Um Plano Simples (A Simple Plan),
de Sam Raimi (EUA, 1999)

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Os três amigos que acham o dinheiro em Um Plano Simples

Uma palavra: desperdício. Este filme é apenas muito menos que um sub-Hitchcock. E só. Ouvi de alguns até comparações com Fargo! Nada mais absurdo! Às avessas, esse "plano simples" funciona como um exemplo magistral do que seja desperdiçar o ainda possível rendimento de uma narrativa linear.

Realmente lamentável, porque existe nele um elemento que, se não estivesse atrofiado por força do esquecimento e da pouca imaginação do diretor, poderia ter salvo tudo (teríamos até relevado a péssima atuação de Bridget Fonda e a canastrice de Bill Paxton).

E qual seria? Justamente o de apontar para o pathos que se esconde sob a conduta "ilibada", "idônea" das pessoas ditas "normais", "sensatas", "pacatas" (justo aquelas que consideramos imunes aos apelos do Mal). Infelizmente, Raimi pouco fez para enriquecer seus conteúdos. Poderia ter proposto em sua película uma perturbadora reflexão sobre o que há de mais baixo e vil em todos nós; sobre o quanto, paradoxalmente, essa vileza inerente está consubstanciada com o que chamamos "virtude".

Um salutar diálogo com Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita teria feito desse filme um cínico e cáustico retrato da América WASP e de seus "impolutos" cidadãos de classe média (dentre os quais "florescem" aqueles que tem assombrado os U.S.A. e o mundo recentemente com tiroteios e assassinatos "gratuitos", assinando tragédias em escolas, parques and so on).

Mas ao invés disso ele manteve tudo no nível lamentavelmente raso e óbvio de uma fábula moral sobre a cobiça. Há inclusive um ingênuo sentimento latente de nacionalismo, de crença no american way (encarnada no personagem de Bill Paxton: Hank Mitchell, contabilista metódico e normopata) e que se consuma, no final da película, numa apoteose sentimentalista absolutamente ridícula.

Raimi aborda de forma muito incipiente a tensão moral entre os irmãos Mitchell, optando por um fechamento demagógico, equivocado e politicamente correto. Na busca desesperada de "solucionar" o problema do Mal, culpabiliza o dinheiro e a ganância, recusando-se imaturamente a encarar aquilo que a questão tem de insolúvel e aporético.

No entanto, salvam-se:

1)Os excelentes atores Billy Bob Thornton (Jacob Mitchell ) e Brent Briscoe (Lou, seu amigo beberrão), que conseguem, por força de suas atuações magistrais, conferir a seus débeis personagens carisma e profundidade;
2)A música de Danny Elfman que, apesar de óbvia e meramente funcional em alguns segmentos, revelou-se surpreendentemente madura em muitos outros, agenciando uma sintaxe mais contemporânea para climatizar a narrativa;
3)A sensacional direção de fotografia de Alar Kivilo.

Vale mesmo comprar o cd...

Marlos Salustiano