Jornal Agora São Paulo
13/09/2007
PROJETO FOI APROVADO NA ASSEMBLÉIA E DEPENDE DA SANÇÃO DE JOSÉ SERRA PARA VIRAR LEI. AULAS SERÃO OPCIONAIS: ALUNO PODERÁ ESCOLHER SE ASSISTE OU NÃO
A partir do ano que vem, os alunos de todas as séries dos ensinos fundamental e médio da rede pública estadual terão aulas de religião. Para isso, basta que o governador José Serra (PSDB) sancione uma lei aprovada na semana passada pela Assembléia Legislativa.
Se for sancionada, a lei vai incluir o ensino religioso no currículo das 5.500 escolas estaduais, que atendem quase cinco milhões de alunos. Mas eles poderão escolher se assistem ou não às aulas -a disciplina será facultativa.
Segundo a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), autora da proposta, o objetivo é "suprir, com elementos da cultura religiosa, a carência de valores morais dos jovens". A abordagem do ensino seria ecumênica, abrangendo "valores comuns a todas as religiões". No entanto, a deputada assume ser católica e admite que seria natural um destaque maior para os conceitos religiosos presentes na Bíblia.
Mesmo sem aprovação, a lei já é contestada por educadores. "É um retrocesso e um crime", afirma Vitor Paro, professor titular da Faculdade de Educação da USP. Segundo ele, a religião é questão de educação que não pode "de forma nenhuma" ser transferida de casa para a escola. Para ele, o ensino religioso não deve ser tratado como meio de reprimir a violência dos jovens. "As religiões estão todas umas contra as outras."
O presidente da Federação Israelita Brasileira, Jack Terpins, afirmou que seria uma "imposição desagradável" o ensino religioso voltado para o cristianismo. "Aprender na escola uma religião que não é a sua pode ser cruel para uma criança", diz. Já para o presidente da Federação Brasileira de Umbanda, Manuel Alves de Souza, a educação dos alunos "teria muito a ganhar" com a inclusão dos valores africanos. "Os orixás são forças da natureza, estimulam a consciência ecológica", afirma.
Segundo o arcebispo de Juiz de Fora, Eurico dos Santos Veloso, o ensino religioso com "raízes cristãs" já é aplicado em Minas Gerais. "Acredito que deva ser este o caso também em São Paulo", afirma.
Assim que o projeto foi aprovado, a deputada mandou carta para avisar o Papa.
Foi aprovado anteontem na Assembléia um projeto de lei que inclui a disciplina Direito no ensino médio. (Hermano Freitas)