O preconceito ideológico contra os CEUs


MARTA SUPLICY


Em edição dominical, o jornal O Estado de S. Paulo ataca a criação dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) com o argumento dos seus altos custos. Qualifica essas escolas de "cimento pedagógico" e de outdoors eleitorais. Ignora a existência de mais de 250 escolas de lata de responsabilidade do governo estadual, bem como a redução do número de vagas das escolas estaduais de ensino fundamental, sem a construção "em contrapartida" de nada que se assemelhe aos CEUs municipais. O alvo exclusivo é a educação inclusiva defendida pela Prefeitura de São Paulo.

O argumento do editorial se "sustenta" no que poderíamos denominar "aritmética pedagógica", visando o objetivo eleitoral de atacar uma administração do PT. Uma aritmética ainda por cima equivocada: os 21 Centro Educacionais Unificados equivalem a mais de 51 mil vagas, não a 28 mil, como desinforma o texto (em média, são 2.460 vagas por CEU, não 2.160 - ainda assim, a multiplicação de 21 por 2.160 nunca terá 28 mil por resultado).

O editorial sonega a informação de que a atual administração do PT já criou mais vagas em dois anos e meio do que as outras gestões criaram nos oito anos anteriores. Se incluídas as dos 21 CEUs, esta gestão terá criado mais de 200 mil vagas, em três anos de mandato.

O texto oculta também que não há falta de vagas no ensino fundamental. E persiste em afirmar que não deve ser prioridade a introdução, no sistema escolar público das regiões mais pobres da cidade, de teatros, cinemas, quadras esportivas, telecentros, música e balé e que a educação pública pode deixar de fornecer aos mais necessitados o que a elite desfruta. Longe de considerar que o drama na rica São Paulo é que por enquanto são somente 21 as escolas correspondentes a uma educação inclusiva que quebre para valer o drama da exclusão, ignorante do fato de que, além das crianças inscritas nos CEUs, as das escolas próximas também utilizarão o complexo esportivo-cultural, sem falar da própria comunidade, nos fins de semana, o editorial se limita a considerar supérfluo tamanho investimento quando se trata da rede pública.

Pela lógica do Estadão, compartilhada por alguns universitários alheios à realidade da periferia, com o dinheiro da construção dos CEU poderíamos construir mais escolas de alvenaria; com a mesma lógica, com o dinheiro de escolas de alvenaria poderíamos construir muitas mais escolas de lata ou madeira - e, depois de tudo, para que gastar com lata se também se pode educar embaixo de uma árvore?

Nossa administração continuará construindo escolas de alvenaria, continuará construindo os CEUs e continuará eliminando as escolas de lata. Nossa ambição, porém, é alinhar progressivamente, sem deixar ninguém excluído do sistema escolar, o conjunto das nossas escolas ao padrão do terceiro milênio que o CEU introduz.

No que concerne à falta de vagas nas creches, o Estadão exige que a Prefeitura faça muito mais do que cidades como Paris, Londres e Nova York, assegurando lugar a todas as crianças de 0 a 6 anos - ocultando que esse objetivo não foi alcançado em países bem mais desenvolvidos que o Brasil, como a França e a Inglaterra. Também nesse setor a atual administração já realizou muito mais que as três últimas administrações desta cidade.

Vamos deixar muito claro nosso objetivo: os CEUs são uma nova proposta pedagógica de educação inclusiva e consiste em organizar toda a rede municipal nesse conceito. Assegurando a todas as crianças do ensino municipal uniforme e material escolar gratuito; transporte para as que moram a mais de dois quilômetros da escola; merenda de qualidade e acesso a computação, música e instrumentos musicais, teatro, cinema e esportes, começando pelas regiões mais pobres da cidade.

Em algumas regiões, isso estará concentrado numa única construção, como os CEUs que estão sendo inaugurados agora, assegurando com rotatividade o acesso a esses espaços. Em outros bairros, criando espaços semelhantes, interligados com a rede escolar já existente.

A comunidade passa a ser co-gestora e partícipe do sistema. Juntos construiremos um outro futuro sem a reprodução recorrente da pobreza. Não fomos escolhidos para perpetuar o sistema e a desigualdade social. Estamos fazendo uma revolução na educação, rompendo com a lógica de 500 anos de exclusão.

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Marta Suplicy é prefeita de São Paulo

http://txt.estado.com.br/editorias/2003/08/06/aberto002.html

                                                                                                                         

 

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