SINTOMA NA (HOMEOPATIA) VETERINÁRIA

[Artigo publicado no Info APH, n. 72, 1998.]

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Elias Carlos Zoby
Homeopata Veterinário
R. Campos Melo, 106. Santos - SP 11015-010
Tel.: [13] 3222-3871

“Para ser capaz de observar bem, o médico praticante precisa possuir... a capacidade e hábito de anotar cuidadosa e corretamente os fenômenos que ocorrem nas doenças naturais, bem como aqueles que ocorrem nos estados mórbidos artificialmente excitados por medicamentos, quando eles são testados sobre o corpo humano saudável, e a habilidade para descrevê-los nas mais apropriadas e naturais expressões.” (06)
A correta observação do sintoma homeopático, para o praticante que já possui intimidade com a filosofia, matéria médica [MM] e repertório, é tudo o que falta para a escolha do medicamento adequado [Simplex, Simile, Minimum]. Quantas vezes o homeopata não se vê tentado, frente àqueles casos dificílimos, a gritar “Meu reino por um sintoma!”? De posse do sintoma característico do paciente, o homeopata experimentado tem quase tudo de que necessita.
O veterinário precisa saber observar sem preconceitos, sem ‘saber’ de antemão que certos sintomas não se observa em animais [‘Como vou saber que o animal tem uma ilusão? Não preciso estudar isso, há sintomas no repertório que a gente não usa.’ E eu já vi 2 cães com a ilusão de estarem sendo espancados.]. Obviamente a expressão do sintoma não será igual, como não o é nas diferentes espécies animais.
Precisa conhecer os sintomas patogenéticos, como foram descritos pelos experimentadores e não ficar parado com as MM, ditas, clínicas, as quais na maioria das vezes não passam de compilação da compilação da compilação... das MM de Hahnemann, Allen e Hering.
- “Ah, mas não existe uma MM de pattogenesias animais. Pra quê vou ficar estudando sintomas humanos se meus pacientes não falam?”
Juan Gomez (05) já discutiu exaustivamente a superioridade da espécie humana em relação às outras para a realização de experimentações, caso contrário teríamos de ter uma MM pura para cada espécie, seria uma loucura e o paraíso dos incultos e preguiçosos. Estes teriam a desculpa perfeita para não estudar, pois não seria humanamente possível obter e reter tamanha quantidade de informações. Por isso, usemos as patogenesias humanas e nossa capacidade de raciocínio analógico.
Necessário se faz pensar sempre “O que este animal está expressando com esse comportamento?“ Ou, melhor, “O que ele está querendo dizer com isso?” Nossos irmãos inferiores na escala biológica têm os mesmos sintomas que nós apresentamos, ressalvadas as diferenças anatômicas e fisiológicas, apenas aqueles sintomas mais sutis é que eles têm somente em forma embrionária. Esta é a grande chave para o desenvolvimento da Homeopatia na veterinária, perceber no animal as ‘formas embrionárias’ nas quais se encontram os sintomas desenvolvidos nos experimentadores humanos.
HAHNEMANN também diz ser preciso cultura, para bem observar. “Para educar-nos para a aquisição dessa faculdade, um conhecimento com os melhores escritos gregos e romanos é útil... um conhecimento de matemática também dá-nos a necessária severidade em formar um julgamento.” (06) Mas ele refere-se a uma cultura real, aquela que nos aporta sabedoria para todas as eras. E não aquela falsa cultura, referente apenas ao seu tempo e espaço, que apenas alimenta o orgulho e enganosa sensação de superioridade.
Mas o que é o sintoma homeopático e como encontrá-lo? É a expressão do desequilíbrio da energia vital, demonstrada pelo paciente, ou relatada por outra pessoa. Esta definição engloba o que na antiga escola se chama sinal e sintoma. Para o homeopata essa diferenciação não importa. O que importa é saber se o sintoma expressa o desequilíbrio ‘daquela’ energia vital através de suas modificações pelas diversas circunstâncias às quais o doente é submetido.
Para fins práticos, é importante diferenciar o sintoma da modalidade. Exemplificando, se o indivíduo é impaciente e isso piora pela manhã, o sintoma é ‘impaciência’ e a modalidade é ‘piora pela manhã’. Na consideração final do caso isso cobrará imensa importância, pois as modalidades são o que de mais valoroso há para análise sintomática do caso. Por mais sintomas que correspondam entre o paciente e determinado medicamento, se as modalidades não corresponderem, ele está contraindicado.
As modalidades podem ser sumariadas nas 7 questões de Bönninghausen: Quis? Quid? Ubi? Quibus auxiliis? Cur? Quomodo? Quando? [Quem? O que? Onde? O que acompanha? Porque? O que modifica? Horário?] (02) Nenhuma delas pode ser negligenciada, embora o “porque” poucas vezes o veterinário consiga obter. O estudo de cada uma das questões foge ao escopo deste artigo e o original deve ser a referência.
Foi com base na importância das modalidades que Bönninghausen construíu o seu Therapeutisches Taschenbuch (01). Nesse livro, o primeiro repertório a ser usado em larga escala, ele separou capítulos no seguinte esquema: localização, sensação, modalidades, e capítulos especiais para sono/sonhos, febre/calafrio/suor/circulação e relacionamento dos medicamentos. Todos os sintomas que possuam determinada modalidade estão agrupados na mesma rubrica, assim, em “manhã agrava” encontram-se medicamentos que têm dor de cabeça, dor de dentes, medo, ansiedade etc. pior pela manhã; todos os sintomas ocorridos na testa estão na rubrica “testa”; todas as sensações de queimação ocorridas nas várias partes do corpo estão na rubrica “queimação”. Portanto se o sintoma é dor queimante na testa que ocorre pela manhã, tomam-se as rubricas “testa”, “queimação” e “manhã”. É uma concepção totalmente diferente dos repertórios kentianos que usamos atualmente, nos quais as modalidades estão sob cada sintoma. Ambas as construções têm seus usos, apenas o Taschenbuch foi praticamente abandonado neste século e portanto não sofreu o constante aperfeiçoamento que o de Kent vem tendo, principalmente nos últimos anos.
“Os registros não dizem, mas não parece simples coincidência o fato do repertório de Kent ter surgido justamente quando o hábito de fazer experimentações estava diminuindo. O de Kent é muito mais preciso, mais detalhado, não é melhor simplesmente porque tem mais rubricas e remédios, ou porque os sintomas mentais estão bem feitos e este é um dos poucos pontos ruins do de Bönninghausen. É melhor porque foi feito para que nós dependêssemos menos da matéria médica. Com o de Boeninghausen o homeopata tem que estudar matéria médica até encontrar um medicamento cujos sintomas se assemelhem aos do paciente em questão, caso contrário as chances de acerto são mínimas. Quando o “Velho Barão” lia uma rubrica ele lembrava de qual sintoma tinha levado cada medicamento até ali, e se não lembrasse ele ia às patogenesias.” (08)
Independentemente do repertório que se use, é indispensável a comparação com os sintomas patogenéticos para a escolha final do medicamento a ser prescrito. Este ponto é tão importante que não se consegue dar-lhe suficiente ênfase. BOGER afirmou “Muito da grandeza de Hahnemann apoiava-se em sua faculdade de expressar cada sintoma e processo em sua linguagem natural.” (03) Com isso, no contexto em que inseriu a frase, ele quis referir-se à capacidade de
comparar cada sintoma do paciente com aqueles das experimentações. O mesmo autor também recomendava que se poderia reunir os sints. individualísticos num grupo e da doença em outro, achar o remédio que cobrisse ambos, dando maior ênfase ao 1º. As rubricas muito grandes serão provavelmente mais úteis para ocasional confirmação, do que para escolha do remédio (04).
Finalizando, ninguém é capaz de perceber e comparar sintomas se não os conhecer previamente. Portanto, faz-se imperiosa a leitura diária dos textos patogenéticos para o homeopata praticante.

Referências Bibliográficas.

01. BÖNNINGHAUSEN, Clemens Maria Franz von. Therapeutisches Taschenbuch für Homöopathische Aerzte, zum Gebrauche am Krankenbette und beim Studium der Reinen Arzneimittellehre. Münster: Coppenrath’schen Buch - und Kunsthandlung, 1846. 510 p.
02. _____. The Lesser Writings. Compilado por T. L. Bradford e traduzido do alemão por L. H. Tafel. New Delhi: B. Jain, 1994 (reimp.). 350 p.
03. BOGER, Cyrus Maxwell. Studies in the Philosophy of Healing. 2ª ed. New Delhi: B. Jain, 1995 [reimp.]. p. 55.
04. _____. The Study of Materia Medica and Taking the Case. 3ª ed. New Delhi: B. Jain, 1994 (reimp.). p. 30.
05. GOMEZ, Juan A. ¡Qué Maravilloso Animal de Experimentacíon es el Hombre! In Actas del Instituto Internacional de Altos Estudios Homeopáticos James Tyler Kent. N. 2, p. I 29-32.
06. HAHNEMANN, C. F. Samuel. The Medical Observer. In The Lesser writings of Samuel Hahnemann. Compilado e traduzido por Robert Ellis Dudgeon. New Delhi: B. Jain, 1995 (reimp.). p. 724-8.
07. SELECTA HOMEOPÁTICA. Rio de Janeiro: IHJTK, 1993. N. 1, 48 p.
08. ZOBY, Elias C. O Meu Repertório. 1997.

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