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   Em meados do mês de abril já é possível perceber a tênue mudança de temperatura. A atuação da massa Polar Atlântica encontra espaço com o enfraquecimento da massa Equatorial Continental e Tropical Atlântica, ambas dominantes no verão em todo o Brasil. Com isso as frentes frias, vindas do sul, conseguem estabelecer-se com maior intensidade na região. As noites são bem mais frias e os dias não tão quentes. Percebe-se uma diminuição, ao menos aparente, de vida. Os vaga-lumes desaparecem por completo, pássaros migram para outras regiões, o volume de água dos rios e córregos diminui conseqüência da queda pluviométrica, o ar fica mais seco e roupas mais quentes se tornam mais necessárias.

  As manhãs de inverno são quase todas dominadas por um nevoeiro baixo que pode chegar a tapar o nascer do sol e esconder as montanhas a volta. Conforme a manhã acontece o nevoeiro evapora. É possível também observar a umidade contida nas gramíneas e arbustos evaporando, como uma fumaça densa saindo do solo, ao tempo que o sol se torna mais forte. No auge do inverno, na maioria dos dias dos meses de junho e julho, somente cerca das 10h00 é possível ter uma temperatura que convide a tirar o excesso de roupa. Às 06h00 a temperatura se encontra, em média, em 8ºC/6ºC, podendo atingir valores negativos, possivelmente acompanhando formação de geada. O frio da manhã diminui enquanto o sol aquece tudo a volta, isso se não estiver o tempo nublado. Caso esteja, o frio acompanha todo o dia até a hora em que o sol puder escapar dentre as nuvens e fazer-se presente.


     ::  SECA NA MANTIQUEIRA  ::

   Raramente chove nessa época. Por isso muitos a chamam de época da seca. A vegetação baixa (gramíneas, arbustos e semi-arbustos) perdem a coloração verde encontrada no verão e tomam uma coloração pardacenta, seca, muito suscetível a queimadas. Ao contrário do sistema hídrico da vegetação de caatinga, muito deficiente na absorção e manutenção da água em seu solo, na vegetação de campos (que acompanha grande parte da Mantiqueira) o solo permanece seco apenas em sua camada superficial. Dotadas de raízes profundas, a vegetação consegue manter-se viva ligadas à lençóis freáticos encontrados a cerca de 2/3 metros abaixo da superfície. Esses lençóis contém o equivalente a 3 anos de água de chuva armazenados, podendo alimentar as plantas com maiores raízes mesmo com as secas mais severas. Além disso a vegetação possui mecanismos xeromórficos (adaptáveis ao clima e solo secos), capazes de manter-se vivas e perenes mantendo sua transpiração constante, assunto que abordo com mais detalhes na seção FLORA.


    ::  GEADA E NEVE NA MANTIQUEIRA  ::

   No mês de abril raramente se observam formações de geadas. É isso mesmo, na região sudeste do Brasil há geadas. É mais comum que ocorram a partir do mês de maio até a primeira metade de agosto. Para isso não basta uma baixa temperatura como muitos pensam. As geadas são resultado da sublimação do vapor d'água do ar adjacente, sobre a superfície do solo, das plantas e dos objetos expostos ao ar. Para que a geada se forme, além de uma temperatura mínima de 0ºC é necessário que não haja formação de nuvens e nevoeiros: o ar precisa estar seco. 

   No inverno da Mantiqueira é possível verificar temperaturas de até -4ºC nas terras mais altas, de 1.500 metros de altitude em diante. Em regiões acima de 2.000 metros de altitude observam-se temperaturas ainda mais baixas. O mais interessante é que muitas dessas cidades ficam a 350km do Rio de Janeiro, paraíso tropical conhecido pelas suas praias e praticamente tendo o verão como estação única. Isso indica quão diverso é nosso país, com várias microrregiões distintas em vegetação, clima, relevo, cultura, culinária, música, sotaques...

   Muitos confundem geadas com neve, ambas não têm nada a ver. A neve CAI e a geada se FORMA. A neve é o  congelamento do vapor de água que se encontra suspenso na atmosfera e cai como chuva. As geadas formam-se no chão, sobre as gramíneas, folhas das árvores e arbustos, folhagem de verduras em uma horta (motivo que acaba por queimar toda a horta provocando a perda de todos os vegetais afetados) e se for uma geada de grande intensidade, acaba por congelar a água dos córregos e rios, formando placas de gelo que fazem-nos surpresos, nós meros seres tropicais. 

   Quedas de neve não são comuns nessa região, são raras, mas são possíveis. Somente nos pontos mais altos como no maciço das Agulhas Negras (2.787 metros de altitude) e algumas localidades nos arredores de Campos do Jordão (+ de 2.000 metros de altitude) a neve pode-se dizer real, em latitudes tropicais do Brasil.  

    
  ::  VIDA NO INVERNO  ::


   O inverno é mais silencioso que o verão. Silêncio que por vezes é interrompido pelo barulho de moto-serras (não raras!!) e tratores que aproveitam para arar a terra e realizarem a calagem (adição de calcário à terra para diminuir a acidez, uma vez que aquelas terras são ricas em ferro e alumínio, prejudicando a agricultura local - o calcário equilibra o PH - mais detalhes em RELEVO).

   O céu limpo, sem nuvens, é outra característica do inverno. O tempo seco favorece caminhadas, escaladas, e uma visão mais limpa do horizonte - ótimo para fotos. Tal paisagem é freqüentemente contrastada com focos de fumaça, provenientes de queimadas (em sua maioria manejadas pelos próprios produtores rurais) com a finalidade de limpar a terra para aragem e semeadura ou simplesmente para limpar um campo sujo e prepará-lo para pasto.

   Hoje em dia, após pesquisas sobre a influência das queimadas na vegetação de cerrado é possível dizer que, manejadas com cuidado e segurança, essas queimas são benéficas ao solo. A própria vegetação de cerrado, acredita-se, foi moldada e adaptada às condições do fogo. Na Antigüidade, a região central do Brasil sofria queimadas periódicas na estação de seca. A própria natureza se encarregava disso. O clima seco, a falta de umidade do ar e no solo, e as gramíneas secas de até 50cm são elementos que contribuem para uma auto-combustão. Com o passar do tempo, as plantas e árvores do cerrado foram sofrendo uma seleção natural. Restaram as que se adaptaram bem às condições de seca e fogo. Essas conclusões encontram-se no livro "A Vegetação dos Cerrados Brasileiros" de Mario G. Ferri e mais detalhes sobre a vegetação de cerrado encontra-se na seção RELEVO. Mas como as condições climáticas, a vegetação e o relevo da Mantiqueira não são as mesmas do centro do Brasil, área de cerrado, as queimas, se não manejadas adequadamente, podem danificar e mudar para sempre o equilíbrio da região. 

   A Mantiqueira é muito susceptível à erosão por suas encostas e escarpas íngremes. Com a falta de planejamento e por ignorância de muitos produtoras (a área é pobre e nem todos dispõem conhecimento e dinheiro para utilizar técnicas que agridam menos o meio) são transformados em pasto áreas de vital importância para a saúde da região: cumes de morros e montanhas, escarpas íngremes, cursos de córregos e rios, áreas próximas à nascentes, charcos, etc.

   Na seca os animais já não encontram-se na mesma abundância do verão. É mais difícil encontrar cobras, pássaros e qualquer animal. É claro que a vida não se extingue por completo. É um período de descanso, onde eles retomam suas forças para quando vierem as águas do verão. Escondem-se em suas tocas. O frio também ajuda tal reclusão.

      :: TURISMO NO INVERNO  ::

   O inverno é a estação "quente" para conhecer a região. É nessa época de frio que uma lareira se torna extremamente convidativa. O céu seco e limpo proporciona uma melhor visualização celeste. Nas cidades turísticas (Visconde de Mauá, Campos do Jordão, Ibitipoca, São Tomé das Letras, Caxambu, Monte Verde e etc) aprecia-se nessa época ótimas receitas de trutas e pinhões (frutos da ARAUCÁRIA rico em proteínas) que acompanhados de um bom vinho fazem a cabeça de todos.

   Essa é a melhor época para conhecer o Parque Nacional de Itatiaia e escalar as Agulhas Negras. Vários alpinistas se encontram no Rebouças (abrigo dentro do parque) e de lá fazem a escalada. Fora isso são milhares as trilhas na região, que com o clima seco diminuem as chances de ser pego de surpresa por uma chuva. Lembre-se sempre que é importante fazer as trilhas acompanhado, de preferência com alguém que conheça bem o local. Na Mantiqueira a maioria das localidades não contam com antenas de celular, por isso não se agarre no seu amiguinho pensando que poderá pedir ajuda caso se perca.

   Na região são comuns os festivais nessa época. Em Mauá ocorre o Festival do Pinhão, com restaurantes apresentando várias receitas com o fruto da araucária. Encontre na seção TURISMO as datas de algumas dessas festividades e mapas, dados, dicas de como chegar nas principais cidades das Terras Altas da Mantiqueira e aproveitar a paz, isolamento e o friozinho característico da região, renovando as energias em contato com a natureza.

* Obs:. Os dados acima foram por mim descritos a partir de experimentos empíricos e leituras sobre vegetação e o clima da região. Vale dizer que o local observado (regiões de Visconde de Mauá-RJ à Liberdade-MG) estão dentro da altitude mínima de 1.000 metros de altitude e pertencem à APA (Área de Proteção Ambiental) da Mantiqueira. 

IMPORTANTE !!!

Não esqueça da máquina fotográfica. Em qualquer estação você terá grandes paisagens e distintos sentimentos. Divirta-se e aproveite as Terras Altas com consciência.  

  Preserve esse patrimônio que é NOSSO para futuras gerações e para ti mesmo. 


   NÃO JOGUE LIXO NAS TRILHAS, NÃO USE PRODUTOS QUÍMICOS AO SE BANHAREM EM ÁGUA CORRENTE, NÃO DESTRUA PLANTAS OU ESCREVA NELAS, E NUNCA JOGUE UMA PONTA DE CIGARRO AO CHÃO. VOCÊ PODE CAUSAR UM INCÊNDIO!!

:: Nota do Webdesigner :: 

::. Neste site, em constante atualização, disponibilizarei informações diversas sobre a interessante e singular região da Mantiqueira. Por isso, aceito qualquer ajuda, indicações e dicas.

PELA PRESERVAÇÃO DA SERRA DA MANTIQUEIRA E SEUS BIOMAS