Capítulo 3: O Interlúdio

            A primeira noite de viagem se passou lentamente para as Senshi e os Dragon Kishi. Poucos dos outros passageiros realmente conheciam Maury Sillery, mas todos finalmente entenderam exatamente o que os guerreiros eram e representavam.
            O maior choque de todos, sem dúvida alguma, foi dos Tsukino.
            Tsukino Kenji, o patriarca da família, acompanhou sua filha, Usagi, em todos os momentos de sua vida desde que ela nascera. Ela sempre foi naturalmente desastrada, mesmo que parecesse algo forçado para um observador casual. Preguiçosa e irresponsável, Kenji não confiaria em sua filha para deixá-la tomando conta da casa por uma semana.
            Ele ficou sabendo que ela estivera tomando conta do mundo inteiro por mais de dois anos.
            A sua reação, assim como a de Ikukko e Shingo, foi previsível: Eles passaram a evitar sua filha o máximo possível. Do seu ponto de vista, Tsukino Usagi não era apenas sua filha, mas uma heroína que salvou o mundo inúmeras vezes.
            Então, quando Ikukko e Kenji ouviram uma leve batida na porta do seu quarto, eles entenderam que a mais importante conversa que já tiveram com Usagi estava prestes a começar.
            - Entre. - Kenji respondeu, tentando manter sua voz relaxada.
            A porta se abriu, e Tsukino Usagi entrou no quarto.
            - Otousan. - a loira falou, se curvando levemente para seu pai, depois para sua mãe. - Okaasan.
            Os dois apenas fizeram que sim com as suas cabeças, incertos de como deviam agir perante a líder das Senshi, e a princesa da Lua.
            - Eu... eu acho que lhes devo uma explicação.
            - Por quê? - Kenji perguntou. - Por que você não nos contou, Usagi?
            - Não é tão simples, otousan... - Usagi suspirou. - Como eu poderia aos meus pais que eu poderia morrer a qualquer instante? Que eu podia não voltar para casa uma tarde qualquer?
            - Melhor que não contar, Usagi. - Ikukko falou.
            - É fácil dizer. - Usagi respondeu, virando-se para sua mãe. - E se vocês não aceitassem isso? E se vocês... - ela hesitou, mas continuou. - E se vocês não me quisessem mais?
            Kenji balançou sua cabeça:
            - É assustador, Usagi-chan. - ele admitiu. - Ficar sabendo que minha própria filha é a reencarnação de uma princesa lunar...
            - Selenita. - Usagi corrigiu-o. - Eu era uma selenita na minha vida passada.
            - ... foi a experiência mais assustadora da minha vida. - Kenji terminou, ignorando a interrupção. - Ficar sabendo que a menina que lutava contra monstros era a MINHA menina foi quase demais para mim.
            - E se você morresse, filha? - Ikukko perguntou. - O que nós faríamos?
            - Eu já morri, okaasan. - Usagi respondeu. - Duas vezes. Uma quando a princesa Serenity morreu, outra quando Beryl me matou.
            Kenji e Ikukko piscaram, surpresos.
            - Mas o Ginzuishou me trouxe de volta. - Usagi explicou. - Ambas as vezes.
            - Ginzuishou... - Kenji murmurou. - Ryu e os outros ficaram em Tóquio para recuperá-lo, não foi?
            - O Ginzuishou, segundo uma das lendas selenitas, é uma das quatro ferramentas que contruíram e destruirão o universo. - Usagi falou, de repente tomada pelas memórias de sua vida anterior. - O Ginzuishou criou luz de onde havia apenas escuridão. A Kuronoken modificou a luz, e transformou-a em vida. A Ginnoken acabará com toda a vida, e tornará-a apenas luz. E a Silence Glaive acabará com a luz. - Usagi sorriu fracamente. - Eu não me lembro da lenda inteira, mas minha mãe... minha OUTRA mãe, Serenity, me ensinou essa história desde que eu tinha um ano.
            Ikukko sentiu uma ponta de ciúme no seu coração, e perguntou:
            - Como ela era?
            - Serenity-mama? - Usagi perguntou, surpresa. - Ela parecia comigo. Ou eu com ela. Ela tinha cabelos prateados, e os olhos dela eram mais claros que os meus... - a loira sorriu. - Ela era gentil comigo. Sempre procurava passar seu tempo livre comigo. Eclypse-papa estava sempre treinando Sil-chan. Às vezes, eu passava o dia assistindo os dois treinarem...
            - Você não sente falta? - Kenji perguntou, entendendo como sua esposa estava se sentindo. - Da vida de princesa?
            - Iie. - Usagi respondeu, sem hesitar. - A vida com vocês me deixou liberar tudo aquilo que eu reprimi quando eu era Serenity. Minha irresponsabilidade, meus impulsos... - ela sorriu. - Eu tive sorte. Minha nova vida me deixou ser aquilo que eu não fui antes... Me completou. Alguns dos outros não tiveram tanta sorte... - ela suspirou, pensando em Ryu. Ele teve duas vidas quase idênticas... não era por acaso que ele e Silver eram tão parecidos. - A minha outra vida é passado. Eu preciso que VOCÊS entendam e aceitem o que eu sou... Eu posso ter sido Serenity um dia... Eu até posso me tornar Serenity novamente. Mas AGORA, eu sou Tsukino Usagi. E eu preciso que meus pais me aceitem... por mais difícil que seja.
            Kenji sorriu abertamente, assim como Ikukko:
            - Você pode ter passado por muito, filha, mas você não sabe tanto quanto pensa. - Kenji falou. - Nós NUNCA pensamos em abandonar você. Só precisávamos de algum tempo para nos acostumar com a idéia de ter uma lenda viva como filha. Nós somos os seus pais, lembra?
            Ikukko apenas fez que sim, sorrindo.
            Usagi soltou um choro, e se lançou nos seus pais, abraçando-os ao mesmo tempo. Kenji e Ikukko acariciaram os cabelos loiros de sua filha, sem falar nada.
            - Papa? Mama? - Usagi chamou, sem levantar o rosto. - Eu tenho outra coisa para contar.
            Os dois apenas fizeram que sim.
            - Lembram de Chibi-Usa?
            - A sua prima? - Ikukko perguntou.
            - Mais ou menos. - Usagi falou. - Na verdade, ela é... - ela parou por um momento. - Bom, ela veio do futuro... Uma das Senshi tinha poder sobre o tempo, mas ela morreu. Sabe, para salvar o resto do mundo e...
            - Usagi-chan? - interrompeu Ikukko. - Quem é Chibi-Usa?
            - Minha filha.
            O grito que seguiu pôde ser ouvido pelos passageiros em todo navio.

            ****

            Chris ergueu sua espada, forçando sua mente a não se concentrar na luta. Não era Chris quem estava lutando, mas sim, Sei, o príncipe de Saturno. As poucas vezes que ele tentava assumir o comando dos seus instintos e reflexos, o seu nível de habilidade caía. Então, Chris decidiu que ele tomaria o lugar de passageiro e deixaria seu corpo tomar as decisões necessárias.
            O problema com essa tática era que isso deixava sua mente livre para pensar nos acontecimentos recentes. A perda de poderes. A invasão dos youmas. A morte de Maury.
            Shit, Chris pensou para si mesmo. Era exatamente isso que eu queria evitar quando decidi arranjar algo para me distrair.
            Ranko mudou o seu padrão de ataques, percebendo que seu adversário não cometeria erro algum. Os golpes, antes ataques simples, se tornaram mais agressivos e desesperados. Um sorriso nasceu no rosto de Ranko quando Chris deixou sua guarda aberta entre duas defesas. Ela repetiu a sequência que levou à falha do Kishi de Saturno, e enfiou o pé no estômago de Chris no momento em que ele ficou desprotegido.
            Chris caiu no chão, xingando.
            - Boa luta. - Ranko comentou.
            - Igualmente. - Chris resmungou, depois se levantou, caminhando para a saída. A espada que ele estivera usando era uma das que Hino-ojiisan trouxe consigo na viagem. Ou melhor, na fuga.
            - Algo está te incomodando. - Ranko observou, apressando o passo para alcançá-lo.
            O Kishi de Saturno suspirou, e fingiu não ter ouvido o comentário.
            - Ignorar alguém que quer ajudar não vai melhorar sua situação. - a outra Kishi comentou.
            Chris quase respondeu à provocação, mas manteve-se calmo. Ele não estava com humor para discutir. Na verdade, ele não estava com humor para nada.
            Ranko cruzou os braços, e olhou para o teto:
            - Sabe, não é o fim do mundo.
            Chris parou.
            Ranko parou logo depois.
            - Não? - Chris indagou. - Se não é, é BEM próximo dele.
            A garota piscou:
            - Como assim?
            - Você não prestou muita atenção nos acontecimentos, prestou? - Chris provocou. - Pra começo de conversa, as Sailor Senshi e os Dragon Kishi perderam seus poderes. Em seguida, nós perdemos o Ginzuishou, e a Ginnoken e a Kuronoken estão trancadas na minha forma transformada e na de Ryu. Pluto, a Guardiã do Tempo morreu. Isso tudo quer dizer que o futuro perfeito que as Senshi viram não significa NADA. É apenas um sonho! MAURY MORREU! MEU MELHOR AMIGO MORREU! E você ACHA que não é o fim do mundo?
            O sorriso no rosto de Ranko não mudou durante toda a fala de Chris. Os cabelos azulados e bagunçados da garota ficaram ainda mais desorganizados quando ela balançou a sua cabeça:
            - Você esqueceu de apenas um detalhe.
            - Qual? - Chris rosnou.
            - Nós estamos vivos. - Ranko respondeu, perdendo seu sorriso. - Maury e Setsuna podem estar mortos... Talvez até os que ficaram no Japão estejam mortos. Mas NÓS estamos vivos. - ela indicou o navio como um todo. - E a esperança vive junto conosco. Enquanto nós não morrermos, nós ainda estamos no jogo... E se nós perdermos, alguém virá depois de nós, e fará o que nós não conseguimos fazer.
            - E daí? - Chris perguntou, suspirando. Sua raiva estava rapidamente se tornando a familiar depressão. - Nós vamos estar mortos.
            Ranko olhou para o canadense por longos instantes, depois tristemente balançou sua cabeça:
            - Sonhadores podem morrer, mas o sonho é eterno.
            E ela virou as costas e saiu da sala que Chris e ela usaram para treinar, fechando a porta ao sair.
            Chris ficou olhando para a porta, sem realmente vê-la. Então, ele balançou a cabeça, e caminhou até um dos cantos da sala, onde se sentou:
            - Mas e se não houver ninguém para apreciar o sonho?

            ****

            - A barreira está logo ali. - Haruka apontou.
            E, sem dúvida, ela estava. A barreira parecia uma enorme parede de vidro, mudando de cor a cada instante. A ordem das cores não parecia seguir padrão algum, e isso em si já era o suficiente para impressionar o gato branco que sentava ao lado de Haruka:
            - É a primeira vez que eu vejo algo completamente caótico. - Artemis comentou.
            - Uma vista horrível, não acha? - Luna perguntou, franzindo sua testa. A barreira passava uma impressão de desorganização, fluindo de uma cor a outra sem ordem ou padrão algum.
            - Na verdade... - Artemis sorriu. - Na verdade, eu acho a vista linda. Eu poderia ficar aqui horas observando as cores sem me cansar.
            - Caos. - Haruka falou, depois balançou a cabeça. - Eu não gosto de caos. Algo incontrolável é perigoso. - ela parou por um instante, depois continuou. - MUITO perigoso.
            Artemis balançou a cabeça:
            - Mas é esse caos que vai impedir que Dark Angel quebre essa barreira. Se ele não pode estudá-la, não pode descobrir um ponto fraco. - um sorriso apareceu no rosto do gato. - Exatamente como o tempo.
            - Entendido, não? - Luna perguntou, levemente ofendida por Artemis ter discordado dela.
            O gato branco balançou a cabeça:
            - Sim. Não. - ele sorriu. - É difícil dizer, ne? Não sabemos se nosso conhecimento continuará válido por muito tempo... Não sabemos se nosso conhecimento É válido.
            - Você está filósofico hoje, Artemis. - Haruka comentou, cruzando seus braços sobre a mesa e apoiando seu queixo neles.
            - Sempre fico assim quando estou preocupado. - ele justificou. - Minako e Ryu estão numa terra coberta de youmas, sem meios para escapar.
            Haruka mexeu os ombros:
            - Eles vão conseguir. Eles sempre conseguem... - ela suspirou. - Se fosse eu, por outro lado, você teria motivos para estar preocupado.
            Luna suspirou:
            - Os fins NÃO justificam os meios.
            - Aí que vocês se enganam. - Artemis falou. - As regras mudaram, e nós não sabemos qual é o melhor estilo no novo jogo.
            Luna apenas olhou para Artemis, sem saber o que falar.            
            ****

            Os olhos vermelhos dele se abriram, e o jovem Dragon Kishi examinou seus arredores. Ele não parecia estar em uma prisão youma, como ele esperava. Na verdade, ele parecia estar em uma floresta.
            Era noite; isso era fácil de perceber. As copas das árvores podiam atrapalhar sua visão do céu, mas as poucas partes que ele podia ver eram negras e estreladas. Brevemente, ele se perguntou se algum dia conheceria alguma Senshi de fora do Reino. Eclypse-sensei falou que existiam, e...
            O Dragon Kishi cortou seus pensamentos, franzindo a testa. A testa dele, porém, não franziu. Então, Ryu entendeu. Ele estava tendo mais uma visão do passado. Fazia tempo que ele não tinha uma. Desde logo depois que ele derrotou Eclypse.
            O corpo de Silver estava se movendo sozinho, e Ryu rapidamente percebeu que era a mente de sua versão passada que estava controlando-o. Estranho, pensou Ryu. Quando eu tinha esses sonhos antes, os meus movimentos e pensamentos coincidiam com os de Silver.
            Silver virou sua cabeça para a esquerda, sentindo algo. Ryu sentira um pouco antes de seu companheiro de corpo, mas sabia que isso era apenas resultado de maior experiência.
            A katana de Silver foi sacada, e Ryu sentiu o corpo correr pela floresta escura, desviando das árvores com uma eficiência inumana. Silver parecia não ter identificado as presenças, mas Ryu conhecia-as bem.
            O Dragon Kishi passou por um pequeno lago, e Ryu pôde ver seu reflexo nas água cristalinas, eliminando suas dúvidas. O corpo parecia ter treze ou quatorze anos, e o cabelo era curto, cortado num estilo prático. O rosto não tinha a cicatriz que Ryu ganhara durante os combates contra o Conselho, nem a crescente que Serenity colocou em sua testa.
            Pouco depois, o Dragon Kishi parou de correr, observando a escuridão com cuidado.
            Caminhando por uma trilha, duas figuras se destacavam na escuridão. Silver, Ryu notou, reconheceu apenas uma das duas figuras: a princesa Serenity. Ele, por outro lado, sabia que a segunda garota era Sailor Venus.
            Silver seguiu-as, caminhando silenciosamente. As duas garotas não pareciam estar fugindo de alguém, e ambas versões do Dragon Kishi da Lua sabiam que uma Senshi, mesmo uma em treinamento, poderia derrotar qualquer perseguidor casual.
            Típico de Minako, Ryu pensou, tentando suspirar. O corpo, é claro, não obedeceu.
            Informações da mente de Silver surgiram na mente de Ryu, e ele entendeu onde estava. A família real da Lua estava visitando os monarcas terrenos, e as Senshi de Vênus, tanto a aprendiz quanto a portadora do título, vieram para servir de guarda-costas para a Rainha e a Princesa.
            Aparentemente, Sailor Venus e Nity-chan decidiram que era hora de fazer uma visita à cidade.
            O castelo da família Real da Terra, diferente da maioria dos castelos, era cercado por uma floresta. Inúmeros encantamentos poderiam ser encontrados na mata, a maioria deles de proteção. A cidade, então, teve que se desenvolver fora dos limites da floresta, mas ainda próximos o suficiente do castelo para que uma pessoa pudesse alcançá-lo em uma hora.
            Silver era uma pessoa simples, e preferiu acampar na Floresta Real a ficar em um dos muitos quartos que abrigava a família Real Lunar e seus acompanhantes. Era mais fácil evitar que as pessoas descobrissem sua natureza híbrida dessa forma.
            Ryu mentalmente ergueu um muro entre os pensamentos de Silver e os seus. As lembranças da sua versão passada quase inundaram-no naquele momento.
            As luzes da cidade já eram visíveis, e a intenção das duas era clara. Considerando que nenhuma delas carregava marca alguma de sua ligação com o povo da Lua, elas queriam se misturar à multidão, e se divertir. Nity-chan até tinha ocultado a crescente em sua testa sob uma tiara prateada.
            Silver não era exatamente a melhor voz da razão existente, mas ele sabia que as duas se meteriam em problemas. E ele até podia imaginar o que Eclypse-
sensei iria dizer para ele quando descobrisse que Silver não fez nada para impedir.
            Novamente Ryu separou seus pensamentos dos de Silver, notando que estava se tornando mais difícil.
            - Serenity-chan, é uma boa idéia? Eu não creio que realeza como nós devia...
            - Confie em mim, Shine. - a Princesa da Lua assegurou. - Isso é perfeitamente seguro.
            Claro, a parte de Ryu que era Silver pensou sarcasticamente. E eu sou o próximo Rei de Mercúrio.
            Mesmo assim, Silver não as abordou. Ele simplesmente observou, mentalmente chutando a si mesmo por não fazer nada.
            A caminhada logo levou as duas princesas até a cidade que se encontrava depois da floresta, e Ryu notou que as pessoas estavam vestindo roupas de festa, dançando em pares enquanto um grupo de músicos tocava no fundo.
            Uma festa, o aprendiz de Dragon Kishi pensou, maravilhado. Ele nunca estivera em festas antes. Eclypse-sensei já tentara convencê-lo a ir às celebrações das cidades próximas à capital da Lua, mas o kalyriano sempre tinha uma desculpa.
            Ryu mentalmente suspirou, novamente puxando seus pensamentos para longe dos de Silver. Sua vida durante o Milênio de Prata foi tão ruim quanto a sua atual.
            Silver saltou da árvore onde se ocultava, procurando um lugar mais próximo para observar a festa. Serenity e Shine já tinham desaparecido na multidão, Ryu percebeu, mesmo que sua versão passada não tivesse notado.
            Então, uma das garotas olhou exatamente na direção dele.
            Ela era bonita, Ryu notou, observando-a. Os olhos dela eram cor de vinho, e o seu cabelo, castanho claro, era longo, mas preso apenas um pouco abaixo dos ombros. Ela parecia ter a mesma idade que Silver, e estava usando um vestido modesto, azul e branco, e sapatos sem salto, obviamente de algum material inferior. Silver, por sua vez, parecia ter sumido do corpo. Era uma reação que Ryu conhecia bem.
            A garota, que antes estivera dançando com um garoto um pouco mais velho que ela, falou algo para ele, e rumou em direção ao aprendiz de Dragon Kishi. Silver ergueu os seus olhos dela, procurando notar se alguém estava observando-
a, mas logo percebeu que nem mesmo o ex-parceiro dela prestava atenção.
            - Olá. - ela falou, com um sotaque carregado, característico da Terra.
            Silver ergueu-se de trás dos arbustos onde estivera se ocultando, e piscou:
            - Como me notou? - ele perguntou, sua voz baixa e as palavras, emendadas. Ryu, que não podia fazer coisa alguma senão observar, mentalmente estapeou seu próprio rosto. Delicado como um trator.
            A garota, porém, pareceu não perceber. Ela mexeu os ombros, e Ryu finalmente notou que havia algo de diferente na menina.
            - Você é meia kalyriana. - Silver falou, exatamente no mesmo momento que Ryu pensou essa frase.
            Ela fez que sim:
            - Você também. - ela riu. - Seus olhos deixam mais difícil de ocultar, não?
            Silver fez que sim, ficando tão vermelho quanto os olhos mencionados. A garota fez uma cortesia desajeitada:
            - Eu sou Aruma N'Doch.
            Silver curvou-se levemente, apoiando sua mão direita no cabo de sua katana:
            - Meu nome é Silver Litgerbrin.
            Aruma indicou as roupas de Silver:
            - Você não parece vestido para a festa.
            O aprendiz olhou para si mesmo, e Ryu pôde ver pela primeira vez o que estava vestindo. Uma camisa negra que deveria ser amarrada perto do pescoço para manter-se fechada, que Silver não amarrou, calças azuis e botas cinzas que eram flexíveis o suficiente para não atrapalhar seus movimentos. A sua katana de treinamento, com o cabo e a bainha negros, e detalhes em prata, estava pendurada na sua cintura por um cinto do mesmo material e cor que as botas. Ele também tinha uma atadura enrolada no seu punho esquerdo, cobrindo um ferimento que ele sofrera num dos treinamentos com Eclypse-sensei.
            A híbrida pareceu notar a katana somente quando Silver passou os olhos por ela, e piscou:
            - Uma espada! - ela falou, se curvando para examinar os detalhes em prata. - E muito bem feita... - ela olhou para Silver. - É sua?
            - Hai. - o aprendiz respondeu. - Eu estou treinando... - ele hesitou.
            - Treinando...? - Aruma perguntou. - Você é um dos futuros guarda-costas do Príncipe, ou algo assim?
            - Não, não... - Silver balançou a cabeça. - Eu estou treinando sob o Rei Eclypse da Lua para me tornar o próximo Moon Dragon. - havia um forte orgulho na voz do garoto quando ele falou isso.
            Os olhos de Aruma se arregalaram:
            - Um Dragon Kishi...? - ela piscou. - Então, você veio com a família Real da Lua?
            - Hai.
            - Por que você está na Floresta, então? - ela perguntou, agora com um pouco de acidez em sua voz. - Nobres não deviam...
            - Nobre! - Silver exclamou, rindo amargamente. - Eu não sou nobre, Aruma-
san. Posso estar treinando para ser um guerreiro, mas isso não quer dizer que eu tenha que ser um nobre. - ele suspirou. - Eclypse-sensei me recolheu para me treinar pouco depois que minha mãe morreu... - ele parou por um momento. - Quase uma semana, na verdade. Eu fiquei sentado em casa, olhando para as estrelas e me lembrando de uma história que minha mãe me contava quando eu ia dormir. Nós morávamos numa casa pequena, mas... - ele balançou a cabeça. - Não importa. Eu nunca fui tratado como um príncipe, e nunca serei.
            - Então, - Aruma falou, a acidez sendo substituída por uma certa dose de ternura. - você não se importaria em ser meu acompanhante pelo resto da noite, se importaria?
            - Mas...
            - Um amigo estava comigo até pouco, mas ele estava olhando para Koru o tempo todo, e eu disse... - ela parou subitamente, ficou um pouco vermelha, e olhou para o chão. - Desculpe, eu não sou uma companhia atraente, sou?
            Silver deixou um sorriso sincero aparecer nos seus lábios:
            - Eu também não sou, então tudo bem.
            Aruma sorriu abertamente.

            ****

            Novamente, os olhos vermelhos de Ryu se abriram.
            Os arredores, dessa vez, eram mais parecidos com o que ele esperou no seu primeiro "despertar". Mexendo sua cabeça para olhar ao seu redor, ele percebeu que realmente estava acordado. Confirmando isso, ele examinou sua situação.
            Seus dois braços estavam presos por correntes à parede, que era feita de pedra. Ou melhor, a sala inteira parecia ter sido esculpida numa rocha enorme. Havia apenas uma porta, essa feita de cristal negro, o mesmo que formava a barreira que Ryu encontrara ao redor do portal. Seus pés, ele percebeu, também estavam acorrentados, presos ao chão. O chão era do mesmo material que as paredes, e um rápido olhar para o teto confirmou que ele também era feito de pedra.
            Sua katana não estava presa às suas costas, mas ele conseguia vê-la envolta em um cristal azulado, próximo à porta. A espada de Ship e a bengala de Mamoru também estavam lá. A luz também parecia vir desse cristal, e provavelmente serviria para impedir que eles tirassem as armas do cristal.
            Preso à mesma parede que Ryu, estava Ken. A porta de cristal estava diretamente na frente do par, e à esquerda estava Shippu. Na parede da direita, estava Tuxedo Kamen. Todos estavam presos por correntes, exatamente como Ryu.
            Mamoru, porém, tinha algo que lembrava uma aranha de cristal esverdeado presa ao seu tórax, exceto que ela não tinha olhos, boca ou outra feição que pudesse diferenciar um lado do outro.
            Ela também não estava viva, como a Ligação de Ryu logo percebeu.
            Tuxedo Kamen gemeu, balançou a cabeça, mas não pareceu acordar. Ele repetia o processo de tempo em tempo, como se estivesse lutando contra o sono.
            - Estão drenando a energia dele. - Ken informou Ryu, também olhando para a construção cristalina.
            - Não percebi que estava acordado. - Ryu falou, virando a cabeça para o seu amigo.
            Ken mexeu os ombros:
            - Eu acordei alguns minutos antes de você.
            - Ship?
            - Está respirando, mas não parece que vai despertar num futuro próximo.
            Ryu fez que sim, tentando pensar num jeito de escapar. Não era fácil. Ken parecia estar fazendo o mesmo, mantendo-se em silêncio. Quase meia hora se passou, mesmo que nenhum dos dois soubesse disso.
            A porta da cela, então, se abriu. Na verdade, ela pareceu derreter para os lados, depois fechar-se num processo reverso logo depois que um youma entrou.
            Ele não parecia um youma, exceto pelas poucas escamas verdes que ele tinha abaixo dos seus olhos dourados, e o rabo que escapava por baixo do avental que ele vestia. Os cabelos dele eram brancos, e ele tinha um postura curvada, quase corcunda.
            - Deixa eu adivinhar. - Ryu falou. - Você é o torturador que vai nos forçar a revelar todos os nossos planos.
            - Não exatamente. - a criatura respondeu. - Eu sou Kokyu. - ele sorriu. - E eu sou um cientista.
            - Um cientista. - Ken repetiu secamente. - Youma.
            - Realmente, - Kokyu falou. - nós éramos raros antes da ascensão de Dark Angel-sama. Ele, porém, também é um cientista, e encorajou o desenvolvimento da ciência youma. - havia um profundo respeito no tom de voz do cientista, e era claramente direcionado a Dark Angel.
            - Ótimo. - Ryu falou. - O que um cientista youma quer com a gente?
            - Nada em particular, Moon Dragon. - o youma respondeu. - Quero ver como meus próximos temas de experimento são. É difícil examinar anatomia humana esses dias, sabe? Híbridos, então, são raríssimos.
            - Nós somos os seus próximos experimentos, então. - Ken falou.
            - Mais ou menos. - Kokyu disse. - Dark Angel-sama quer visitá-los pessoalmente antes de terminar suas vidas, querendo dizer que vocês viverão até a sua visita... Em um mês, no máximo. Mas não se preocupem, eu não ficarei entediado... Meu material atual é interessantíssimo.
            - Um humano? - questionou Ken, secamente.
            - Mais ou menos. - o cientista falou. - Os humanos que ficaram no Japão estão sendo caçados, sabe. As tropas não se incomodam em trazer corpos para mim. Não, o corpo em que estou trabalhando pertence a uma garota que estava se tornando selenita.
            Ken e Ryu sentiram algo frio em seus estômagos, como se quilos de gelo tivessem sido despejados lá.
            - Acredito que conheçam-na. - Kokyu falou. - A Mercury Dragon.
            Os olhos de Ken apenas se fecharam, enquanto ele lutava para controlar as suas emoções. Lágrimas pareciam brotar seus olhos, mas o Dragon Kishi da Terra não daria ao youma na sua frente o prazer de vê-lo chorar.
            Ryu, por outro lado, não tentou controlar suas emoções.
            As correntes que prendiam-no se esticaram quando ele tentou saltar para cima do youma, mostrando seus dentes enquanto rosnava incoerentemente, seus olhos vermelhos praticamente pedindo por sangue. Kokyu recuou um passo, por puro instinto, e seu rosto ficou assustado por alguns instantes, até notar que Ryu não conseguiria arrebentar as correntes que prendiam-no mesmo no melhor dos seus dias.
            Inconscientemente, o youma levou um lenço até sua testa, depois sorriu amargamente:
            - Não fui eu quem matou ela, se é isso que desejam saber. Aparentemente, ela foi morta durante sua captura.
            Ryu ignorou-o, ainda tentando se livrar das correntes usando apenas sua força. Ken, por sua vez, apenas encarou o cientista, mantendo-se em silêncio.
            Kokyu observou as diferentes reações, e suspirou. Ele virou as costas e caminhou até a porta, que se abriu para ele.
            - Cientista?
            O youma parou, e virou para Ryu, que agora encarava-o:
            - Reze para que eu nunca escape daqui. - Ryu rosnou. - Porque se eu sair, você, Dark Angel e todo seu maldito império vão ser destruídos.
            Havia algo na voz de Ryu que tornava a fala algo maior que uma ameaça. Uma convicção tão profunda que, por um momento, Kokyu acreditou no Dragon Kishi. Querer é poder, a mente brilhante do youma lembrou-o, e o garoto quer.
            Com esse pensamento perturbador, Kokyu deixou a cela.

            ****

            Dark Angel suspirou, olhando o relatório que a atual comandante da invasão do Universo 01 enviou-lhe. A decisão de numerar os universos descobertos foi súbita, mas ele sabia que era sensato. O seu próprio universo, sendo o ponto de partida, era o Universo Matriz. Dark Angel suspirou. Na mais pura verdade, a nomenclatura só foi criada para que Apocalipse acreditasse mais ainda que mais universos seriam conquistados.
            É claro, seria empregada se o plano de Dark Angel falhasse. Uma situação, aliás, que não estava mais tão distante quanto ele acreditara no início. Os Dragon Kishi e as Sailor Senshi não recuperaram seus poderes no momento da invasão, e foram facilmente derrotados.
            Agora, três deles estavam mortos.
            Sua mão inconsciente se fechou ao redor da folha de papel que segurava, transformando-a numa pequena bola. Mercury Dragon, Uranus Dragon e Sailor Pluto já estavam mortos, e os outros "heróis" não tinham uma sequer vitória contra o Império.
            Suspirando, Dark Angel balançou sua cabeça.
            Ele tinha que continuar acreditando. Talvez ele devesse sutilmente ajudá-
los a escapar da prisão... A testa de Dark Angel se franziu, e seus olhos se estreitaram. Não, ele não faria isso. Se os Dragon Kishi não conseguissem escapar de uma prisão, eles não seriam ferramentas adequadas no futuro.
            Dark Angel apenas observaria, torcendo para que os eventos se desenrolassem como ele previu. Mas ele não interferiria.
            Quando essa decisão foi tomada, mais um pequeno pedaço dele que era Lucifer foi destruído.

            ****

            Kokyu suspirou tristemente, observando a cela das três garotas capturadas através de uma janela de cristal transparente. 'Cela' talvez fosse uma palavra inadequada para o local, na verdade.
            Era uma câmara de tortura.
            Pessoalmente, Kokyu abominava métodos violentos de interrogação, mas não havia muito que ele podia fazer. Ele podia ser o supervisor na área de ciência, mas não na de segurança. Até os prisioneiros se tornarem cadáveres, e, consequentemente, material de pesquisa, ele não tinha autoridade alguma sobre eles.
            Torturar as mulheres antes dos homens foi idéia de Stalker, Kokyu sabia. Silver e Whisper tinham uma reputação forte no Universo Matriz, e sem dúvida que suas contra-partes desse universo poderiam suportar tanto quanto, senão mais, que eles. Jupiter Dragon estava inconsciente, e não era um participante ativo da cadeia de comando. Ele dificilmente poderia informá-los de um jeito de quebrar a barreira erguida pela Pluto desse universo. Príncipe Endymion, no momento, teria dificuldades para diferenciar um sapato de um lobo, graças à constante absorção de energia à qual estava sendo submetido, junto com as diversas toxinas que era injetadas para impedir que ele lançasse todo seu poder de uma só vez.
            As duas Dragon Kishi e Sailor Venus eram o alvo perfeito, por outro lado. Sailor Venus, Kokyu sabia, seria a última a ser torturada, uma vez que suas duas companheiras serviriam como um ataque psicológico à líder das Inner Sailor Senshi.
            Dark Angel, é claro, não seria informado dos métodos, apenas dos resultados. Stalker sabia que Dark Angel não era exatamente favorável aos métodos que estavam sendo empregados.
            Kokyu estremeceu ao ver um dos torturadores puxar um dos agora expostos nervos de Venus Dragon com suas garras, até arrebentá-lo. A loira gritou, já tendo passado a fase de sofrimento silencioso horas antes.
            A estimativa de vida de Venus Dragon era de dez dias. Os dois torturadores tinham sido informados para não danificar muito os tecidos cerebrais e os principais órgãos, uma vez que Kokyu queria estudá-los. As ligações nervosas teriam que ser de outro dos prisioneiros, os dois youmas encarregados do interrogatório informaram-no, uma vez que era um método efetivo de causar dor.
            O cientista suspirou, balançando sua cabeça. Os guerreiros não mereciam aquilo.
            Então, ele viu algo aparecer brevemente na mão direita de Sailor Venus, que balançou a cabeça em seguida e fez o objeto desaparecer.
            O youma, porém, poderia reconhecer um DAQUELES objetos em qualquer lugar.
            Uma Wand.
            Ele brevemente considerou alertar os outros, mas decidiu manter-se em silêncio. Os corpos dos Dragon Kishi não seriam tão importantes assim, e os heróis iriam sofrer mais se tivessem que viver sabendo que perderam.
            Ao menos, essas foram as razões que o youma deixou-se admitir.

            ****

            Minako apenas observava uma de suas amigas ser torturada. Na verdade, ela estivera fazendo isso por três horas. Ou mais. Noção de tempo não era algo fácil de se manter numa cela completamente isolada do resto do mundo. Não completamente, ela lembrou a si mesma, observando a situação de Kyoko.
            As coisas definitivamente não estavam indo de acordo com o plano, e pareciam piorar a cada instante que passava. Não pela primeira vez, e certamente não pela última, a Senshi testou a resistência das correntes que prendiam-na à parede, confirmando que eram fortes demais para que ela quebrasse-as, mesmo como Sailor V. Talvez Sailor Jupiter ou Sailor Uranus pudessem conseguir, mas não ela.
            Os gritos de Kyoko se intensificaram, e Minako viu Akai fechar seus olhos, tentando ignorar o sofrimento da outra Dragon Kishi. A Senshi respirou fundo, e tentou fazer o mesmo.
            Seus olhos estavam fechados, mas os gritos ainda podiam ser ouvidos, cada um deles tornando Minako menos sensível ao seu efeito. Gostando ou não, a Senshi estava se acostumando com a tortura de sua amiga. Ela não sabia se isso era bom ou ruim, mas também não queria pensar nisso naquele momento.
            Os gritos foram diminuindo enquanto Minako focava toda sua atenção em si mesma, entendendo pela primeira vez o estado meditativo que ela vira Rei entrar tantas vezes. As sensações que seu corpo transmitia para ela se tornaram sussurros, toques tão leves que ela mal podia sentir, cheiros que apenas tocava o ar.
            Ela não estava em lugar algum tanto quanto estava em todo lugar. Ou talvez simplesmente não houvesse mais que um lugar. Minako instintivamente soube que ela estava olhando para si mesma, de alguma forma. Como se estivesse encarando um espelho.
            O poder de Vênus também estava lá, um brilho dourado envolvendo outro da mesma cor. Se ela estivesse observando isso apenas com seus olhos, ela não poderia diferenciar um do outro... Olhando como ela estava olhando, porém, eles eram diferentes. O brilho interno era familiar, tão familiar quanto a sua própria mão. O outro, porém, era menos familiar. Menos natural... Mesmo assim, era como algo que ela sempre manteve perto de si.
            Minako não precisava da inteligência de Ami para entender que um deles representava o seu poder natural, enquanto o outro era os encantamentos que foram lançados sobre ela na sua vida anterior, que deixavam-na com o nível de poder de uma Senshi.
            Ela era uma Aceita, sua mente informou-a, uma Aceita que teve seus poderes aumentados pelo Ginzuishou.
            A loira tentou alcançar a energia, mas algo impedia-a disso. Era como se houvesse algo ao redor das luzes, uma camada de escuridão que não deixava-a tocá-los.
            Aquela, Minako percebeu, era o limite entre a Senshi e a garota. Ela sempre se perguntara qual era a diferença. A resposta era simples, agora. A grande diferença era que sem os poderes, ela era apenas Minako. Com os poderes, ela era isso e algo mais. Ela era COMPLETA.
            Rei-chan deve se sentir horrível, ela pensou. A sacerdotisa sempre podia ver os poderes, sem tocá-los. Isso explica a depressão que ela entrou depois de perder os poderes, Minako decidiu. Ela SABIA o quão perto estava de ser completa, mas não podia chegar lá.
            Então, Minako notou que ela não podia ouvir os gritos de Kyoko, nem mesmo como sussurros. Desesperada, ela lutou para sair do seu próprio corpo, voltando para seus limites. Pouco a pouco, ela voltou a ouvir Kyoko, que agora estava simplesmente chorando. Ela abriu seus olhos, e quase foi cegada simplesmente pelas imagens que via. Por alguns instantes, ela esteve acima dos seus sentidos, acima de imagens, sons, cheiros e sensações. Ou talvez abaixo.
            - Kuso. - ela sussurrou para si mesma, medo tomando conta dela ao perceber que ela quase se perdeu em si mesma. - Vou falar com Rei depois que isso acabar.
            Enquanto Minako imaginava tempos melhores, Akai simplesmente olhava para o chão e Kyoko soluçava, tanto de ódio quanto de dor.

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