Era uma vez um menino chamado Joãozinho. Ele
era um bom menino. Estudava, tirava boas notas, não era brigão,
era limpo e asseado. Quer dizer: quase. Porque Joãozinho tinha um
problema: não queria escovar os dentes!
Todos
os dias, quando acordava, a mãe dizia:
— Joãozinho, escove os dentes!
E Joãozinho:
— Ah, mãe, é chato, mãe...
E a mãe:
— Não, Joãozinho, é gostoso ficar com
a boca fresca, o hálito puro, ah!!! (Ela fazia que nem propaganda
de pasta de dente). Você tem que proteger seus dentes, senão
eles estragam e doem. Aí, você tem que ir para o dentista.
E também sua boca vai ficar fedida e nenhuma menina vai querer beijar
você.
— Eu nem tenho namorada...
— Mas vai ter. E blá-blá-blá-blá...
Joãozinho pensava como mãe é chata e sempre
quer que os filhos façam coisas que eles não gostam, e como
nunca se cansa de repetir tudo. Depois do almoço, depois do jantar,
na hora de dormir, lá vinha ela de novo.
—
Joãozinho, escove os dentes.
Joãozinho só respondia:
— Ah, mãe, é chato, mãe, é chato...
Acabava que a mãe tinha que pegar ele para escovar os
dentes à força. Um dia, ela decidiu que não ia fazer
isso. Era um dia como qualquer outro dia. Mas não estava para brincadeira.
Ele lembra que ela parecia o mensageiro do rei lendo um decreto.
— Senhor súdito Joãozinho. A partir de hoje,
sua majestade, a mãe, não vai mais mandar você escovar
os dentes. Você já tem oito anos e já sabe como é
importante. Portanto, se decidir não escovar os dentes, o azar é
todo seu.
Joãozinho pensou: ‘‘Oba! Estou livre daquela chatice
de escovar os dentes!’’. E assim foi. Ele acordava, tomava café,
almoçava, jantava e dormia sem chegar nem perto da escova. Joãozinho
não notava, mas os dentes começaram a ficar amarelos e cheios
de uma massinha feiosa, que são bichinhos minúsculos que
se juntam quando a pessoa não limpa a boca direito.
Na
escola, os amiguinhos de Joãozinho já começavam a
sentir a diferença. Sem ele saber, chamavam ele de Joãozinho-bafo-de-onça,
Joãozinho-boca-de-lobo e até de Joãozinho-bueiro.
Ele tinha dito que não tinha namorada, mas na verdade ele estava
apaixonado por uma menininha linda, chamada Alice. Todos os dias eles dividiam
o lanche. Isto é, antes de Joãozinho parar de escovar os
dentes. Porque aí Alice todo dia tinha uma desculpa para não
lanchar com ele. É que ela não agüentava ver os dentes
de Joãozinho tão sujos e comer ao mesmo tempo!
Uma manhã, Joãozinho acordou e sentiu que havia
alguma coisa em sua boca. Olhou no espelho e viu: uma plantinha!
— Mãe, olha o que nasceu na minha boca!
Ela olhou e disse:
— Joãozinho, você está escovando os dentes
direito?
Ele
mentiu:
— Claro, mãe.
— Então a gente vai ter que ir para o dentista.
Joãozinho ficou apavorado. Todo mundo dizia que o dentista
era terrível. Ele imaginava um monstro com as mãos cheias
de alicates e injeções, pronto para atacá-lo. Mas
ele era até legal.
— Vamos ter que arrancar isso, disse o dentista.
Ele arrancou, mas no lugar da plantinha, apareceu outra duas
vezes maior. Arrancou novamente. De novo apareceu uma plantinha com o dobro
do tamanho da outra. E quanto mais arrancava, mais a plantinha aparecia
maior e maior.
— Minha senhora, eu desisto. Eu nunca vi nada assim antes.
Eu vou estudar o caso. A senhora volta com o menino na semana que vem.
Joãozinho
ficou muito triste de voltar para casa com aquela planta na boca. Na rua,
todo mundo olhava. O pior é que a planta não parava de crescer.
Quando chegou em casa, Joãozinho nem podia mais fechar a boca. No
outro dia, ele não conseguiu levantar da cama: durante a noite,
a planta cresceu tanto que tinha virado uma árvore e até
tinha frutas.
Quando foi acordá-lo para ir para a escola, a mãe
de Joãozinho viu aquilo e gritou:
— Goiaba! Adoro goiaba!
E começou a comer as frutas sem nem lembrar que a árvore
tinha crescido na boca do filho. Logo, todas as crianças da vizinhança
já sabiam, e foram para a casa de Joãozinho ver o menino-da-árvore-na-boca,
ou melhor, para subir na goiabeira e comer goiaba.
No início até foi divertido, mas logo logo Joãozinho
gritou:
— Rorrarrarri! Rirrerremrai! (Só a mãe conseguiu
entender o que ele falava: ‘‘Fora daqui! Me deixem em paz!’’)
Quando ficou sozinho, Joãozinho começou a chorar.
E dormiu. No meio da noite, ele acordou com uma luz forte dentro do quarto.
Abriu os olhos e viu: era uma fada sorrindo com os dentes mais brilhantes
do mundo. Na mão, no lugar da varinha-de-condão, ela tinha
uma escova de dentes enorme.
—
Eu sou a fada protetora dos dentes — ela disse. Vim para ajudá-lo,
porque você sempre foi um menino bonzinho. Se eu tirar esta árvore
da sua boca você promete cuidar dos seus dentes?
— Prometo, dona fada, eu juro.
— Vou acreditar em você. Mas você tem que escovar
seus dentes pelo menos três vezes ao dia, depois das refeições
e na hora de dormir. Senão, a árvore vai aparecer de novo
e sua boca vai virar raiz de goiabeira pro resto da vida.
— Eu prometo, eu vou escovar, eu adoro escovar os dentes!
A fada bateu com a escovona-de-condão na goiabeira,
que desapareceu imediatamente. Joãozinho foi correndo para o espelho:
— Desapareceu!, disse, todo contente.
De manhã, já ia sair para brincar, quando lembrou
da promessa que fez à fada. Pegou a escova colorida que a mãe
tinha dado para ele, a pasta sabor morango que achou deliciosa, e escovou
os dentes tão bem que eles brilhavam quase tanto quanto os da fadinha.
E fez:
— Ahhh!!!, igualzinho à mãe. Daí por diante
nunca mais deixou de escovar os dentes, e também usava o fio dental
para que nenhuma sementinha ficasse presa novamente. E assim acaba a história.
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