S.O.S. RIO JEQUITINHONHA
"Máfia da Candeia"

 

O rio Jequitinhonha sofreu e ainda sofre com o garimpo predatório de diamantes e ouro em seu leito. As recentes adequações da legislação e ações integradas das autoridades de meio ambiente conseguiram diminuir essa atividade mas alguns focos de garimpo resistem. Garimpeiros clamam por uma alternativa econômica para seu sustento. Uma dessas alternativas está sendo a extração ilegal de uma árvore do cerrado conhecida por "Candeia" (Gochnatia Polymorpha Less. Cabr. - família das Compositae ) nas cabeceiras do rio Doce e rio Jequitinhonha na serra do Espinhaço. Essa atividade é tão ou mais predatória para o meio ambiente quanto o garimpo. A equipe de reportagem do RAÍZES esteve na região da nascente desses rios e denuncia a "Máfia da Candeia".

 Existem vários focos de extração da Candeia. Na localidade de Jacutinga, à beira da nascente do rio Jequitinhonha, junto à estrada que liga a sede ao povoado de Capivari no município de Serro - MG, nossa equipe encontrou centenas de moirões de Candeia empilhados, cortados na medida para moirão de cerca, aguardando embarque. A Candeia precisa pelo menos dez anos para chegar nessa medida segundo nosso guia. De acordo com um morador da área que não quis se identificar, a Máfia da Candeia paga de R$11.00 a R$15.00 por cada dúzia de moirões e utiliza modernos caminhões para transportar a "Candeia" no meio da noite. Depois de retirada a Candeia, a área desmatada é queimada.

Toda cobertura vegetal nas margens de mananciais e rios é protegida pelo Código Florestal, sendo o desmatamento dessas áreas absolutamente proibido e sujeitando os infratores a sanções penais. A cobertura vegetal encontrada na região do alto Jequitinhonha é representativa de Mata Atlântica protegida pela Constituição Federal. A Máfia da Candeia vem promovendo um verdadeiro "ecossídio", ao arrepio da lei, colocando em risco todo um complexo e delicado sistema hídrico. Suprimida a vegetação, a nascente pode secar. Nessa região, vertente austral do Pico do Itambé (2002 m.) nascem os rios Jequitinhonha, Doce e Araçuaí, importantes bacias da região sudeste.

 Nossa equipe procurou o prefeito de Serro, Dr. José Monteiro, que tem conhecimento da atividade da Máfia em seu município e reconhece que a situação é grave. Lembrou que a população necessita de alternativa econômica para sobreviver após o fechamento do garimpo o que facilita o aliciamento de mão-de-obra desesperada. Acrescentou que as autoridades vêm multando caminhões que transportam ilegalmente a Candeia e que já foi interpelado por esses caminhoneiros multados, buscando sua intervenção política para "aliviar" as multas. Revelou que para cada caminhão multado a Máfia retira mais três cargas de Candeia para compensar os prejuízos com a multa.

A Associação Mineira de Defesa Ambiental (AMDA) suspeita que a Máfia da Candeia vem atuando em outras áreas de Minas Gerais, como a Serra do Caraça. A entidade vem investigando sua atuação, e tem elementos indicando que a Candeia não vem sendo somente utilizada para moirão de cerca, mas também para a extração de uma substância, cujo princípio ativo estaria sendo usado pela indústria farmacêutica internacional.

 A denúncia foi encaminhada à Polícia Florestal de Diamantina pelo B. O. 1793 de 20-07-96; à Linha Verde do IBAMA via fax e INTERNET; ao Instituto Estadual de Florestas -MG por fax; à Assembléia Legislativa de Minas Gerais via INTERNET; ao Congresso Nacional através do Deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Uma verdadeira campanha (S.O.S. JEQUITINHONHA) está sendo deflagrada buscando alertar as autoridades e a sociedade civil para a gravidade da situação e sensibilizar os legisladores para a necessidade de transformar a região numa Unidade de Conservação. Um manifesto vem sendo preparado por entidades ambientalistas de Minas Gerais que deverá ser entregue ao Ministro da Justiça Nélson Jobim solicitando a intervenção conjunta do IBAMA e da Polícia Federal para desmantelar a Máfia da Candeia.

 IBAMA - LINHA VERDE - 0800-61-8080 (LIGAÇÃO GRATUITA) FAX: 061-3161090

 linhaverde@ibama.gov.br

 
IEF-MG - 031-330-7000 // FAX: 031-3307004

 
Evandro Bastos Sathler

Diretor de R. P. Externas da FUNIVALE

 Agosto de 1996

 

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