Horizontes da Mente, de João Nunes Maia p/Miramez

Ajudar o Semelhante
Amor à Distância
Amor a Dois
As Lágrimas
Atração Magnética
Banho e Passe
Controle das Emoções
Educação das Idéias
Mente e Corpo
O Amor
O Reencarnante e o Ambiente
Pensamento da Gestante
Pensamentos Formas
Por que o Perdão
Rosto, Espelho da Alma
Saber crer
Sexo
Uso da Água
Vigilância Mental

Miramez

Ajudar o Semelhante

O espírito, que ama com uma certa profundidade espiritual, é como o adamo de toda a ciência e diretriz de todas as filosofias. O contexto desta página visa despertar, em cada coração, o modo pelo qual pode, cada um em particular, canalizar os seus esforços em benefício dos seus semelhantes, coadjuvando assim o seu irmão, que segue paralelo na evolução espiritual.

Quando, ao passardes por algum caminho, encontrardes alguém chorando, faminto ou nu, sedento ou desesperado, não vos façais de surdo. Eis a vossa oportunidade de servir. Procurai ser útil. Fazei removerem-se os pensamentos negativos das criaturas, pelo que já aprendestes com o Cristo. Comunicai, como puderdes, pelas vias do coração e pelas linhas do sentimento, e despertai a alegria, juntamente com idéias sadias, fazendo ver que todos nós somos peças da engrenagem divina, irmãos e filhos do mesmo Deus.

Ajudar o semelhante é muito importante na vida do cristão. Sem que isso se processe a consciência não nos libera e continuamos encarcerados pela melancolia, pela incerteza, pela dor e pela ignorância, em plena atividade. Quem ajuda, aprende e é ajudado. Quem serve, instrui e é servido. Quem auxilia, se enriquece e é auxiliado.

As idéias conexas, no serviço do amor, prelibam um mundo novo para a coletividade e abrem vantagens grandiosas na evolução individual. Nunca deixeis de ajudar a quem quer que seja. As sensações de quem presta assistência são bem maiores que as de quem recebe, pois é a caridade vibrando na plenitude do coração. A vida consiste em trocas de valores morais, espirituais e materiais. Somos intermediários e é bom que sejamos canais por onde somente passe o bem, ideal supremo do espírito puro.

Todos os grandes homens na Terra deram-se a reconhecer pelo traço de fraternidade deixada por onde passaram, pelo amor à humanidade, pela ajuda desinteressada a quem quer que fosse. O orgulho e o egoísmo são árvores alimentadas por espíritos inferiores, e não são encontrados em almas de escol. A depressão consciencial é motivada pela ausência de amor, mas amor daquele que não julga, que não desmerece, que não se ensoberbece, que não maltrata, que não fere, que não humilha. Quem fala que ama e não compreende a ignorância alheia está confundido, porque, pelo gesto, exige algo em troca. Quem fala que ama e não perdoa algumas ofensas dos semelhantes, por certo ainda está ligado à vingança. Quem fala que ama e ainda persegue aquele que não comunga com as suas idéias, deixou escondido, nas dobras da caridade, o orgulho e a vaidade que toldam os valores imortais da benevolência. Quem abre os braços, como o Cristo, para ajudar em nome de Deus, deve ser humilde. Que não imponha suas idéias, que não oprima, que não maltrate, e que respeite os seus semelhantes na posição que eles ocupam na escala evolutiva da Terra.

Em muitos casos, ajudar é silenciar. Para usar o verbo em favor dos outros, é preciso que ele seja domesticado e que sua música perca o poder de ferir. Ao contrário, seja como melodia clássica, que eleva, que inspira, que arrebata a alma às regiões inacessíveis do amor.

O impulso de ajudar no ser humano é propensão ingênita, pois constitui harmonia do Criador em todas as coisas que fez, principalmente no explodir da razão e no alvorecer dos sentimentos. O advento do Cristo na Terra deu nascimento à grande esperança de que o amor não é fantasia dos santos, de que a vida do espírito é imortal, de que existe a felicidade. Eis porque arregimentamos todas as forças ao nosso alcance para servir, ajudar ao semelhante. É o nosso lema, com Jesus, em todas as direções que a vida nos convida.

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Amor à Distância

O amor é a maior virtude. Ele se manifesta por vários métodos, veste roupas inimagináveis, pelo fato de ser amor e se dividir em todas as direções para ser útil a todas as criaturas.

Ele é qual as ondas hertzianas, que vibram como microondas médias e longas. Ele ainda é muito mais, porquanto invade todas as freqüências e auxilia em todas as distâncias, da mínima à máxima, levando a mensagem de esperança, de alegria, de caridade e da existência de Deus.

João Evangelista afirma que Deus é amor. Na verdade, vos dizemos que o Senhor é muito mais que o amor, por ser esta lei feita por Ele, conquanto seja a virtude que coroa os anjos, que aureola os santos e que liberta os místicos. Ela é a maior dentre as grandes no reino evangélico.

Amar é algo divino, que pode acontecer na Terra. Podemos sentir o amor da força eletrostática na grande mecânica do Universo, na harmonia das coisas em se reunirem por afinidade, até os grupos de almas puras, que se congregam por amor.

Aqui, vamos falar mais acentuadamente do amor à distância, espíritos que se simpatizam e que determinada distância separa. Todavia, para a permuta de energias divinas, não há barreiras. As seqüências de forças se cruzam na mais alta vitalidade. Desde quando se ama verdadeiramente, o poder de transmitir os sentimentos através de vibrações é faculdade inerente a todos os seres que atingiram a razão.

O pensamento é veículo poderoso, cujo poder, pelo amor, ultrapassa em muitos casos a ciência e a filosofia, colocando os dois que se gostam frente a frente, em qualquer distância cósmica. E ainda mais: as almas, atingindo certo grau de conhecimento, poderão ver-se mutuamente, desabrochando o dom maior do coração - Amor com A maiúsculo. É o amor que confia, que alegra, que não se apega em demasia, que não entristece, que trabalha, que fraterniza.

Já dissemos que existem muitos tipos de amor no mundo, dos quais o mais freqüente é o amor associado ao ciúme, é o amor paralelo ao egoísmo. É esse o amor que não confia, enlouquecedor. Trabalhemos, pois, meus filhos, para que esse estado de alma se modifique. E é bom que convidemos Cristo para nos ajudar, na purificação dos sentimentos, transmutando as nossas qualidades nascentes em dignidade fecunda.

Esse trabalho é feito na lavoura da mente. O policiamento das idéias deverá se dar com urgência, modificando os impulsos do fluxo nervoso condicionados que, há tempos, nos fazem pensar automaticamente, caso em que se precisa de uma intervenção dinâmica da vontade e do raciocínio, para que a mente se liberte dos condicionamentos, entregando-se à verdade, libertando-se e iluminando-se com os preceitos evangélicos que encontramos em todas a s religiões e altas filosofias do mundo inteiro.

Amar é ato sagrado, principalmente entre as criaturas que já atingiram ponto elevado do ambiente da felicidade. Quando o amor não duvida, ele cura, alegra, conforta, faz todas as virtudes brilharem por todos os roteiros, permanentemente.

Se porventura a vida separou alguém de vós, por motivo que desconheceis, não vos entristeçais. Deus é muito mais sábio do que julgais. E, se amais verdadeiramente esse alguém, ele está em vosso coração, pois os recursos para tal podeis desenvolver, e as distâncias não existirão mais. Se por acaso sofreis a estranha doença da melancolia, com saudades profundas de alguém que não conheceis no presente, não desdenheis a vida por esse fato. Essa alma existe em algum lugar e também sofre, com certeza, as mesmas conseqüências.
Sede inteligente: apurai os sentimentos, desdobrai a tolerância e aumentai a fé na bondade de Deus, que o encontro há de se dar por sintonia, pois, na matemática divina, a equação é... amor.

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Amor a Dois

O amor é assunto sagrado para os homens, tanto quanto é o instinto de vida para os animais e a lei para as coisas que nos servem. Ninguém vive sem amar. As criaturas têm carência de afetividade, tanto ou muito mais que de alimento para o corpo físico, pois ele é alimento dos mais qualificados para a alma.

No entanto, as suas divisões são inúmeras, de acordo com as necessidades, Aqui, tratamos mais acentuadamente do amor a dois. É justo que esse amor seja um pouco diferente do amor universalizado, do amor de pais com filhos e filhos com pais, do amor às plantas e do amor aos animais. E, assim, sucessivamente.

No amor a dois, tem que existir um pouco de egoísmo, mas aquele tão fraco que perde seu significado comum, porque cede um pouco para o dever. Assemelha-se, nesse caso, à água para matar a sede: quente, é insuportável; solidificada, não serve; fria, é adequada. No amor a dois, tem de haver um pouco de ciúme, mas aquele que não escandaliza, que não se faz acompanhar pelo ódio e pela vingança, que não maltrata, que não perturba. Aquele em que a ponderação faz perder a ferocidade e alivia a tensão, sendo, apenas, vigilância. Ele é como todos os alimentos: com excesso, fazem-nos mal. Todos os venenos são medicamentos, muitas vezes indispensáveis, dependendo da dosagem que se toma.

Não pode existir amor no lar, quando os dois não querem amor e terminou o interesse de um pelo outro. O mais evoluído tem a grande saída da renúncia, desde que essa renúncia não esteja salpicada do insulto, das reclamações, das vibrações de rancor, alimentando a vingança enjaulada no coração, para que um dia solte a fera, a devorar a pequena paz que ainda reste. Essa renúncia também passa a perder o seu nome sagrado e toma a forma de egoísmo prepotente.

É bom que nos certifiquemos de uma coisa: estamos, encarnados e desencarnados, viajando na Terra, fazendo um curso nela. E ainda não é tempo de gozarmos a felicidade que, por enquanto, não construímos.
Podereis encontrar em vossa esposa uma inimiga do passado, pessoa a quem deveis bastante, ou por quem tenhais sigo prejudicado.
Reunidos como cônjuges em um lar, é a melhor oportunidade de saldardes as dívidas, tranqüilizando as consciências.

O vosso dever é fazer a vossa parte. Sendo amado ou não, amai com sinceridade. Se o vosso amor está mal interpretado pela vossa companheira, modificai-o de modo a agradá-la. Ele é qual o líquido que toma a forma da vasilha. E, se as bênçãos de Deus vos deu uma esposa, ou um esposo, coerente em tudo que se refere à vida a dois, aperfeiçoai esse amor, purificai-o, fazendo dos corações reatores divinos, para que possais, em outra dimensão, estendê-los aos filhos, parentes e companheiros, e por vezes à humanidade. Ganhai tempo, pelo tempo que vos deram e enriqueçai no beneplácito do amor, compreendendo que somente ele libera as criaturas da prisão da ignorância.

Não exijais compreensão da pessoa que vive convosco. Emprestai a vossa. Em todos os lances da vida, o exemplo é nota harmoniosa em qualquer instrumento humano. Sede útil à pessoa que amais sem quererdes anunciar vossos feitos, procurando gratidão. Isso é troca que não condiz com a caridade. Não vos impacienteis de trabalhar em silêncio, em favor dos outros, principalmente de quem vos pertence pelo amor. Nada que se faz fica escondido. No entanto, se tilintar o gazofilácio da vaidade, podereis perder o vosso trabalho valioso, porque desfigurais a dignidade da beneficência.

Se ainda temeis fazer o bem, sem que os outros saibam, é porque não confiais nos preceitos do Mestre, nas leis de Deus. Tende fé, meu filho, alimentai a confiança, e nunca percais a alegria de ser útil, principalmente àqueles que vivem convosco. O amor a dois, quando correspondido e firmado pelo tempo, é a porta pela qual poderemos entrar para a verdadeira felicidade do futuro. É ele que carimba o nosso amor para a universalidade.

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As Lágrimas

As lágrimas são secreções provocadas pelas emoções que, por sua vez, desenvolvem os sentimentos. Podeis notar que a mulher, quase de um modo geral, desprende lágrimas com mais facilidade, pois suas emoções se encontram à flor da pele. São mais impressionáveis, visto que são mais sensíveis.

Há muitos estudiosos que dividem as lágrimas em várias temáticas, como: lágrimas expulsas pelo ódio, lágrimas afloradas pela alegria, lágrimas advindas da esperança, lágrimas libertadas pela dor, pérolas lacrimais convidadas ao passeio facial pelo amor... Mas, na verdade, todos esses aspectos são aparentes. Elas surgem do impulso do amor e, compondo o microcórrego dentro de nós, têm as mesmas funções dos rios que servem à limpeza pública. As lágrimas libertam as energias inferiores presas em vários pontos do corpo, afrouxam o sistema nervoso e tranqüilizam o coração. Chorar, na sua feição verdadeira, é descarregar a tensão psíquico-orgânica, dando vazão ao espírito e a novas e acertadas atitudes.

Se alguém vos ofendeu sem que sejais culpado na presente existência, lembrai-vos de que já tivestes várias reencarnações, e que a ofensa pode ser cobrança do passado. Se tendes vontade de chorar por isso, chorai sem escândalos. Entrai no vosso aposento e descarregai as energias inferiores, secretamente, que essa é uma oportunidade de ficardes livres de leves faltas anteriores. As lágrimas, nessa hora, são as misericórdias ou veículos de limpeza da vossa consciência.

O muro das lamentações dos judeus é um grande estímulo aos sentimentos: processo rude, mas evolutivo, das qualidades dormitantes do coração. E esses judeus reencarnaram com profusão em Portugal, mostrando-se o povo mais sensível do planeta à dor alheia, que o Brasil, por assim dizer, herdou dos lusos, pelo cruzamento das raças. Os campos santos,os hospitais são forças que desatam lágrimas, liberando, igualmente, o amor.

Os artistas são pessoas de grande sensibilidade, pois eles exercitam a memória dos sentimentos, como dizeis, para que as lágrimas fluam nas horas que se lhes apraz. E esse domínio leva-os a certa grandeza espiritual, pelo amor. Há também as lágrimas de defesa, quando o ofendido é a parte mais fraca, como as mulheres e crianças. Se assim se pode falar, é o choro-socorro, que desperta a compaixão. No entanto, é bom que entendais que a vigilância deve estar presente no combate ao fanatismo, já que muita gente chora exageradamente em muitas metrópoles, para que alguém lhes dê dinheiro. São os profissionais que exploram os sentimentos dos outros. De qualquer forma, é uma arte, cuja atividade, com o tempo cura o abuso. Nada se perde no mundo, nem as lágrimas que molham as faces dos encharcados no vício e dos ladrões dos sentimentos.

Se o infortúnio vos visitou e algo vos oprime o peito, chorai, meu irmão, sem que os outros se incomodem com os vossos pesares. Se a vida vos sobrecarregou com pesados fardos nesta existência, e vos sentis fracos para a caminhada, fazei como a criança quando repreendida pelos pais. Chorai com elegância, que os pais espirituais aproximar-se-ão de vós, pela vossa humildade, desfazendo-se em misericórdia e carinho, de sorte e vos levantar.

As lágrimas, quando derramadas na hora certa, são preces silenciosas que vibram mais alto que qualquer palavra. É o coração que fala, pelos canais da sensibilidade. Os espíritos superiores também choram, sob a influência do amor. Em tudo isso, não devemos nos esquecer do bom senso que regula a vida e nos mostra a felicidade.

Quando as lágrimas são santificadas pelos sentimentos, elas computam forças, enviando estímulos a todas as glândulas, principalmente às endócrinas, que segregam hormônios compatíveis com as necessidades do campo fisiológico. E, se a mente for adestrada dentro dessa verdade, podereis ajudar essa maravilhosa química pela vontade, alcançando mais depressa a paz e a saúde.

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Atração Magnética

A apetência magnética dos corpos se dá por afinidades intrínsecas dos elementos. O provérbio "os semelhantes se atraem mutuamente" é velho. Afinar-se com os outros é entrar na faixa de entendimento, é ceder algo de que os iguais carecem, é aparecer como irmão de todos. Quando uma alma se aproxima de outra, por serem afins, dominadas pela simpatia, aos olhos espirituais, o corpo humano nos parece uma cidade mergulhada no escuro, onde, imediatamente, acenderam-se todas as luzes. Assim são os corpos materiais. Na lei da gravidade, a atração magnética agita todo o mundo interno do objeto, acelerando o campo vibratório e trocando uma gama de coisas, que se afiguram como uma grande sede de essências, que logo lhe acalma a agitação.

O amor entre os espíritos é uma troca de fluídos sutis, que se acasalam por afinidades da natureza, despertando, em cada coração, a mais pura sensação espiritual, não existindo barreiras que possam interceptar esse câmbio divino. Quem já conhece o amor, por senti-lo ou vivê-lo nas suas variadas escalas, nunca mais o esquece, porque ele é a própria vida, turbilhonando no micro e no macrocosmo infinito.

Quando estamos dando os primeiros passos na escola do amor, no mundo espiritual, somos convidados pelos irmãos maiores para nos acostumarmos a pensar no amor em primeiro lugar, pois ele, certamente, nasce da mente, estendi-se como pensamentos na faixa em que vivemos e se apresenta como idéias com o toque dessa virtude. Ninguém faz nada perfeito, sem antes começar na insapiência.

O mundo é uma universidade onde existem todos os cursos de aprendizado e onde nos afinamos com mais acerto. O conglomerado de coisas está dentro da lei de atração por afinidade. As letras que aqui se espalham, nesta mensagem, se vinculam umas às outras pela força das idéias, e estas, por laços de harmonia, correspondem ao sentido da frase, que alia forças sutis ao verbo. E nessa conjunção magnética se expande o prazer de quem escreve e de quem lê, fazendo uma troca de valores do leitor para o escritor e deste para a coletividade que o estuda. Os órgãos do corpo físico se reúnem por coesão atômica, molecular, celular e orgânica, pois é essa lei que mantém o edifício humano em perfeita ordem.

Quem se certificou do valor do perdão e é dado à prática dessa virtude libertadora, afina-se, com o seu gesto, às qualidades de perdão que, porventura, existam no ofensor, e este passa a se arrepender do que fez, procurando reparar o mal que praticou. Se alguém vos caluniar, e essa ofensa não ganhar revide da vossa parte, se vós orardes por essa pessoa, com o tempo, ela passará a falar bem de vós e a defender-vos. O bem desperta o bem, onde quer que seja, como os atos indignos ateiam fogo aos instintos inferiores. Essa é a atração das coisas iguais, que se agrupam por sintonia. O interesse vibratório de uma pessoa para com a outra corresponde à disposição magnética desprendida pelas duas e intercambiadas no mais perfeito ajuste de sentimentos.

Se quereis que vossos semelhantes pratiquem a caridade para convosco, esforçai-vos para auxiliá-los em todas as oportunidades, mesmo que eles não tomem parte no que fazeis, pelos sentidos comuns do corpo físico. Todavia, a alma percebe, por qualidades espirituais, e registra com mais eficiência. Se nada se perde no campo físico, com mais acerto é que tudo vive na dimensão espiritual.

Cada um de nós tem uma atmosfera magnética na qual respiramos. E esses fluidos são o retrato dos nossos sentimentos. Atraímos tudo que se parece conosco em todas as áreas. Somos mundos, onde gravitam nossas idéias e pensamentos compatíveis com o nosso modo de ser. Se quisermos Ter uma atração magnética de luz, limpemos as vidraças da mente, para que o sol interno se expanda em todas as direções dos nossos caminhos.

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Banho e Passe

O contato da água no corpo provoca um estímulo magnético, que percorre todo o organismo, deixando-o calmo, e preparando-o para o sono reparador ou as lutas de cada dias. O banho diário, quando encontra na mente apoio, torna-se um passe. Além das virtudes curativas da água, enxertar-se-ão fluidos magnéticos, de acordo com a irradiação da alma.

A disciplina dos pensamentos é uma fonte de bem-estar, na hora da higiene do instrumento carnal. No instante do banho é preciso que entendais a necessidade da alegria, que o vosso pensamento sustente o amor, até ao próprio líquido que vos serve de asseio. Visualizai, além da água que cai em profusão, a contraparte, como fluidos espirituais banhando todo o vosso ser. O impulso dessa energia destampa no vosso íntimo a lembrança da fé, da esperança, da solidariedade, do contentamento e do trabalho.

Por este motivo, banho e passe, conjugados, são uma magia divina ao alcance das vossas mãos. O chuveiro seria como um médium da água e, esta, o fluido que vivifica o corpo. Poder-se-á vincular o banho ao passe, e ele poderá ser uma transfusão de energias eletromagnéticas, dependendo do modo pelo qual pensais. Uma mente ordenada na alta disciplina e pela concentração, em segundos, selecionará, em seu derredor, grande quantidade de magnetismo espiritual, e os adicionará, pela vontade, na água que lhe serve de veículo de limpeza física, passando a ser útil na higiene psíquica.

Sabeis por que, ao tomar banho, sentimo-nos comovidos, a ponto de nos tornarmos cantores? É a alegria advinda da esperança, de que a água é portadora pelos fluidos espirituais, que lhes são ajustados por Bênção do amor. O lar é o vosso aprisco acolhedor, e nele existem espíritos de grande elevação, cuja dedicação o carinho com a família nos mostrará como Deus é bom. Essa assistência atinge igualmente as coisas materiais, desde a arborização, até o preparo das águas que nos servem.

Quantas doenças surgem e desaparecem sem que a própria família se cientifique disso? É a misericórdia do Senhor pelos emissários de Jesus, operando na dimensão oculta para os homens, e encarregados de assistir ao lar. Eles colocam fluidos apropriados nas águas para o banho, e nas que tomais. E quando eles encontram disposições mentais favoráveis alegram-se pela grande eficiência do trabalho.

Na hora do repasto é sagrado e conveniente que tenhais boas conversações. No momento do banho, é preciso que ajudeis com pensamentos nobres, tanto quanto a prece, para que tenhais mãos mais eficientes operando em vosso favor. Se quereis quantidade maior de oxigênio nitrogenado, basta pensardes firmemente que estais recebendo esses elementos, e a natureza dar-vos-á com abundância. É o "pedi e obtereis" do Cristo. E com o tempo estareis mestre nessa operação.

A alegria tem também bases físicas. Um corpo sadio nos proporcionará facilidades para expressar o amor. Quando tomardes o vosso café pela manha, tomai-o convicto de que estais absorvendo, juntamente com os ingredientes materiais, a porção de fluidos curativos, de modo a desembaraçar todo o miasma pesado que impede o fluxo da força vital em vosso corpo. E saireis da mesa dispostos para o trabalho, como também para a vida. Despedi-vos dos vossos familiares com um sorriso agradável, e deixai deslumbrar em vosso olhar o otimismo, de maneira a fascinar a todos, que eles, ocultamente, vos beneficiarão, sem que percebais.

Lembrai-vos de que um copo de água que tomais, onde quer que seja, é, sobremaneira, um banho e passe, por dentro. Não vos esqueçais de sorvê-lo com alegria e amor, lembrando com gratidão de quem vos deu, porque, se ele vem rico de coisas espirituais, aumentará com o que tendes. Se não, os fluidos que vos cercam, canalizados pela vossa mente, limparão o acrescido na água, inútil à vossa saúde, como vigilância da vossa parte. É muito bom saber, como é muito bom amar. São dois caminhos paralelos, que a felicidade percorre com alegria.

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Controle das Emoções

Os problemas da alma são metafísicos. É necessário possuir apurados sentidos para entendê-los, e avançada capacidade de raciocínio para discerni-los. E mais: educar as emoções inferiores que, porventura, aflorarem, às vezes, na conduta de cada dia.

É muito fácil falar em educar as emoções. É de habilidade comum escrever sobre a disciplina dos impulsos inferiores, desde que seja dos outros. Parece atitude lógica assomar a uma tribuna para comentar sobre leves erros alheios, usando todos os recursos da retórica, na expansão filosófica que é peculiar ao intelectual. É agradável ao espírito mais ligado à Terra comentar, nos encontros com seus semelhantes, sobre deslizes de companheiros, às vezes, em grandes testes doutrinários, em provações difíceis, por lhes faltarem forças para uma reforma moral acentuada.

Porém, quando chega a nossa vez de ler o que escrevemos para os outros, a nossa consciência autocrítica. Começa a mostrar-nos se há, ou não, coerência no que dizemos para os semelhantes. Descobrimos que também somos portadores de erros, mas sentimo-nos feridos. Por quê? Não podemos suportar o peso que julgávamos frágil, para os outros? Deveríamos aceitar o "Com a mesma medida que medirdes, sereis medidos".

É nesse ponto alto de comparações que devemos saber usar a complacência, educando as emoções perante os iguais, na marcha evolutiva de que também fazemos parte. Sois um ser emocional? Até que ponto? Para que lado as vossas emoções preponderam? Analisai, estudai, meditai nas vossa próprias reações, e vereis, com a ajuda de Deus e o vosso esforço de reforma moral e espiritual nas normas do Evangelho, salientar o vosso equilíbrio e aflorar, no vosso mundo íntimo, a vossa paz interior.

O nervosismo ocupa lugar de destaque em vossa mente? A agitação é clima comum em vossa vida? Lembrai-vos de que o mundo biológico também evolui e carece de esticar as qualidades que possui em letargia, para que, no amanhã, pela herança, os espíritos mais evoluídos possam encontrar na carne, recursos maiores, compatíveis com a evolução conquistada.

Contudo, não deve a alma cruzar os braços. Imprescindível se faz que lutemos mais, amenizando o abalo evolutivo que, em muitos casos, é acompanhado pela dor, pelo desespero, por problemas e sacrifícios, dado o progresso querer colocar o espírito em outra dimensão de vida, com mais rapidez. A alma tem de mostrar seu interesse, tem de participar dessa corrida, pois, a sua parte, somente ela poderá fazer.

As emoções deverão ser controladas à altura das vossas forças, os pensamentos vigiados no empenho de lhes dar direção acertada e, nesse embalo, freqüentemente, não tereis tempo de criticar ninguém, por passardes pelos mesmos problemas que os corações dos outros sofrem.

Emoções desregradas podem nos levar ao caos. Com freqüência anotamos esses acontecimentos, tanto física quanto espiritualmente. Haja vista as notícias catastróficas que matam muita gente que as ouve, sem que o preparo lhes garanta o equilíbrio. Não suportam. Por que não suportam? Por não terem começado o trabalho de serenidade, para compreender o motivo de todas as coisas, de que somos eternos viajores no universo, de que Deus está no princípio e no fim de todos os acontecimentos. É preciso exercitar, todos os dias, em todas as oportunidades, a serenidade, o amor, a compreensão, o perdão, a tolerância e a fraternidade, para que o espírito absorva, gradativamente, como respira o ar todos os dias.

O controle das emoções não pode ser feito na violência, nem na displicência. O bom senso converge as forças para o centro dos esforços, que deverão ser continuados, na limitação que a ordem e o progresso acharem melhor. Fomos feitos para agir e trabalhar. Vamos... que o Cristo já foi!

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Educação das Idéias

O espírito é vida estuante e os corpos são energias cada vez mais sutis, de conformidade com a sua própria evolução. O centro nevrálgico do comando é a mente, onde proliferam as idéias, onde se processa a emissão de mensagem de nós para os outros e as coisas. O hálito divino adentra todas as formas existentes, sem que haja embaraço na sua viagem, sem que haja resistência em parte alguma, na sua missão de estímulos. No entanto, em se falando do espírito, ele, essa energia cósmica, ao deslizar no vértice coronário, perlustra no grande reator mental, que o transforma em matéria favorável e sensibilíssima aos sentimentos, transmutando-o em pensamentos. É como se fossem folhas de papel em branco: os pensamentos, as letras; a vontade, a máquina, e a inteligência, a ordenadora para que se possa formar as idéias a transmiti-las por onde a interção programar.

Já falamos de um sentido que temos, na profundeza do ser, conhecedor do protótipo das idéias, bem antes que elas sejam estruturadas. E a educação mental, com eficiência, deve nascer nessa hora, para que a conjunção dos sentimentos tome forma em pensamentos e idéias, nas linha da dignidade cristã.

Assim como a medicina tem um esquema bastante interessante do esqueleto ósseo, dos órgãos, do sistema nervoso e glandular, do mundo das células e das moléculas, das ações e reações do conjunto orgânico etc. também a filosofia do futuro haverá de perlustrar os mesmos caminhos, espiritualizando-se, fazendo um esquema congênito do raciocínio, da fermentação das idéias, do valor fantástico dos pensamentos, dos roteiros percorridos pelos sentimentos, da ação deles no corpo físico e, de volta, no próprio corpo mental.

O psicólogo vai ser o médico mais interessante do futuro, pois deverá ensinar os enfermos, antes de prescrever qualquer outra coisa, a pensar. O primeiro diagnóstico não visa saber qual a doença e, sim, o que o doente está fazendo, o uso das suas idéias e as reações diante dos outros, quais as tendência do enfermo e o que mais prepondera em seu coração. Essa é também uma medicina preventiva, que arranca, pelas raízes, as causas de todos os desequilíbrios físicos e mentais.

Se quereis saber e testar, em vós mesmos, o milagre do pensamento positivo, quando, porventura, estiverdes com medo, concentrai-vos na mesma hora na coragem, sem que o pensamento se desvie em outra direção e, com minutos, vereis o resultado. E se fordes ajudados pela fé, melhores resultados tereis. Assim é na saúde, na dúvida, no ódio, na tristeza etc. Esses são os primeiros passos que o estudante deve trilhar. E a intuição favorecerá, com o tempo, melhores recursos.

Em muitos casos, avolumamos problemas cuja extensão nunca existiu, sacrificando-nos com ilusões que, com o tempo, concretizar-se-ão. A educação da mente é uma escola superior com a qual somente almas de grandes sentimentos sentirão afinidades.

Nós impregnamos, no ambiente em que vivemos, e em nosso íntimo, magnetismo inferior ou superior que, com o tempo, eclodirá em nosso favor ou nos prejudicando. As catástrofes coletivas de todas as ordens são produtos da má conduta da humanidade como as doenças individuais são filhas desse magnetismo, oriundo do ódio, da inveja, do orgulho, da vingança, e de outras tantas inferioridades que se sucedem às mencionadas.

Portanto, se queremos sofrer menos, ou estruturar uma saúde perfeita, vamos dar as mãos na disciplina dos sentimentos, pesquisar a nós mesmo, analisar todas as escolas de educação da mente que, no ambiente da prece sincera, saberemos escolher a que mais nos agrada, e que oferecerá melhores frutos. Quem educa as idéias está servindo como médico de si mesmo, está tomando medicamentos bem indicados para todos tipos de males, está vivendo mais, porque começará a sentir a própria felicidade. Iniciai, meus filhos, a vossa transformação.

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Mente e Corpo

Alma e corpo são mundos conexos na mais alta sintonização, para que o primeiro possa exercer domínio completo sobre o segundo, domesticando-o e, ao mesmo tempo, disciplinando a si mesmo. O corpo, em certos aspectos, é a continuação do espírito. É no vestir a farda carnal que o soldado de Deus avança e vence as batalhas no mundo. A mente é uma região da alma mais sensível, com ligação mais direta através da visão. Os olhos são como diafragmas que, abertos, colhem todas as imagens que podem alcançar, recolhendo-as na consciência e, ao mesmo tempo, mandando fotocópias para o grande arquivo da consciência profunda, como, e certamente, emitindo as mesmas imagens em todas as direções do espaço exterior.

Eis porque Deus está sempre assistindo ao que fazemos. Queiramos ou não, escrevemos o que fazemos na mais alta linguagem, porquanto isso é feito por intermédio das próprias imagens. Somos fotografados ininterruptamente pela luz, como fotografamos o que percebemos em várias dimensões. O documentário é perfeito em todos os sentidos. É por isso que se cumpre o aforismo popular que expressa: "Não há segredo nenhum no mundo que não seja revelado", pois não podemos escondê-los, já que a lei não o permite.

O corpo físico é um patrimônio de muita importância, cujo sentido ultrapassa até mesmo o raciocínio comum. O espírito baixa suas vibrações, internado nele, para aprender a subir, e a engrenagem da mente opera como um condensador, para que o mundo celular suporte a voltagem alta da alma. A conexidade do ser espiritual no campo fisiológico é de demorada realização, gasta anos no preparo, mesmo sob a orientação de elevados obreiros do bem. A alma fica de posse do corpo físico, com mais segurança, quase sempre depois dos 21 anos. É um tempo precioso, que não deve ser desdenhado pela displicência, nem esquecido pela preguiça.

Compete à consciência, que se manifesta, trabalhar ativamente e se conduzir com decência, aproveitando com inteligência a distância curta, mas valiosa, do fim da juventude às portas da senilidade.

Pensai nisto, companheiro amigo. Nunca faltou amor para convosco. O esquema do corpo físico foi idealizado com amor. A conjunção com as primeiras células foi nas bases do amor. O encontro dos vossos genitores do mundo foi pela força do amor. A simbiose autêntica do óvulo feminino com o bastonete masculino, no campo avançado do útero, foi amor, por ser coerência de elementos. E, se viveis, é por amor de Deus, pois mente e corpo se interligam na mais vasta faixa do amor, não podendo, pelo menos na escala em que se encontram, depreciar essa oportunidade que lhes vem às mãos, de amar também.
O corpo, que em muitos casos pensais nada valer, é uma ânfora que, em se falando das coisas materiais, atingiu alto grau de perfeição; e o espírito, a fragrância divina que poderá recender seu perfume celestial, mesmo colocado nele hermeticamente fechado.

Se conheceis algum místico, verdadeiramente místico, podeis observar que, em torno dele, exala um aroma sobremodo agradável que nunca vos enfadareis de respirar. Haja visto o magnetismo de alto teor que irradia da sua personalidade, e que os famintos avançam à cata de absorvê-lo, como mariposas à luz. E sabeis, meu filho, como destampardes o vaso da carne para que o espírito perfume a atmosfera do mundo? É com os dedos do amor. Somente ele conhece a ciência de tornar livre a essência da vida.

Mente e corpo são dois mundos conjugados: um, o cavalo; o outro, o cavaleiro. Um, o instrumento; e outro, o músico. Um, o vidro; o outro, o perfume.

Analisai, agora mesmo, e cuidai de vosso corpo, pois ele é o vosso companheiro fiel, que sofre convosco todas as tribulações do caminho, mas que no fim vai fazer parte de todas as glórias conquistadas.

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O Amor

O amor é a suprema felicidade do místico, é a alma acesa em todas as dimensões da vida, é a força concêntrica do cosmo, é a luz de Deus que se expande em todas as latitudes da criação. A escola do amor é infinita, como infinito é o poder do Pai Celestial. O amor canta, na força eletrostática do átomo, e torna-se uma melodia universal, na mecânica do cosmo. Ele é um conjunto de fios invisíveis que partem do Criador ligando toda a criação. O amor é a vida.

O amor é Deus, o amor é a caridade, o amor é a paciência, a tolerância, o perdão, a amizade, o trabalho, a fraternidade. Descendo infinitamente para o mundo, o amor se manifesta nos próprios instintos, impulso, irresistível e misterioso que direciona os animais. E por lei da evolução, ele parte da simples afinidade entre pessoas e coisas e esplende como flor da mais rara beleza.

Nada resiste ao amor. Se porventura estais canados e oprimidos, pensai no amor, começai com alegria a pensar nele, a vivê-lo na sua mais pura radiação, que notareis logo uma diferença no vosso estado psicológico: a mente mais ativa, o coração mais ritmado e os olhos mais vivos. E, se esse exercício for cultivado de vez em quando, a alma se habitua, com as bênçãos de Deus, a sentir amor por tudo que existe, pois nada foi feito sem ele.

As vibrações são constituídas de sons, e as emissões dos pensamentos são reconhecidas, quando provêm de almas que dignificam a vida pelas portas do amor. A melodia é harmoniosa e divina. A mente, acostumada na ginástica do amor, é capaz de curar seus próprios desequilíbrios, ou pelo menos, aliviar os outros. O Cristo quando andou pela Terra foi a personificação do amor. Por isso, as suas vestes eram disputadas, para que os enfermos pelo menos tocassem nelas, e quando assim acontecia – afirma o Evangelho – eles saíam curados. O amor lhes conferia uma profusão de fluidos superiores, que a inteligência de Jesus sabia repartir com os famintos e os desesperados. Em muitos casos, eram os anjos que O acompanhavam, que faziam essa distribuição de bênçãos, em nome de Deus e, em outros, a própria fé do paciente absorvia o fluido de luz que circundava o Divino Mestre.

Jesus valorizou a fé, por saber que ela remove montanhas de imperfeições para atingir a essência da vida. Se não temos, na atualidade, o Cristo frente a frente para nos curar, se não temos os anjos, Seus agentes, mais de perto para nos aliviar, temos todavia o poder da fé que, de certo modo, Ele nos deixou, para que pudéssemos usar, e temos testemunho de sua eficácia. A fé nos faz reportar à época do Cristianismo primitivo, encontrando-nos com o Senhor e os anjos, e tornando-nos livres de todas as enfermidades. O amor é também fé, por unificar todas as virtudes do Evangelho.

Fazei experiências, meus filhos, experimentai o poder do amor e vereis. Concentrai-vos no amor, sem que o devaneio da mente divida a meditação. Senti no coração, e deixai que o rosto denuncie esse estado superior. Descei a cortina dos olhos e uns dez minutos bastarão para que, pondo as vossas mãos em alguém que padece, restabeleça-se-lhe o ânimo. A farmacopéia universal está dentro do vosso coração em tamanho compatível com a vossa estrutura, mas elástica, até o infinito. Uma mente educada opera maravilhas, e uma mente que ama é o próprio céu na alma, onde Deus habita visivelmente com os anjos.

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O Reencarnante e o Ambiente

O reencarnante deseja um ambiente afetuoso e são justas as suas aspirações. Portanto, encontrará uma área adequada às suas necessidades, já que somente recebemos o que merecemos.

Se vos esforçardes para perdoar, aceitando a tarefa com humildade, sem revolta, sem tristeza, sem ofensa, abraçando tudo por amor, recebereis a misericórdia, em consonância com os princípios assumidos pela vossa disposição de servir, porque fizestes por onde merecer.

A parte que nos toca somente nós podemos fazer. Todas as ajudas exteriores são estímulos com limites determinados. A alma que se propôs a reencarnar, ou que o fez por imposição da lei, tem sua parte de realização no ambiente que espera. Se ignorais tudo isso e as leis também, é porque tendes de sofrer as conseqüências, e elas vos mostrarão os caminhos mais curtos. A parte que nos toca é fração mínima na engrenagem da vida, mas é nossa. Não podemos vendê-la, nem trocá-la, nem poderá ser feita pela caridade alheia. A justiça é justiça para tudo e todos.

O espírito com destino à reencarnação aproxima-se do ambiente que lhe é próprio. Os engenheiros siderais estudam sua vida pregressa, analisam, medem, comparam, ajustam e colocam o candidato no lugar certíssimo, que lhe convém segundo o carma ou conveniência evolutiva.

Meus filhos, depois que compreenderdes as coisas pela razão, não culpeis a ninguém pelo vosso desencanto no lar em que viveis. Ele é o molde exato da roupa que mereceis e talvez não seja vossa culpa também. São esquemas do progresso, por que todos haveremos de passar. Não existe ninguém que não tenha problemas, que não sofra desta ou daquela maneira, que não passou por sacrifícios, que não chore, que não conheça a tristeza. São, todos, caminhos que nos levem à paz e ao amor.

Se vos aportastes ao ambiente em que estais, é porque aí é que está o vosso tesouro. Procurai trabalhar. É aí que as pedras preciosas vos esperam. É aí que a felicidade vos aguarda. Se não compreendeis ainda, ireis compreender depois, pelos duros golpes da própria vida.

A dor apura a consciência, abre a visão espiritual e nos faz escutas a música mais elevada da existência. No entanto, se compreenderdes a função da dor e fizerdes a vossa parte na educação da mente, aprimorando os vossos pensamentos para que as idéias se iluminem, ireis aliviando automaticamente todos os sofrimentos, conquistando a verdadeira saúde, assenhoreando-vos da alegria e convertendo-vos em amor e caridade, sob inúmeras feições.

Ninguém, repitamos, é culpado dos vossos infortúnios. Somente vós, porque tendes anseio de evolução, e a meta que alcançardes será vossa. Somente vós gozareis dela e, se já sois consciente desse roteiro irremovível, andai com inteligência, ajudando, cooperando, amando, instruindo e abençoando, que sereis feliz todos os dias.

Esta página fala dos filhos mais de perto. Pois não são somente os pais que têm de se esforçar para compreender os filhos. Eles têm o seu quinhão de responsabilidade. Mas é imprescindível o esforço de cada um. A harmonia do lar depende da harmonia de todos.

Se vos esforçardes nesta existência, por todos os meios, em muitas direções, para que a vida no lar se faça com paz, no amanhã, tereis um ambiente familiar frutificado com as sementes que plantastes.

Querer o bem, somente, não basta. É preciso que ele seja complementado pelo verbo fazer. E tereis o bem em vossas portas.

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Pensamentos Formas

Há uma proposição que diz: "Toda forma é um conglomerado de coisas". É justamente o que queremos dizer. Os pensamentos são formas emblemáticas que transmitimos em muitas dimensões para as mentes da mesma sintonia, e os sentimentos que plasmamos neles são partes de nós, que ficam nos outros, sob a nossa responsabilidade.

Há momentos de fraqueza humana em que o pensamento alheio causa distúrbios inacreditáveis, dependendo do estado de alma de quem o recebe, como do influxo mental de quem o transmite.

A realidade é que orar e vigiar, como nos propõe o Evangelho, na lavoura das idéias, é dever sagrado de cada dia. A agenda do cristão deve Ter uma palavra com letras grandes: VIGILÂNCIA. As formas mentais têm uma força coesiva sem precedentes, maior que a liga de todas as colas e o traço de todos os cimentos. Os espíritos de alta envergadura conhecem a ciência, de modo a desintegrar as formas mentais inferiores, aproveitando-as, como lixo mental, em adubos, ou canalizando-as para animais da mesma faixa, que as transmitam em alimentos psíquicos, de certa forma, para eles, suculentos.

A estrutura congênita das idéias, quando se trata de alma evoluída, é de máxima importância, pois é nessa oportunidade que ela começa a amar o próximo, inicia seu dia doando o que mais lhe toca o coração. É a verdadeira caridade espiritual, porque em uma corrente contínua de pensamentos se estende a mensagem da fraternidade, por não lhes dar o trabalho de limpeza psíquica. Se a humanidade fosse consciente da grandeza das emoções elevadas, transformaria o mundo dos sentimentos em fontes puras de amor.

As correntes mentais inferiores, intercruzando os espaços da Terra e se ajustando, por sintonia, com as pessoas, é que impulsionam os países às guerras, às calamidades, aos grandes desacertos financeiros. E essa troca de magnetismo decadente entre os homens proporciona as maiores promiscuidades, os desajustes dos lares, e os desleixos morais, por entorpecer as mentes e levá-las às mais baixas vibrações.

Os nossos pensamentos brotam do fulcro mental com uma ardência de vida sem paralelos na escala das emoções. Quando canalizados aos seus devidos fins, esvaziam o campo energético da alma, para depois serem reabastecidos pelos centros de força mais responsáveis pela consciência. Isso é um cinetismo indescritível do éter cósmico. E não sendo usado para a nobreza do caráter, o reator emotivo cria colisões nos campos de força, de maneira a demorar o próprio reabastecimento e adormecer, de certa forma, parte da consciência, que retarda o seu comando instintivo dos órgãos e deixa de fornecer a cota de energia protoplasmática ao sensível metabolismo celular.

O místico se embriaga nas suas sábias deduções, caindo em êxtase pelo prazer que lhe dão as formas mentais elaboradas em sua mente. Todavia, o espírito inferior sofre com as suas criações, que correspondem à sua própria inferioridade.

O Cristo, médico das almas, foi também o maior médico dos corpos. A especulação científica chegará algum dia à realidade do espírito, cinzelando os fatos com a oficialidade de que os pensamentos bons são capazes de restaurar os homens e as coisas danificadas, como torturar vidas e desagregar formas na ação magnética inferior. Poderemos ser médicos de nós mesmos, elaborar remédios, que nos possam curar. Isso depende da educação da mente.

A configuração das idéias obedece a um plano evolutivo por excelência e preestabelecido por esquema do Todo Poderoso. Entretanto, compete a nós outros uma intervenção, cuja altura devemos alcançar, de determinadas modificações no que concerne aos valores emotivos. Devemos plasmar, com os recursos a nós oferecidos no magnetismo estuante da mente, o amor mais puro, que se irradia em muitas formas de conceitos, porque ele, sendo vida maior, sustenta todas as vidas, em todos os reinos do alvorecer eterno.

Ao nosso pensamento é justo não faltar o traço que compete à elegância. Sejamos felizes, deixando o Cristo participar das nossas corrente mentais e entremos, com Ele, no reino de Deus.

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Pensamento da Gestante

Na hora em que a mulher se propõe a ser mãe, deve mudar completamente muitos dos seus hábitos. Além disso, deixar alguns vícios, se os tiver, visto que vai servir de exemplo a seus filhos, marido e parentes, por mudar de posição, ocupando um lugar de destaque nos pensamentos que irão condicionar a mente de quem a vê e certamente a admira.

Mas é bom que a reforma não fique somente no exterior, mas atinja as profundezas da mente, removendo sentimentos inadequados, e não deixando surgir idéias que não dão confronto com a verdade e com o amor. Os pensamentos sentem facilidade de deslizar no campo da mente, ao encontro de outros da sua estirpe, e avolumar condições, posto que o próprio ambiente em que se vive ganhará, por ficar impregnado das belezas espirituais, de vibrações magnéticas positivas.

A alma escolhida a reencarnar, pelas vias materiais de que dispõe, será beneficiada pelo clima espiritual formado pela futura genitora. A alegria, por exemplo, vibra as fibras mais íntimas do coração, harmonizando os nervos, o cérebro etc. E esse estado de alma avança fora da mãe, por laços invisíveis a ela própria, e atinge o espírito que se dispôs a tornar-se seu filho.

Assim acontece com o amor. E assim ocorre com as outras disposições elevadas da mente. Procedendo ao contrário, o resultado não é preciso descrever. É a crucificação do ente querido antes de nascer. A mulher que vai ser mãe e o espírito prestes a tomar a forma física por seu intermédio, em muitos casos, formaram um convênio de reconciliação ou de amparo a outros, que lhes podem suceder. E a mulher, se quer assegurar um ambiente favorável ao seu futuro bebê, é bom que se abstenha do fumo, do álcool em excesso e, principalmente, que faça uma filtragem nas conversações, mormente no período da gravidez.

O espírito a reencarnar, antes da concepção e, no percurso da sua formação, alia suas sensibilidades às da mãe, de modo a sentir tudo aquilo que ela sente, como, igualmente, a mãe é influenciada pelo seu irmão em Cristo, que vai se tornar criança no mundo. É uma verdadeira simbiose de pensamentos. Não generalizando, em muitos casos, os cônjuges se antipatizam quando a esposa dá sinal de concepções. É que o espírito reencarnante, por vezes, alimenta ódio do ser que vai lhe servir de pai, ou este, na profundeza da inconsciência, guarda ódio daquele que vem como seu filho, para o reparo das dívidas.

Os filhos, tanto quanto seus pais, se reúnem em um lar para lapidar os sentimentos, perante a consciência, armazenando experiências que poderão transmutar em paz, em futuras etapas.

A mulher em estado interessante pode ser considerada suas personalidades em um corpo só. Ela é o médium da vida física, é a indústria das vestes carnais, para que o espírito possa se materializar na Terra. Ela é o solo fecundo, onde o homem deposita a semente divina, e a sua mente constitui o jardineiro que cuidará com desvelo do rebento a surgir das suas entranhas – a árvore humana.

É bom que vos lembreis, mulher-mãe, que podereis fazer muito pelo vosso filho antes de nascer. A vida que viveis no tempo da sua formação se plasmará irreversivelmente no seu cosmo orgânico, acompanhando, em muitos casos, toda a sua existência. As variações de influências obedecem à escala de evolução da alma.

A futura mãe, quando consciente das coisas espirituais, sentirá reações estranhas aos seus sentimentos, cabendo-lhe analisar que provêm daquele que vai nascer. E, se a razão determinar que são idéias negativas, compete a ela reagir imediatamente, com pensamentos ao contrário, para que ele sinta a tranqüilidade e esperança na situação coagida em que se encontra. Eis uma grande caridade.

É salutar que a leitura evangélica, nesses casos, seja feita diariamente, acompanhada de bom entendimento, fé e ânimo.

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Por que o Perdão

O perdão é um fato, sem que a discussão se apodere do assunto, pois se fundamenta no amor e é sustentado pela caridade, sem ultrajar a lei da justiça. As susceptibilidades inflamadas perguntam: por que o perdão? Não é justo que defendamos nossa moral, nossos interesses, como fazemos com nosso próprio corpo? A displicência foge à regra. Não negamos que sejamos defendidos, e que a razão se ocupe com a vigilância e forme métodos de defesa, que haveremos de usar. Esta é a nossa posição diante do ofensor.

Se usarmos o revide para com aqueles que nos atacam, entramos na mesma sintonia da agressão e respiramos o mesmo magnetismo toldado pelo ódio e pela vingança. Perdoar as ofensas e isolar-se dos fluidos inferiores projetados em nós, sem dúvida, é ter serenidade na consciência, pela confiança adquirida através das qualidades conquistadas; é Ter certeza, na lei universal, de que somente recebemos o que damos.

O perdão anunciado pelo verbo, sem que o coração participe, não deixa de ser o prenúncio da desculpa. Porém, o mundo interior não sente os efeitos desejados no enervante estado psíquico, pela apropriação da maldade na alma. A limpeza interna só é feita com recursos íntimos, que a verdade fornece, e carece de muito exercício para que o hábito se solidifique.

A glândula que controla as emoções, serenando ou agitando o sangue, inflama-se com determinados pensamentos, vicia-se, e começa automaticamente a perturbar o organismo, ou a colocá-lo na mais elevada serenidade. Se alimentamos idéias de ódio e de vingança, elas, primeiramente, com vibrações sutilíssimas, vasculham todo o nosso cosmo celular, queimando a força vital, desnutrindo-nos e, ao passar pelos centros energéticos, desencadeiam um mundo de distúrbios, de modo a fazer a alma sofrer as conseqüências daquilo que provocou.

Eis porque tornamos a falar em "por que o perdão". Quem pratica a indulgência é o primeiro a ser beneficiado. O misericordioso é invadido pela paz. Os espíritos superiores têm uma serenidade imperturbável, fruto de um perdão incondicional e permanente. Assim como a luz de uma lâmpada, para atingir o exterior, tem primeiro de passar pelo material transparente que lhe garanta ambiente refletor, a luz do espírito, a força mental dos pensamentos, antes de ganhar o mundo exterior, é filtrada por vários corpos que lhe garantem, igualmente, o ambiente para viver e progredir. E se nós plasmamos o bem, nessa força ideoplástica, pelo perdão, pela caridade e pelo amor, somos agraciados em primeira mão. Se invertermos essas correntes de luz pelo envenenamento dos nossos sentimentos, a escória mais grossa ficará no fundo da bateia da carne, como alimento indigesto.

Quem perdoa e fala demais desse gesto natural, buscando elogios, está movido, talvez sem o saber, pela onda ilusória da vaidade. Como o perdão é difícil!... Também achamos. Não obstante, quem aprendeu a perdoar jamais se esquecerá, por sentir os efeitos de felicidade que advêm desse ato.

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Rosto, Espelho da Alma

Os traços da feição alheia denunciam o que vai pelo espírito, deixando, por vezes, marcas indeléveis no observador, de modo a aproveitar a serenidade do justo e tomar providências para não herdar os sofrimentos do mau. Eis uma prova da força do pensamento tendo supremacia em todo o corpo físico.

Quando uma pessoa se encontra aborrecida, alimentado problemas, envolvida em apreensões, nota-se rapidamente no seu semblante a realidade interna. A mente plasma os sentimentos com o magnetismo em reversão, e exterioriza-os por sentir-se mal com a sua própria criação, de modo a expelir, por todos os recursos encontrados, um fluido deletério; também os semelhantes, ao encontrarem o irmão em estado depressivo, chamam-lhe logo a atenção, por não suportarem igualmente as chamas negativas que os atingem frente a frente. Caso nos silenciemos, o mal se propaga, criando sérios embaraços por onde transita, e somos responsáveis por todos os estragos feitos em mentes invigilantes. É bom que tomemos todas as precauções, para não cairmos nessas tentações: nem influenciarmos pessoas com tristezas, nem sermos influenciados por companheiros tristes.

Semblante amargurado é alma triste. Compete ao homem de bem doar o que pode e tem para dar, em forma de ânimo, esperança, alegria e fé para os que sofrem dessa enfermidade psicológica.

O exercício da alegria constitui um dos esportes mais eficazes do espírito. Ele levante as forças do coração, estende o raciocínio além do concebível, faz verdadeiros milagres, porque trabalha como remédio, sem ser classificado como tal, cura corpos danificados, levanta espíritos caídos e desaloja o medo, purificando a atmosfera para que possamos respirar com maior confiança. Sejamos partícipes do movimentos da alegria pura.

É bom que sejamos dados à análise das pessoas, sem alardes, para melhor ajudá-las. A configuração delas nos fala alto do que se passa por dentro. E, se a psicologia for bem aplicada, notaremos que há aspectos que nos parecem pedir socorro, sem o poder do verbo. E o estudante da verdade, com a discrição sempre lembrada, as auxilia, sem que os sofredores notem de onde parte a ajuda.

Há muito trabalho no mundo a realizar nesse sentido. As escolas espiritualistas estão, cada vez mais, se dividindo na Terra. À primeira vista, parece enfraquecimento. No entanto, é atendimento a milhares de almas em posições diversas na escala evolutiva, e como Deus é bom e ama a todos na mais alta expressão da justiça, abençoa todos os movimentos da educação, para que em futuro próximo se unifiquem, tendo um só pastor e um só rebanho.

O rosto expressa, de certo modo, o caráter da alma, assim as mãos, assim as palavras, confirmando a proposição da psicologia bem endereçada. Todavia, quando se decide a reforma das emoções, dos pensamentos, das idéias e das ações, tudo o mais muda igualmente, levando a mensagem que a mente preparar. Cenho carregado é apreensão profunda, que desfila dúvidas, das quais a inteligência reclama mudança imediata de clima, e um pouco de esforço nos colocará na faixa da alegria que favorece a disposição para o trabalho e a fé.

Não gasteis combustível mental com pensamentos negativos, mesmo que eles surjam no campo espontaneamente. Daí de mão, à luta. A área é vossa, com todos os direitos e deveres de defesa da propriedade que vos pertence por agrado divino. Harmonizai vossa mente com o dever, com a caridade bem dirigida, com o amor sem fanatismo, com o trabalho sem usura, com a fé sem a cegueira, com a fraternidade sem o desequilíbrio, e com o perdão sem alarde, para que o rosto possa mostrar, com dignidade, o sol que se esconde temporariamente no faro da carne.

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Saber Crer

Crer não é apenas aceitar. É conhecer, é discernir o melhor, conquanto os sentimentos do amor também façam parte nas escolhas. O espírito é um mundo de anseios, e só gradativamente vamos conquistando as realidades compatíveis com a nossa própria estrutura espiritual.

A fé é um patrimônio sagrado que herdamos da vida. É uma lei universal configurada no livro de Deus, da verdade constituída, de onde promanam a esperança e a alegria. Se aceitamos a fé que pode encarar frente a razão, não poderemos deixar de aceitar a fé que desconhece outros ângulos, pois toda fé é útil na escala a que pertence.

Se uma religião combate o tipo de fé de outra, é por não estar segura da sua. Se uma pessoa julga seu semelhante, por não comungar consigo nas mesmas lides espiritualistas, é por duvidar do caminho por onde transita. Todos os processos são bons, onde eles se afiguram.

Saber crer é a razão na sua mais alta classificação de valores. Apesar disso, é necessário que haja maturidade na alma. Cada espírito encarnado ou desencarnado vive em uma faixa diferente, e o que pode ser bom para um pode não ser para o outro. Vejamos as diferenças de um chofer comum, de automóvel, na Terra, para um astronauta em uma cabine espacial. As exigências de um diferem das necessidades do outro, por trabalharem em planos completamente diferentes.

Assim, onde quer que estejamos, a inteligência nos adverte que é mais proveitoso saber crer, para um rendimento maior. O esforço é de cada individualidade, no certame do aprimoramento. Quem labora para melhor está em oração, sem, em muitos casos, o perceber. No entanto, a ajuda de Deus não se faz esperar. Atinge o coração de boa vontade, por todos os meios disponíveis.

A persistência no bem é proporcionada pela fé. Se achais que não a possuís, procurai-a, que deve estar escondida nas veredas dos sentimentos, em forma de planta mirrada ou semente minúscula, e cuidai dela, com os cuidados com que cuidaríeis do mais precioso escrínio da vida, pois ela é vida, ela é filha do amor, ela é Deus palpitando em nós como Sol dos sóis.

A dúvida é a negação da fé. Cria no coração um vácuo turbulento de proporções indescritíveis, que nos atormenta até que a certeza dos nossos ideais nos proporcione o ambiente de paz imperturbável. Ninguém vive sem fé. Ela se divide até o infinito. Se quereis saber o valor da fé, aumentai a capacidade de confiança de que estais respirando um magnetismo puro, oriundo de fontes espirituais elevadas, e sentir-vos-eis imediatamente envolvidos por um bem-estar indizível. É a fé, que transportou todas as montanhas de divisões do amor com o ódio, abrindo canais para que os céus adentrem pela Terra, restabelecendo todas as coisas.

Se quereis saber o poder da fé, confiai no amor de Deus para com seus filhos, e pensai firmemente que estais servindo de instrumento, pelo qual as bênçãos do Senhor podem atingir o enfermo que desejais. E logo vereis a cura ou o alívio da pessoa que pretendeis auxiliar.

Vós e a vossa mente sois instrumentos divinos que, unidos, operarão maravilhas, dependendo da educação que derdes aos vossos pensamentos, às vossas emoções. Essa é uma conquista na qual podereis levar tempo. Todavia, com a prática, notareis que todos os dias avançareis um pouco e, a cada avanço, notareis que a fé cresce na proporção em que cresceis com o amor.

Esforçar para crer é humano, e saber crer é divino. Mas o divino somente explode no coração, libertando-o, pelo esforço próprio.

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Sexo

O sexo é o santuário de vidas do reino animal, é um laboratório divino, pelo qual duas almas se unem, descobrindo o lar, reencontrando antigos companheiros de lutas evolutivas. Eis por que sua presença na Terra, na gradação em que se encontra a humanidade, é uma das mais expressivas, senão a maior. Ele também é o canal do amor.

A função sexual é a que anda mais de perto com a responsabilidade, por ser um energismo preponderante que extravasa em todos os sentidos ou qualidades da alma. A sua influência é hipnótica, carecendo de bastante rigor no campo educativo. O complexo humano, sendo um carro, o sexo é o motor, e o combustível, a mente. Se quiserdes, acionareis o veículo a qualquer hora, pelo pensamento.

Os homens de priscas eras desregraram-se em todas as nuances emotivas: enfraqueceram o tônus espiritual da vida pelo abuso, marginalizaram-se diante do esplendor da vida, e pelo fanatismo, passaram para o outro extremo, abstendo-se do sexo, ou se fazendo castos, pela imprudência religiosa. O caminho mais acertado é o do meio, e uso de tudo com que a natureza dotou os homens, com prudência, nas linhas que a consciência aprovar, e o bom senso discernir, pela inspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Há os que nascem eunucos; estes devem usar o que possuem para remodelar valores e aprumarem-se em diretrizes que a sua evolução permite. O espírito puro, em certas circunstâncias, vezes sem conta, reencarna no Mundo com os órgãos sexuais atrofiados, por não sentirem necessidade dessas emoções, sabendo transmutá-las e dividi-las em tarefas sublimadas e, quando nasce normal, sabe usar o sexo dentro da dignidade, o que não faz diminuir sua postura espiritual já conquistada em milênios de experiências. Essa verdade poderemos constatar nos grandes vultos da humanidade.

O sexo é o alicerce constituído vida para a vida e, é uma fonte inesgotável de energia criadora, que merece respeito e veneração de todos os seres . Esse mundo de sensações, que chamamos de santuário, e por vezes de prostituição, é o brotar energético da mais intensa aglutinação de valores, onde o bom senso deve estar ativo para o seu devido uso, sem perversão, porquanto é o campo genético responsável pelas reencarnações dos espíritos na arena física.

O ato sexual entre casais que se amam profundamente, em que a sintonia dos sentimentos ultrapassa todos os problemas da vida, em que a amizade está completamente envernizada na moral e na honestidade, se dá como um transfusão de energias de vida de um para com o outro, uma lubrificação nas engrenagens morfolólicas, um acalmar do sistema neuro-vegetativo e um ritmar das forças cerebrais. No entanto, quando isso acontece fora das leis acima mencionadas, tudo se altera, desde a infra-estrutura molecular até o corpo espiritual. São magnetismos distonantes, permutados sem campo de aceitação.

O casamento é uma instituição da Terra, para disciplinar também o instinto sexual. Ele, de qualquer maneira que se apresentar, lutando com todos os climas da inferioridade da alma, é um suporte elevado, que faz alguma coisa para a serenidade da consciência. Os filhos são igualmente lábaros com inscrições disciplinares, que fazem os pais se reterem diante de muitos impulsos, que os levariam ao descrédito moral, como os pais são balizas ou roteiros, a refletirem nas memórias dos filhos, para que estes sustem um pouco a animalidade.

O sexo agora está sendo o ponto primordial de todas as cogitações humanas, Há regressão na coletividade? Não!... Apenas está se aflorando aquilo que estava destro, em pleno sono. A humanidade avança, queira ou não, e as suas forças convergem para o centro, onde está o equilíbrio da vida e das coisas, onde Deus se encontra. Estamos passando por um período de reajustamento espiritual e é justo que soframos pressões de todas as ordens, para que despertemos em nós a resistência, Carecemos de disciplina, de educação, de paz, e é somente na intensa luta que as conquistamos. E as maiores regras ainda são as de Jesus. O Evangelho é o ponto culminante para conhecermos a verdade que nos fará livres.

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Uso da Água

O ser humano, tanto quanto o animal e o vegetal, não pode viver sem água, pois ela faz parte da sua genealogia física. Esse fluido, por excelência superior, e o intermediário de maior importância para conduzir a energia magnética espiritual. Educando a vossa mente, podeis, ao tomar água pura, torná-la medicamento valioso, fortificante da mais alta qualidade, capaz de substituir, com a riqueza da química mental, os remédios mais famosos.

Ficai sabendo que, por onde andardes, tendo água por perto, em muitos casos, deixais fluidos que vos são próprios, para constituição desse líquido. A água é a segurança do corpo físico, pois setenta e cinco por cento dele é constituído de água. Também a Terra, como um corpo maior, a sua extensão em água é de igual proporção. E ainda mais, a vida flutuou nos primórdios na Terra, na vastidão oceânica. Biologicamente, sois filhos das águas com a intervenção do sol que as beijou, pela atmosfera, no leito do mundo.

As águas que servem a uma metrópole estão impregnadas de magnetismo animal, desprendido dos próprios homens. Vós bebeis o que pensais, e vos alimentais, de certa forma, das próprias emoções. Os rios que servem a uma cidade, por bênção de Deus, têm seus guardiões espirituais, que qualificam, por misericórdia, as influências fluídicas sobre as águas, não deixando as substâncias mentais atingi-las em demasia, de modo a não criar problemas insolúveis no organismo da coletividade. Sabem medir com justiça o carma coletivo, e pendem mais pela tolerância, na conjunção da fé. Envidam todos os esforços para que os próprios homens modifiquem suas condições mentais, inspirando-os a efetuar confraternizações de alto gabarito, levando o povo para conferências de fundo beneficente, sobre literatura, arte, sociologia etc. Além disso, a carga poluída que a água absorveu, seja ambiental ou proveniente das emanações mentais do ser em evolução, é diminuída pelo invento do filtro, um recurso benfeitor em favor da humanidade, já que impede a passagem dos fluídos mais grosseiros que o ser humano poderia ingerir, pois ele adere à pedra por sintonia físio-química, unindo-se aos seus elementos e tornando-se um deles, pela vibração e pelo peso atômico.

A fervura da água é outro recurso desintegrante do fluído inferior. No entanto, esse processo faz com que ela perca fluídos igualmente imponderáveis, de grande utilidade para o sistema nervoso e o sangue.

A melhor maneira de tomar uma água inteiramente pura é o método da educação da mente, pelos processos que essa coleção de mensagens vem anunciando. Em meio segundo, podereis limpar completamente as substância indevidas em um copo de água. As vibrações de amor, de alegria, expulsarão os fluídos negativos do líquido sagrado que haverá de saciar a vossa sede.

Se alguém vos ofertar um vaso de água, conversai com ele antes de beber, dividindo a vossa mente com a fala e a operação limpeza. Com um pouco de treino, tornar-vos-eis mestre no assunto, e fareis um bem, no silêncio, a quem estais servindo.

O magnetismo superior que envolverá a água, dividir-se-á para o doador, modificando nele muita coisa, e destampando em seus centros de força meios espirituais, para que a energia divina percorra seu organismo com mais eficiência.

Se por ventura presenciardes um enfermo tomando um copo de água, ou que seja o próprio medicamento, eis a vossa hora de agir, com os recursos acima mencionados. Na mesa de refeições e na própria conversação, o pensamento é uma força benéfica, quando o seu uso anda paralelo com a dignidade cristã.

Espíritas e espiritualistas, estudai os recursos que Deus oferece aos homens para a educação da mente, em todas as escolas disciplinares, e começai a usar as suas bênçãos, primeiramente no copo de água fria que tomais todos os dias.

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Vigilância Mental

A vigilância é sempre a eterna âncora da alma, apoiada no fundo do mar tempestuoso da mente, a nos garantir a tranqüilidade, disciplinando uma profusão de pensamentos diários, de maneira a serem úteis no seu campo de ação.

Sensibilizemos, pois, a consciência pela força da caridade, pelo ambiente da prece, na luz da fé, para que possamos sentir, antes de pensar, o teor das idéias. Quando os pensamentos estão em projetos, nas profundezas da vida, é mais fácil consertá-los, ou desvencilharmo-nos deles com a simples borracha da disciplina; ao passo que, depois de concretizados, dando forma aos sentimentos, tornar-se-á mais difícil a sua remoção, mesmo no campo reversivo, dada à coesão ocorrida por junção protogenética, com sintonia profunda de elementos sutis.

Quando acontece à alma viver em plano superior das emoções, por descuido, formar pensamentos negativos, conhecendo o processo de desintegrá-los, tais pensamentos, ao se formarem, são fotografados pela mente em milhões de ângulos, impregnando todo o cosmo orgânico e psíquico. O inconsciente demorará a acompanhar as vibrações escuras que viajam em todo o complexo humano, para desfazer-se das suas características malfazejas, bombardeando, aqui e ali, seus conglomerados de energias retardadas.

É bom notar o valor da vigilância, para que o corpo e a mente não sofram o castigo da imprudência. Devemos nos manter diligentes frente aos impulsos mentais inferiores, pois eles nos causam distúrbios de difícil reparo. Resguardo não é medo. É bom senso a nos ajudar em ângulo diferente. Copiemos a natureza da árvore, quando sofre um golpe de afiada lâmina que aparece no seu ciclópico tronco; a emoção da planta se agita bem antes de ser ferida e os recursos aparecem por vias inumeráveis a desfazer o perigo iminente.

A mente humana adestrada perceberá os pensamentos inferiores bem antes da sua formação conata e deverá procurar os recursos que a inteligência lhe capacitou e a evolução lhe garantiu, para que o trabalho não se torne mais difícil. Em todos os casos, quem não se deu com a bênção da vigilância, procure fazer o melhor ao seu alcance. Trabalhe, lute na limpeza da mente, arranque o joio e queime pelos processos alcançados. Mas não fique parado.

Se já despertastes do sono, esforçai-vos para vos absterdes dos vícios e hábitos incômodos. É dignidade do espírito, não obstante, a sabedoria nos pede para que não deixemos seus lugares vazios. A supressão requer algo no lugar do suprimido. Se estais vos desvencilhando do ódio, colocai em sua área o amor. Se a vingança já está se desfazendo em vosso coração, não vos esqueçais de alimentar o perdão. Se a dúvida está desaparecendo dos vossos caminhos, tratai da fé com todos os seus recursos virtuosos.

Essa é a verdadeira vigilância do iniciado. O resguardo sem fanatismo ambiente a alma para grandes vôos espirituais, sem acobertar erros, nem exagerar na rota da perfeição sem preparo.

Sabeis por que aconselhamos a escolha das sementes, que deveis plantar na lavoura mental? Achamos que estais conscientes do fato. No entanto, é bom que falemos mais. A repetição gera firmeza, principalmente no trato com a verdade. O plantio invigilante de ventos dá nascimento a tempestades, que arruinam o próprio dono.

Meus filhos, se começais hoje na educação da mente, tereis certeza da reversão da própria natureza inferior. Tereis que lutar com vós mesmos, muito, mas muito tempo, mas podeis carregar a convicção de que vencereis. Já dizia Jesus aos seus discípulos: "Aquele que perseverar até o fim será salvo".

Aquele que não esmorecer nesse empreendimento sagrado de educar a si mesmo, de limpar a mente, de criar nos campos férteis dos pensamentos áreas compatíveis com a luz, onde poderão nascer as mais belas diretrizes da alma, ajustando todas as emoções em uma dialética mental, conseguirá a transmutação dos desejos inferiores em sementes de luz, para que as plantas, flores e frutos sejam produtos do amor.

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Miramez
Miramez

Fernando Miramez de Olivídeo era filho de casal nobre no norte da Espanha. Sua mãe nascera na França e seu pai era de origem portuguesa. Assim, em suas veias misturava-se o sangue de duas nobrezas, aquecido pelo clima da Espanha, seu berço natal.

Moço inteligente e estudioso, aprofundava-se na história dos povos e nações da Terra. Deteve-se com interesse na descoberta das Américas, em cujo evento destacaram-se Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, apaixonando-se, ainda que sem conhecê-las fisicamente, pelas Terras de Santa Cruz. Tal era o seu interesse por elas, que por várias vezes visualizava-se desembarcando em portos da terra que já sentia ser abençoada.

Tinha notícias dos silvícolas, habitantes dessa nação nova, e da escravidão em desenvolvimento, imposta pelos estrangeiros conquistadores, não aceita pelos primeiros, que se revoltavam.

Acompanhou interessadamente a implantação do trabalho escravo do homem de raça negra, levado à força do continente africano, que, por sua característica passiva, aceitava o grilhão e o açoite, servindo aos interesses daqueles que avidamente se apossaram das terras.

Colocava-se sempre, em pensamento, no meio do povo humilde, regozijando-se com a bravura dos índios, embora no fundo soubesse que acabariam dominados pelos estrangeiros, que dispunham dos meios para submetê-los. Contudo, nesta luta onde os fracos pediam socorro aos homens de bem, os céus jamais ficariam em silêncio, nem deixariam sem resposta os clamores dos oprimidos, apesar do carma coletivo dos povos e nações.

Fernando era íntimo de Filipe IV, rei de Espanha, que conhecia seus princípios de integridade e os dotes de elevada moral de que era portador. Para o rei, Fernando tinha algumas deficiências que necessitavam ser corrigidas: era avesso às guerras, repudiava a violência e propugnava pelo direito dos povos e, principalmente, dos indivíduos.

Como tinha planos relativos a ele, durante uma entrevista que lhe concedera, em caráter íntimo, Filipe dá início à execução dos mesmos, falando-lhe convincente:

"Caro amigo, conheço vosso dotes e vos considero pessoa grata da Família Real, que conta com eles para defender seus interesses, bem como os de nossa Espanha. Reconheço em vós predicados e valores que se aproximam da perfeição, contudo, compete a mim, por quem sois, recomendar-vos que junto com a virtude, deveis cultivar a bravura e a tenacidade; o orgulho pela nossa nobreza e pela tradição e honra da Espanha; a luta pelas nossas posses de além-mar, aumentando nossas riquezas e o nosso poder. Nossa nação tem a gloriosa destinação de dominar o mundo. Deus está conosco e Cristo a escolheu como seu trono para, através dela, reinar sobre tudo.

Sabemos que Portugal começa a se levantar de novo e a sua ganância por ouro, prata e pedras preciosas é desmedida. Entende que ninguém tem direitos sobre as terras que, por acaso, um de seus navegadores descobriu. A Escola de Sagres somente prepara os homens, enviando-os em expedição por todos os quadrantes, abrindo caminhos marítimos em busca de poder e riquezas, esquecendo-se de suas obrigações para com Deus, Cristo e a Santa Madre Igreja. Por isso, resolvi constituir-vos meu representante" disse o rei entre dois goles de vinho, dando à sua fala um tom misto de intimidade e cumplicidade.

"Ide, pois, meu filho, para a terra adornada pela cruz formada por cintilantes estrelas. Sereis os ouvidos do Rei e a boca de Espanha. Sereis dotado das instruções do que devereis fazer, bem como das credenciais que vos darão poderes de Chefe de Estado. Depois de tudo consumado, tereis a vossa glória: sereis imortalizado pela história e tereis o reconhecimento de toda a Espanha. Em nome dela, eu vos abençôo."

Sorrindo, Filipe sorveu mais um gole do puro vinho, satisfeito consigo mesmo, pela maneira com que convencera a Fernando.

Miramez, a tudo ouvia pacientemente, atento às intenções ocultas de Filipe, que ele bem identificava. Contrariava-o conviver com interesses da ordem que ele tanto subestimava, mas sua intuição o prevenia da oportunidade de realizar as suas íntimas aspirações e anseios, que eram conhecer e viver nas Terras de Santa Cruz, a fim de participar de sua preparação como Pátria do Evangelho.

Enquanto o rei sorvia o saboroso vinho, seu cérebro funcionava celeremente, esforçando-se para não deixar transparecer suas reais e elevadas intenções.

O íntimo do seu ser era de total alegria, quando respondeu ao monarca:

- "Majestade, em vossas mãos estão as rédeas deste vigoroso corcel que é a Espanha. Que Deus vos abençoe para que conduzais esta nação que tanto amamos nas melhores condições de trabalho e honestidade. Vamos obedecer à vossa real vontade, para alcançarmos a vitória. Conheço vosso ideal em relação à Espanha e rogo a Deus para vos ajudar a formar nobres idéias em benefício do povo."

Ia prosseguir, mas notou que o soberano já estava ficando confuso pelo que ouviu e pela quantidade de vinho ingerido. Por isso, apenas pensou, de si para consigo: "Sei perfeitamente o que Vossa Majestade deseja para si mesma." E, abrandando mais a voz, disse para terminar: "Eu vos agradeço de coração e serei eternamente grato pela oportunidade que ora me ofereceis de conhecer novas terras, as quais já admiro mesmo antes de vê-las. Garanto a Vossa Majestade que vamos fazer lá mesmo coisas agradáveis a Deus." E curvando-se respeitosamente ante o soberano que o despedira entusiasticamente, retirou-se.

O rei passaria uma noite mal dormida, rememorando as palavras de Fernando, sem conseguir entender o seu sábio e elevado sentido, sem, contudo, deixar de confiar no nobre súdito. Além disso, tinha interesse em sua saída da Espanha.

Miramez, porém, naquela noite inesquecível em que viu começar a se materializar sua mais íntima aspiração, teve um sono tranqüilo, fazendo uma viagem astral, parcialmente consciente, às terras aonde em breve haveria de aportar. Acordara no dia seguinte cantarolando, envolvido por estranha alegria, como sói acontecer com aqueles que pensam, vivem e agem em prol da humanidade.

Assim, em um dia do ano de 1649, em que reinava em Roma Inocêncio X, ou João Batista Panfili, desembarcava no litoral do Brasil, secretamente, na condição de turista, o enviado do rei da Espanha. Amável e convivente, já no barco que o transportava para a praia, relacionara-se com os remadores escravos.

Desceu Miramez pela primeira vez em corpo físico, nas terras com as quais sempre sonhara. Como que agindo segundo os ditames do coração, descalçou as botas e pisou a terra, sentindo-a sob seus pés, como se identificando com ela, recebendo-lhe o calor. Ao mesmo tempo, lágrimas que marejavam seus olhos caíam no solo generoso que as recebia, umedecendo-se com elas, ocorrendo desse modo uma permuta de valores, cujo resultados benéficos seriam constatados através dos tempos.

Acontecimento notável em sua chegada, foi o fato de vários índios que se encontravam na praia virem ao seu encontro como que para recepcioná-lo, ao tempo em que o feiticeiro da tribo a ele se dirigia e, apontando para o seu lado direito, exclamava: "Babagi! Babagi!"

Babagi era uma divindade indígena, tida pelos estranhos como uma lenda, que curava os enfermos através dos curandeiros das tribos. Era, na realidade, uma entidade espiritual e vinha ao lado de Fernando, ajudando-o a andar na areia onde seus pós deslizavam. Este, logo sentiu-se cercado pelos novos amigos, que nele sentiam condições de proporcionar alívio aos sofrimentos e perseguições por que vinham passando, ante o domínio dos invasores estrangeiros.

Apesar de ainda não falar seu idioma, entendia-os pelos gestos e por intuição, o que denotava a afinidade existente. Assim, tendo se misturado com os nativos, ninguém suspeitava de sua condição de súdito espanhor a serviço secreto do rei.

Em curto espaço de tempo, Fernando já assimilara os diversos dialetos indígenas e africanos, movimentando-se com desenvoltura entre os humildes. O clima da região influiu em seus traços e poucos conseguiam distinguí-lo do povo local.

Em 1653, desceu no Maranhão, onde se encontrava Fernando, o temido político e pregador, representante de Roma e de Portugal – Pe. Antônio Vieira – que em seus famosos sermões acionava forças desconhecidas e dominava com facilidade aqueles que o ouviam. Era esse homem que Filipe IV, rei da Espanha, temia retornasse ao Brasil.

Em cumprimento à missão de que estava incumbido, comunicava ao seu soberano os acontecimentos que poderiam ser benéficos ao Brasil, omitindo notícias que poderiam prejudicar os povos que nele já lançavam raízes.

Com o passar do tempo e por impositivo do progresso, tudo foi mudando, e assim acontecia com os conceitos e interesses. Isso agradava sobremodo ao nosso personagem, que já tinha nos índios e nos escravos a sua própria família.

Certa noite, quando contemplava as estrelas, sobreveio forte lembrança da pátria distante, onde dispunha de inúmeros e valiosos bens, entre propriedades e terras abundantes. Enquanto meditava se deveria regressar à Espanha, sentiu uma voz suave, como se nascesse dentro e sua consciência, recomendando-lhe: "Vai, vende todos os teus bens, distribui-os entre os pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me." Surpreso, sentia que aquela voz era sua conhecida; mas de onde? Parecia-lhe que já a escutara antes, mas quando? Achava-se perdido no oceano dos séculos. Contudo, a voz fêz-se ouvir novamente. "Fernando," – disse a voz, "podes vender todas as tuas posses na Espanha e distribuir o dinheiro entre os necessitados de tua pátria. Os daqui, necessitando passar pelos processos renovadores, precisam mais da tua riqueza mental, do resultado de tuas mãos operosas, do tesouro armazenado em teu coração e da tua presença confortadora."

Miramez, então, resolveu enviar procuração a amigos de sua confiança, autorizando-os a dispor dos seus bens e distribuir o resultado entre os carentes e sofredores da Península Ibérica.

Não chegou a ficar sabendo o que foi feito de suas riquezas materiais, porém, passou a viver um estado de consciência tranqüila, única riqueza que acompanha seus portadores eternidade a fora.

Após aquelas providências, sua vida em muito mudou. Aquele homem culto e fascinante foi descoberto pelos catequizadores entre os índios e os escravos africanos, como pastor de dois rebanhos. Alguns índios e negros não se davam bem, hostilizando-se mutuamente. Trabalhando arduamente pela aproximação e convivência das duas raças, em pouco tempo seus esforços eram coroados de êxito, quando índios e negros festejavam juntos suas tradições, unidos pelos laços da amizade e do sofrimento.

Miramez, então, passou a freqüentar o grupo de catequizadores por encontrar ali campo propício à prática dos seus ideais. Como resultado de seu trabalho e esforço conjunto, mais tarde foi promulgada, em 1680, a lei de proteção aos índios.

Antes de terminar este relato, procurando mostrar como ocorreu a chegada de Miramez ao Brasil e a sua participação junto aos espíritos simples e sofredores que prepararam o campo que favoreceria a implantação do Evangelho nas terras do Cruzeiro, queremos relatar um fato ocorrido com ele em um pequeno arraial destinado a receber os velhos escravos, onde passavam os últimos dias de suas vidas.

Junto com jovens escravos, que vez por outra recebiam permissão de seus senhores para visitarem seus pais e avós, Miramez, certa manhã, buscou os casebres para rever seus tutelados, levando-lhes o conforto de sua palavra fraterna e confortadora. Todos o tinham como o "Pai Branco", "Filho do Sol" ou "Homem Que Veio da Luz".

Ao levantar a cabeça, fixando o olhar nas nuvens, como costumava fazer, punha o coração ao alto e a mente em sintonia com o Todo Poderoso. O ambiente se asserenava, envolvendo sem suaves vibrações aqueles que o cercavam.

Ao regressar, passseando à beira de murmurante regato de águas cristalinas, acompanhado, como de costume, por uma velha preta, ao passar beirando um barranco onde a vegetação se adensava, foi atacado por perigosa e venenosa jararacussu, cuja picada comumente resulta mortal, sendo atingido na perna, abaixo do joelho.

A preta velha viu o réptil dando o bote e a água do riacho tingir-se de sangue. Saiu a correr para o povoado em busca da velha benzedeira Pari, que nos seus noventa anos a muitos salvara pelos seus dons de curar várias enfermidades. Ao ser localizada e informada do ocorrido, a velha Pari, já acostumada a essas emergência, apanhou alguns apetrechos e saiu pressurosa em socorro ao Pai Branco.

Mas Miramez, já com muitas experiências vividas entre os índios e negros, também tomara seus cuidados: lembrando-se de um cordão com vários nós intercalados que carregava em seu bornal, tomou-o e com ele amarrou a perna ofendida, na altura do joelho, impedindo a circulação. Tal cordão ele recebera de sua mãe querida, nos minutos finais de sua vida terrena, explicando-lhe sua origem. Pertencera a um bondoso pároco português que dedicava à cura. "Meu filho", disse ela nos seus últimos momentos, "quando o velho padre me passou este cordão, de seus dedos desprendiam-se pequenos raios de luz que eram absorvidos pelos nós do cordão. Carreguei-o comigo por vários anos e muitas vezes utilizei-o em favor do alívio das pessoas. Agora, passo-o a você, para que seja usado em seus momentos de dificuldade e de aflições." Abençoando-o, desfalecera e regressara à pátria espiritual.

A negra Pari, chegando, fez com que Miramez se assentasse num lajedo, levantasse os olhos e, como se conversasse com alguém invisível, pronunciava palavras ininteligíveis. Em dado momento, colocou os lábios sobre o ferimento e sugou por várias vezes o sangue já enegrecido, cuspindo-o para o lado. A seguir, colocou algumas ervas na boca, mastigou-as e tornou a cuspir, lavando-a nas águas do riacho. Torna a repetir a operação, colocando as ervas maceradas sobre o ferimento, que logo parou de doer.

Com um suspiro profundo e se recompondo, a boa escrava retirou o cordão benfazejo da perna de Miramez, ajudou-o a caminhar em demanda a seu casebre, onde o fez ingerir uma beberagem. Antes disso, a velha Pari, acalmando a revolta dos velhos escravos, não deixou que matassem a cobra; foi sozinha ao local, gritou com o perigoso réptil, expulsou-o e ordenou que não voltasse mais ali. Miramez sentia cada vez mais gratidão e amor por aquela gente simples, filha de Deus, que, dentro do possível, tudo fazia em seu benefício.

E naquela noite chorou de reconhecimento, orando ao Criador em benefício daquela gente simples e sofredora.

Perfil de Miramez

O nosso diretor espiritual era, quando encarnado, alto, de porte esbelto e nobre, cabelos encaracolados da cor do ouro velho, os quais trazia amarrados para trás. Tinha testa ampla, denotando inteligência, tez bronzeada pelo tórrido sol do norte, olhos verdes que lembravam os canaviais; os dois incisivos da frente eram ligeiramente separados.

Seus lábios eram pouco salientes e o nariz, grande e levemente achatado na ponta, não chegava a tirar-lhe a formosura do rosto.

Apesar do constante sorriso nos lábios, seu semblante era grave; algumas rugas já demonstravam as conseqüências do desconforto físico e dos trabalhos em favor dos humildes.

Sua morte ocorreu num quadro de elevada suavidade. Os negros e os índios catequizados formavam extensa fila para beijar-lhe as mãos, que tanto os ajudaram a viver. Enquanto esteve lúcido, Miramez abençoava-os, um por um.

Nos momentos derradeiros, Fernando Miramez de Olivídeo percebeu a presença da mãe extremosa, vem como de sublimada entidade que ele prefere não identificar, por julgar não merecer tamanha honra.

Com lágrimas nos olhos, Miramez desprendeu-se do vaso físico e, já fora dele, chorou de felicidade e agradecimento, por ter ingressado no Brasil pelas portas do amor e da caridade, que lhe foram abertas por Jesus.

Nota: esta biografia foi extraída do livro Iniciação, psicografado pelo médium João Nunes Maia, ditada pelo espírito Lancellin.

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