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ATUALIDADES

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VERGONHA PARA UM MUNDO ONDE SHARON É UM HOMEM LIVRE

Por Ramzy Baroud

Gostaria de saber se o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, não tem mais idéias. Toda vez que afirmamos que ele empregou sua última tática possível na tentativa de suprimir o povo palestino, o sempre "guerreiro" provocador prova que estamos errados. Sua última perseguição selvagem de ativistas palestinos custou a vida de mais de 15 palestinos e 148 feridos, acrescentando ao calendário palestino uma outra tragédia para ser lembrada.

Aqueles que ousarem olhar o quadro completo, sem distorção e honestamente, sabem que Sharon é um louco, um fascista fanático que criou um estilo único de racismo, único para o sionismo, único para ele.

É lógico que somente aqueles da "mídia alternativa", ou os "ex" funcionários e estadistas podem afirmar isso, porque não há empregos fantásticos em jogo e o custo político, no caso dos ex-políticos, é mínimo.

No entanto, até que o mundo reúna coragem para dizer a Sharon "basta é basta" e "não é sua função ocupação, assassinato e matar de fome os palestinos", até que isto aconteça, os palestinos estão condenados a catar e enterrar seus mortos apenas com cânticos desesperados de vingança e outros de liberdade.

Hoje, enquanto olhava para a torrente de fotos e imagens da TV de civis palestinos, ou o que restou deles, mortos no ataque israelense a Gaza, uma pergunta irada me assombra: Por que Sharon, um homem saudável, com uma indústria agrícola de US$1 milhão, continua perseguindo um povo oprimido, vivendo em aldeias e vilas feito gaiolas, desesperadamente pobres enquanto o que todos eles buscam é a liberdade.

Será que Sharon já não matou o bastante? Esta lista interminável de palestinos mortos e lugares bombardeados não acaba nunca? Será que uma carreira de 52 anos repleta de mortes não satisfaz a sede de sangue palestino deste homem? Quantos massacres mais Sharon precisa para preencher sua lista antes de morrer ou de abandonar a política?

Estou mais preocupado com a idéia de que Sharon esteja alcançando uma idade em que sua obsessão com a "segurança de Israel" o leve a realizar em escala mais ampla, massacres de palestinos, como em Sabra e Shatila. Sharon é um adepto vigoroso da teoria do "árabe bom é árabe morto", defendida por muitos sionistas durante anos. Enquanto que para um colono judeu fanático acreditar neste ditado é bastante caro, para um primeiro-ministro admirado por um caloroso público israelense fazer desta declaração uma política de governo, é terrível.

Mas, os israelenses já não tentaram de tudo? Por mais de cinco décadas, eles massacraram, bombardearam, sitiaram, prenderam palestinos e cultivaram apenas ódio e resistência. Por que então eles carregam esta política má e fracassada para sempre? Será só matar por matar?

O que fizeram aqueles homens, mulheres e crianças de Gaza, tão frágeis e preciosos, para despertarem de um doce sono e se acharem em meio a um banho de sangue e seus entes queridos despedaçados, espalhados sob o pesado concreto?

Nós todos sabemos agora que o medo do pretexto do homem bomba não pode mais ser tolerado por várias razões. Primeiro, a ocupação israelense começou há décadas atrás e os suicidas surgiram nos anos 90, como uma resposta desesperada às práticas cruéis e incompreensíveis de Israel. Portantno, aqui não há a história da galinha e do ovo para nos confundir.

Mas, além de tudo, o ataque israelense a Gaza veio um dia após o Hamas anunciar sua vontade de suspender seus ataques se Israel se retirasse das cidades da Cisjordânia recentemente ocupadas e libertasse os prisioneiros políticos palestinos.

A oferta do Hamas foi apresentada pelo líder espiritual do movimento em uma entrevista à Al-Jazira.

Se Sharon se preocupasse realmente com o bem-estar de seu povo, ele teria evitado atacar um dos mais importantes líderes do movimento em Gaza. O ataque a Gaza foi uma resposta à oferta do Hamas. Agora, apenas os ingênuos não conseguem perceber o que irá acontecer nas próximas semanas. Os palestinos estão com raiva, traídos e sentem que o único método de lidar com a campanha assassina e a ocupação  israelense é pagar na mesma moeda, não só os soldados, não só os colonos militantes.

Enquanto é fácil para alguns de nós, no conforto de nossas cadeiras, opinar e ditar aos palestinos o que é aceitável e o que não é em termos de métodos de resistência, o povo palestino da Cisjordânia e Gaza não se deixa governar por nossos mandamentos convenientes e confortáveis.

Eles são só seres humanos, com uma capacidade de tolerância limitada, embora excepcional. Todos nós faltamos a eles: não os protegemos, não estivemos ao lado deles, não paramos os assassinos israelenses e os repreendemos por fazerem comparações entre os israelenses e os nazistas; nós os vimos implorar por misericórdia em Jenin e não fizemos nada para impedir a chacina; nós ouvimos o pedido por água, em Nabus, e não lhes oferecemos nada; nós quase cheiramos os corpos decompostos de seus filhos espalhados pelas ruas e nos queixamos de que os palestinos estão empregando mal a palavra "massacre".

Faltamos a eles e perdemos nosso direito de criticá-los.

Os palestinos foram deixados à própria sorte, arranjando-se sozinhos nos campos de refugiados contra os tanques e F-16 invasores.

Vergonha para um mundo no qual Sharon é um homem livre. Vergonha para um mundo que tolera tal crueldade contra uma nação atormentada. Vergonha para cada um de nós que sabíamos da verdade e não dissemos nada.

Publicado no Palestine Chronicle, quarta-feira, 24/07/02

Ramzy Baroud é editor-chefe do Palestine Chronicle.

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