CLUBE DOS ANARQUISTAS - Padre Justiniano da Cunha Pereira - Barbacena - 1838

 

 

 

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Narigão. (sorrindo-se muito satisfeito.) Sr. Presidente, felizmente já temos um Taquígrafo para transcrever as atas das nossas sessões. Convinha também que ele desse ao público lições da sua arte, na qual se pode instruir a nossa mocidade. Mas o quantitativo designado na Lei do Orçamento não é suficiente; por isso requeiro que se autorize ao Presidente da Província para gastar a quantia que for necessária.

Mopadinho. Acho muito justo o requerimento do Sr. Narigão e votarei por ele; este negócio, desde o principio, esteve sempre a cargo dos Presidentes da Província.

Macaco. (com veemência.) Isso era quando havia um Presidente da nossa confiança. Agora esta tudo mudado. Jamais concordarei em autorizar-se o atual Presidente a gastar quanto quiser com o Taquígrafo. É medida que não aprovo. Srs., quero que se publiquem as sessões desta Assembléia; mas não quero que isto fique a cargo do Presidente. Isso nunca; porque então levariam 20 anos e mais, para se verificar a publicação. Srs., o atual Presidente não merece confiança alguma (apoiados). Enquanto eu não vir à testa dos negócios públicos um Presidente parlamentar... (risadas) hei de recusar-lhe tudo (apoiados). Não lhe dou nem cinco réis (apoiados). Declaro que estou na oposição e na oposição extrema; há de ir tudo raso; hei de fazer ao Go-
verno guerra de morte (apoiados). Procedendo assim, marcho com a opinião de Minas Gerais, pois ainda me nomeia seu Deputado. Se estou em erro, a Província me excluirá...

Imparcial. (aparte) Não poderá excluir por causa das cabalas.

Macaco. Mas enquanto for Deputado, julgo-me na maioria da Província e posso afoitamente asseverar que a Província fala por minha boca, eu sou o seu interprete, sou o órgão de seus sentimentos (apoiados). Por conseqüência, eu e toda a Província de Minas queremos um Presidente Parlamentar, que pense e obre como Parlamentar e que seja assinante do Parlamentar. Enquanto não for bem Parlamentar, não conseguirá medidas de confiança. E se alguma lei autoriza o atual Presidente a engajar Taquígrafos, revogue-se essa lei, ou converta-se hoje em matéria nova, sobre a qual legislemos também de novo.

Narigão. Vistas as razões do Sr. Macaco, abraço os seus sentimentos, e desprezo a minha primeira emenda.

Imparcial. Mas essa versatilidade dos legisladores Mineiros, que o Sr. Macaco ainda há pouco condenava...

Macaco. Isto não é versatilidade; é progresso.

Imparcial. E como tão depressa quer revogar uma lei, sem se lembrar do emblema de Poncio Pilatos, quod seripsi, seripsi ?

Macaco. Bem me lembra. Mas