Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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Prefácio da 2ª edição de Cantos da Solidão
(a ortografia foi atualizada)

Advertência da segunda edição

Grande número das poesias que agora ofereço ao público já foram publicadas em S. Paulo em 1852 sob o título de Cantos da Solidão: essa edição porém, além de muito escassa quanto ao número de exemplares, foi por demais incorreta; e como o público parece-me ter dado algum apreço a essas produções de minha primeira mocidade, isso me anima a dar-lhe esta segunda edição muito mais correta, e seguida de grande número de poesias diversas.

Cumpre-me aqui dizer algumas palavras a respeito de algumas alterações e adições que fiz nos Cantos da solidão.

Quando, ao terminar meus estudos acadêmicos, me dispunha a retirar-me de S. Paulo, grande número de amigos e colegas mostraram desejos de possuir impressas aquelas poesias; existiam elas pela maior parte em seu primeiro esboço tais quais me tinham saído da pena no primeiro jacto, e os manuscritos se achavam em deplorável desordem; o tempo de que dispunha era muito limitado para eu poder coligi-las, e limá-las convenientemente; com a tal ou qual ordem e correção que a pressa me permitiu dar-lhes, deixei-as em S. Paulo em poder daqueles amigos, a fim de dá-las ao prelo; deixei-as mais como um fraco penhor de amizade e gratidão, como um eco de meu coração, que eu queria deixar ressoando entre aqueles bons amigos, de muitos dos quais eu me ia separar talvez para sempre, do que como um título com que me apresentasse ao público para conquistar o glorioso nome de poeta.

A vista disso deve-se relevar o muito que há de desleixo e e incorreção nessas composições; desleixo e incorreção que procurei eliminar o mais que me foi possível na presente edição; muitas alterações e adições fiz em algumas poesias; e mesmo uma ou outra refundi completamente; outras porém ficaram assim mesmo mal acabadas, com o pensamento incompleto, a frase mal polida, porque não foi mais possível evocar de novo inspirações há tanto tempo adormecidas. Alterei também um tanto a ordem em que vinham na primeira edição, a fim de engrupar debaixo do título de - Inspirações da tarde - certo número de poesias em que o quadro nelas debuxado se emoldura nos encantadores relevos dessa hora de remanso que serve de transição da luz e bulício do dia para o silencio e trevas da noite.

Vão portanto estes versos nesta segunda edição corretos de muitos descuidos de metrificação e de estilo, e limpos de inúmeros e graves erros tipográficos que desfiguravam a primeira.

Quanto ao valor literário que porventura possam ter estes versos, o público e a critica o decidirão; lembrem-se somente aqueles que lançarem os olhos sobre estas páginas, que são elas produto de uma musa que tem constantemente sofrido o embate de todo o gênero de contrariedades, e que conhece por experiência quanto é verdadeiro o que diz Chateaubriand: - C'est un sophisme digne de la dureté de notre siècle, d'avoir avancé que les bons ouvrages se font dans le malheyr: il n'est pas vrai qu'on puisse bien écrire quand on souffre. Les hommes qui se consacrent au culte des muses se laissent plus vite submerger à la douleur que les esprits vulgaires.

Rio de Janeiro, 14 de abril de 1858

O AUTOR

 

Prefácio dos editores da 1ª edição de Cantos da Solidão

AO LEITOR

Temos o prazer de oferecer ao público, e particularmente à mocidade acadêmica, as produções poéticas de um de nossos irmãos de letras, que ao separar-se de nós legou-nos esses cantos melodiosos, como se fosse um adeus de despedida, e uma última lembrança de seu viver de outrora; - é o testamento do coração ao terminar-se a vida descuidosa de mancebo; - é o derradeiro olhar do viajante ao deixar as praias deleitosas de um país encantado, para expor-se aos azares de uma longa peregrinação por mares tempestuosos; - é a baliza que servirá de assinalar-lhe essa quadra risonha da existência, que, ainda depois de volvida, inspira-nos recordações tão deliciosas, como os aromas da pátria que auras propícias levassem aos ermos do exilado.

Para nós os - Cantos da solidão - significam alguma cousa mais: - a naturalidade com que são escritos e esse perfume de tristeza e sentimentalismo que eles exalam bem provam não serem essas poesias uma criação puramente artística; - elas são a linguagem harmoniosa de uma alma poética e inspirada, que se expande melancólica e suave como a luz de pálida estrela, - sentida e queixosa como as derradeiras notas de longínqua melodia em horas de repouso.

- É a voz simpática do coração que fala aos corações, e que sabe fazer-nos sorrir com seus prazeres, e entristecer-nos com seus queixumes.


O que diz o crítico Basílio de Magalhães do Canto de Solidão

"O que me causa pasmo no "Cantos de Solidão" é que, sendo o livro de um poeta de 27 anos, parece mais obra de um qüinquagenário. Não se encontra ali o enlevo da mulher, a que o homem, fecunda primavera da vida, principalmente quando bafejado pelas musas, entoa, com as veras e com todas as gamas da sensibilidade, os seus mais sinceros, mais cálidos e mais efusivos descantes. No primeiro volume dos versos de Bernardo Guimarães, ou se acha este empolgado pelas belezas dos nossos sertões, ou plange, em nênias comovidas, o trespasse de entes queridos ou se preocupa com o seu destino objetivo e subjetivo. As duas únicas poesias --Amor ideal e Primeiro sonho de amor-- em que cogita do mais divino dos seres da criação e do mais nobre dos sentimentos humanos -- o alfa e o ômega da nossa existência planetária-- são fracas e inexpressivas. Quem lhe analisar a evolução poética chegará à inferência de que não teve ele pecados de amor na mocidade, guardando-os para os praticar na madureza, quando as grelhas de inverno lhe prenunciassem a galope derradeiro."