FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   AR FRESCO, de Neil Mansfield

Austrália, 1999


A chamada "Geração X" (que nos EUA já está sendo substituída pela novíssima "Geração Y"), os jovens dos anos 90, marcou época como a primeira geração a ter acesso ao cinema de longa metragem como forma de retratar a si própria. Talvez até por um desvio de personalidade, já que gerações anteriores (como Orson Welles filmando Kane aos 23; ou o povo da Nouvelle Vague/Cinema Novo, ou o cinema americano dos anos 70) tiveram acesso às câmaras cedo, mas pareciam preocupados com outros temas (históricos, sociais ou referentes à própria linguagem do cinema), e resolveram não retratar sua própria realidade (salvo raras exceções).

Ar Fresco é um legítimo representante deste movimento. Uma tentativa "in loco" de se compreender como geração. No futuro, certamente terá seu interesse antropológico e sociológico. Hoje, infelizmente na parte estética e narrativa acrescenta pouco ao que já vemos na MTV (câmara fora de foco sempre em movimento, cortes com flashes de luz em descontinuidade), ainda que tematicamente mais profundo do que um videoclip. Mostra-se um geração confusa, assustada com a chegada da idade adulta. Há até alguns momentos de verdade no filme, e algumas sacadas boas (a melhor talvez seja o "ar fresco engarrafado", símbolo máximo do artificialismo de uma época), mas no geral parece tedioso e voltado em torno do seu próprio umbigo. Alguns responderam a este ímpeto juvenil citando o conselho de Nélson Rodrigues para os jovens ("Envelheçam!!!"), mas não creio que chegue a ser caso para tanto. Que se mantenham jovens, mas que ousem sair um pouco do seu quarto na hora de pensar em produzir arte com efeito.

Eduardo Valente