Carta aberta ao Papa: preservativos nas escolas

Caríssimo João Paulo,

Escrevo a S. Santidade, antes do mais, para lhe pedir o perdão divino para Portugal. De facto, a Santa Sé não tem tido grande descanso neste lusitano campo de golfe à beira mar plantado, nos últimos 400 anos: tudo começou quando o Marquês do Pombal correu com os Jesuítas do reino. Menos de um século depois, vieram os Liberais, que correram com as outras ordens que restavam, deixando os conventos às moscas (os mesmos conventos que nós, hoje, transformámos para turismo de habitação). Mal Roma se havia refeito do incómodo que lhe causava a pedra no sapato chamada Portugal, eis que chegam os republicanos e de novo, foi tudo corrido a pontapé. Mais recentemente, ainda se congratulavam pela vitória do "não" no referendo do aborto, arremessam-vos já a revisão do estado de graça consagrado pela Concordata. Não se faz! É caso para dizer "perdoai-os Senhor, que eles não sabem o que fazem!"

O mais recente ultraje à ordem divina desta Sodoma moderna, nesta sucursal terrena do inferno a que chamamos Portugal, é a discussão da hipótese de se colocarem máquinas de preservativos nas casas de banho das escolas! De facto, a ideia até é muito boa, pois é uma forma de tornar os métodos de contracepção mais acessíveis aos jovens, grupo de risco do vírus da SIDA. Foi o que eu pensei, imbuído de um diabólico "ataque" de consciência social, pecado que, se houvesse um décimo-primeiro mandamento, seria certamente reprovado. Encontro-me de momento em penitência por ter caído na tentação de pensar. De facto, vendo a coisa de uma forma pia, o único benefício que os preservativos nas casas de banho trariam era a possibilidade de os cartoonistas mais arrojados passarem a usá-los com o objectivo que diz nas instruções, e não a colocá-los no nariz do Sumo Pontífice. Assim, Santo Padre, devo perguntar-lhe se o melhor que temos a fazer, como bons cristãos, é furá-los a todos in nominae dei, um por um, para bem das almas dos nossos jovens?

Apesar de Sua Santidade recusar peremptoriamente as práticas contraceptivas, estou certo que outros papas de séculos anteriores, nomeadamente Alexandre VI (o Papa Bórgia), não só teriam dado a sua bênção à ideia dos preservativos nas escolas, como seriam certamente grandes clientes, uma vez que não fica bem a um alto dignatário da Igreja ter multidões de "afilhados".

Concluindo, já que estamos num período de reconciliação ecuménica entre diversas confissões religiosas, proponho-lhe que se torne o sexo na bandeira da concórdia entre todas elas. Nisso, de uma maneira geral, todas as grandes religiões estão de acordo: não gostam.

Assim, rogo-lhe humildemente que interceda pelas nossas almas.

Respeitosamente,
João Teixeira Freire

P.S.: No caso de se usarem os preservativos como balões, deve-se censurar como sendo um pecado demasiado original?



Texto contribuído por João Teixeira Freire (correio)

Abril de 2000



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