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    Fernão Lopes  
Presumível retrato de Fernão Lopes

HISTÓRICO
Agosto • 2000

LIGAÇÕES EXTERNAS
Projecto Vercial
Fernão Lopes

BIBLIOGRAFIA

Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, Lisboa, 1999

Lexicoteca, Vol. XII, Círculo de Leitores

 
   

Os dados biográficos relativos a Fernão Lopes são escassos. Presume-se que tenha nascido em Lisboa, entre 1380 e 1390, no seio de uma família da pequena burguesia urbana, provavelmente mesteirais. A data da sua morte é igualmente incerta, calculando-se que tenha ocorrido por volta de 1460.

Nada se sabe, com certeza, da sua formação escolar. Poderá ter feito os seus estudos numa das escolas que a Igreja mantinha para formação do clero; ou talvez tenha mesmo frequentado os Estudos Gerais (universidade), o que seria mais condizente com a importância dos cargos que desempenhou.

Um documento de 1418 revela que era "guardador das escrituras do Tombo", isto é, responsável pelos documentos oficiais da coroa portuguesa, e "escrivão dos livros" (secretário) de D. João I, tendo exercido as mesmas funções junto de D. Duarte.

A partir de 1422 exerceu também as funções de "escrivão da puridade" do infante D. Fernando. Foi ele que lavrou o testamento desse infante, em 1437, altura em que era já "tabelião-geral do reino". Na sequência do fracasso da expedição a Tânger, o infante D. Fernando foi aprisionado pelos mouros, juntamente com muitos outros portugueses, entre eles um filho de Fernão Lopes, mestre Martinho, médico do infante.

Foi em 1434 que o rei D. Duarte lhe confiou a tarefa de pôr em crónica os feitos dos antigos reis de Portugal, para o que lhe atribuiu uma tença anual. Assim, foi ele o primeiro cronista-mor do reino. No entanto, é possível que este documento constitua apenas uma confirmação de instruções anteriores, e que a redacção dessas crónicas tenha começado por volta de 1422. O certo é que, ao longo de vários anos, Fernão Lopes se incumbiu dessa tarefa, tendo redigido as crónicas dos três últimos reis, D. Pedro, D. Fernando e D. João I.

Presume-se que terá igualmente redigido as crónicas dos primeiros reis de Portugal, mas, se assim foi, esses textos desapareceram completamente.

Em 1454 foi dispensado das suas funções de "guardador das escrituras do Tombo", devido à idade avançada, sendo substituído por Gomes Eanes de Azurara. A partir de 1459 deixa de haver referências escritas a Fernão Lopes.

O facto de exercer cumulativamente as funções de "guardador das escrituras" facilitou a sua actividade de cronista, beneficiando do acesso exclusivo a informações oficiais.

O mérito de Fernão Lopes é inegável em dois níveis.

Do ponto de vista literário, deve ser considerado o primeiro grande prosador da língua portuguesa. Nas suas mãos a língua começa a ser capaz de "dizer" as coisas de forma expressiva, a ganhar maleabilidade e vivacidade.

Como "historiador", afasta-se da tradição cronística anterior. A crónica deixa de ser um mero relato elogioso dos feitos dos poderosos, para se transformar numa narração de acontecimentos, tanto quanto possível verdadeira. Pela primeira vez em Portugal há a preocupação de fundamentar o relato em documentos ou, em alternativa, de considerar as várias versões explicativas. Por outro lado, não se limita a seguir os passos das suas personagens; procura, sim, dar uma visão abrangente dos acontecimentos, tendo em conta os aspectos políticos, económicos e sociais.

BIBLIOGRAFIA:
  • Crónica de D. Pedro
  • Crónica de D. Fernando
  • Crónica de D. João I