Weekend à Francesa
(Week-End)

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Tudo se destrói em Week-End

Na época, muitos consideraram o fim-de-semana de Weekend o canto do cisne, o limite total da sintaxe godardiana. Limite este que o próprio não tardou a transpor. Mas estes que consideraram tais limites, em verdade, já não suportavam À bout de souffle. Falo desta instituição que se arrasta: a "crítica cinematográfica". Falo pela boca destes muitos críticos. Pois não se puseram a rir com as estripulias de um casal de gente indiferente, burgeoise de verão.

E os carros? Os jornais da época fizeram o marketing: "o maior travelling da história do cinema, cerca de 300m"; "Godard recebe o aval do governo francês para enfileirar cem carros". Para quê?

Os carros ou a marca dos carros, ou o consumo das marcas de carros, ou a civilização que consome marcas de carros e os queima ao léu. José Lino Grünewald, um dos poucos que enxergaram longe na época, coloca os carros de Weekend em posição privilegiada na estrutura do filme. O carro é o signo que, transposto, nos conduz às nem sempre óbvias, porém fecundas, críticas de Godard à violência. Violência dos parâmetros burgueses que atribuem à vida o valor total da moeda, dos bens de consumo e do conforto. Violência asseptizada pela mídia, cuja redenção via Godard (ou melhor, via cinema), se dá por um banho de sangue, carnes e carros queimados, numa improvável visão do apocalipse.

Curiosamente, o impagável canibalismo tardio, como paroxismo do afã moderno, não ultrapassa em deboche, um dos momentos de memorável destruição. O único arrependimento do casal, quando eles queimam um filósofo e se admiram: "não estamos indo longe demais?" Godard ri e mais uma vez joga o script fora, sem perder de vista que, trinta anos depois, Weekend portaria a mesma força crítica.

Bernardo Oliveira