PUBLICADO NA REVISTA ISTO É EM
18/08/2000
Tentação
Ex-freira conta em livro seu romance com
uma madre e reacende a polêmica sobre celibato e
homossexualidade entre religiosos
Freiras e padres não podem casar. São
proibidos de ter filhos e de manter relações
sexuais como qualquer mortal. Ao abraçar a vida
religiosa, homens e mulheres assumem os compromissos do celibato
e da castidade, indissociáveis do sacerdócio desde
o século IV. Mas será que os votos são
sempre respeitados? Há pouco mais de duas semanas, o
padre Miguel Rivera Sánches Pardo abalou a opinião
pública ao ser flagrado transando com a freira Marlene
Quispe Tenorio na caçamba de uma caminhonete, em Callao,
no Peru. Notícias como essa surgem com frequência,
invariavelmente alçadas à condição
de escândalo. Muito se especula sobre os desejos e as
tentações dos cordeiros de Deus, sobre o que
acontece nas celas de mosteiros e conventos quando a noite cai.
Raramente os fatos são encarados com o olhar de quem vive
o dilema entre o celibato imposto e os próprios
sentimentos. Foi o que fez a maranhense Anna França.
Destemida e temida por setores do clero, a ex-freira franciscana
de 42 anos resolveu mostrar ao mundo que, ao contrário
dos anjos, os religiosos têm sexo. No livro Outros hábitos
(Editora Garamond), lançado este mês, Anna conta
seu romance com Heloar (nome fictício), então
madre superiora de um convento em Belo Horizonte. Não
fosse o peculiar namoro entre duas religiosas, a obra seria
apenas mais uma história de amor entre duas mulheres. Até
os direitos autorais do livro foram comprados para virar peça
de teatro. Minha intenção não é
chocar, mas apenas contar minha história, diz Anna.
Ela resolveu escrever após diagnosticar um câncer
na mama e outro no útero, hoje controlados.
"No dia em que a
igreja descobrir que gozo é divino, vai cair em si"
- Anna França
Atração Anna decidiu
seguir a vida religiosa quando era interna no Colégio
Divina Pastora, mantido por freiras em São Luís do
Maranhão, aos 16 anos. Na época, os votos de
castidade e pobreza não incomodaram. Aos 20 anos, noviça
no Rio de Janeiro, Anna começou a sentir uma estranha
atração pelas colegas, mas, como aprendera desde
cedo que sexo era pecado e homossexualismo sacrilégio,
nunca comentou com ninguém. Chegava a ficar 15 dias
em total silêncio, afastada, para ver se aquilo passava,
lembra. Evidentemente, não passou. Mas ficou adormecido.
Mais tarde, Heloar confessaria a ela o emprego de inibidores de
libido, remédios misturados na comida das noviças
sem que elas soubessem. Aos 24 anos, desencantada com o
tratamento rude dispensado por sua madre superiora que a
discriminava por ser pobre e negra , Anna aceitou o
convite de Heloar, da ordem franciscana de Belo Horizonte, e
mudou-se para lá. Desde o início, as duas ficaram
amigas e logo começaram um namoro. O romance durou quatro
anos. Foi a época mais feliz de minha vida,
considera.
A ex-freira tem certeza de que as outras
sabiam de seu relacionamento, da mesma forma como notava vários
casais de namoradas nas instituições por onde
passou. Nunca houve repreensão a elas, principalmente por
dois motivos. Heloar era a autoridade. Além disso,
a família dela era riquíssima e fazia doações
para a Ordem, que não ousaria se queixar de sua conduta,
conta Anna. O relacionamento só acabou quando a superiora
foi transferida para a França. Pouco depois, a autora
deixaria a Igreja. Hoje, sua luta é contra a
hipocrisia da instituição. As
comunidades têm padres e freiras cada vez mais idosos.
Daqui a pouco, desaparecem. A Igreja espanta devotos com suas
políticas ultrapassadas, acredita. Todo mundo
é resultado de uma relação sexual. O dia em
que a Igreja descobrir que o gozo é divino vai cair em
si.
"Gostaríamos de que o
clero permitisse o fim do celibato" Mauro de Queirós,
ex-padre, casado com Regina
O romance de Anna ilustra um desvio de
conduta presente no cotidiano da Igreja. Outros exemplos não
faltam. Como trabalho de conclusão do curso de jornalismo
na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de
Campinas, Solange Celere apresentou, em 1997, a obra Doze apóstolos
no confessionário, contando experiências sexuais e
amorosas de sacerdotes. Para ela, investigar um assunto tão
polêmico em uma instituição mantida pela
Igreja constituía um grande desafio. Padres com vida
sexual ativa, casados ou não, heterossexuais ou gays,
formam o elenco de 12 religiosos que apresentam seus relatos na
obra de Solange, ainda não publicada. Todos estão
protegidos por nomes falsos, os mesmos dos apóstolos de
Cristo. Um dos mais interessantes é Tiago, o primeiro
personagem do livro. Quando conheci Tiago, descobri que
dentro de cada padre mora um homem como todos os outros. Não
existe nenhum santo nos padres, escreveu Solange.
Foram tantas as investidas da autora que
padre Tiago cedeu a ela um de seus maiores tesouros: seu diário.
Nele, podem ser lidas descrições detalhadas de inúmeros
encontros amorosos, com todo tipo de mulher, em vários países
(ler trechos no quadro acima). Mas o fato de conhecer
muitas mulheres em suas viagens e dormir com elas não
impede Tiago de exercer trabalhos sociais importantíssimos
nem de ser um teólogo maravilhoso, conta Solange.
Na hora de receber a confissão dos fiéis, o homem
por trás de Tiago permanece coerente. Pecado é
rico pagar salário mínimo para o pobre e gastar o
dobro em um sapato, desviar dinheiro público enquanto
muitos morrem nos corredores dos hospitais porque a verba não
chegou ao seu destino. Atender aos desejos de prazer não é
pecado diante de tanta injustiça, afirma.
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"Pecado é rico pagar salário
mínimo para pobre e gastar o dobro em um sapato"
Seu comportamento sexual desregrado exige
a presença de uma importante companheira, também
abominada pela Igreja: a camisinha. Enquanto João Paulo
II condena o uso do preservativo, o monsenhor Javier Barragán,
presidente do Pontifício Conselho de Saúde, conta
que está nos planos do Vaticano obrigar todos os
aspirantes a seminaristas a fazer testes para detecção
do HIV. Acusada a presença do vírus, o bispo poderá
aceitar ou recusar a inscrição do candidato. Promover
exame não é discriminação, mas seleção.
Nem todos estão aptos a virar sacerdotes, disse
Barragán em junho, representando o papa em reunião
na CNBB.
Após 1800 anos de celibato, a existência
de padres com vida dupla já faz parte do imaginário
coletivo. Eles aparecem em clássicos da literatura como O
crime do padre Amaro, de Eça de Queirós, e filmes
como O padre, de Antonia Bird. Quando a paixão fala mais
alto do que a vocação para o sacerdócio, é
necessário abandonar as funções
ministeriais e assumir o matrimônio, como fez o padre
Mauro de Queiroz há quase três décadas. Com
68 anos, Queiroz lembra-se de quando conheceu Regina, 56, uma
das fiéis de sua paróquia em São Paulo. Ela
me ajudou bastante quando eu passava por dificuldades
financeiras. Como nunca achei certo cobrar por batizados,
casamentos e funerais, vivia da ajuda dos paroquianos,
conta. Quando se envolveu com Regina, Queiroz já havia
abandonado a batina. Para ele, é melhor assumir o matrimônio
do que constituir família em uma cidade e ser vigário
em outra, só para manter as aparências diante do
bispo e dos paroquianos. O resultado foram três filhos.
Queiroz é um dos membros mais
ativos do Movimento dos Padres Casados (MPC), entidade fundada
no final dos anos 70, em que edita o Jornal Rumos. Registros
divulgados pela Igreja mostram a existência de quatro mil
padres casados no Brasil, mas estimativas feitas pelo MPC
apontam o dobro. Os números surpreendem em um País
onde o total de sacerdotes não chega a 14 mil. Depois de
casados, eles continuam sendo chamados de padres já
que o sacerdócio é um compromisso irrevogável,
assim como o casamento religioso , mas perdem a licença
para exercer atividades ministeriais da Igreja. Gostaríamos
que o clero reavaliasse a questão e permitisse o fim do
celibato. Além disso, deveria ser legítima a
ordenação de homens com esposa e família,
diz Queiroz. Mas nem todos os membros do Movimento sonham com a
possibilidade de vestir novamente a batina. De nada
adiantaria reassumir o ministério em uma Igreja retrógrada
como a atual. Nossa luta é ainda maior: queremos um diálogo
com a alta hierarquia clerical e maior atuação
junto ao povo, completa.
Parecida com a de Queiroz é a luta
de Frei Betto. As vocações para o sacerdócio
e para o celibato andam separadas. A Igreja erra ao exigir que
elas andem juntas. As regras devem ser revistas e o celibato
deve se tornar facultativo para os padres seculares, diz.
Betto é um frade dominicano e não seria afetado
pela flexibilização do celibato. Os seculares estão
diretamente ligados a uma diocese, a um bispo. Para os
religiosos, como os frades e os monges, não existe
nenhuma hipótese de se liberar o matrimônio, já
que habitam os mosteiros de suas próprias congregações
e sua dedicação à Igreja é sempre
integral. Betto afirma ter vocação para o
celibato, necessária a todo frei. Nunca tive
vontade de me casar. Já a castidade pesa como a tentação
da infidelidade paira sobre um homem casado. Sinto-me tocado
pela sexualidade feminina, mas não vou romper meus votos
por causa disso. Eu apenas supero, diz. Betto teve a
maturidade de conhecer o amor antes de optar pela religião.
Tive uma adolescência muito solta. Quando entrei
para a vida religiosa, era universitário e morava sozinho
no Rio de Janeiro havia três anos. Não assumi o
celibato virgem e cheio de dúvidas sobre o sexo como
acontece com muitos, admite.
A revisão de valores desejada por
Frei Betto, no entanto, parece estar longe da pauta de discussões
da alta hierarquia da Igreja. Para o monsenhor Arnaldo Beltrani,
da Arquidiocese de São Paulo, esperar o fim do celibato é
perda de tempo. Há duas questões indiscutíveis
no Vaticano: o matrimônio de sacerdotes e a ordenação
de mulheres, afirma. Uma das justificativas para a manutenção
da norma é a dedicação a Deus. Setores da
Igreja acreditam piamente que o padre não pode se dedicar
simultaneamente a uma família e aos compromissos do
sacerdócio. Na Idade Média, quando o celibato foi
instituído, os motivos eram outros. O clero não
admitia ter de dividir os bens do religioso com sua família
após a morte. Com o celibato, toda a herança do
sacerdote vai para as mãos da Igreja, explica
Eduardo Cruz, professor de Teologia da PUC de São Paulo. Além
disso, o estereótipo oferecido por Cristo é
decisivo para a ordenação dos sacerdotes da
Igreja. Por isso o padre tem de ser do sexo masculino, celibatário
e casto. O contraditório é que Jesus escolheu o apóstolo
Pedro, um homem casado, para ser o primeiro papa, diz.
Se um padre confessa a seu superior ter
uma namorada, a primeira atitude é esconder o problema e
esperar que a fidelidade a Deus supere os desvios mundanos.
Quando isso não acontece, o padre é transferido de
paróquia e até de cidade para que seu
relacionamento termine antes de se tornar público. A
Igreja parece evitar a todo custo uma atitude precipitada e
raramente expulsa um sacerdote apenas pelo não-cumprimento
do celibato, apesar de padre Vando, vigário da PUC de São
Paulo, afastar qualquer hipótese de cumplicidade. Na
nossa paróquia, não há nenhum padre que não
seja casto. Se a gente sabe de algum, manda voltar para casa
imediatamente, afirma.
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"Não dá para ser
homossexual enrustido. Minha inclinação é
um dom divino" Eugênio Ibiapino, ex-seminarista
A postura da Igreja costuma ser mais
radical quando envolve homossexualismo, pecado considerado mais
grave do que a quebra da castidade por setores mais tradicionais
da Igreja. Eugênio Ibiapino foi obrigado a deixar o seminário.
Motivo: ter assumido sua opção sexual. Ser
ordenado era um sonho de criança. Ele foi arrancado,
amputado por uma Igreja preconceituosa, com discursos e
sacerdotes cada vez mais homófobos, revolta-se. Após
viver entre religiosos desde os 16 anos, em seminários de
Pernambuco e São Paulo, Ibiapino não conseguiu
seguir o exemplo de muitos colegas e professores e esconder sua
atração por outros homens. Não dá
para ser homossexual enrustido. Considero minha inclinação
um dom divino, não punível pela lei nem pela
Constituição, diz.
Hoje, membro do Movimento 28 de junho
(homenagem ao dia mundial do orgulho gay), Ibiapino lança-se
candidato a vereador em Nova Iguaçu, na baixada
fluminense. Em seu currículo, constam passagens polêmicas
como celebrações de casamentos gays. Como
conhecia a liturgia, casais de amigos pediam para eu celebrar
sua união. Fazíamos uma cerimônia simulando
um casamento de verdade, conta. Em 1994, quando João
Paulo II visitou o País, Ibiapino juntou-se a outros
militantes e atearam fogo em pôsteres do sumo pontífice
em frente à igreja da Candelária, no Rio de
Janeiro. Ele é o papa mais conservador da História.
Se o discurso da Igreja em relação aos
homossexuais não mudar, a comunidade GLS será
obrigada a tomar atitudes mais radicais, como denunciar os
padres gays que se escondem sob o discurso moralista, ameaça.
Segundo ele, esses padres são muitos.
Perdas O frei franciscano Fernando
de Araújo, do Rio de Janeiro, lamenta o número de
perdas sofridas pela Igreja por causa da velha teimosia. Muitos
de seus colegas com vocação religiosa se
apaixonaram durante o seminário. Se a Igreja
cedesse e deixasse de exigir o celibato, aumentaria o número
de vocações, acredita. Todas as preferências
sexuais existem dentro da Igreja. Os religiosos também são
humanos e sentem atração por outras pessoas.
Ele ainda lembra que o culto à monogamia e a proibição
do incesto são criações do homem. Lei
e desejo normalmente se opõem, criam conflito. E a proibição
não funciona. O triângulo amoroso é muito
mais constante do que se imagina. O amor verdadeiro deveria
receber sempre a bênção de Deus.
Outro frei franciscano, Inácio
(nome fictício), acusa a Igreja de evitar a discussão
da sexualidade como se fosse um avestruz, enfiando a cabeça
na terra em vez de encarar a questão, por mais evidente
que seja. O frade considera essa postura um dos maiores erros da
instituição. Quando um homem e uma mulher se
encontram sexualmente, o céu bate palmas e o mar dança
de alegria. Inventar que sexo é pecado contribuiu para
gerar este mundo pornografizado, avalia. Ele cita o livro
Os clérigos, do padre alemão Eugen Drewermann, lançado
em 1989. Nele, o autor afirma, baseado em dados de pesquisas
internacionais, que um terço do clero vive em situação
matrimonial oculta. Além disso, chama o celibato de
castração e violência.
Recebido como uma bomba pelo Vaticano, o livro provocou o
afastamento do padre alemão. Frei Inácio vai mais
longe. Aqueles que não ousam descumprir o celibato
a maioria dos sacerdotes se masturbam.
Colaboraram: Marina Caruso e Valéria
Propato
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A história da moral
A imposição do celibato
surgiu no ano 306, com abrangência restrita à
Espanha, no Concílio de Elvira. O casamento foi proibido
para todos os religiosos. Pouco depois, em 314, o sínodo
de Ancira permitiu o casamento dos diáconos (clérigo
que vem abaixo do padre), legítimo até hoje. Com o
papado de Gregório VII, na segunda metade do século
XI, as investidas da Igreja em favor do celibato
radicalizaram-se. Gregório, moralista, repudiava
envolvimentos afetivos de representantes do clero. A maioria dos
papas seguintes reafirmou o celibato e, entre 1537 e 1563,
durante o Concílio de Trento, o celibato se tornou
obrigatório em todo o mundo.
A esperança estava no Concílio
Ecumênico do Vaticano II. Sensibilizados pela Teologia da
Libertação e pela onda de renovação
que varreu a Igreja nos anos 60, muitos acreditavam na revogação
do celibato, como Máximo IV, patriarca das igrejas do
Oriente. Em carta para o papa Paulo VI, Máximo
capitalizava as perdas iminentes. Muitos abandonaram o sacerdócio
após o encerramento do Concílio, em 1965,
desolados perante a postura irredutível de Paulo VI. Tão
irredutível quanto parece ser João Paulo II.
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Diário de um padre
"Sinto-me tocado pela sexualidade
feminina, mas não vou romper meus votos"
Fui tecendo a cor dos olhos dela, daquela
menina franzina que ontem mesmo veio me visitar. Ainda estava
linda, a lindinha. Na saída, disse:
Quero fazer amor com você.
Voltarei outro dia.
Estarei esperando, respondi.
São uns filhos da puta. De
dia, andam de colarinho puxando o saco do bispo. À noite,
vivem dando o cu por aí. (...) Ai, esses monsenhores me
fazem rir; gozar da cara deles. Se pudesse, gozava literalmente
só para deixarem de ser falsos, mesquinhos. Sei de um que
tem um filho de 19 anos e se finge de santo para todos. Família
numa cidade e já é cônego de catedral em
outra. E todo mundo sabe do seu caso. O bispo finge que não
sabe. A Igreja finge que não vê. É mais cômodo
para ela. Nenhum é santo. Ainda bem que a fé em
Deus é maior e o povo é mais liberal do que esta
Igreja de dogmas arcaicos.
Entre o amor e a liberdade, escolho
sempre a liberdade.
As mulheres que amei nunca foram minhas; a
não ser por algumas noites.
Entre o sacerdócio e o sexo,
prefiro os dois.
Os cabelos longos enroscaram em
minhas mãos durante o beijo do retorno. Nada importava.
Deixamos que olhasse quem quisesse. No pequeno apartamento da
estudante, naquela noite sem lua, nos amamos como antigamente.
É inevitável. Acho que
é como nos quartéis militares. Uma infinidade de
homens juntos, sempre tem que ter uma bichona. Nada contra os
homossexuais. Apenas prefiro as mulheres! Alguns até
procuram o sacerdócio para livrar-se do que é
considerado pecado. A castidade funciona como forma de punição.
Elas são todas iguais na sua
banalidade. Vêm e vão. Minha vida é um rodízio
de mulheres. Solteiras, desquitadas, casadas, virgens,
prostitutas, jovens, velhas, com ou sem filhos, bonitas e
feinhas. Muito feias não!
Veio e pousou suas coxas sobre as
minhas. Carência... será só carência?
E o seu marido... seus filhos? Não importam. O tesão
cega o homem. Conversamos e fomos a um distrito afastado.
Ela é ótima. Tem bom papo, é
inteligente, gosta de livros, de cinema... Mas eu não
posso. Não quero ficar apaixonado... de esperar o
telefone tocar, de sentir aquelas coisas que levam à
loucura, de querer tê-la por perto. Não!
Decididamente não! É melhor cortar o mal pela
raiz.
Sou mesmo um rebelde e um santo. Amo
as mulheres e faço amor com elas. Amo o meu povo e rezo a
missa com ele. Vivo para elas e para ele. Hoje é
madrugada de domingo para segunda-feira e eu estou ótimo.
Será que se não tivesse transado estaria tão
bem? Acredito que não.
Filhos perdidos
Existem na Itália clínicas-convento
onde a Igreja trata seus filhos perdidos. Ali, o homossexualismo
é considerado uma inclinação moral
desordenada e os sacerdotes em dificuldades são
atendidos pelos próprios colegas de batina. As causas da
atração pelo mesmo sexo são atribuídas
a quadros psíquicos complexos e, muitas
vezes, a uma infância violenta. Os internos costumam
sofrer de depressão, vergonha e culpa. Após a
passagem pelo instituto-convento, muitos acabam retomando a missão
pastoral. Outros são designados para trabalhos burocráticos
dentro da Igreja ou a centros de assistência a idosos e
doentes.
O problema desses padres não
está relacionado ao sacerdócio. A religião é
impotente diante de um buraco existencial; são homens
angustiados e frágeis, afirma o diretor do Istituto
Venturini, padre Franco Fornari. Ele esclarece que a tolerância
da Igreja só existe porque os padres em
dificuldades têm desejos, mas mantêm a
castidade. Do contrário, seriam expulsos das hostes católicas.
Eles contam também com a ajuda de psicólogos e médicos.
O objetivo desses centros que agem praticamente às
escondidas é ajudar os pacientes a reconstruir-se
como pessoas. Oficialmente, no entanto, a Igreja trata o
homossexualismo com punhos de ferro. Em agosto do ano passado, o
cardeal Joseph Ratzinger, presidente da Congregação
para a Doutrina da Fé, com sede no Vaticano, suspendeu as
atividades pastorais da freira Jannine Gramick e do padre Robert
Nugent por estarem fugindo da cartilha católica. A dupla
dava assistência pastoral a comunidades de gays e lésbicas
de Washington e foi acusada de criar uma ambiguidade doutrinal
ao permitir a crença entre os fiéis de que o
homossexualismo é aceitável.
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Livrai-nos do mal
Um relatório explosivo está
fazendo tremer as gigantescas colunas da Catedrale di San
Pietro, no Vaticano. O documento de três volumes,
intitulado Pedofilia no Clero das Américas, contém
o relato de 1.500 casos de pedofilia envolvendo sacerdotes e diáconos
dos três continentes americanos. Um dos mais recentes
ocorreu há um ano, num orfanato do México. O padre
José Arruda, 34 anos, foi preso com fotos onde aparecia
transando com crianças de até dois anos. O dossiê
está sendo analisado pelo cardeal Joseph Ratzinger,
presidente da Congregação para a Doutrina da Fé,
e também foi encaminhado às autoridades eclesiásticas
americanas. Com os padres, a Igreja ainda não sabe o que
fazer. Mas há informações de que estaria
tratando de indenizar as famílias dos menores molestados.
As poucas notícias veiculadas pelos jornais italianos
chegam a afirmar que o banco da Santa Sé estaria gastando
mais dinheiro defendendo-se de ações contra
pedofilia na Justiça do que com a manutenção
de suas igrejas.
Há cinco meses, a Associação
de Psicólogos e Psiquiatras Católicos Italianos,
dirigida pelo diácono Tonino Cantelmi, promoveu um seminário
para discutir projetos de recuperação para religiosos
afetados pela pedofilia. Para os casos de puro
sadismo, a única saída é a prisão.
Mas a maioria vive um senso de culpa e pode ser ajudada. Eles
encontram na relação com crianças um modo
de reforçar a própria personalidade, afirma
Cantelmi. No dia 23 de maio, o papa João Paulo II
comentou pela primeira vez o assunto durante a Conferência
Episcopal Irlandesa. O celibato é intocável
e estamos próximos no sofrimento a todas as vítimas
de abusos sexuais por parte de sacerdotes. Rezemos para que eles
reconheçam a natureza perversa de suas ações
e peçam perdão.