eles estão ansiosos pelo martírio.

As autoridades russas fazem uma conta negativa nesses casos. Registram todos os reféns como mortos e vão subtraindo desse total aqueles que conseguirem sobreviver aos terroristas e ao caos que costuma ocorrer durante as operações de resgate pelas forças especiais. No caso das crianças de Beslan, a cidadezinha de 30.000 habitantes da Ossétia do Norte onde ocorreu o massacre, contudo, nem o endurecido general oriundo da KGB aceitaria a idéia de invadir o ginásio e deixar nas mãos de Deus a decisão sobre qual daqueles loirinhos iria sobreviver. A data e o local do assalto terrorista foram escolhidos com cuidado para causar esse efeito devastador. A Chechênia e a Ossétia do Norte ficam na mesma região, o Cáucaso. A diferença marcante é que os chechenos são muçulmanos e acabaram misturando seus objetivos nacionalistas com os da guerra santa islâmica. Os ossetas são na maioria cristãos, convivem pacificamente uns com os outros e até usufruem certa prosperidade, apesar de sua república figurar entre as mais pobres da federação.

O assassinato começou já na tomada da escola. Mais de dez pessoas foram mortas nos primeiros minutos, incluindo um pai de aluno que esboçou reação e foi fuzilado na frente do filho. Diante da mobilização militar em torno do prédio, os terroristas perfilaram alunos nas janelas para que servissem de escudos humanos.

Ameaçavam fuzilar cinqüenta crianças de uma vez para cada guerrilheiro morto por atiradores de elite postados do lado de fora. Depois que a polícia cortou o fornecimento de eletricidade, a falta de calefação elevou a temperatura para mais de 30 graus dentro do ginásio. Havia alunos de todas as séries, entre 7 e 17 anos. A maioria das crianças era do curso primário. Para enfrentar o calor, elas tiraram a roupa. Há relatos de crescente perversidade dos terroristas. Eles proibiram as crianças de comer e de tomar água. Podiam ir ao banheiro e aquelas que tentaram beber no vaso sanitário foram impedidas com tiros de metralhadora. Algumas beberam a própria urina, para suprir a falta de líquido. Quando foram resgatadas, estavam macilentas, famintas e desidratadas.

As forças russas estavam preparadas para estender as negociações por muitos dias. Por ordem do presidente, Vladimir Putin, as conversas com os separatistas começaram logo no primeiro dia. Na manhã seguinte, 26 mulheres com bebês de colo foram libertadas. Contaram que isso se devia sobretudo ao fato de o choro das crianças irritar os seqüestradores. As negociações continuaram na manhã de sexta-feira. As autoridades conseguiram autorização para retirar os corpos das pessoas que haviam sido mortas dois dias antes. A seqüência exata de eventos não é clara a partir desse momento. Ao meio-dia, a ambulância enviada para recolher os cadáveres foi recebida a tiros ao se aproximar do ginásio. Em seguida se ouviu uma explosão. Mais tarde, uma criança que escapou através de uma janela contou que uma das terroristas explodiu o cinturão de bombas que levava em torno do corpo, matando grande quantidade de crianças. Talvez tenha sido uma detonação acidental. A explosão precipitou a carnificina. Outra versão sobre os acontecimentos diz que alguns reféns conseguiram escapar e, na fuga, acionaram as minas que os seqüestradores haviam plantado na saída da escola. Na confusão, os terroristas saíram do prédio atirando nas crianças pelas costas.

A reação das forças especiais foi invadir o prédio e lutar com os terroristas de sala em sala. A escola virou um campo de batalha. Helicópteros e tanques do Exército russo enviados ao local foram recebidos com tiros de metralhadora e granadas. Bombas instaladas pelos terroristas dentro do prédio explodiram e derrubaram o teto do ginásio, onde os reféns estavam sendo mantidos sob a mira de armas. A queda do telhado foi, provavelmente, o evento isolado que causou o maior número de vítimas. O teto havia desaparecido inteiramente. A batalha na escola durou doze horas. Alguns terroristas tentaram fugir disfarçados entre os reféns ou se esconder em casas das redondezas e três deles buscaram refúgio no porão, mas acabaram todos capturados ou mortos. O cenário era de pesadelo. Um voluntário que entrou nos escombros do ginásio para ajudar a retirar os corpos contou que o piso estava coberto de cadáveres, uns sobre os outros, a maioria carbonizada. Na madrugada de sábado, novas explosões foram ouvidas na escola. Mas era apenas o trabalho de desativação das minas deixadas pelos separatistas chechenos. No total, 400 reféns foram libertados e 27 terroristas mortos, incluídos os dez árabes, identificados pelos documentos que levavam.

Os russos conquistaram a Chechênia há mais de 200 anos. Desde então enfrentam movimentos armados pela independência por lá, uns mais intensos que os outros. Na verdade, a república só foi independente por uns poucos anos, no caos que se seguiu à revolução bolchevique. No fim da II Guerra, Stalin acusou os chechenos de terem colaborado com os nazistas e deportou toda a população para a Sibéria. Puderam voltar depois da morte do ditador, nos anos 50. Em 1991, quando a União Soviética enrolou a bandeira, os chechenos aproveitaram para declarar a independência, que não foi reconhecida por nenhum país. Três anos depois, a Rússia tentou esmagar a rebelião, mas suas tropas foram vergonhosamente derrotadas. A situação teria ficado por aí se, em 1999, fanáticos muçulmanos saídos da Chechênia não tivessem tentado implantar um regime islâmico numa província vizinha. Desafiado, Putin invadiu novamente o país e, na luta, destruiu a capital chechena, Grozni. Os separatistas responderam dinamitando prédios inteiros na Rússia, matando todos os moradores. Putin, por sua vez, deu carta branca para suas tropas tratarem a Chechênia como território ocupado, com prisões em massa e fuzilamentos sem julgamento. Desde que passaram a contar com a assessoria técnica de terroristas chechenos e árabes treinados pela Al Qaeda, os separatistas cometeram atentados terríveis na Rússia, como a tomada de um teatro em Moscou, que terminou com a morte de 120 reféns. Nessa conversão às táticas da Al Qaeda, chama atenção a utilização de mulheres-bombas. Impressiona que a mesma mentalidade que valoriza o culto do martírio, típico do terrorismo fundamentalista islâmico, tenha sido incorporada por mulheres, visto que na religião muçulmana elas não têm direito ao paraíso, seja lá o que façam para merecê-lo. A maioria dos últimos atentados suicidas chechenos foi praticada por mulheres conhecidas como viúvas-negras. Elas levam esse nome por ter supostamente perdido o marido, filhos ou algum parente próximo em confrontos com as tropas russas ao longo do conflito. É nesse ponto terrível do pesadelo que estamos.

O terrorismo é, com freqüência, discutido sem ter sido definido ou qualificado. Muita gente trata o assunto com pudor, temerosa de que ao condenar a prática esteja ao mesmo tempo retirando legitimidade da causa em nome da qual os terroristas dizem agir. É um falso dilema, pois não há legitimidade em matar indefesos. O que distingue o terrorismo do combate convencional, e mesmo da luta revolucionária, é a ênfase no ataque a pessoas ou alvos sem justificativa da necessidade militar. A estratégia terrorista consiste em lançar ataques ao acaso contra a população, de preferência quando está indefesa em suas atividades cotidianas, em supermercados, estações de metrô, restaurantes, aeroportos, escolas. Faz isso porque seu objetivo não é conquistar, nem mesmo vencer. Sua intenção é apenas aterrorizar e, dessa forma, tentar dobrar pelo medo toda uma sociedade. Uma variação na teoria que justifica esses ataques aleatórios — amplamente utilizada pelo terror palestino contra os israelenses — é a de que todos os membros de uma determinada população (mulheres, crianças, velhos) partilham dos pecados do regime que combatem e devem pagar por isso. É dessa vertente que se alimentam os fanáticos do fundamentalismo islâmico que derrubaram as torres gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001, explodiram os trens em Madri no início deste ano e, agora, trucidaram criancinhas na Rússia.

"Nigéria: islâmicos proíbem vacina contra poliomielite

"Kaduna - Mais dois estados islâmicos da Nigéria aderiram ontem a um boicote à vacinação contra a poliomielite, prejudicando um gigantesco esforço de imunização de 63 milhoões de crianças de dez nações africanas em meio a um surto da doença no norte nigeriano. Conforme o porta voz da Unicef, Gerrit Beger, os estados de Bauchi e Niger declararam a suspensão da cooperação com uma campanha de imunização iniciada a três dias."

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