Laura, A Voz de uma Estrela (Little Voice),
de Mark Herman (Inglaterra, 1998)

Laura é uma menina ensimesmada, que vive apenas das lembranças que tem do pai, espacialmente dos discos das cantoras de que ele gostava, como Shirley Bassey e Judy Garland. Tamanha timidez chega quase a passar por um caso estranho de loucura, ainda mais porque ela quase não fala, e quando fala a voz mais parece um guinchado. Mas eis que aparecem dois homens na vida dela: um, namorado de sua mãe, quer transformá-la em grande cantora (apesar dos ganidos ela tem uma grande voz); outro, funcionário da linha telefônica e domador de pombos-correio, que tenta tirá-la do marasmo de sua vida. Isso é tudo que podemos apreender desse Little Voice, pois é um filme desprovido de maiores compromissos (estéticos, narrativos, éticos...). Mark Herman faz aqui um trabalho burocrático, em que a única preocupação é fazer com que os atores desempenhem o melhor possível — o que acaba causando uma certa afetação, um overacting de Brenda Blethyn. Se a personagem de Laura é tímida e recatada, o filme Laura é seu exato oposto: prolixo e gasto, o filme não sabe por onde caminhar e termina com a metáfora mais óbvia possível: uma menina que deixa uma pomba sair voando. Anedota exemplar do Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço, porque não tem nada mais rígido e preso do que a realização desse filme.

Ruy Gardnier