FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   A COR PERFEITA, de John Poson

Austrália, 1999


Começo esquisito: um casal inglês está idilicamente em seu jardim, tendo por trás uma bela casa, como num pequeno mundo perfeito. Esse mundo logo será destruído quando, como num passe de mágica, cai do céu uma caixa branca. Ela vai se aproximando do chão e, ao observarmos que é uma geladeira, vemos ela caindo exatamente em cima da mulher. As imagens são tão ambíguas que o espectador não sabe se ri ou se chora. O desenrolar do filme será mais claro: o espectador deve rir de todas as desgraças que acontecem em torno do viúvo, inclusive da grotesca seta que é apontada para ele quando de um terremoto. O famoso fato narrativo, o pesquisador de cores que decide sair em viagem para encontrar a cor perfeita e se recuperar do choque causado pela morte da esposa, apenas encobre a obviedade de um velho boy meets girl, só que dessa vez no deserto australiano. A primeira metade do filme mostra os australianos com desdém, um pouco à maneira caricata e desagradável com que Robert Altman filma os caipiras americanos em A Fortuna de Cookie. A segunda metade é mais condescendente, mas em nenhum momento foge da caricatura, que aparece não com finalidades estéticas, mas como uma falta de saber o que fazer com os personagens. O filme acaba com todos os eletrodomésticos caindo do céu, mas nenhum penetrando num círculo de pedras onde habita o casal apaixonado. O filme talvez queira falar do amor encontrado no coração inferno, mas o problemas é que o espectador não vê amor, nem coração, nem inferno. Só pastiche.

Ruy Gardnier