Título: A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
Autor: Guy Debord
Data: 1973
Descrição:
Tradução para o português do manuscrito e trilha sonora do quarto filme de Guy Debord
Palavras-chave: França, Maio de 68, Situationistas
Linguagem: Português
Material Relacionado: Manuscrito do filme traduzido da versão inglesa de Ken Knabb disponível em http://bopsecrets.org


A Sociedade do Espetáculo

(manuscrito do filme)

   
Michel Corrette: Sonata em Ré Maior para
violoncelo e espineta.

Seqüência com Alice.
Subtítulos: Como cada sentimento particular é apenas parte da vida e não a vida em sua totalidade, a vida anela por uma completa multiplicação dos sentimentos como que redescobrindo a si mesma em toda sua diversidade. . . No amor, o separado ainda existe, mas existe dentro do conjunto, não fora dele: um encontro entre vivos. . .


ESTE FILME É DEDICADO A
ALICE BECKER-HO

A música termina

Nas sociedades dominadas pelas modernas condições de produção, a vida é apresentada como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido vira mera representação.[1]
 



A Terra, filmada de uma nave espacial, se afasta lentamente.


Um astronauta move-se no espaço.


Um longo estriptease.


Desligadas de cada aspecto da vida, as imagens fundem-se num curso comum, e de tal forma que a unidade dessa vida torna-se impossível de ser restabelecida. Visões fragmentadas da realidade reagrupam-se em uma nova unidade formando um pseudomundo à parte que pode ser apenas observado. A especialização das imagens do mundo resulta em imagens robotizadas, onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo.[2]

O espetáculo se apresenta simultaneamente como a própria sociedade, parte da sociedade, e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, ele é o foco de toda visão e de toda consciência. Mas por ser algo separado, ele é na realidade o domínio da ilusão e da falsa consciência; a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação universal.[3]

 


Polícia parisiense monitora ruas e estações de metrô através de circuito-fechado de televisão instalado em seu quartel.

Lee Harvey Oswald, o suposto assassino de Kennedy, cercado pela polícia de Dallas.

Repentinamente, diante de milhões de telespectadores, surge um patriota delator atirando a queima-roupa.


Giscard d'Estaing discursa.

Servan-Schreiber também.

 

   
Próximo ao fim de maio de 1968 o burocrata Séguy, referindo-se aos «Grenelle Accords» que acabara de assinar, descaradamente declara: «Deliberando de uma forma conclusiva e aceitando-os como positivos, deixo claro que ainda há muito a ser feito». Os trabalhadores escutam em silêncio.

O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.[4]
 
Os trabalhadores mostram seu descontentamento e repulsa.

Compreendido em sua totalidade, o espetáculo é tanto o resultado como a meta do modo de produção dominante. Ele não é uma mera decoração acrescentada ao mundo real. É o próprio coração do irrealismo desta sociedade real. Em todas suas manifestações particulares -- notícias, propaganda, anúncios, entretenimento -- o espetáculo representa o modelo dominante de vida. É a afirmação onipresente das escolhas que já foram feitas na esfera da produção e do consumo resultante de tal produção. [6]
 
Desfile de moda apresentado pelo costureiro Courrèges.

A própria separação é parte integrante da unidade desse mundo, e da praxes social global dividida em realidade e imagem. A prática social confrontada por um espetáculo autônomo é ao mesmo tempo a real totalidade contida nesse espetáculo. Mas a cisão dentro dessa totalidade mutila-a ao ponto do espetáculo parecer ser sua meta. [7]
 
Trabalhadores reunidos em assembléias em diversas fábricas.

Resplandecentes lojas recentemente instaladas nas plataformas do metrô de Paris são observadas pelos passageiros enquanto esperam o trem.

Em um mundo que está realmente de cabeça para baixo, o verdadeiro é um momento do falso.[9]
 
Uma garota deitada na praia. Foto de outra garota na praia.

Considerado em seus próprios termos, o espetáculo é uma afirmação da aparência e uma identificação de toda vida social humana com a aparência. Mas a crítica que atinge o caráter essencial do espetáculo descobre-o como uma visível negação da vida -- uma negação que toma uma forma visível.[10]
 

Submarino nuclear manobra em banco de gelo

O espetáculo apresenta-se como uma vasta e inacessível realidade que nunca pode ser questionada. Sua única mensagem é: «O que aparece é bom; o que é bom aparece». A passiva aceitação demandada já foi efetivamente imposta pelo seu monopólio da aparição, na medida em que aparece sem consentimento nem réplica.[12]

 
Fidel Castro fala às câmeras de televisão, depois para uma multidão de ouvintes.

O espetáculo é capaz de sujeitar os seres humanos para si porque a economia já os subjugou totalmente. Ele não é outra coisa senão a economia desenvolvendo-se para si própria. É de imediato um reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação distorcida dos produtores.[16]
 
Uma aeronave dispara mísseis em todas as direções.

Quando o mundo real se converte em meras imagens, meras imagens tornam-se seres reais -- fragmentos dinâmicos que proporcionam as motivações diretas para um comportamento hipnótico. [18]
 
Seqüência de um bombardeio aéreo do Vietnã.

Na medida em que a necessidade é socialmente sonhada, sonhar torna-se uma necessidade social. O espetáculo é o pesadelo da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono.[21]
   

O fato do poder prático da moderna sociedade ter-se desligado da sociedade e estabelecido um império independente no espetáculo pode ser explicado pelo fato adicional da contínua falta de coesão deste poder prático e sua permanente contradicão consigo mesmo. [22]
 
Astronautas na lua com uma bandeira. Outro astronauta salta da porta de sua nave, atado a um cabo.

A raiz do espetáculo está na mais velha de todas as especializações, a especialização do poder. O espetáculo exerce o papel especializado de falar pelo conjunto de todas as outras atividades. É o embaixador da sociedade hierárquica perante si própria, onde qualquer outra palavra é banida, onde o mais moderno é também o mais arcaico.
[23]
 

Corretores frenéticos em uma Bolsa de Valores

A separação social refletida no espetáculo é inseparável do estado moderno -- o produto da divisão social do trabalho é ao mesmo tempo o instrumento principal da classe dominante e a expressão concentrada de todas as divisões sociais. [24]
 
Avanço da tropa de choque.

Policial montado em um cavalo espanca repetidamente um rapaz sentado em um banco

No espetáculo, uma parte do mundo representa a si mesma perante o mundo, e é superior a ele. O espetáculo é simplesmente a linguagem comum desta separação. Os espectadores estão ligados exclusivamente por relações de mão única com o próprio centro que os mantém isolados uns dos outros. O espetáculo reúne assim o separado, mas reúne-o apenas enquanto separado.[29]
 


Duas profissionais tiram a roupa enquanto dançam.


Casal relaxa em sofá-cama diante de um aparelho de televisão.


O trabalhador não produz para si próprio, ele produz para um poder independente dele. O sucesso desta produção, a abundância gerada, regressa ao produtor como abundância da despossessão. Todo o tempo e o espaço do seu mundo se Ihe tornam estranhos com a acumulação dos seus produtos alienados. As próprias forças que nos escaparam mostram-se-nos em todo o seu poderio.[31]
 
Trabalhadores imigrantes diante de estruturas de concreto que constróem em um novo subúrbio de Paris, La Défense;


Vista panorâmica da obra.

Mesmo separado daquilo que produz, o homem cria cada detalhe de seu mundo com um crescente poder. Ele também vê a si mesmo cada vez mais separado desse mundo. O mais íntimo de sua vida vem a ser sua própria criação, por mais que seja excluído dessa vida.[33]
   

O espetáculo é o capital acumulado ao ponto de tornar-se imagem.[34]
 
Terra filmada da Lua

 
Legenda: «Alguns valores cinematográficos poderiam ser reconhecidos neste filme se o ritmo presente fosse mantido; o que não será feito».

A teoria crítica deve comunicar-se na sua própria linguagem -- a linguagem da contradição, que deve ser dialética tanto na forma como no conteúdo. Deve ser uma crítica da totalidade, e deve ser baseada na história. Não é um «grau zero da escrita», mas o seu reverso. Não é uma negação do estilo, mas o estilo da negação.[204]
 
Durante a Guerra Civil na Rússia um destacamento da guerrilha vermelha enfrenta um regimento de guardas brancos -- oficiais czaristas agora servem como meros soldados rasos. A despeito do fogo das metralhadoras da guerrilha vermelha, os brancos avançam em linha de formação, bandeiras tremulam diante deles sem qualquer cobertura.

O verdadeiro estilo da teoria dialética é escândalo e abominação para os padrões prevalescentes da linguagem e para as preferências moldadas por esses padrões, pois na medida em que faz uso concreto dos conceitos existentes simultaneamente reconhece sua fluidez e sua inevitavel destruição.[205]
   

 
Os guerrilheiros vermelhos sorriem diante do tradicional estilo militar de seus adversários: «Que elegância!» diz alguém. «Intelectuais!» conclui outro.

Este estilo, que inclui uma auto-crítica, deve exprimir a dominação da crítica presente sobre todo o seu passado. O modo de exposição da teoria dialética revela o espírito negativo que nela reside. «A verdade não é como algum produto acabado no qual já não se pode achar qualquer traço da ferramenta que o fez» (Hegel). Esta consciência teórica de um movimento cujos traços devem ficar visíveis nele manifesta-se pela inversão das relações estabelecidas entre os conceitos e pelo desvio de todas as realizações dos primeiros esforços críticos. [206]
 

A despeito das baixas, os soldados brancos continuam avançando em formação, com baionetas fixadas em seus rifles.

As idéias se aperfeiçoam. O sentido das palavras tem um papel nesse aperfeiçoamento. O plagiato é necessário. O progresso depende disto. Ele acerca-se estreitamente da frase de um autor, serve-se das suas expressões, suprime uma idéia falsa, substitui-a pela idéia justa
.[207]
 
Surpresos pela determinação do inimigo, um grupo de guerrilheiros revela hesitação, e se afasta da linha de fogo.

 
A coluna guerrilheira foge em pânico, gritando «recuar!» e «estamos perdidos!». O comissário político se interpõe e ordena: «Não fujam! Covardes! Não abandonem seus camaradas. Sigam-me! Em frente!». Os guerrilheiros entram em forma novamente.

O desvio é a linguagem flexível da anti-ideologia. Ele aparece na comunicação que sabe não poder reivindicar encarnar qualquer certeza definitiva. Ele é a linguagem que não pode nem precisa ser confirmada por qualquer referência prévia ou supra-crítica. Pelo contrário, é sua própria coerência interna e efetividade prática que valida os núcleos prévios da verdade que apresenta. O desvio não funda a sua causa sobre nada externo à sua própria verdade enquanto crítica presente.[208]
 
O regimento czarista, ainda em formação perfeita, está no limite do alcance do fogo vermelho, mas muitos de seus homens são atingidos pelo fogo das metralhadoras.

O elemento do evidente desvio na formulação teórica refuta qualquer idéia de que tal teoria seja permanentemente autônoma. Introduzindo no domínio teórico o mesmo tipo de subversão violenta que rompe e subverte toda ordem existente, o desvio serve como uma lembrança de que a teoria não é nada em si mesma, e que só pode se realizar-se pela ação histórica e pela correção histórica que é sua verdadeira lealdade.[209]
 
Três guerrilheiros arremessam granadas. Os brancos vacilam. O oficial comandante cai por terra, depois o porta-estandarte. O regimento bate em retirada.

 
LEGENDA: «Aquilo que o espetáculo tira da realidade precisa ser devolvido a ela. A expropriação espetacular precisa, por sua vez, ser expropriada. O mundo já foi filmado. Falta agora mudá-lo.

A questão é participar efetivamente da comunidade do diálogo e jogar com o tempo, o que até agora tem sido meramente representado em poesias e obras de arte.[187]
 
Dois ancoradouros ao por do sol pintados por Caude Lorrain.

Quando a arte tornada independente pinta seu mundo com cores resplandecentes, o momento da vida envelhece. Tal momento não pode ser rejuvenescido com as cores resplandecentes, ele pode apenas ser evocado na memória. A grandeza da arte emerge apenas no poente da vida.
[188]
 

Algumas mulheres bonitas
   

Num salão noturno de Vienna, Johnny Guitar bebe sozinho. Vienna surge e pergunta: «Tudo bem, Mr. Logan?» Johnny responde: «Não consigo dormir». Vienna: «Posso ajudar em alguma coisa?» Johnny: «Faça com que a noite passe depressa. O que mantém você acordada?» Ela: «Sonhos. Sonhos ruins». Ele: «Sim. Vez por outra também tenho pesadelos. Tome, isso os afastará». Vienna recusa a bebida: «Já tentei, já não adianta mais nada». Ele: «Quantos homens você já esqueceu?» Ela: «A mesma quantidade de mulheres que você lembra». (Toda a cena é acompanhada pelo tema Johnny Guittar, que gradualmente aumenta de volume)

LEGENDA: «Assim, da mesma forma que a prática direta da arte deixou de ser a atividade mais destacada, dando lugar à teoria, a teoria, por sua vez, perdeu seu destaque para a prática holística pós-teórica que está agora em desenvolvimento, uma prática cuja missão primária é ser a base e o cumprimento tanto da arte como da filosofia». (August von Cieszkowski, Prolegomena to Historiosophy).

O pensamento oficial da organização social da aparência é em si mesmo obscurecido pela subcomunicação generalizada que ele defende. Ele não pode compreender que o conflito está na origem de todas as coisas do seu mundo. Os especialistas do poder do espetáculo -- um poder que é absoluto dentro de seu reino de comunicação de mão única -- estão absolutamente corrompidos pela sua experiência do desprezo e pelo êxito do desprezo; porque eles encontram seu desprezo confirmado pela sua consciência de quão verdadeiramente desprezíveis são os espectadores.[195]
 


O estalinista Marchais fala em um comício eleitoral com Mitterand a seu lado. Eles se aplaudem mutuamente. Servan-Schereiber também fala. Marchais aparece na tela da TV.

Multidão enfileirada entra em um cinema.


Na prática básica do espetáculo, de incorporar em si mesmo todos os aspectos fluidos de atividade humana para possui-los em uma forma congelada, e de inverter valores vivos em valores puramente abstratos, reconhecemos a mercadoria, nossa velha inimiga, que a primeira vista parece bem trivial e óbvia, mas que é realmente muito complexa e plena de sutilezas metafísicas.[35]
 


A câmera desloca-se da foto de uma jovem nua, e focaliza outra.

O presidente Pompidou visita uma feira de automóveis; ele admira o último modelo que gira em uma plataforma móvel.


É pelo princípio do fetichismo da mercadoria -- a sociedade dominada «tanto por coisas tangíveis como intangíveis» -- que o espetáculo se realiza absolutamente, onde o mundo real é substituído por uma seleção de imagens que são projetadas acima dele, ao mesmo tempo em que se apresentam como o epítome de realidade.[36]
 
Uma série de modelos em traje de banho

O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo apresenta é o mundo da mercadoria dominando toda experiência viva. O mundo da mercadoria é mostrado como ele é, porque seu desenvolvimento é idêntico à alienação das pessoas para com elas mesmas e para com tudo aquilo que produzem.[37]
   

Da mesma forma que o papel da economia não é notado nem compreendido como base material de vida social (permanecendo desconhecido precisamente por ser tão familiar), o domínio da mercadoria sobre economia é exercido de uma maneira oculta. Em sociedades onde as atuais mercadorias eram poucas e dispersas, o dinheiro era o mestre aparente, servindo como representante plenipotenciário do maior poder que permaneceu desconhecido. Com a divisão do trabalho fabril da Revolução Industrial e a produção maciça para um mercado global, a mercadoria finalmente fica completamente visível como um poder que estava colonizando toda a vida social. Foi nesse instante que a economia política se estabeleceu como ciência dominante, e como ciência da dominação. [41]
 
Uma fábrica em Marghera poluindo o ar de Veneza. Fumaça de fábricas e carros poluindo a Cidade do México. Pilhas de lixo perto da igreja de Saint-Nicolas-des-Champs em Paris. A água podre do Rio Sena.

O espetáculo é uma permanente guerra do ópio que foi desenhada para forçar as pessoas a confundir bem com mercadoria e a confundir satisfação com uma sobrevivência que se expande segundo suas próprias leis. O consumo da sobrevivência precisa expandir-se constantemente porque ele nunca cessa de incluir privação. Se o aumento desse consumo da sobrevivência nunca se resolve, se não há nenhum ponto onde possa parar de se expandir, é porque ele próprio está atado ao reino da privação. Pode-se dourar a pobreza, mas nunca transcendê-la.[44]

O valor de troca só poderia surgir como representante de valor de uso, mas a sua vitória pelas suas próprias armas criou as condições da sua dominação autônoma. Mobilizando todo o valor de uso humano e apoderando-se do monopólio da sua satisfação, ela acabou por dirigir o uso. A utilidade que chegou a ser vista puramente em termos de valor de troca, fica agora completamente à sua mercê. Partindo como um condottiere a serviço de valor de uso, o valor de troca acabou empreendendo a guerra em causa própria. [46]

O valor de uso antigamente era compreendido enquanto um aspecto implícito no valor de troca. Hoje, contudo, dentro do mundo de cabeça para baixo do espetáculo, ele precisa ser explicitamente proclamado, tanto por causa de sua efetiva realidade ser corroída pela economia mercantil superdesenvolvida como por ele servir como uma necessária pseudojustificação para uma falsa vida. [48]

 
Longa tomada da revolta dos Watts: tiroteio, as forças de ordem em ação, prisões.

Com a realização da abundância econômica, o resultado concentrado do trabalho social torna-se visível, sujeitando toda realidade à aparência que é agora o produto básico daquele trabalho. O capital não é apenas o centro invisível que dirige o modo de produção: a sua acumulação estende-o até aos confins da terra na forma de objetos palpáveis. Toda a vastidão da sociedade é o seu retrato. [50]
 
Tropa de choque da polícia francesa treina para confrontos de rua.

O espetáculo, da mesma forma que a própria sociedade moderna, está ao mesmo tempo unido e dividido. Ele edifica a sua unidade em violentas divisões. Mas quando esta contradição emerge no espetáculo, ele a contradiz invertendo do seu sentido; de modo que a divisão mostrada é unitária, enquanto que a unidade mostrada está dividida. [54]
 
Mais evoluções da tropa de choque: Policiais vestidos como militantes radicais levantam uma barricada e agitam bandeiras negras. Seus colegas policiais tomam a barricada com facilidade.

Embora a luta entre diferentes poderes pelo controle de um mesmo sistema sócio-econômico seja oficialmente apresentada como antagonismos irreconciliáveis, elas na realidade refletem a unidade fundamental do sistema, tanto em escala mundial como no interior de cada nação. [55]
   

As falsas lutas espetaculares entre formas rivais do poder separado são ao mesmo tempo reais no que diz respeito ao desenvolvimento desigual e conflitual do sistema e aos interesses mais ou menos contraditórios das classes ou subdivisões de classes que reconhecem o sistema e se esforçam esculpindo seus próprios papeis dentro dele. Invocando um número qualquer de critérios diferentes, o espetáculo pode apresentar estas oposições como sistemas sociais totalmente distintos. Mas na realidade eles não são nada mais do que setores particulares cuja essência fundamental repousa no sistema global que os contém, o único movimento que transformou todo o planeta em seu campo de operação: o capitalismo. [56]
 
Paternalmente Mao Zedong dá boas vindas ao Presidente Nixon em Beijing.

Por detrás do resplendor das diversões espetaculares, a sociedade moderna em todo o mundo é dominada por uma tendência à banalização, até mesmo onde as formas mais avançadas de consumo de mercadorias parecem multiplicar a variedade de papéis e objetos de escolha. Os vestígios da religião e da família (esta última ainda é o mecanismo primário de transferência de formas de poder de classe de uma geração para outra) juntamente com os vestígios de repressão moral imposta por essas duas instituições, podem se misturar com a pretensa ostentação de satisfações mundanas precisamente porque a vida neste mundo particular permanece repressiva sem oferecer outra coisa senão pseudo-satisfações. A aceitação beata daquilo que existe pode juntar-se como uma mesma e única coisa à revolta puramente espetacular: pelo simples fato de que a própria insatisfação se tornou uma mercadoria desde que a abundância econômica se achou capaz de estender sua produção tratando de tal matéria-prima. [59]
 


Vietnã: helicópteros metralham qualquer coisa que se move no chão.

Um padre abençoa submarino nuclear britânico.

Um engarrafamento urbano.

Johnny Halliday canta para o delírio de sua ruidosa audiência; ele rola no chão.



Astros e estrelas de cinema -- a representação espetacular de seres humanos vivos -- projetam sua banalidade generalizada em imagens de papéis consentidos. Como especialistas do viver aparente, os astros e estrelas funcionam como objetos superficiais que o povo pode identificar de forma a compensar as infinitas subdivisões das especializações produtivas que ele efetivamente vive. A função de tais celebridades é representar variados tipos de estilos de vida ou pontos de vista sociopolíticos, de uma maneira completa e totalmente livre. Elas encarnam o resultado inacessível do trabalho social ao dramatizar subprodutos deste trabalho que são magicamente projetados acima dele como sua finalidade última: o poder e as férias -- a tomada de decisão e o consumo que estão no começo e no fim do processo nunca são questionados. Por um lado, o poder governamental pode aparecer como um pseudo-astro; por outro o astro do consumo pode reivindicar a si mesmo como dotado de um pseudo-poder sobre a vida. Mas as atitudes dos personagens cinematográficos não são realmente livres, nem oferecem nenhuma qualquer alternativa real. [60]
 


Os Beatles, saindo de um aeroplano, são recebidos por intusiasmados adolescentes; vários flashes de câmeras. Eddy Mitchell canta e é aplaudido. Dick Rivers canta.

Marilyn Monroe na época de seu derradeiro e não terminado filme.

François Mitterand.

Várias outras tomadas de Marilyn Monroe.


A oposição espetacular dissimula a unidade da pobreza. Se diferentes formas da mesma alienação lutam entre si sob a máscara de antagonismos irreconciliáveis, isso ocorre porque estão todas baseadas em contradições reais reprimidas. O espetáculo existe tanto na forma concentrada como na forma difusa, dependendo dos requisitos do gráu particular de miséria ele nega e assiste. Em ambos os casos, ele não é mais do que uma imagem de feliz harmonia, cercada de desolação e de pavor, no centro tranquilo da miséria. [63]
 


Operários alemães deixam suas fábricas logo após a subida dos Nazis ao poder. Panfletos ilegais são lançados para eles de cima de um terraço. Os trabalhadores pegam e lêem os folhetos.

Um comboio de viaturas transporta tropa de choque francesa para onde está sendo requisitada.

No Vietnã, tropas disputam terreno e tomam prisioneiros.

A câmera acompanha Hitler desfilando diante de seus seguidores ao lado de uma plataforma monumental.

Brezhnev e outros líderes burocratas em um palanque em Moscou. Seus subalternos desfilam diante deles.

Durante um exercício militar um grande tanque de guerra exibe seu grande range de manobras.


O espetáculo concentrado está associado principalmente com o capitalismo burocrático, embora também possa ser associado como uma técnica para reforçar o poder estatal em economias mistas subdesenvolvidas ou até mesmo adotado pelo capitalismo avançado durante certos momentos de crise. A propriedade burocrática é por si só concentrada, onde o burocrata individual participa da propriedade da economia como um todo apenas enquanto membro da comunidade burocrática. Quanto menos desenvolvida for produção de mercadorias sob o capitalismo burocrático, mais concentrada é a forma que assume: o artigo que a burocracia se apropria é o trabalho social total, e o que ela vende de volta para a sociedade é a sobrevivência por atacado daquela sociedade. A ditadura da economia burocrática não pode deixar qualquer margem significante de escolha para as massas exploradas porque tem que fazer todas as escolhas, e toda escolha é feita independentemente dessas massas, seja relacionada a comida ou música ou qualquer outra coisa, isso resulta numa declaração de guerra contra elas. [64]
 


A câmera acompanha Hitler desfilando diante de seus seguidores ao lado de uma monumental plataforma.

Brezhnev e outros líderes burocratas em um palanque em Moscou. Seus subalternos desfilam diante deles.

Durante um exercício militar um grande tanque de guerra exibe seu grande range de manobras.


O espetáculo difuso está associado à abundância de mercadorias, com o desenvolvimento imperturbado do capitalismo moderno. Aqui, cada mercadoria considerada isoladamente é justificada em nome da grandeza da produção da totalidade dos objetos, onde o espetáculo é um catálogo apologético. Afirmações inconciliáveis amontoam-se na cena do espetáculo unificado da economia abundante; do mesmo modo que diferentes inovações sustentam, simultaneamente, os seus projetos contraditórios de ordenação da sociedade, onde o espetáculo dos automóveis implica uma circulação perfeita, que destrói a parte velha da cidade, enquanto o espetáculo da própria cidade tem necessidade de bairros-museus. Portanto, a agora dúbia satisfação, reputada como pertencente ao consumo do conjunto, é imediatamente falsificada pelo fato do consumidor real não poder receber diretamente mais do que uma sucessão de fragmentos desta felicidade mercantil, fragmentos que invariavelmente revelam que a qualidade atribuída ao conjunto evidentemente não existe. [65]
 


Fileiras de carros em um engarrafamento.Comida apresentada espetacularmente. Velha pintura. Mobília moderna. Jovens estrangeiras aprisionadas. Composição de metrô chega em estação.

Estátuas em processo de desintegração no topo de uma igreja em Venice.

Duas mulheres taitianas num barco a vela.

Detalhes dos cômodos de uma típica casa moderna, montada em um estúdio de televisão, as câmeras focalizam o quarto.

 

 

 


Cada mercadoria luta individualmente para si mesma, não pode reconhecer as outras, pretende impor-se em toda a parte como se fosse a única. O espetáculo é, pois, o poema épico desta luta, que nenhuma queda de Tróia poderia concluir. O espetáculo não louva os homens e suas armas, mas as mercadorias e suas paixões. É nesta luta cega que cada mercadoria, possuída por sua própria paixão, gera inconscientemente algo que a supera: a globalização da mercadoria, que também contribui para a mercantilização do globo. Assim, como resultado da astúcia da mercadoria, onde cada manifestação particular da mercadoria eventualmente tomba na batalha, a forma geral mercantil continua seguindo em direção à sua absoluta realização.
[66]
 
Uma série de moças nuas ou quase nuas posando como modelos.

A imagem da feliz unificação social através do consumo meramente posterga a consciência do consumidor das atuais divisões até sua próxima desilusão com alguma mercadoria em particular. Cada novo produto é cerimoniosamente aclamado como uma criação única que oferece um atalho dramático à terra prometida do consumo total. Mas da mesma forma que a difusão instantânea de marcas com nomes aparentemente aristocráticos que acabam sendo usados por quase todos os indivíduos da mesma idade, o objeto do qual se espera um poder singular não pode ser proposto à devoção das massas porque tem que ser produzido em um número de exemplares suficientemente grande para ser consumido massivamente. O caráter prestigioso desses produtos medíocres surge apenas por ter sido colocado em determinado momento no centro da vida social com o intuito de satisfazer os insondáveis propósitos da produção. O objeto, colocado de forma prestigiosa no espetáculo, torna-se vulgar ao entrar simultaneamente na casa de todos os demais consumidores. Mas ele revela demasiado tarde sua pobreza essencial que retira da miséria da sua produção. E passa a ser apenas mais um objeto justificado pelo sistema e que teve seu momento próprio de glória. [69]
 
Linha de montagem de fábrica de biscoitos.

A fraudulenta satisfação que o sistema oferece vêm à tona pela contínua substituição dos produtos e das condições gerais da produção. Tanto no espetáculo difuso como no espetáculo concentrado, suas entidades descaradamente proclamam a definitiva perfeição desse ambiente onde todas as coisas mudam enquanto o sistema permanece imutável: Stalin, na condição de mercadoria fora da moda, é denunciado pelas mesmas forças que originalmente o estabeleceram. Cada nova mentira publicitária é ao mesmo tempo uma confissão da mentira anterior. Cada derrocada de poder totalitário personificado revela a comunidade ilusória que o aprovou por unanimidade -- um mero aglomerado de solitários desiludidos. [70]
 
Stalin é aplaudido em seu palanque por um monolítico congresso partidário. O povo marcha diante de seus sucessores na Praça Vermelha. Um imenso retrato de Lenin é mostrado na mesma celebração.

O que o espetáculo apresenta como perpétuo está, na verdade, escorado em cima da contínua mudança, ele muda como muda sua base. O espetáculo é absolutamente dogmático e ao mesmo tempo incapaz de abraçar qualquer dogma realmente sólido. Para ele nada é estático; Tal instabilidade é a condição natural do espetáculo, mas ele é completamente contrário à sua própria inclinação. [71]
 


Budapeste 1956: trabalhadores insurretos demolem uma gigantesca estátua de Stalin; apenas suas botas permanecem.

Câmera percorre o corpo de uma jovem, e focaliza seu rosto sorridente.


A unidade irreal que o espetáculo proclama mascara a divisão de classe sobre a qual repousa a unidade real do modo de produção capitalista. O que obriga os produtores a participar na edificação do mundo é também aquilo que os exclui dessa construção. Aquilo que leva as pessoas a se relacionar mutuamente para libertar-se das limitações locais e nacionais é também aquilo que as mantém separadas. Aquilo que requer um crescente racionalismo é também aquilo que alimenta a irracionalidade da exploração hierárquica e da repressão. O que produz o poder abstrato da sociedade também produz sua concreta não-liberdade. [72]
 
Funcionamento de uma fábrica de embalagens
  Michel Corrette: Sonata em Re Maior para violoncelo e espineta.


Destaque de Buenaventura Durruti.

LEGENDA: «Companheiros proletários, estamos realmente vivendo? Esse tempo, quando não temos absolutamente nada daquilo que precisamos para viver, pode ser chamado de vida? Quando é que descobriremos que cada ano que passa é mais um ano de vida jogado fora?».
Marinheiro revolucionário em Dez Dias que Abalaram o Mundo gesticula negativamente a cabeça. Durruti olha para o marinheiro. O marinheiro continua abanando a cabeça.
LEGENDA: «Descanso e comida não seriam remédios fracos demais para essa doença crônica que nos aflige? Aquilo que chamamos de "último suspiro" não seria o derradeiro e supremo ataque dessa doença que sofremos desde o momento de nosso nascimento?». O marinheiro de Petrogrado abana sua cabeça afirmativamente.
A música pára de tocar.

A produção capitalista unificou o espaço, abolindo as fronteiras entre as sociedades. Esta unificação é, ao mesmo tempo, um processo extensivo e intensivo de banalização. Do mesmo modo que quebrou todas as barreiras regionais e legais, e todas as restrições corporativas da Idade Média que mantinham a qualidade da produção artesanal, a acumulação das mercadorias produzidas em série para o espaço abstrato do mercado também dissolveu a autonomia e a qualidade dos lugares. Este poder de homogeneização foi semelhante à artilharia pesada que derrubou todas as muralhas da China. [165]
 
Navios de guerra em alto mar. Marinheiros franceses, depois ingleses desembarcam em Changai. Um marinheiro estadunidense verifica os documentos de alguns cidadãos chineses. Soldados franceses empurram a multidão. Soldados ingleses em patrulha. Arame farpado que protege o limite da concessão, guardado pela infantaria colonial francesa.

O espaço da livre mercadoria é constantemente alterado e redesenhado tendendo tornar-se cada vez mais idêntico a si mesmo, aproximando-se o máximo possível da monotonia da imobilidade.
[166]
   

Enquanto suprime a distância geográfica, esta sociedade produz uma nova distancia interior na forma da separação espetacular. [167]
 
Soldados britânicos lacram porta de estabelecimento.

O turismo -- a circulação humana empacotada para o consumo, um subproduto da circulação das mercadorias -- é a oportunidade de ir e ver aquilo que já se tornou banal. A ordenação econômica de viagens para diversos lugares é a própria garantia de sua pasteurização. A mesma modernização que eliminou o tempo gasto em viagens simultaneamente eliminou todo seu espaço real. [168]
 
Turistas passeiam em barcos no Sena, com guias comentando os pontos turísticos
   
LEGENDA: «Uma sociedade baseada na expansão do trabalho industrial alienado torna-se, naturalmente, tão completamente insalubre, barulhenta, feia e suja como uma fábrica».

Essa sociedade que reforma tudo que a rodeia desenvolveu uma técnica especial própria de moldar seu próprio território, que constitui a base de todas as facetas de seu projeto. O urbanismo -- o «plano gestor» -- é o método capitalista de assalto ao meio ambiente natural e humano. Seguindo sua lógica de desenvolvimento pela absoluta dominação, o capitalismo pode e precisa refazer a totalidade do espaço enquanto cenário de sua propriedade. [169]
 

Modernos edifícios


 
LEGENDA: «O homem está agora novamente retornando às cavernas... Com a diferença de que o trabalhador tem apenas um precário direito de habitar essas modernas cavernas: elas são habitações alheias das quais ele pode ser despejado a qualquer momento se não tiver dinheiro para pagar. Sim, ele realmente tem que pagar para viver nessas catacumbas». (Marx, Manuscritos de 1844)

Enquanto todas as forças técnicas do capitalismo contribuem para várias formas de separação, o urbanismo provê a base material para essas forças e prepara o terreno para seu desenvolvimento. Esta é a verdadeira técnica da separação. [171]
 
Tropa de choque da polícia francesa ocupa área escolhida para ser urbanizada.


Todas as inovações arquitetônicas do passado foram desenhados exclusivamente para as classes dominantes. Agora, pela primeira vez, uma nova arquitetura está sendo desenhada especialmente para o pobre. A miséria formal e a vasta proliferação desta nova experiência habitacional provem conjuntamente de seu caráter de massa, que implica tanto na sua função como nas condições modernas de construção. O núcleo óbvio destas condições é a tomada autoritária de decisão que abstratamente converte o meio ambiente em um ambiente de abstração. O urbanismo é uma das mais evidentes expressões da contradição entre o crescimento do poder material da sociedade e a absoluta falta de progresso no sentido do controle consciente desses poderes por parte da sociedade. [173]

 

La Défense, um novo subúrbio é construído na zona oeste de Paris.
   
LEGENDA:
«O meio ambiente está sendo transformado rápida e descuidadamente para benefício do lucro e do controle repressivo, tornando-se ao mesmo tempo mais vulneravel e mais propício ao vandalismo. O capitalismo em sua fase espetacular transforma tudo com material inferior e cria os revoltosos. Seu aspecto é tão inflamável quanto uma escola francesa.

A história que ameaça este mundo crepuscular é também a força que pode submeter o espaço ao tempo vivido. A revolução proletária é a crítica da geografia humana, através da qual os indivíduos e as comunidades criam lugares e eventos na medida em que se apropriam deles, não apenas pelo seu trabalho, mas pela sua história total. O dinâmico campo de ação deste novo mundo e as mudanças livremente escolhidas das regras do jogo farão brotar novamente a diversidade das cenas locais independentes mas não isoladas. Esta diversidade por sua vez restaura a possibilidade de uma autêntica jornada -- uma jornada dentro de uma vida autêntica que carrega consigo mesma todo seu sentido. [178]
 


O couraçado Aurora move-se no Rio Neva ao lado de uma duna. Ao final do dia os soldados dirigem-se para a costa.


Torre de Babel

Edifícios e paisagens em velha pintura italiana.

 

   
Após atravessar
uma tempestade de areia, Johnny Guitar chega a um salão extravagante localizado maravilhosamente bem no centro de um lugar ermo. Ele entra. Não há nenhum outro freguês, mas dois crupiês se levantam prontos para aceitar as apostas dele em uma roleta. Ele vai até o caixa e pede uma bebida.

Em Shanghai Gesture um homem europeu mostra o cassino a uma jovem descrevendo os presentes: «javaneses, sumatranos, hindus, chineses, portugueses, filipinos, russos, malaios..., é como um sabbath de bruxas!». A mulher diz: «Se qualquer um nos visse entrando aqui, diria que é um sabbath de bruxas! Qualquer outro lugar parece um jardim da infância comparado com isto. O cheiro é tão inacreditavelmente mal. Eu jamais imaginei que um lugar como esse poderia existir. Tem uma familiaridade horrível, como um sonho lembrado pela metade. Qualquer coisa pode acontecer aqui, a qualquer momento».

O tempo da produção -- tempo mercantilizado -- é uma acumulação infinita de intervalos equivalentes. É um tempo irreversível tornado abstrato, em que cada um e todos os segmento precisam apenas demonstrar pelo relógio a sua pureza quantitativa. Não há qualquer realidade aparte de sua permutabilidade. [147]
 
Trabalhadores em uma fábrica de pneus.

O tempo geral do não desenvolvimento humano tem também um aspecto complementar -- uma espécie de tempo consumível baseado no presente modo de produção e que apresenta a si mesmo em cada momento da vida como um tempo pseudocíclico. [148]
 
Longa seqüência mostra uma multidão durante um feriado em Saint-Tropez.

O tempo pseudocíclico está associado à sobrevivência da moderna economia de consumo onde a experiência cotidiana --separada da tomada de decisão e longe de submeter-se à ordem natural -- submete-se a uma pseudo natureza criada pelo trabalho alienado. É pois bastante natural o ecoar do velho ritmo cíclico que governou a vida nas sociedades pré-industriais e a incorporação dos vestígios naturais do tempo cíclico na geração de novas variantes: dia e noite, trabalho e fim de semana, férias periódicas.
[150]
   

O tempo pseudocíclico consumível é o tempo espetacular tanto no sentido restrito do tempo de consumo de imagens, como no sentido amplo da imagem do consumo do tempo. O tempo gato no consumo das imagens (imagens que por seu turno servem para fazer propaganda de todas as outras mercadorias) é o campo onde atuam em toda sua plenitude os instrumentos do espetáculo e a finalidade que estes apresentam globalmente, como lugar e como figura central de todos os consumos particulares: sabe-se que os ganhos de tempo constantemente procurados pela sociedade moderna -- seja na velocidade dos transportes ou na utilização de sopas em pacotes -- se traduzem positivamente para a população dos Estados Unidos neste fato: de que só a contemplação da televisão a ocupa em média três a seis horas por dia. A imagem social do consumo do tempo, por seu lado, é exclusivamente dominada pelos momentos de ócio e de férias, momentos representados à distancia e desejáveis, por postulado, como toda a mercadoria espetacular. Esta mercadoria é aqui explicitamente dada como o momento da vida real de que se trata esperar o regresso cíclico. Mas mesmo nestes momentos destinados à vida, o que se vê e se reproduz é ainda o espetáculo, atingindo um grau mais intenso. O que foi representado como vida real, revela-se simplesmente como a vida mais realmente espetacular. [153]
 


Casais diante de aparelhos de TV e sistemas estéreo.


Mais tomadas da multidão em Saint-Tropez, com muitas mulheres com os seios à mostra.

 


O consumo do tempo cíclico das sociedades antigas estava em harmonia com o trabalho real dessas sociedades, mas o consumo pseudocíclico da economia desenvolvida encontra-se em contradição com o tempo irreversível abstrato da sua produção. O tempo cíclico era o tempo da ilusão imóvel, um tempo realmente vivido, ao passo que o tempo espetacular é o tempo da realidade que se transforma, um tempo ilusoriamente vivido. [155]
 
Aviões alçam vôo e pousam em um aeroporto.

O que é sempre novo no processo da produção das coisas não se reencontra no consumo, que permanece um regresso ampliado do mesmo. Porque o trabalho morto continua a dominar o trabalho vivo, no tempo espetacular o passado domina o presente. [156]
   

Como outro aspecto da deficiência da vida histórica geral, a vida individual não tem ainda história. Os pseudo-acontecimentos que se amontoam na dramatização espetacular não foram vividos pelos que deles são informados e, além disso, perdem-se na inflação da sua substituição precipitada a cada pulsão da maquinaria espetacular. Por outro lado, o que foi realmente vivido está sem relação com o tempo irreversível oficial da sociedade e em oposição direta ao ritmo pseudocíclico do subproduto consumível desse tempo. Este vivido individual da vida quotidiana separada permanece sem linguagem, sem conceito, sem acesso crítico ao seu próprio passado, que não está consignado em nenhum lado. Ele não se comunica. Está incompreendido e esquecido em proveito da falsa memória espetacular do não-memorável. [157]
 
Belas mulheres, enquanto memórias.
   
Johnny Guitar, Vienna e Dancing Kid no mesmo salão. O clima está bem tenso. Vienna diz a Dancing Kid: «As coisas são assim, você perde uma e encontra outra». Voltando-se para Johnny, ela diz: «Toque algo para mim, Mr. Guitar». Johnny: «Algo em especial?» Viena: «Apenas cante com bastante amor». Kid exclama: «Não cante tão bem assim senão todo mundo vai cagar nas mesas!» Impertubavel, Johnny pergunta: «O que é que este homem caprichoso está comendo?» Vienna: «Não sei não». Para o Kid: «Qual é que é Kid, algum problema?» Kid responde com raiva: «Eu não tenho problema algum. Ele tem. Enganar uma mulher estrangeira pode trazer muita aflição a um homem.» Johnny pergunta a Vienna: «Você é estrangeira?» Ela responde: «Apenas para estrangeiros». Kid diz com indignação: «O que está acontecendo com vocês dois?» Johnny: «Apenas o que você está vendo meu irmão». Kid: «Oh, você escolheu o lugar errado para vir, senhor!» Johnny: «Foi ela quem me chamou, não você». Kid tira uma moeda do bolso: «Olha que posso matar você, senhor. Cacete, você pode tocar uma melodia para ela». Ele brinca com a moeda. Vienna pega a moeda no ar e pede para que Johnny toque algo. Ele começa a arranhar no violão o tema de Johnny. Viena escuta atento por um momento, então interrompe-o e diz com aspereza: «toque qualquer outra coisa»

O espetáculo, enquanto método reinante na sociedade para a paralisia da história e da memória e para a supressão de qualquer história baseada no tempo histórico, representa a falsa consciência do tempo. [158]
 
Nas montanhas da Espanha (Por Quem os Sinos Dobram) uma patrulha montada franquista, e depois todo um esquadrão, lentamente passa diante dos guerrilheiros escondidos e armados com metralhadoras.

Por traz dos modismos aparentes que vêm e vão na superfície frívola do espetáculo do tempo pseudocíclico, o grande estilo de uma era pode sempre ser encontrado naquilo que é orientado pela secreta embora óbvia necessidade da revolução. [162]
   
   


Michel Corrette: Sonata em Ré Maior para
violoncelo e espineta.

No Palácio de Inverno, durante o ataque, uma pequena coruja mecânica mexe sua cabeça em um relógio. LEGENDA: «A meia-noite se aproxima». O pássaro de Minerva move-se novamente.

Debord. SUBTÍTULO: Já que não posso usufruir das coisas boas dessa vida, estou determinado a provar de seus vis e podres prazeres.

A música some

   


No bar Shangai Gesture um chinês idoso apresenta uma jovem garota ao Doutor Omar, que está vestido com roupas árabes.
«Este é meu melhor amigo, Omar». Depois que o chines sai, a jovem pergunta: «Você é um mercador egipcio?» «Não, sou um médico -- Doutor Omar de Shangai... e Gomorra.» «Tem algo a ver com o poeta Omar? 'o livro de poemas proibido...'» Ele continua sua citação: «'...muito pão, um jarro de vinho, e você do meu lado cantando no deserto...'» Ela pergunta: «Você disse 'Doutor' Omar, doutor de quê?» Ele responde pacientemente: «Doutor de Nada, senhorita Smith. Apenas soa importante e não fere ninguém, ao contrário da maioria dos doutores». Ela: «E seu manto é real? Onde você nasceu?». Ele: «Meu nascimento aconteceu durante a lua cheia nas areias perto de Damasco. Meu pai era um vendedor de tabaco armênio. E minha mãe -- o mínimo que posso dizer a respeito dela é que foi a melhor mãe do mundo. Metade dela era francesa e a outra metade perdida na poeira do tempo. Em suma, eu sou um mongrel puro-sangue. Sou parente de qualquer pessoa na Terra e para mim nenhum ser humano é estrangeiro». Com um sorriso, ela pergunta: «Então talvez você possa explicar como nossos amigos desapareceram de repente». Ele responde: «Estávamos sozinhos quando vimos o primeiro».

Imagem de um mapa astronômico italiano intitulado: «Revolução da Terra»


Examinar a história significa examinar a natureza do poder. A Grécia foi o momento em que o poder e mudança no poder foi pela primeira vez debatida e compreendida, a democracia dos Senhores da sociedade -- um total contraste com o estado despótico, onde o poder nunca ajusta as suas contas senão consigo próprio, na inacessível obscuridade do seu santo dos santos: por meio de revoluções palacianas, que estão além das inócuas discussões sobre suas falhas e sucessos. [134]
 


Maquiavel.

Detalhe de A Batalha de São Romano de Uccello.

Brezjmev e outros chefes burocratas em seu posto em Moscou, com marechais do Exército Vermelho.

 

   
LEGENDA: «Nas crônicas do Norte os homens agem em silêncio; declaram guerra, fazem acordos de paz, mas eles mesmos não dizem (nem suas crônicas) porque fazem a guerra ou porque razões assinam acordos de paz. Nas cidades ou nos tribunais do governo nada se ouve, tudo é silencio. Eles se reúnem por traz de portas fechadas e deliberam entre eles mesmos; as portas abrem, os homens saem e sobem ao palanque. As ações que resolveram adotar, guardam para si em silencio.» (Soloviev, The History of Russia from the Earliest Times)

A secura, a cronologia não explicada do poder deificado falando aos seus subordinados, que se apresenta como executor terrestre dos mandamentos do mito, está destinada a ser superada e transformada em história consciente. Mas para que isto aconteça, extensos grupos de pessoas precisam experimentar uma real participação na história. No bojo dessa comunicação prática entre aqueles que se reconhecem mutuamente como detentores de um presente único, e que experimentam a riqueza qualitativa dos eventos em sua própria atividade e que estão em casa em sua própria era, surge a linguagem geral da comunicação histórica. Aqueles para os quais o tempo irreversível verdadeiramente existe descobre-o tanto na memória como na ameaça de esquecimento: «Heródoto de Halicarnasso apresenta aqui os resultados do seu inquérito, para que o tempo não possa abolir a obra dos homens...» [133]
 


No convés do couraçado Potemkin: os membros do pelotão de fuzilamento recusam executar seus companheiros amotinados.
Em um clipe que mostra «a próxima atração», estudantes revelam sua entusiástica aprovação.

Os soldados de um regimento da cavalaria puxam seus sabres e preparam ataque.

Paris, maio de 1968: assembléias de revolucionários em edifícios ocupados.


A vitória da burguesia é a vitória do tempo profundamente histórico, porque ele é o tempo que corresponde a uma produção econômica que continuamente transforma a sociedade de cima para baixo. Durante todo o tempo em que a produção agrária permanece como principal forma de trabalho, o tempo cíclico ainda presente na base da sociedade reforça as forças conjuntas da tradição, que tendem travar qualquer movimento histórico. Mas o tempo irreversível da economia burguesa erradica todos seus vestígios mundo afora. A história, que até então parecia envolver apenas as ações individuais dos membros da classe governante, e que era registrada enquanto mera cronologia dos eventos, é agora compreendida como um movimento geral -- um movimento inexorável que esmaga qualquer indivíduo em seu caminho. Descobrindo suas bases na economia política, a história se dá conta do que previamente não tinha consciência; mas sua base permanece inconsciente porque isso não pode ser trazido à luz. Essa pré-história cega, esse destino que ninguém domina, é a única coisa que que a economia mercantil democratizou. [141]
 


«Juramento do Tribunal de Tennis»

Banquete cerimonial chinês na Concessão Internacional de Shangai.

Frenéticos profissionais na Bolsa de Valores da França.


Assim, a burguesia fez conhecer e impôs à sociedade o tempo histórico irreversível, mas recusa-lhe a utilização. «Houve história, mas já não há mais», porque a classe dos donos da economia, infalivelmente amarrados à história econômica, deve reprimir qualquer outro uso irreversível do tempo como uma ameaça imediata. A classe dominante, feita de especialistas da propriedade das coisas, eles mesmos proprietários das coisas, tem sua sorte necessariamente ligada à manutenção desta história reificada, à permanência de uma nova imobilidade dentro da história. Pela primeira vez o trabalhador, na base da sociedade, não é materialmente estranho à história, porque o movimento irreversível é agora gerado a partir desta base. Na reivindicação que faz de viver o tempo histórico que ele produz, o proletariado descobre o simples, inesquecível núcleo de seu projeto revolucionário; e cada uma das tentativas, até aqui goradas, de execução deste projeto representa um possível ponto de partida para uma nova vida histórica. [143]
 
Recentes conflitos nas ruas da Holanda, Irlanda e Inglaterra.

Com o desenvolvimento do capitalismo, o tempo irreversível é unificado mundialmente. A história universal torna-se uma realidade, por que o mundo inteiro é submetido sob a égide do desenvolvimento deste tempo. Mas esta história, que em toda a parte é simultaneamente e em toda parte a mesma, é ainda nada mais que rejeição intra-histórica da história. O que aparece no mundo como o mesmo dia é meramente o tempo da produção econômica, um tempo dividido em fragmentos abstratos iguais. Esse tempo irreversível unificado pertence ao mercado global, como também ao espetáculo global. [145]
 
Três mulheres negras dançando.

O tempo irreversível da produção é, antes de tudo, a medida das mercadorias. Assim, pois, o tempo oficialmente reconhecido pelo mundo afora como o tempo geral da sociedade realmente apenas reflete os interesses especializados que o constitui, portanto é meramente um tipo particular de tempo. [146]
 
Um aerobarco no mar. Um avião alça vôo do aeroporto.

A luta de classes ao longo da era das revoluções, inaugurada pela ascensão da burguesia tem desenvolvido em tandem com o «pensamento da história» -- o pensamento que não mais busca o significado daquilo que existe, mas que se esforça por compreender a dissolução do que existe, e nesse processo destruir toda separação. [75]
 
Movimento de rotação da Terra filmada do espaço

Este pensamento histórico é ainda a consciência que sempre chega tarde demais
, a consciência que pode apenas formular uma retrospectiva justificando aquilo que já aconteceu. Assim, ela não supera a separação senão no pensamento. A posição paradoxal de Hegel -- subordinar o significado de toda a realidade pela sua culminação histórica e ao mesmo tempo proclamar seu próprio sistema como uma representação de tal culminação -- resulta do simples fato do pensador das revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII procurar na sua filosofia apenas a reconciliação com o resultado dessas revoluções. [76]
 
Hegel
   

Enfrentando o fogo da artilharia, o destacamenteo dos marinheiros de Kronstadt atacam com suas baionetas enquanto cantam «A Internacional».

Quando o proletariado manifesta pela sua própria ação que seu pensamento histórico não foi esquecido, sua rejeição à conclusão do pensamento é ao mesmo tempo a confirmação de seu método. [77]
 
Proletários durante os dias revolucionários em Barcelona e Petrogrado.

A debilidade da teoria de Marx está naturalmente ligada à debilidade da luta revolucionária do proletariado de seu tempo. A classe operária alemã não decretou a revolução permanente em 1848; a Comuna foi vencida pelo isolamento.
Como resultado, a teoria revolucionária ainda não pôde ser realizada em sua total plenitude. [85]
 
Longa batalha na Guerra Civil Estadunidense

As falhas teóricas da defesa científica de revolução proletária (tanto no conteúdo como na forma de exposição) resultaram em última análise de uma identificação do proletariado com a burguesia do ponto de vista da tomada revolucionária do poder. [86]
 


Mapa do Palácio de Inverno em 1917 onde foi esboçado o ataque.

Mapa do Palácio Tuileries de 1792.


 
Durante a Guerra Civil Espanhola um guerrilheiro ouve as últimas notícias que anunciam que os franquistas estão preparando uma iminente ofensiva republicana contra eles, prometendo rechaçar os republicanos com vigor. O General Golz, um oficial russo a serviço dos republicanos, fala ao telefone de uma trincheira perto do front: «Está me compreendendo? ... O que?... » Ele observa uma nuvem de bombas voando em cima de sua posição, sinal de que iniciaram o ataque, e fala ao telefone: «Tarde demais. Estamos acabados. Dessa vez nós falhamos. A coisa está feia. Sim, muito feia.»

As duas únicas classes que correspondem efetivamente à teoria de Marx, as duas classes puras que integram a análise do Capital, são a burguesia e o proletariado. Elas são também as duas únicas classes revolucionárias da história, mas operando sob condições bem diferentes. A revolução burguesa está feita; a revolução proletária é um projeto ainda não realizado, nascido na base da revolução precedente, mas dela diferindo qualitativamente. Negligenciar a originalidade do papel histórico da burguesia implica encobrir a originalidade específica do projeto proletário, que nada pode atingir senão ostentando suas próprias cores e reconhecendo «a imensidão de sua própria tarefa». A burguesia veio ao poder porque foi a classe da economia em desenvolvimento. O proletariado não pode criar sua própria nova forma de poder, exceto tornando-se a classe da consciência. O crescimento das forças produtivas não poderá por si mesmo garantir a emergência de tal poder -- nem indiretamente pelo caminho de uma crescente expropriação. Nem mesmo a tomada jacobina do Estado pode ser um instrumento para esse fim. O proletariado não pode fazer uso de nenhuma ideologia desenhada para disfarçar suas metas parciais como metas gerais, porque o proletariado não pode conservar nenhuma realidade parcial que seja efetivamente sua própria. [88]
 
Continuação de batalha na Guerra Civil Estadunidense.

Esta teoria ideológica alienada já não pode, então, ser capaz de reconhecer a verificação prática do pensamento histórico unitário que ela traiu quando tal verificação surge na luta espontânea da classe trabalhadora; em vez disso, contribuiu para reprimir todas suas manifestações e memória. Todavia, estas formas históricas aparecidas na luta são justamente o terreno prático que faltava para que a teoria fosse verdadeira. Foram aquilo que a teoria necessitava, mas que não tinha sido formulado teoricamente. O soviete, por exemplo, não foi uma descoberta teórica. E a verdade teórica mais avançada da Associação Internacional dos Trabalhadores, foi sua própria existência na prática. [90]
 


Os marinheiros de Kronstadt continuam seus ataques com sucesso.

O bombardeio do Palácio de Inverno.

   


Michel Corrette: Sonata em Ré Maior para
violoncelo e espineta

O rendimento da Coluna Vendôme.

Marx. Bakunin. Marx novamente. SUBTÍTULO: Você aprenderá quão amargo é o pão estrangeiro, e quão difícil é escalar degraus alheios. E o fardo mais pesado no vale do exílio será ver-se condenado na forma de uma companhia tola e desagradável. Mas depois virá a honra pela coragem de se levantar sozinho e formar um partido de uma só pessoa.

A música termina.


O momento histórico quando o bolchevismo triunfou para si mesmo na Rússia e a social-democracia combateu vitoriosamente para o velho mundo marca o nascimento do estado de coisas que está no coração da dominação do espetáculo moderno: a representação da classe trabalhadora tornou-se um inimigo da classe trabalhadora. [100]
 


Parada da Infantaria do Exército Vermelho.

Trotsky.

   
LEGENDA: «Aqueles que se esforçam na montagem de um estado totalitário burocrático capitalista sem esmagar os conselhos não irá muito longe. Também não irá muito longe aqueles que tentam abolir a sociedade de classes sem condenar todos os sindicatos e partidos hierárquicos especializados.

A era Stalin revelou a função suprema da burocracia: a continuidade do poder da economia pela preservação da essência da sociedade mercantil: o trabalho-mercadoria. Ela também demonstrou a independencia da economia: a economia vem para dominar a sociedade tão completamente que ela provou-se capaz de recriar a dominação de classe necessária para a própria continuidade de suas operações; ou seja, a burguesia criou um poder independente que é capaz de manter a si mesmo mesmo sem uma burguesia. A burocracia totalitária não foi «a última classe proprietária na história» no sentido de Bruno Rizzi; ela foi meramente uma classe governante substituta para a economia mercantil. Um sistema de propriedade capitalista cambaleante foi substituído por uma versão mais grosseira de si mesmo -- simplificado, menos diversificado, e concentrado como propriedade coletiva da classe burocrática. Este tipo subdesenvolvido de classe dominante é também a reflexão do subdesenvolvimento econômico; e não tem outra agenda senão a de recuperar o atraso deste desenvolvimento em certas regiões do mundo. A base hierárquica e estatista para esta reconstrução grosseira da classe governante capitalista foi provida pelo partido dos trabalhadores, organizado segundo o modelo da separação hierárquica das organizações burguesas. [104]
 


Continuação da parada do Exército Vermelho: tanques, artilharia, foguetes.

Nos degraus de Odessa as tropas czaristas atiram contra uma multidão de manifestantes.


A classe ideológica totalitária governante é o governo de um mundo virado de cabeça para baixo: quanto mais ela é forte, mais ela afirma que não existe, e a sua força serve-lhe acima de tudo para afirmar a sua inexistência. Ela é modesta apenas neste único ponto, porque é esta mesma burocracia oficialmente não-existente que simultaneamente tributa às suas próprias lideranças infalíveis o coroamento pelas realizações históricas. Exposta por toda a parte a burocracia deve ser a classe invisível para a consciência. Como resultado, toda a vida social enlouquece. A organização social da mentira absoluta decorre desta contradição fundamental. [106]
 
Os estalinistas e seus aliados durante um encontro da «Esquerda Unida» francesa; Mitterand e Marchais discursam.
   
LEGENDA: «Quanto mais nos aprofundamos na mentalidade burocrática, mais nos surpreendemos com ela». (Marx, «Observações na Recente Censura prussiana»)

O estalinismo também foi o reino do terror dentro da própria classe burocrática. O terrorismo que funda o poder desta classe deve inevitavelmente atingi-la, porque ela não possui nenhuma legitimidade jurídica, nenhum estatus legalmente reconhecido enquanto classe proprietária que poderia ser estendido a cada um de seus membros. A sua propriedade tem que ser mascarada porque é baseada na falsa consciência. Esta falsa consciência não mantém o seu poder absoluto senão pelo reino absoluto do terror, onde todo o verdadeiro motivo acaba obscurecido. Os membros da classe burocrática tem o direito da propriedade sobre a sociedade apenas coletivamente, como participantes de uma mentira fundamental: é preciso que eles desempenhem o papel do proletariado dirigindo uma sociedade socialista; que sejam os atores fiéis ao texto da traição ideológica. Mas a participação efetiva nesta mentira deve, ela própria, ver-se reconhecida como uma participação verídica. Nenhum burocrata pode sustentar individualmente o seu direito ao poder, pois provar que é um proletário socialista seria manifestar-se como o contrário de um burocrata; e provar que é um burocrata é impossível, uma vez que a verdade oficial da burocracia é a de não ser. Assim, cada burocrata está na dependência absoluta de uma garantia central da ideologia, que reconhece uma participação coletiva ao seu «poder socialista» de todos os burocratas que ela não aniquila. Se os burocratas, considerados no seu conjunto, decidem de tudo, a coesão da sua própria classe não pode ser assegurada senão pela concentração do seu poder terrorista numa só pessoa. Nesta pessoa reside a única verdade prática da mentira no poder: a fixação indiscutível da sua fronteira sempre retificada. Estaline decide sem apelo quem é finalmente burocrata possuidor; isto é, quem deve ser chamado «proletário no poder» ou então «traidor na folha de pagamento do Mikado e de Wall Street». Os átomos burocráticos não encontram a essência comum do seu direito senão na pessoa de Stalin. Stalin é esse soberano do mundo que se sabe deste modo a pessoa absoluta, para a consciência da qual não existe espírito mais alto. «O soberano do mundo reconhece sua própria natureza -- o poder onipresente -- pela violência destrutiva que exerce contra o poder constrastante de seus subordinados». Ele é o poder que define o terreno da dominação, e ele é também «o poder que desvasta esse terreno». [107]
 


Brezhnev e outros chefes estalinistas recebem flores. Dirigentes sindicais na fábrica Renault. Trabalhadores da Renault, trancados dentro das fábricas pelos seus sindicatos em 1968, observam do lado de fora ingênuos esquerdistas marchando acompanhados e controlados pelos seus próprios burocratas.

Stalin faz um longo discurso.

   


Devido aos incêndios promovidos pelo Reichstag, os comunistas de Hamburgo celebram sua última reunião. Um militante denuncia as provocações do governo nazista. Antevendo a proibição do Partido Comunista, ele declara (após ter passado a oportunidade de uma guerra civil): «Hitler significa guerra!» O comandante da polícia declara seguidamente que o encontro está encerrado. A tropa de choque invade o salão e começa a espancar os comunistas que, por sua vez, cantam «A Internacional».

Um oficial nazista. General Franco.

Tanques alemães em ação; oficiais das Brigadas Internacionais na Espanha; a Brigada Lincoln.
SUBTÍTULO: Há um vale na Espanha chamado Jarama, é um lugar que todos nós conhecemos muito bem. Foi lá que perdemos não apenas a coragem, como também os melhores anos de nossa vida.

Guerrilheiros espanhóis, perseguidos por soldados franquistas, defendem-se no topo da última colina. Prisioneiros políticos em fila em um campo de concentração alemão. No pateo de um conjunto habitacional em Paris uma pequena menina brinca sozinha em um carrossel. Luzes do La Concorde iluminam a noite. Casas parisienses.


Porém, quando o proletariado descobre que a externalização de seu próprio poder concorre para o reforço permanente da sociedade capitalista, não apenas na forma de seu trabalho alienado, mas também sob a forma dos sindicatos, dos partidos ou do poder estatal que ele criara no esforço para emancipar-se, ele descobre também pela experiência histórica concreta que ele é a classe que precisa se opor totalmente a toda externalização e a toda especialização de poder. Ele traz a revolução que não pode deixar nada no exterior de si própria, traz a exigência da dominação permanente do presente sobre o passado, e traz a crítica total da separação; e ele precisa descobrir as formas apropriadas de ação para levar a cabo esta revolução. Nenhuma melhoria quantitativa da sua miséria, nenhuma ilusão de integração hierárquica pode prover cura permanente para sua insatisfação, porque o proletariado não pode revelar-se verdadeiramente grato pelo reconhecimento de qualquer dano particular que tenha sofrido, nem na reparação de algum dano em particular. Ele não pode mostrar-se grato nem mesmo pela reparação de muitos dos tais danos, mas somente na reparação do dano absoluto de ser colocado à margem da vida real. [114]
 
Barricadas em maio de 1968 em Paris; incêndios e confrontos durante a noite.
   


Michel Corrette: Sonata em Ré Maior para
violoncelo e espineta.

Mais flagrantes de maio de 1968: Rua Gay-Lussac; imagem da assembléia de massa em Sorbonne; close dos membros do Furioso Comitê da Internacional Situacionista, inclusive Debord.

LEGENDA: «Camaradas: Considerando que a fábrica de aviação de Nantes foi ocupada por dois dias pelos trabalhadores e estudantes daquela cidade e que hoje o movimento está se espalhando por diversas fábricas (NMPP em Paris, Renault em Cléon, etc.), o Comitê de Ocupação de Sorbonne chama para a imediata ocupação de todas as fábricas na França e a formação de Conselhos de Trabalhadores. Camaradas: Espalhem e reproduzam este apelo tão rápido quanto possível. Sorbone, 16 de maio, 15:00 horas.

Em outubro de 1917 pessoas ouvem discurso. Um cartaz na parede ocidental de Sorbonne: «Ocupem as fábricas. Formem Conselhos de Trabalhadores. -- Enragés-Situationist International Committee». Portos, estações de trem e fábricas paralizadas pela greve geral.

LEGENDA: «De hoje até o fim do mundo do espetáculo, o mês de maio nunca passará sem que evoque nossa memória.»


Christian Sebastiani


Debord

Patrick Cheval. SUBTÍTULO: Nós poucos, poucos e felizes, unidos, irmanados.

Graffiti de Puvis de Chavannes em Sorbonne: «Camaradas, a humanidade não será feliz até que...»

Sorbonne durante a noite, com luzes nas janelas. Palácio de Inverno à noite. Panfletos são lançados pelas janelas do «Room Jules Bonnot», sede do Comitê de Ocupação de Sorbonne. Cena do filme de Eisenstein Dez Dias que Abalaram o Mundo, onde trabalhadores pegam pacotes de panfletos no momento em que saem das impressoras. Dístico em muro em 1968: «Abaixo com a sociedade do espetáculo-mercantil».

LEGENDA: «Não se iluda pensando que eles não têm um plano. Eles têm sim; se eles não tivessem, as circunstancias por si só os forçaria a desenvolver um. Uma conquista conduz a outra; uma vitória abre o apetite para mais vitórias». (Machiavel, carta a Francesco Vettori).

Flagrantes da Sorbone ocupada.

Graffiti: «Corra, camarada, o velho mundo está atrás de você!»

LEGENDA: «Desde de 25 de fevereiro, milhares de sistemas estranhos afluem diante da imaginação impetuosa de inovadores e se espalham através da mente agitada da multidão... Parece que o choque da revolução reduziu toda a sociedade em poeira, e que existe uma competição aberta para determinar a forma de uma nova estrutura a ser colocada em seu lugar. Cada um tem seu próprio esquema. Alguns estão impressos em jornais; outros em cartazes que logo são colados nos muros; outros ainda são proclamados em encontros ao ar livre. Uns defendem a abolição da desigualdade da riqueza; outros a desigualdade na educação, um terceiro propõe dar um fim à mais velha de todas as desigualdades, entre homens e mulheres. São prescritos remédios contra a pobreza e contra a maldição do trabalho que vem atormentando a humanidade desde os primeiros dias.» (Alexis de Tocqueville, Recolecões da Revolução Francesa de 1848).

Uma barricada em chamas durante a noite. SUBTÍTULO: Nem a madeira nem o fogo acham qualquer paz ou satisfação no calor, seja ele grande ou pequeno, ou semelhante a eles, até o momento em que o fogo se torna um com a madeira e dá sua própria natureza a ela.

LEGENDA: «Eles estão sendo acusados de vandalismo e denunciados por desrespeitar as máquinas. Tais críticas teriam fundamentos se os trabalhadores estivessem buscando a destruição sistemática em em si mesma. Mas este não é o caso! Se os trabalhadores estão atacando as máquinas, não é por prazer nem por capricho, mas porque a urgente necessidade os obriga fazer isso.» (Emile Pouget, Sabotage)

A música termina.


Aos novos sinais de negação estão proliferando na maioria dos paises avançados. Embora tais sinais sejam incompreendidos e falsificados pelo espetáculo, eles são prova suficiente do início de uma nova era. Se vimos o fracasso dos primeiros assaltos do proletário contra o capitalismo; agora somos testemunhas do fracasso da abundancia capitalista. De um lado, as lutas anti-sindicais dos operários ocidentais são imediatamente reprimidas pelos sindicatos, de outro, jovens revoltosos lançam novos protestos, que embora vagos e confusos claramente implicam em uma rejeição à arte, à vida do dia-a-dia, e à decadente especialização política. Eis aí as duas faces de uma nova luta espontânea que pela primeira vez assume um aspecto criminal. São os sinais precursores do segundo assalto proletário contra a sociedade de classe. [115]
 
Tropa de choque da polícia francesa ao redor da fábrica Flins e nas ruas de Nantes. Jovens lumpen-proletários defendem a Rua Saint-Jacques de cima dos telhados das casas.
   


Mapa da Polônia. Caminhão blindado em chamas após ter sido atacado por revoltosos. Multidão de insurgentes sobe os portões de um palácio.

Em um bar em Tangiers uma mulher se aproxima do lugar onde um gângster está sentado, abordada pelos seus homens, ela pergunta: «Lembra-se de mim?». Ele responde: «Nunca me recordo de mulheres bonitas, são muito caras (olha para um de seus homens e diz): Então, Van Stratten, quer um iate novo?» Ela: «Não é sobre negócios, Sr. Tadeu. Queremos apenas que nos faça um favor». Ele: «Nunca concedo favores». Ela: «Queremos apenas uma pequena informação sobre a Polônia». Ele: «Nunca concedo informações -- » mas parou no meio da sentença e, com a música de fundo mais alta, diz «Polônia».

LEGENDA: «Mais uma vez a Polônia é coberta de sangue e permanecemos como impotentes espectadores». (Declaração dos trabalhadores franceses na conferência de fundação da Primeira Internacional, 28 de setembro de 1864).


A intensificação da alienação capitalista em todos os níveis torna cada vez mais difícil aos trabalhadores reconhecer e identificar sua própria miséria, isso os coloca diante da seguinte alternativa, ou recusa a totalidade de sua miséria ou não recusa nada. A organização revolucionária aprende que ela não pode combater a alienação sob formas alienadas de luta. [122]
 


Confrontos de rua na Itália.

Lenin discursa.


O próprio desenvolvimento da sociedade de classes até o estágio da organização espetacular da não-vida torna visível aquilo que sempre existiu em essência no projeto revolucionário. [123]
 


Itália: policiais da tropa de choque saltam de suas viaturas e começam a espancar o povo. Forças armadas alemãs.

 


A teoria revolucionária é agora inimiga de toda ideologia revolucionária, e sabe que o é. [124]
 


Junho de 1953: Tanques soviéticos reprimem trabalhadores na zona leste de Berlim.

Longa seqüência em que policiais estadunidenses espancam negros amotinados durante a noite. SUBTÍTULO: Mas considerando o conteúdo desta esperiência como um todo, notaremos que o trabalho desaparece a olhos vistos... Este desaparecimento é por si só bastante real: está estreitamente ligado aos seus limites e desaparece com ele. O negativo perece junto com o positivo que o nega

LEGENDA: «'É obviamente mais fácil fazer história quando nos engajamos apenas em lutas com sucesso garantido'. Isto é tão óbvio que destruiria completamente esta sociedade. Temos que estar prontos para lançar duzias ou mais de assaltos como os de maio de 1968, e estar preparados para aceitar um certo número de derrotas e de guerras civis não apenas como desastres mas também como inevitáveis. Na história, o que faz diferença mesmo é a energia e a determinação com que são perseguidos os objetivos que se quer alcançar».


Durante uma batalha na Guerra Civil Americana um oficial coloca-se à frente da Sétima Cavalaria de Michigan e grita: «Sétima de Michigan, avante!... Trot
e!... Galope!... Ataque!»

Sr. Arkadin promove um baile de máscaras em seu castelo na Espanha. Com um copo na mão, ele diz aos seus convidados: «Não, não vou fazer um discurso, vou propor um brinde, em estilo georgiano. Os brindes georgianos sempre são antecedidos por uma pequena estória... Eu tive um sonho. Sonhei que estava em um cemitério onde todas as lápides estavam marcadas de um modo curioso -- '1822--1826', '1930--1934', todas dessa forma, sempre com um tempo muito curto entre o nascimento e a morte. No cemitério havia um homem idoso. Eu lhe perguntei como foi que ele conseguiu viver tanto tempo quando todo mundo vivia tão pouco em sua aldeia. Então ele respondeu: 'Não é que morremos cedo, é que por aqui as lápides não contam os anos de vida de um homem, mas apenas o período de tempo em que ele conseguiu manter uma amizade'. Um brinde à amizade!».

Ivan Chtcheglov.

Asger Jorn.

A cavalaria Michigan continua seu ataque.

Após serem derrotados, o mesmo oficial que os conduziu no ataque sai em busca do Quinto e Sexto regimentos. Após encontrá-los, comanda-os em um novo ataque.


Arkadin conta outra estória: «... 'E a lógica?' lamenta a rã chorando enquanto o escorpião se aproxima dela, 'Onde é que está a lógica disso?'. 'Entendo', diz o escorpião, 'mas não posso evitar. Essa é minha natureza!' Um brinde à natureza!».

Depois de outra derrota, o oficial se apresenta diante das tropas do Primeiro Michigan -- o derradeiro regimento -- e ordena outro ataque.

LEGENDA: «Ao contrário do que parece, o mérito de nossa teoria não está no fato dela ser uma idéia correta, mas no fato dela ser absorvida naturalmente. Em suma -- e isto deveria ser enfatizado continuamente, como acontece no campo da prática -- o propósito da teoria é treinar aquele que a pratica e não servir-lhe de muleta para cada passo que dá na realização de suas tarefas». (Clausewitz, The Campaign of 1814)


O texto acima à esquerda é narrado pelo próprio Guy Debord em seu quarto filme, A Sociedade do Espetáculo (1973). O texto consiste de extratos do Livro de Debord com o mesmo nome.

O script (em inglês) completo desse filme, com ilustrações, descrições detalhadas das imagens, e extensas anotações, pode ser encontrado em Debord’s Complete Cinematic Works (AK Press, 2003). Para mais informações veja Guy Debord’s Films.


Obra Cinematográfica Completa de Guy Debord

INTRODUÇÃO

SCRIPTS
Uivos para Sade (1952)
No Caminho de Algumas Pessoas por um Curto Período de Tempo (1959)
Crítica da Separação
(1961)
A Sociedade do Espetáculo filme (1973)
Refutação de Todos os Julgamentos, Pró ou Contra, Sobre o Filme A Sociedade do Espetáculo (1975)
In girum imus nocte et consumimur igni (1978)


DOCUMENTOS
Deturnação: Guia para Usuários
Notas Técnicas dos Primeiros Três Filmes
Carta sobre Passagem
Por um Julgamento Revolucionário da Arte
Na Sociedade do Espetáculo (resposta a uma crítica do livro)
Cinema e Revolução
Na Sociedade do Espetáculo (lançamento do filme)
O Uso de Filmes Roubados
Temas de In girum
Instruções para o Engenheiro de Som de In girum
Introdução à Obra Cinematográfica Completa de Guy Debord



O texto acima foi traduzido por Railton Sousa Guedes
Fonte consultada: http://www.bopsecrets.org/  

Nota do Editor

Considerações sobre religião e família fora do contexto espetacular.

Religião: «Uma religião [...] poderia incluir a crença de que a sociedade dominante falha em prover valores suficientes para uma vida feliz, que a sociedade dominante está doente, morrendo, ou, já morta, e que a comuna é um remanescente salvo que escapou da fogueira». (Comunalismo de Kenneth Rexroth)

Família: «Os huteritas compõem sem dúvida a sociedade comunista mais antiga do mundo — ou na história, excetuando as tribos pre-alfabetizadas que mais ou menos ainda vivem na condição de "comunismo primitivo". Já faz quatrocentos e cinqüenta anos desde que Jacob Hutter em 1533 uniu as comunidades anabatistas desde a Suíça, Boêmia, Morávia, até o Tirol austríaco, persuadindo-as a adotar uma vida completamente comunal. Na idade dourada das fundações na Morávia, havia mais de vinte mil membros em mais de noventa aldeias. Hoje no Canadá e nos Estados Unidos há mais de cento e cinqüenta colônias [...] Todos os huteritas existentes descendem das poucas famílias que sobreviveram séculos de migração, perseguição, e deserção». (Idem) [vide também quakers e menonitas]





OUTROS ESCRITOS DE DEBORD (versões retiradas de http://www.terravista.pt/IlhadoMel/1540 e adaptadas)

A Sociedade do Espetáculo
Panegírico


Dossiê Situacionista e textos de Debord publicados pela Biblioteca Virtual Revolucionária

Dossiê Internacional Situacionista

Perspectivas da transformação consciente da vida quotidiana


Teses sobre a revolução cultural

Introdução a uma crítica da geografia urbana


Texto de Phil Baker

Cidade Secreta: Psicogeografia e Devastação de Londres -- Um Ensaio de Phil Baker


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railtong@g.com