A Noiva de Chucky (Chucky's Bride),
de Ronny Yu (EUA, 1998)

Brinquedo Assassino, filme de Todd Holland de 1988 era um assustador mergulho naquele que é um medo que só mesmo a inocência das crianças pode não perceber: o dos bonecos de plástico infantis. Sim, pois vejam que a maioria dos pré-adolescentes admitem todo o fascínio assustador que estes estranhos seres possuem, mas as crianças mesmo parecem não perceber. Mexendo com esse subconsciente infantil, o filme era um bom exercício de gênero. Fez sucesso, teve duas sequências de qualidade discutível mas que não conseguiram diluir o estranho carisma de Chucky, o personagem título.

Bem vindos ao fim dos anos 90. Rebocados por mestre Wes Craven e seu Pânico e toda série de horrores auto-referenciais (que tem origens lá atrás com o Freddy Krueger de Craven) que provaram ser permitido divertir-se enquanto se assusta, aparece este novo filme da série, bastante diferente dos anteriores. Além de se assumir como paródia da própria série, tomando completamente o tom da comédia como sua base, o filme ainda trás outras características bem anos 90 como o seu diretor de origens asiáticas e a sub-trama do casal pós-adolescente em fuga. Na verdade o filme brinca já no início com essa atualização, quando um personagem diz: "Chucky?!? Isso é tão anos 80..."

O resultado é um filme absolutamente fake, camp, no qual Jennifer Tilly parece se divertir muito declarando seu amor por um boneco. Ela interpreta uma ex-namorada do serial killer morto que incorporou no "corpo" de Chucky. Ela traz o boneco de volta à vida numa tentativa de se casar com ele, mas acaba mesmo é transformada em boneca também. Não há dúvida das inspirações e citações do filme, que deixa claro na sequência inicial sua mistura de respeito/desrespeito por baluartes como Jason e Michael Myers. Também é assumida numa divertida sequência a referência óbvia a Noiva de Frankenstein.

O problema do filme é que, ao contrário dos trabalhos de Craven, não sabe dosar seus ingredientes. Não há uma brincadeira inteligente misturada com verdadeiro horror e verdadeira reflexão como em Pânico e A Hora do Pesadelo. O filme acaba parecendo mais uma paródia do tipo Corra que a Polícia Vem Aí, mas inferior, com momentos de verdadeira MTV usando mal e demais a trilha sonora. Ronny Yu desrespeita a velha máxima de que menos é mais, e exagera no banho de sangue (há aqui a cena mais desagradável de atropelamento da história do cinema) com cenas que nem assustam, nem chocam, nem fazem rir. Mas, é inegável a maestria dos efeitos visuais que dão vida aos bonecos e os permitem (nos melhores momentos do filme) fazer sexo, fumar um, discutir seu relacionamento à exaustão. Comparativamente o casal de humanos parece ter bem menos vida, e esta talvez seja a melhor sacada do filme, irregular mas com seus momentos.

Eduardo Valente