Nossas Figuras Folclóricas 5
Chegou
a vez de falarmos numa das figuras mais significativas para o folclore
mombacense nos últimos 40 anos. Quando o conhecemos já era um
“rapaz velho” e não nos vem a lembrança do modo
como, e onde morava. Sua paciência e coragem para lidar com
gado, era notável, sendo por isso mesmo, sempre chamado
quando houvesse dificuldade com alguma rês mais braba. Lá ia
ele em busca do animal, sempre a pé, fosse que distância fosse. Quase
sempre, não se sabe como, conseguia encaretá-lo, (há quem diga que
usava “mandinga” ). Tentava encaminha-lo no rumo do destino e, se
não fosse possível de imediato, ele não se apertava, deixando que a
rês seguisse o rumo que quisesse, pois, afinal de contas “todos os
caminhos não conduzem a Roma ?”,dizia ele. E assim a seguia,
procurando calmamente, dar um jeito para que ela enveredasse no
próximo caminho rumo ao destino traçado, e dando essa volta a mais,
conseguia o seu intento, mesmo que para
uma distância em linha reta, de dez quilômetros, gastasse dois
ou três dias. Acredito
que os mombacenses com mais de trinta anos lembram
do João Agostinho, essa figura folclórica que estamos
focalizando nesta edição, pois quando não estava viajando, era visto
no centro da cidade, sempre chamando a atenção de alguma forma, ora
falando muito alto, ora dando pulos
por sobre um obstáculo “imaginário” que para ele, era de
dimensões gigantescas. Com um pequeno trinchete , que era seu
companheiro inseparável, fazia um risco no chão,
e desandava a pular esse obstáculo, sempre se gabando do feito,
usando a expressão rotineira: “ tá pensando o quê menino? O véio
aqui é brabo”. Noutras vezes, estava
dando carreira em menino que caçoava dele, desfazendo de seus feitos ou
chamando-o de maluco. Nas suas andanças, gostava de colocar no bornal,
todo objeto reluzente que encontrava pelos caminhos, os quais gostava de
mostrar, enaltecendo o achado como sendo jóias
ou objetos de grande valor. Na verdade eram mesmo, cacos de
vidros coloridos, ou alguma pedra colorida, bonita às vezes, mas sem
nenhum valor comercial. Certa
vez, um soldado de nome Santos,
recém chegado a Mombaça, viu João Agostinho fazendo aquela
“zueira” no centro da cidade e, partiu para tomar o trinchete do
velho João, que surpreendentemente, numa reação digna de um
“pegador de boi”, abufelou o
soldado Santos, tomando-lhe o revolver, e dando “seus pulos” para trás, repetia : “tá
pensando o quê menino ? O véio aqui é brabo”.
A turma do “deixa disso”
tratou de esclarecer a situação, fazendo com que a rixa
terminasse ali mesmo, e o soldado Santos não ficasse a perseguir
o velho João. Esse entretanto, incorporou o feito e
sempre que provocado, acrescentava à sua frase:
“... , eu tomei foi o revolve do nêgo Santos”. Por
algum tempo, João Agostinho foi o encarregado da “correição”
instituída pela Prefeitura, passando a perseguir todos os animais
soltos na rua, principalmente porcos, jumentos ou algumas vezes, até
mesmo, vacas, os quais eram
conduzidos para um local seguro, de onde só saiam se os respectivos
proprietários pagassem uma taxa à Prefeitura, assinando também um
termo de compromisso para que os seus animais não ficassem mais
perambulando pelas ruas da cidade. Certa vez, João Agostinho prendeu
uma porca com sete bacurinhos e, o menino que era dono dos mesmos,
arranjou um jeito de retirar seus animais, num descuido do velho João.
Aquilo deu motivos para lamentações e ameaças dele por vários dias.
E-mail: hpmombaca@zipmail.com.br WebMaster: David Elias N. Sá Cavalcante Editor/Redator: Elias Eldo Sá Cavalcante F O L H A D E M O M B A Ç A - Nº 11 - JULHO/2002 |