Psicose (Psycho),
de Gus Van Sant (EUA, 1998)

Psicose plano a plano, respeitando o roteiro original de Joseph Stephano e quase todos os enquadramentos de Alfred Hitchcock. Tentativa de vigor, bom respeito/desrespeito, mas acima de tudo uma possilibidade de mexer com conceitos como identidade, repetição e diferença (como as supostas não-autorias dos filmes do Dogma 95, Festa de Família e Os Idiotas). E tudo isso por Gus Van Sant, que já conseguiu realizar um universo próprio dentro do cinema americano, o dos losers: junkies, loucos ou viados. Tendo já amolecido com O Gênio Indomável, Psicose supostamente viria como uma volta à problemática das exclusões da sociedade, do dinheiro e da paranóia social, temas caros à obra de Alfred Hitchcock.

Mas, para sermos rigorosos, não há nesse novo Psicose nenhuma repetição, diferença ou identidade. O que o filme de Gus Van Sant mais parece é um tipo de brincadeira com o Psicose original. Ou um ensaio. Algo como o King Lear de Godard ou o Ricardo III de Al Pacino. Mas Psicose perde na comparação: ao contrário dos outros dois filmes, o filme de Gus Van Sant não parece desenvolver nenhuma problemática na interpretação ou na (não)adaptação da trama. A maestria plástica de Van Sant (e nisso vai um dos poucos elogios ao filme) só permite que o filme seja palatável no plano do entretenimento (e aí a única semelhança com Hitchcock), mas no plano intelectual/subliminar da trama (onde Hitchcock era gênio) esse novo Psicose se revela inócuo e ensimesmado como uma brincadeira de trenzinhos.

Ruy Gardnier